Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 3: O passado da Yukiro.

YUKIRO

5 horas atrás.

 

Então nesse momento, esse é meu trio? Tudo está muito diferente dos outros anos. Eu vejo Shiori e Hideki saírem pela porta da sala, a professora já retirou todos os alunos… menos eu.

— Esses são os alunos, entregue o nome deles para a diretora, Yukiro.

— Certo…

— Os recentes parecem habilidosos, eu acho que ela vai falar bastante sobre o da família Hirai.

— Talvez.

— Enfim, boa sorte lá.

A professora sai da sala. Começo a arrumar todo meu material e vou em direção a sala da diretora.

— Será que vai dar tudo certo esse ano? — pergunta uma voz misteriosa da minha cabeça.

— Não sei…

— Eles parecem ser tão legais.

— Como você sabe disso?

— A garota é tão feliz, e o garoto é tão bonito perto dela.

— Hm, só vamos saber quando contarmos a verdade para eles.

— Boa sorte… Yukiro.

— Obrigada, Arthur.

Me aproximo da sala da diretora e bato na porta e logo em seguida entro na sala.

Aquela pessoa terrível ainda estava ali, sentada na cadeira assinando papéis.

— Oh, você está aí. Oh.

— Sim, Saionara.

— Oh, o que te traz aqui, oh?

— Aqui está a lista de alunos da minha sala.

— Oh, deixe-me ver…

Seus olhos estavam atentos na folha de papel, assim ela se levanta com um sorriso extremamente feliz.

— É ISSO, É ISSO! VOCÊ FALOU COM O SEU TRIO?

— S-Si… Não.

— Hm? Não? Sério isso…

Ela se aproxima de mim, isso vai acontecer de novo né…?

— Eu te disse para ser a primeira a fazer um trio quando os novos alunos chegassem.

— É que…

— SEM DESCULPAS!

Ela me dá um tapa muito forte na cara, quando eu vou tentar devolver, a minha mão para no ar…  é essa maldita barreira que está impedindo…

— Você está tentando fazer isso de novo? Yukiro… quantas vezes eu vou precisar te dizer… você não vai conseguir me bater nunca!

— Você só consegue me bater… por conta dessa barreira.

— Oh, sim! Isso mesmo. Oh.

Ela continua me batendo… várias e várias vezes por mais de duas horas seguidas.

Eu não sinto mais a dor disso… estranhamente eu já passei tantas e tantas vezes pela mesma coisa que já virou algo do meu dia a dia, já virou algo de mim mesma… Com o tempo eu só me acostumei com a dor, mas…

Isso não vai ficar assim.

— Oh, você nem reage mais às coisas que eu faço… uma pena a gente não poder te matar.

— Hm…

—Oh, sabe, pode sair daqui, eu não aguento mais ver você.

Eu me levanto do chão e saio da sala. O que eu devo fazer agora?...

— Deu tudo certo? — pergunta uma voz da minha cabeça.

— Sim… Deu tudo certo, Maya…

— E agora, como vai ser?

— Eu vou falar com o Hideki e a Shiori…

— Oh… entendo, será que eles já sabem da verdade?

— Tenho quase certeza que não, a diretora faz de tudo para ninguém saber.

— Verdade.

— Bem, eu vou procurar por eles.

— Boa sorte, Yukiro…

Começo a andar pela academia procurando os dois, não encontro nada… parece que estão tão escondidos…

Passo mais de duas horas seguidas procurando por eles e não encontro, e eu começo a andar em círculos até parar de frente com a sala da diretora novamente.

— S-Sobre os nossos quartos que foram prometidos, quando iremos ganhá-los? — pergunta uma pessoa.

— Oh, quer saber sobre os quartos né, o de vocês é o 1625, podem ir lá. — responde a diretora.

A voz dessa pessoa que está perguntando parece bastante a Shiori, então eu apenas sigo até o quarto 1625 e espero eles por lá, Shiori se aproxima do quarto com Hideki nos braços, ele parece ter desmaiado. Eu espero um pouco e antes que pudesse entrar, eu escuto a longa conversa dos dois. Eles descobriram a verdade.

Assim eu entro e me vejo de frente com Shiori abraçando Hideki, ela se afasta após perceber minha existência ali, isso já é normal. Assim voltamos a todas a nossa conversa.

— Ok… O meu motivo por vir falar com você e querer lutar ao seu lado é algo de muito tempo atrás.

Hm? Algo fugiu da minha boca, eu apenas iria mentir para eles e… espera… que sentimento é esse? Olho atentamente ao Hideki, eu sinto que te conheço. Meu coração acelera e a sua aparência não é estranha para mim.

