Volume 6

Capítulo 267: Mare e Kuina

A pessoa que abriu caminho entre os arbustos era sem dúvida uma camareira. Espere. Não deveríamos estar no meio de um covil contendo monstros rank C? Que diabos uma empregada estava fazendo aqui? Se havia um limite de quão fora de lugar alguém poderia estar, então essa criada havia acabado de exceder isso.

Ela ser uma empregada não era a parte que mais me surpreendeu. Eu já tinha visto muitas camareiras após minha reencarnação.

Fiquei tão surpreso porque a empregada diante de mim estava muito acima do resto. Ela não estava usando o traje tradicional de servente que normalmente se via nas camareiras por essas partes. Em vez disso, ela usava uma versão menos sexualizada do vestido de lolita¹ gótica com babados e rendado que você veria em um anime ou mangá. De forma evidente, suas roupas colocavam a fofura bem acima da funcionalidade.

O vestido, cujas cores principais eram branco e azul marinho, trazia um avental igualmente chique. A parte inferior do vestido se estendia quase até tocar o chão. Isso dava a ela uma sensação decorosa, o que me deixou muito excitado. A garota que usava o uniforme de empregada tinha uma figura bem proporcional e linhas corporais claras. Suas curvas me lembraram muito as de Fujiko². Além disso, seus olhos a faziam parecer fria. Ela era o tipo de camareira que eu gostava. Seus longos cabelos castanhos estavam penteados em três tranças distintas. Sua longa franja foi afastada para mostrar a testa.

Seu nariz estava decorado com um par de óculos de lentes grossas. Eles eram pesados, e se você olhasse para ela diretamente, quase parecia que estavam caindo do rosto dela.

Puxa, óculos redondos são os melhores.

Não havia dúvida em minha mente que seus óculos eram sexy pra caramba. Suas orelhas eram pretas e pareciam as de um cavalo. Eles eram um pouco difíceis de ver, em parte por causa do tecido que ela usava sobre a cabeça e em parte porque haviam sido empurradas para trás, de modo que se misturavam com o cabelo dela. No começo, eu pensei que fossem apenas acessórios.

Ao contrário de sua companheira, a empregada podia ser avaliada.

 

Nome:

Kuina

Idade:

29 anos

Raça:

Mulher-fera (Tapir-Cinza | Baku³)

Classe:

Camareira de Primeira Classe

Level:

49/99

HP:

539

MP:

651

Força Física:

297

Vitalidade:

230

Agilidade:

231

Inteligência:

333

Mágica:

311

Destreza:

336

HABILIDADES

Assassinato Lv7 ⋯ Furtividade Lv8 ⋯ Magia de Cura LvMáx ⋯ Magia de Recuperação Lv4 ⋯ Etiqueta da Corte Lv6 ⋯ Detecção de Presença Lv4 ⋯ Ocultar Presença Lv8 ⋯ Magia de ilusão LvMáx ⋯ Magia Superior da Ilusão Lv2 ⋯ Conter Lv6 ⋯ Costura Lv7 ⋯ Detecção de Intenção Assassina Lv8 ⋯ Ações Silenciosas Lv7 ⋯ Magia de Purificação Lv4 ⋯ Resistência a Status Anormais Lv6 ⋯ Interrogatório Lv7 ⋯ Resistência a Anormalidades Mentais Lv8 ⋯ Lavagem de Roupa Lv8 ⋯ Limpeza LvMáx ⋯ Habilidades de Arremesso Lv9 ⋯ Técnicas de Arremesso Lv8 ⋯ Conhecimento de Venenos Lv8 ⋯ Percepção de Veneno Lv8 ⋯ Resistência Mágica Lv4 ⋯ Percepção de Magia Lv6 ⋯ Absorção Mágica Lv6 ⋯ Magia da Água Lv5 ⋯ Culinária Lv8 ⋯ Alquimia Lv4 ⋯ Ignorar a Dor ⋯ Vontade de Ferro ⋯ Maestria de Magia

HABILIDADES ÚNICAS

Despertar A Prudência de uma Camareira Matriz do Fantasma dos Sonhos

TÍTULOS

Matadora de Assassinos ⋯ Maga da Ilusão ⋯ Aquela que Experimentou e Superou o Inferno ⋯ Senhora da Limpeza ⋯ Camareira Real

EQUIPAMENTOS

Uniforme de Camareira de Seda Divina Luvas de Seda Divina Anel da Feitiçaria Bracelete de Selamento da Ilusão

 

Ela era muito forte, já que tinha evoluído. Ela parecia estar mais do que apta para o combate, ou melhor, assassinato, mesmo sendo uma camareira.

