Volume 6

Capítulo 274: Sobre cartas e itens

Melrosse abriu a carta e a leu com atenção.

— Entendo... muito bem, Princesa do Raio Negro! A partir de agora, passaremos a apoiar imediatamente a princesa.

Então a carta se tratava sobre proteger a princesa. Mas, me repetindo, por que usar uma carta quando eles tinham comunicadores mágicos de longa distância?

"Por que carta?", perguntou Fran, telepaticamente.

"Boa pergunta.", respondi.

“Nn. Mais rápido usar item.”

Parecia que Fran e eu estávamos pensando a mesma coisa.

— Você foi de grande ajuda. —, disse Melrosse.

— Nn…

— Ro? O que foi, jovem? Seu rosto mostra clara insatisfação não expressa.

Quê!? Como ele sabia disso?

Fiquei incomodado com o fato de ele ter interpretado com precisão a expressão de Fran. Ela nunca era foi do tipo de pessoa que usava suas emoções e isso era verdadeiro até agora. A mudança na expressão dela era tão sutil que eu assumi que era o único capaz de perceber. Eu o avaliei de modo inconsciente antes que pudesse me parar. Já que eu havia feito isso, decidi que também poderia verificar suas habilidades e confirmei que ele não tinha nada que lhe permitisse ler mentes.

— Poderia dizer, como? — perguntou Fran.

— Ro. Quando você vive tanto quanto eu, pode observar o que as outras pessoas frequentemente não percebem.

De verdade? Apenas a pura sabedoria da idade? Que diabos!

— … pode usar item. Por que enviar carta? — perguntou Fran.

— Ro, ro, então era a carta que estava te incomodando. Há uma razão significativa pela qual escolhemos usar esse método em particular. Você gostaria que eu explicasse?

— Nn.

— Muito bem.

O mestre da guilda estendeu a carta para Fran.

— Tudo bem ler? — ela perguntou.

— Certamente.

Fran e eu demos uma olhada no conteúdo. A carta descrevia como um assassino bashariano foi pego no país dos homens-fera e que o perigo evidente era motivo para fornecer à princesa guardas adicionais. Não parecia nada fora do comum, exceto os números semelhantes ao código que seguiam o restante do conteúdo da carta. Olhei para Melrosse e o vi observando Fran com atenção.

— Números estranhos? Significado? — perguntou Fran.

— Eles contêm informações referentes ao destino da princesa. —, disse ele. — Criptografamos as informações por razões de segurança.

O mestre da guilda continuou explicando por que eles usaram uma carta e não a ferramenta de comunicação de longa distância. Os basharianos também tinham ferramentas semelhantes, e a preocupação era que eles pudessem escutar conversas na nação dos Homens-Hera. Informações sobre assassinatos e planos de invasão pareciam ter sido comprometidos no passado. Se fosse esse o caso, eu podia entender por que eles confiavam em uma carta física para obter informações tão secretas.

— Se soubéssemos os métodos exatos que eles usam para nos espionar, poderíamos implantar contramedidas. —, ele franziu a testa.

— Não sabem? — perguntou Fran.

— Não, seus métodos são desconhecidos para nós. Essa é a única razão pela qual recorremos a métodos mais tradicionais de comunicação, como cartas. Mensageiros fortes como você são essenciais para a rápida transmissão de informações.

Eu estava usando o Princípio da Falsidade durante toda a conversa. Todas as partes que o mestre da guilda disse sobre Bashar eram verdadeiras. Mas a última parte de essa ser a "única" razão era uma mentira. Podia ser que uma organização tão grande quanto a guilda naturalmente tivesse um ou dois segredos. Mas não pude deixar de me sentir incomodado por termos sido usados para mais do que apenas uma comunicação confidencial.

Esperava que não tivéssemos sido usados para algo malicioso.

Eu discuti minhas suspeitas com Fran.

“Nn. Perguntarei de modo discreto.”, ela disse.

"É, vamos tentar não fazer da guilda um inimigo. Se ele não falar, só abandone o assunto.

— Nn.

Fran virou-se para o mestre da guilda.

— Quais as outras razões?

Ei! O que há com essa pergunta tão direta? Não há nada de discreto nisso!

— Hmm? — disse Melrosse.

— Se precisa de velocidade, envie carta por pássaro. —, disse Fran. — Ainda escondendo algo. Queria que eu entregasse. Por quê?

— Hm. Você com certeza está certa de que um pombo-correio seria mais rápido, ou algum outro método de comunicação também. Mas ainda temos nossas razões.

— Quais são?

— Não vou dizer. Esta informação não é do conhecimento de uma rank C.

Pois é, acabamos de bater de cara na burocracia. Não podíamos fazer nada sobre isso.

— Não me olhe assim. —, disse ele. — Eu ainda vou te dizer o que posso. Veja bem, essa carta tinha como objetivo verificar se as guildas do nosso país podiam confiar em você.

— Algum tipo de teste? — perguntou Fran.

— Sem comentários. Mas, assim como você está duvidando de mim agora, também estávamos duvidando de você desde que você veio ao nosso país. Você ainda precisa fazer algo para conquistar nossa confiança.

E então eles nos pediram para entregar uma carta secreta? Não sei como isso prova nossa credibilidade, mas fiquei feliz por termos cumprido nosso trabalho e evitamos quebrar o selo no envelope. Estávamos acostumados a sermos recebidos de braços abertos no país dos homens-fera, simplesmente porque Fran evoluiu.

A maioria das pessoas que conhecemos tinha assumido que ela era alguém que os ajudaria em seus momentos de necessidade. Mas, na realidade, nem todos os homens-fera se aliariam ao país deles. No que dizia respeito à guilda, tínhamos começado na lista daqueles que não eram confiáveis, mas com essa tarefa cumprida, estávamos sob muito menos escrutínio.

— Entendido. —, disse Fran.

— Rô. Então você está satisfeita com esta explicação? — ele perguntou.

— Por ora.

— Muito bom. Somos gratos pelo trabalho que você fez por nós, por isso lhe daremos uma recompensa adequada.

— Nn. Entendido.

Saímos da sala do mestre da guilda e fomos para o balcão, onde recebemos nossa recompensa. Quando chegamos a uma pousada recomendada pela Guilda dos Aventureiros, já era tarde da noite. Felizmente, a pousada tinha uma recepcionista a postos 24 horas por dia. Era bastante adequado para aventureiros que não tinham horários consistentes e costumavam solicitar hospedagem em horários aleatórios à noite.

Quando chegamos ao nosso quarto, Fran pulou de cabeça na cama.

"Pelo menos tire seu manto."

— Uuu…

"Vou usar purificação em você e te limpar."

— Nmmm.

" Vamos lá. Entre nas cobertas também, tá?"

— Mmph.

Eu ajeitei Fran, que estava meio adormecida, na cama usando telecinesia.

"Boa noite."

— Nn.

Fran apagou em três segundos.

Crianças precisam muito dormir.

Amanhã seria o dia em que enfim visitaríamos o castelo. No começo, fiquei um pouco preocupado em me locomover, mas, por sorte, o mestre da guilda disse que ele nos forneceria um guia. Esperávamos por fim conhecer Kiara, a gata-negra mais velha que foi fundamental para o crescimento de Fran. Eu me perguntei que tipo de pessoa ela era. Esperava que fosse alguém que mimasse Fran como uma criança.



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