Por algum motivo… eu não consigo mentir para você. É como se fosse alguém de uma família.

Qual o motivo de eu me sentir assim?

— Há muito tempo atrás? — pergunta Hideki.

— Sim… Eu não me lembro de quase nada até meus 5 anos, só que… meu pai havia me vendido para umas pessoas que estavam a procura de poder… e o motivo disso é que dentro de mim tem algo que é impossível de tirar.

— O que seria? — pergunta Shiori.

— Não quero falar disso neste momento… Enfim. Eu… Eu…

Eu não consigo falar nada direito, olhar para você me diz que eu estou sendo acolhida e… isso é estranho, eu sinto uma vontade imensa de chorar só de te ver.

— Após ser vendida eu lembro que tudo estava dando errado. As pessoas se aproveitavam de mim e me usavam como escrava. Nada sexual foi feito com o meu corpo, já que após me examinar, descobriram que caso tentassem, eles iriam morrer.

Eu começo a andar em círculos.

— Meu dia a dia com essas pessoas era algo terrível, eu apenas podia me alimentar de pouca coisa e beber pouca coisa, eu tinha que fazer tudo o que me pediam, e também não poderia fazer nada fora da linha. Eu não tinha um pingo de liberdade…

Eu simplesmente não consigo mentir para vocês, eu não quero que descubram algo, senão algo ruim vai acontecer comigo… eu estou com medo, eu estou sozinha nesse momento… até mesmo meu coração me abandonou agora.

— Caso eu fizesse algo fora da linha, eu apanhava e apanhava cada vez mais.  Eu… Eu queria dizer também que eu amo esse horário do dia… 

Estava de noite, o brilho da lua iluminava o quarto, e com isso me aproximo da sacada e aponto para o céu.

— Eu não podia ver isso quando estava com eles, presa dentro daquela coisa… Porém tudo isso mudou quando uma pessoa chegou.

— Quem? — pergunta Hideki.

— Lo…

O que foi isso? A silhueta de uma mulher aparece na minha frente e começa a andar em direção a porta do quarto, parecendo que irá sair. Por algum motivo… eu sinto como se tivesse perdido algo extremamente importante, mas o que seria?

— Lola…

Lola… Lola, você está aí? A minha cabeça começa a doer até chegar no ponto onde eu me ajoelho de dor, as vozes da minha cabeça começam aos poucos sumirem.  E… eu percebi que esqueci completamente de como é a Lola.

— Você está bem? — pergunta Shiori.

Eu olho para frente e vejo que ela estava segurando o Hideki, ele parecia querer me ajudar… mas Shiori assim impede, como se estivesse desconfiada do que está acontecendo. Você não está sentindo a mesma coisa que eu? Shiori, você está sentindo que me conhece né? Seus olhos estão brilhando como se fossem estrelas, eles parecem querer falar alguma coisa, mas você não permite.

— S-Sim… eu estou bem.

— Continue então. — diz Shiori.

— L-Lola apareceu e assim ela me tirou daquele inferno e assim começou a cuidar de mim. Ela me ensinou como eu poderia viver sozinha no mundo, seja lutando, aprendendo a ler, escrever, entre qualquer coisa que você ensina a uma criança… Nessa época eu conseguia ver o céu. Pela primeira vez na minha vida eu vi… o céu estrelado.

Eu ando em direção a sacada, observando o que eu mais amo.

— Por isso eu amo esse horário, pelo motivo que foi a primeira vez que vi o céu. Mas tudo não é um mar de rosas e perfeições… esse castelo, ele era da Lola.

Mas vocês apareceram.

— Duas mulheres que vocês conhecem muito bem decidiram aparecer, Saionara e Alysci. e elas tentaram negociar o castelo e até mesmo roubá-lo. Lola aguentou sozinha por muito tempo… até ela morrer.

Esse dia está na minha memória até agora, eu não pude fazer nada por você Lola…

— Ela morreu em meus braços dizendo que me ama e pedindo para que eu viva… por toda a eternidade.

Esse sentimento… eu tenho que segurar, eu não posso chorar, eu não posso sentir nada ruim nesse momento. Tenho que me segurar. Por qual motivo meu coração quer tanto contar a vocês a verdade?

— E essas duas mulheres descobriram que tem algo dentro de mim que apenas deuses podem entender, e por conta disso elas decidiram que era um bom momento para me esconder e me usar como arma. Vocês não são o primeiro trio que eu tenho.

Me aproximo de uma mala e pego várias folhas com vários nomes e jogo em direção a eles.

— Eu já tive milhares de trios há muitos anos.

— O que aconteceu com todos eles? — pergunta Shiori.

