Volume 8

Capítulo 396: Mais uma vez sobre Celldio

Quando Fran enfim terminou de falar sobre Kiara, era hora de ouvir Dias. Aurel e Rumina deixaram a sala.

— Eu gostaria de dizer-lhe algo sobre um homem chamado Celldio.

— Em relação a ele, esqueci por completo.

Desculpe Dias, Fran não se lembra de quem é esse homem. Mesmo que ela se lembrasse de algum nobre irritante para quem ela me entregou, depois do qual ele morreu, a garota esqueceu tanto seu nome quanto seu rosto. No entanto, isso mostrava o quão insignificante ele foi para Fran.

— Você conheceu o Marquês Ashtonah?

— Não.

“Mas depois de deixar Ulmut, vamos nos dirigir à capital.”, eu falei.

— Entendo. É por causa do leilão?

Nn.

Fran contou que desde que o ferreiro Gallus assumiu uma missão secreta da família Ashtonah, ele se foi.

— Sim, ouvi dizer que ele foi para Barbola. Então os rumores sobre seu desaparecimento são verdadeiros.

“Parece que a família Ashtonah está coletando materiais para ferraria.”, eu disse.

Oh, sério? Então a família Ashtonah realmente levou Gallus? Parece muito suspeito.

“Prometemos a Gallus que nos encontraríamos na capital. Dadas as circunstâncias, não poderemos fazer isso sem encontrar a família do Marquês. Portanto, gostaria de saber como o incidente de Celldio terminou, em particular, o que a família do Marquês pode saber sobre Fran.”

— Entendo.

Aparentemente, a primeira coisa que Dias fez depois de nossa “briga” com Celldio foi arranjar para que seus subordinados fossem interrogados, extraindo o máximo de informações possível.

— No entanto, ouvi deles tudo o que queria.

As palavras “tudo o que queria” soaram muito arrepiantes. Embora Fran não tenha notado, em resposta ao interrogatório sugestivo, ele se permitiu dizer apenas essa informação conveniente.

— No entanto, da última vez não foi tão bem assim.

“E o que aconteceu?”

— Sob os auspícios da família Ashtonah, um nobre chamado Barão Holmes, esse cara é outra dor de cabeça para nós, ele tem a habilidade de ver através de mentiras e recebeu um trabalho muito importante.

Hmm? Ouvi sobre esta habilidade em algum lugar. Uma habilidade para ver através de mentiras?

— Já ouviu falar de um homem chamado Visconde Alsund? Acredito que você esteve em Aressa, então não ficaria surpreso se você o conhecesse.

Exatamente! O mesmo Visconde de quem roubei o Princípio da Falsidade1. Auguste Alsund. É isso, então seu pai é o Barão Holmes.

— Essa habilidade foi um grande problema para nós. Chama-se “Controle de Falsidade” e não só expõe uma mentira, como pode fazer qualquer um acreditar em uma. Basta pensar no que você pode alcançar usando essa habilidade com sabedoria.

“Interrogações serão inúteis.”, respondi.

— Certo. Por exemplo, se esse Barão interferiu no testemunho dos subordinados de Celldio, eles simplesmente nos conduziriam ao caminho errado.

Na verdade, Auguste tentou usar sua habilidade da mesma forma em Fran, obviamente com uma fraude em mente.

— Certo, em algum momento, o Visconde Alsund simplesmente perdeu sua habilidade em descobrir mentiras. Sem essa habilidade, ele se tornou um fardo para sua família e foi para a prisão domiciliar. Os assuntos da família do Barão Holmes seguiram ladeira abaixo. Graças a isso, a família Ashtonah não pode mais manipular verdades e mentiras.

Mas roubei a habilidade Princípio da Falsidade de Alsund apenas em retaliação por tentar enganar Fran. Nunca pensei que essa história fosse acabar assim.

—Tendo ervas mágicas como prova, ele não conseguiu escapar. Como Celldio tinha o título de visconde, a responsabilidade por seus crimes recaiu sobre a família de Viscondes Reseps. Apesar de a família do Marquês não ter de ser responsável por eles, há regras para os representantes da Guilda. Por isso, todos os líderes da Guilda a quem Celldio incomodou decidiram fazer isso.

Dias fez um gesto ímpar, dando um tapa no próprio pescoço. E não parecia significar “Ser punido”. Sem dúvidas, significava “Cabeças vãos rolar”.

Conversando com ele, Dias parecia ser um idoso muito bondoso, mas também era um experiente Mestre da Guilda. Para aqueles que invadiam seu território, ele não tinha misericórdia.

— Falando da morte de Celldio, tentei esconder o envolvimento de Fran da melhor forma que pude. Para aqueles que estavam no lugar de sua morte, Erza teve uma conversa muito séria. No entanto, ainda será difícil esconder tudo.

“Não há o que fazer.”

— Por isso, vários rumores se espalharam.