Classificando-a em termos de aventureiros, ela era pelo menos tão forte quanto um rank B. Eu também não ficaria surpreso se ela fosse uma rank A, dado que não tinha ideia de quão grande o aumento de poder que ela obteria ao despertar.

— Minha senhora, eu lhe disse mais de uma vez para desacelerar. Eu não posso te acompanhar, e é perigoso para você correr na minha frente. —, repreendeu a empregada.

— Eu peço desculpas, Kuina. Perseguir minha presa fez eu me perder. —, respondeu a garotinha.

— E quem poderia ser essa sua nova conhecida?

A camareira, Kuina, voltou os olhos na direção de Fran. Seu olhar permaneceu frio, mas não parecia que ela estava julgando Fran. Em vez disso, parecia mais que ela estava apenas com sono, mas ao mesmo tempo, a mulher emitia uma sensação misteriosa. A falta de emoção interior dificultava adivinhar seus pensamentos. Seus olhos eram semelhantes aos de Fran, mas davam a impressão de que ela tinha ainda menos interesse por outras pessoas.

Na verdade, ela não pareceu surpresa, embora tivesse examinado a garota-gato. De todos os homens-fera que conhecemos, ela mostrou a menor reação à evolução de Fran.

— Isso... é surpreendente, tanto que eu quase tropecei e caí. —, observou a empregada.

— Verdade. Nunca vi seu rosto decorado com uma expressão tão profunda de surpresa.

Ao que parecia, ela não estava desinteressada por Fran. Suas emoções apenas não apareceram em seu rosto. Para ser honesto, fiquei impressionado que a companheira dela fosse capaz de discernir suas emoções, sem falar na intensidade delas.

— Você, nomeie-se! — a menina de cabelos prateados comandou.

Eu queria que Fran dissesse a ela que era rude perguntar o nome de outra pessoa sem antes fornecer o próprio, mas...

— Ou melhor, seria mais apropriado fornecer meu próprio nome primeiro. Eu sou Mare, e permito que você se refira a mim como tal! — a garota que se chamava Mare declarou isso em um tom imponente e presunçoso.

— E eu sou Kuina. Prazer em conhecê-la.

Mare colocou as duas mãos nos quadris e assumiu uma posição orgulhosa enquanto se declarava, enquanto Kuina fazia uma mesura clara e rígida ao dar seu nome. Elas pareciam mesmo desorganizados, dada a disparidade entre a maneira como se apresentavam, mas, na verdade, não pareciam pessoas más.

— Aventureira rank C, Fran. Este, Urushi. — Fran respondeu em seu tom habitual. Ela foi claramente destemida.

Au!

— Fran…? Então você é mesmo a Princesa do Raio Negro... — Mare assentiu, como se quisesse confirmar suas próprias suspeitas.

— Nn.

Ela sabia sobre a Princesa do Raio Negro. Espere, então isso significa que ela era uma aventureira? Ela tinha uma criada, então não devia ser isso... ela era uma comerciante ou algo assim? Não, isso não parecia certo...

— Nunca pensei que a encontraríamos em circunstâncias como essas. —, disse Kuina. — Eu gostaria que nos encontrássemos em um ambiente mais pacífico.

— Isso me lembra de algo! Como ousa me roubar de minha presa!? — Mare exclamou, indignada.

— Presa?

— Estou falando da manticora que você matou! Eu estava no meio da minha caçada. Você surrupiou a parte mais agradável da caçada bem debaixo do meu nariz! — Mare gritou indignada quando apontou para o cadáver de manticora assado que estava bem ao nosso lado

 Ao que parecia, a manticora não estava em nosso caminho porque havia perdido seu território, mas porque havia escolhido fugir de Mare e de sua criada.

Em circunstâncias normais, minha primeira reação seria acusar Mare de falar besteiras, mas eu tinha certeza de que ela e Kuina seriam capazes de lidar com uma manticora sem problemas.

Não havia como debater, havíamos roubado a presa delas. Mas, ao mesmo tempo, também era culpa delas deixarem sua presa fugir. Ainda assim, também reclamaríamos se estivéssemos no lugar das duas.

"Prefiro não transformar isso em qualquer tipo de conflito maior, se possível. O que me diz, Fran?"

"Nn…? Posso apenas dar manticora?" ela respondeu com indiferença.

“Tem certeza?”

“Não ligo.”

Pessoalmente, não tinha problemas em dar os materiais, se isso significasse evitar conflitos. O único problema seria que eu já tinha absorvido o núcleo. Núcleos de monstros eram valiosos para os aventureiros e, como não havia como vendê-lo, eu não tinha certeza de que conseguiríamos conversar sobre as circunstâncias atuais.

— Então posso fornecer materiais da manticora. —, ofereceu Fran.

— Fique com eles. Eu não preciso deles. — Mare a rejeitou categoricamente.