— Descobriram a verdade por trás desse lugar e como vocês, tentaram fugir, mas todos morreram. Eu tinha que aguentar tudo, e ver eles todos morrendo na minha frente… E agora eu só busco vingança e uma forma de acabar com tudo isso… Mas essa é a minha última esperança.

— Entendo.

— Vocês são a minha última esperança. Se nada der certo agora… eu irei desistir de tudo.

— Você quer que a gente te ajude então, certo? — pergunta Hideki.

— Sim…

— Bem, eu irei te ajudar!

Eu vejo Hideki se aproximando e levantando sua mão para apertar a minha.

— O que?

— Bem… tecnicamente ambos temos a mesma ambição neste momento, fugir daqui. Então acho que seria útil para nós que fossemos juntos.

— E-Espera…

Meu coração estava batendo muito, era como se fosse sair pela minha boca a qualquer momento, isso é por conta de ser você? Mas o que você é? Quem você é? Meu coração se sente tão bem perto dos dois, mas por que?

Eu só quero saber o motivo de tudo isso estar assim… eu sinto uma vontade de chorar, como se tivesse acabado de contar toda a minha vida para uma pessoa extremamente importante, mas por algum motivo… eu não entendo o por que.

Eu acabei de conhecer vocês e já estou contando tudo de uma vez.

Levanto minha mão e apertamos.

— Estamos fazendo um trato. — diz Hideki.

— Qual?

— A partir de hoje iremos trabalhar juntos e… iremos fugir juntos.

Uma lágrima cai do meu rosto e eles parecem ter percebido isso, nesse momento eles me olham assustados, eu solto a mão do Hideki e corro do quarto. Eu novamente estava demonstrando tudo o que não queria, quando me afasto deles uma voz aparece na minha mente.

— Ei ei ei, você disse tudo a eles, você disse tudo!!

— Sim Arthur…

— Eu achei estranho você ignorar a gente… Não só isso, mas… a Lola sumiu daqui.

— Como assim? A Lola sumiu?

— Ela não está mais aqui… 

— O que?

— É como se ela tivesse sido apagada.

— Você escutou o que ela disse?

— Hm?

— ARTHUR, VOCÊ ESCUTOU O QUE ELA DISSE?

— Ah sim…

— O que foi?

— Adeus.

— E-E E QUAL O MOTIVO DE VOCÊ NÃO TER ME CHAMADO ANTES?

— Você não escutava a gente!

— Que?

— Todos tentaram falar com você, mas simplesmente não tínhamos respostas…

— Ah… O que…?

O lugar que era pintado com estrelas no teto é dominado por escuridão, pois na minha frente tinha aparecido uma pessoa…

— Ora ora, parece que está tudo errado por aqui.

— Saymon…

— Oi? 

— O que você está fazendo aqui?

— Ah, eu só vim atender um chamado.

— Chamado?

— Uma aluna disse que tem uma louca gritando por ai, queria ver o que era e aqui estou.

— Vocês não mataram todos ainda né…?

— Ah, claro que não, ah…

— …

— Mas vamos fazer isso o quanto cedo, não se preocupe.

— Desgraçado…

— E vamos deixar apenas duas pessoas dessa vez, eles serão a peça chave de acordo com a Akumo.

— Eu não vou deixar isso acontecer.

— Ah, relaxe garota, dessa vez… você vai junto com eles.

E aquele homem dá um soco no meu estômago, eu tento me defender, mas não dá.

Assim como dito, uma barreira me impede de bater em qualquer pessoa que tenha autoridade, e aqui não está sendo diferente… 

— Você vai junto com todas as pessoas, e iremos ver o que vai acontecer. Será que finalmente você vai morrer?

— Isso não dói mais.

— Ah, mas a morte vai doer tanto em você… estou completamente ansioso para descobrir o que vai acontecer.

— Eu te odeio…

— Não me odeie, eu estou fazendo tudo isso pelo seu bem, já que… a Lola não fez o suficiente.

— O QUE DISSE?

Tento avançar para cima dele, porém sou travada no ar, e novamente eu tomo um soco no estômago.

— NÃO SE APROXIME!

Eu começo a tossir no chão.

— Toquei demais em um lixo como você, Yukiro… e agora… o que irei fazer? Terei que me limpar o quanto antes…

Assim Saymon se vira rindo alto e correndo em direção ao seu quarto. Tudo está acontecendo tão rápido e estranhamente errado…

Quem são as pessoas que tem meu coração em suas mãos? Akumo está voltando mais cedo?

Eu tenho que investigar tudo… eu terei que ir naquele lugar.

— Você vai voltar para aquele lugar?

— Sim. Não há muitas escolhas agora… Arthur.



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