“Vários rumores?” Perguntei.

— Sim, que a causa da morte de Celldio foi a espada mágica de um certo aventureiro, ou eu, ou Forrund.  Embora haja um rumor de que ele morreu pela espada da Princesa do Raio Negro, você é uma pessoa muito popular nesta cidade. Por isso, seria estranho se tal rumor não existisse. Eu não acho que muitas pessoas pensam que esse boato é verdade.

Se você precisa esconder alguma coisa, coloque no lugar mais visível. Essa frase combinava com essa situação.

— Além disso, desde a morte de Celldio, todos os interrogatórios e perseguições subsequentes passaram a atrair mais atenção. Quanta atenção você acha que Forrund e eu atraíamos, dado o nosso animado interrogatório e outras atividades?

“Entendo. E você e Forrund não estão preocupados com a segurança?” Fiz uma pergunta.

Ha-ha-ha, não se preocupe conosco. Somos aventureiros rank A, não somos? Aventureiros que têm o potencial de causar impacto em um país inteiro. Quem quer que desafie um de nós se tornará um inimigo para todos. E a família do Marquês não vai fazer uma coisa tão estúpida.

“Bem, isso é verdade...”

— Mas ainda será difícil esconder por completo o envolvimento de Fran nisso. Tenha muito cuidado ao se encontrar com a família Ashtonah.

Nn. Entendido.

Depois de conversarmos com Dias, ainda havia o último lugar em Ulmut onde deveríamos coletar informações. Sim, tínhamos que ir ao calabouço onde Rumina tinha voltado. Fomos imediatamente transportados para lá pelo portal espacial. Como a informamos que faríamos uma visita, ela já estava pronta para nos acolher de braços abertos.

A primeira coisa que falamos foi de Murellia. Embora tenhamos falado o suficiente sobre Kiara, havia outro membro da tribo dos Gatos-Negros que eu deveria ter contado a Rumina.

No entanto, a reação dela não foi tão violenta como esperávamos. Ela abaixou a cabeça, nostalgia e arrependimento misturados em sua expressão. Talvez todo esse tempo, ela pensou que Murellia nunca voltaria.

Para Rumina, Murellia era uma memória de 500 anos atrás. Além disso, compartilhando a mesma linhagem com ela, Rumina conhecia aqueles cujas vidas foram destruídas pelo Deus Maligno.

— Era você... Senhorita... Murellia...

Eu não conseguia entender que sentimentos estavam em seu coração, mas por um tempo, Rumina permaneceu em silêncio.

Depois disso, enquanto Fran e Urushi bebiam chá com bifes, eu e Rumina, que já havia se acalmado, seguimos para um quarto separado. Como não podia sentar na cadeira em frente a mulher, fiquei na mesa.

“Desculpe. Há algo que eu gostaria de ouvir.”

— Algo que Fran não deveria ouvir?

“Hmm, não é o caso, mas...”

Disse a ela o que ouvi de Murellia durante aquele encontro com ela no calabouço. Depois disso, disse que eu era um familiar da Deusa do Caos, e ao mesmo tempo, não tinha nenhuma conexão com o Mestre do Calabouço.

“Rumina, você não poderia dizer à Fran sobre como evoluir, certo? Mas será que você não pôde falar porque estava na minha presença?”

Oh, faz sentido.

“Então, talvez seja ainda mais fácil para você falar quando Fran está longe. Posso falar com você agora?”

— Não sou contra essa ideia. Então o que você gostaria de ouvir?

“O que significa ser um familiar da Deusa do Caos?”

Conversei com ambas a Deusa do Caos e Murellia, mas nunca entendi. Embora tenha compreendido uma coisa ou duas sobre o tema.

— Como dizer o que são os familiares... familiares de Deus são aqueles que o Deus criou com suas próprias mãos, e aqueles que receberam algum tipo de Seu poder.

“E qual desses casos é meu?”

Hmm... claro que não sei, mas, provavelmente, um familiar da Deusa do Caos deve ter algo a ver com o calabouço.

“Você acha isso?”

— Ao contrário dos outros Deuses, a Deusa do Caos não aparece neste mundo de forma alguma fora das dungeons. A magia da Deusa do Caos é destinada aos Mestres do Calabouço exclusivamente para a gestão dos calabouços, portanto, até agora não houve algo que a Deusa criou que se assemelhasse a algum tipo de criatura viva. Até onde sei, os familiares da Deusa do Caos são monstros que estão sob o controle do Mestre do Calabouço.

Então, sou um deles? Afinal, eu provavelmente não era um Mestre do Calabouço. Então, quando fui criado, o poder do calabouço foi transferido para mim? Além disso, poderia aquela alma misteriosa que está selada dentro de mim ser um familiar da Deusa do Caos?

“No final, não obtive nenhuma informação útil.”


Nota

1 – Eventos do capítulo 39.



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