— Minha senhora, eu imploro que você reconsidere. —, interrompeu Kuina. — Nós precisamos deles, já que nossos fundos estão começando a ficar secos.

— ... admito que não há mal em adquiri-los. No entanto, eles são apenas um extra. Eu estava mais interessada em matar a manticora e na experiência que ganharia, pois estou bem perto de subir de nível. — Mare reclamou.

Ó, então ela estava no meio do grinding. Fazia sentido. Se Mare fosse tão forte quanto Kuina, ela precisaria derrotar algo pelo menos tão forte quanto uma manticora, se quisesse ganhar uma quantidade significativa de experiência.

— Sua culpa. Deixou a presa escapar. — apontou Fran.

Mare resmungou de insatisfação, com o rosto franzido.

— Eu acredito que a Princesa do Raio Negro está certa, minha senhora. —, observou Kuina.

— … entendo. —, Mare cedeu. — ... mas não vou te perdoar, a menos que você aceite um sparring comigo!

Mais uma vez, Mare falou em um tom arrogante e presunçoso, mas eu não me importei. No começo, eu pensei que era por causa de quão bela era sua aparência, mas Fran se sentia da mesma maneira que eu, então não devia ser isso. De forma misteriosa, Fran não sentiu repulsa com isso, como costumava sentir quando outros nobres faziam o mesmo.

Seria apenas porque sua fofura parecia anular sua teimosia? Ou porque seu orgulho quase parecia natural para ela? É claro que não senti vontade de ajoelhar-me diante dela e obedecer a cada capricho da garota, mas senti vontade de concordar e aceitar que isso era a coisa natural a se fazer.

— Interessada. — disse Fran.

— Não tenho certeza de que esse seja um pedido que você deveria fazer com alguém tão de repente, Minha Senhora. —, observou Kuina.

— Um duelo com a famosa Princesa do Raio Negro. —, disse Mare, ignorando sua criada, — seria mais do que suficiente para compensar a perda da manticora. O que você diz, Princesa do Raio Negro?

Eu nem precisava ouvir a resposta de Fran para saber o que ela estava pensando. Seus olhos estavam brilhando de uma maneira que só acontecia quando ela estava no modo de batalha. Era evidente que ela iria aceitar o pedido de Mare.

— Entendido.

— Uma resposta esplêndida! — disse Mare, feliz. — Vamos encontrar um lugar mais conveniente para lutarmos. Esta área não é bem o que eu chamaria de mais adequada.

— Nn!

Bem, achei que estava tudo bem. Nem Kuina nem Mare haviam mentido, e nem estavam dando a impressão de que queriam matar a garota-gato, então, por que não?


Notas

[1] Lolita é um estilo japonês de moda cujas primeiras manifestações apareceram em fins da década de 70 e começo da década de 80. Inspiradas em parte na cultura kawaii ("fofa" ou "adorável") japonesa e na nostalgia de outros períodos, sejam períodos históricos (vitoriano ou Rococó) ou simplesmente da própria infância, as lolitas se dividem em vários subestilos. O estilo é caracterizado por saias rodadas no comprimento do joelho, em diversas formas (dependendo do subestilo) e suportadas por armações, renda de boa qualidade (geralmente algodão), cabelos cacheados e/ou acompanhados de uma franja reta e tecidos pouco brilhantes são comuns a todos os estilos.

[2] Personagem de Lupin III.

[3] Baku é um youkai japonês originalmente da China. É normalmente descrita como uma criatura atarracada, com tromba, semelhante à anta, animal com o mesmo nome em japonês. Também é descrito como um animal quimérico. A descrição mais comum hoje em dia mostra um animal com corpo de urso, patas de tigre, tromba de elefante, cauda de boi e olhos de rinoceronte, mas existem outras descrições como uma da China antiga que o transforma em um animal semelhante a um bode com nove caudas, quatro orelhas e olhos em suas costas. O Baku é uma fera benévola e na China acredita-se que possa repelir o mal, mas ela tornou-se mais conhecida por sua habilidade de devorar os pesadelos das pessoas e a má sorte que os acompanha. Pessoas que acordam após um pesadelo podem pedir a ajuda do Baku, repetindo três vezes: "Dou o meu sonho para o Baku comer", ou uma frase parecida. A imagem da criatura, quando colocada em ornamentos nas camas, é considerada benéfica e eram pintadas com tinta dourada nos travesseiros da nobreza.

[4] Griding, em jogos eletrônicos, é um termo que se refere a execução de tarefas repetitivas para se obter alguma vantagem usando a mesma estratégia. Costumam ser comuns em jogos de RPG onde a atividade pode ser necessária para se desbloquear habilidades ou itens.



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