Volume 6

Capítulo 264: Uma jornada a bordo de uma carruagem com chifres

A carruagem com chifres em que estávamos andando sacudiu enquanto viajava pela rodovia em um ritmo que um veículo puxado por cavalos nunca poderia igualar. Seu destino era, é claro, Argentlapn, a cidade mais próxima da subseção mais transversal da Floresta do Leão-Escorpião. Embora estivéssemos trabalhando como guardas, estávamos agindo da mesma maneira que qualquer outro passageiro. Não precisaríamos fazer nada a menos que estivéssemos sujeitos a um ataque.

Uma atmosfera calma encheu o interior da carruagem. Era uma mistura estranha, que de alguma forma era relaxante e festiva ao mesmo tempo.

— Você gostaria de um lanche, milady? — Um dos passageiros deu a Fran uma guloseima.

— Obrigada. —, Fran aceitou com um aceno de agradecimento.

Um segundo e um terceiro passageiro logo imitaram o primeiro e ofereceram a garota algumas guloseimas, o que, mais uma vez, ela aceitou. Seu reconhecimento de suas oferendas fez com que os outros passageiros a bordo do vagão reagissem com alegria. Falando dos outros passageiros, a maioria deles eram indivíduos mais velhos e não evoluídos bem além de seus auges.

Foi precisamente esse status que os levou a vê-la como um ídolo a ser adorado e a banharam com uma quantidade absurda de respeito. O fato de que ela era uma gata-negra, uma integrante de uma tribo conhecida por não evoluir, apenas amplificou ainda mais a admiração que eles tinham por ela.

Em outras palavras, o clima festivo tinha decorrido da presença de Fran. Ela estava sendo celebrada por permitir que os homens-fera mais velhos respirassem o mesmo ar que ela. Mesmo assim, eles tinham dado oferendas demais para ela segurar; mas os muitos lanches apresentados a garota acabaram sendo depositados na frente dela.

Os mais velhos não eram os únicos a bordo do veículo. Alguns de seus netos também estavam. Normalmente, seria de se esperar que as crianças olhassem para o monte de lanches com ganância ou inveja, mas isso não aconteceu. Como seus avós, eles também estavam muito ocupados idolatrando Fran. Até onde eles sabiam, ela era uma heroína. A combinação das atitudes de seus avós e seus instintos como homens-fera a considerava como tal.

Gritos jovens e inocentes de: — Ebolui é tão legau! —, — Eu queru ser comu Furan! —, e — Incrível! — encheram a carruagem enquanto crianças a admiravam e a elogiavam.

Mais uma vez, o clima era tranquilo e relaxante. Mas lamentavelmente, não durou muito.

— Mon-monstros avistados! — O cocheiro gritou em pânico quando viu um grupo de inimigos à frente. O conteúdo de sua mensagem fez com que os passageiros se enrolassem com medo e direcionassem seus olhares para Fran, como se implorassem para que ela lhes trouxesse salvação resolvendo a situação.

— Milady, por favor! Elimine os monstros! — O cocheiro levantou a voz de novo assim que recuperou um pouco de sua compostura.

— Nn. Entendido. —, Fran acenou com a cabeça enquanto pisava na plataforma do cocheiro e olhava para frente.

— Muitíssimo obrigado!

Dez estranhos monstros parecidos com pastores-alemães pareciam estar nos esperando um pouco mais à frente na estrada.

— Não pode apenas passar por cima? Há apenas dez.

— Sin-sinto muito, milady, mas eu temo que não vai ser possível! — O cocheiro respondeu.

Essa não era bem a resposta que eu esperava. Eu sabia que os cães eram monstros, mas o Chifre-Duplo ainda era do tamanho da porcaria de um rinoceronte. Achei que ele seria capaz de esmagar as criaturas em forma de cachorros pelo caminho e continuar se movendo.

Um exame mais detalhado me revelou por que eu estava errado.

 

Nome:

Cão-Venenoso

Raça:

Fera Demoníaca Cachorro

Status:

Level 11

HP:

33

MP:

13

Força Física:

17

Vitalidade:

13

Agilidade:

61

Inteligência:

8

Mágica:

14

Destreza:

12

HABILIDADES

Perseguição Lv3 ⋯ Rugido Lv1 ⋯ Faro Aguçado ⋯ Presa Venenosa Mágica

 

Os monstros se chamavam Cães-Venenosos. Suas estatísticas eram bastante baixas, mas eles eram capazes de utilizar mordidas tóxicas através do uso de sua agilidade. Além disso, eles usariam essa estatística de agilidade superior para perseguir seus inimigos até que eles sucumbissem ao seu veneno. Era uma estratégia eficaz, e até o Chifre-Duplo estava propenso a ser vítima, dado o grande número de Cães-Venenosos. Havia, no entanto, uma solução bastante simples. Tudo o que precisávamos fazer era obliterar os inimigos antes que se aproximassem de nós.

— Não diminua a velocidade. —, Fran ordenou ao cocheiro enquanto se posicionava e me levantava em uma posição pronta para o combate.

— Tem-tem certeza?

— Nn. Só deixe comigo.

— Sim-sim senhora! — Embora ele parecesse não ter confiança, o cocheiro ainda obedeceu aos comandos de Fran porque ela tinha evoluído, e ele não.

"Tudo bem, vamos nesta!" Eu gritei telepaticamente.

— Nn.

Fran me lançou em direção aos monstros enquanto eu aumentava minha velocidade com telecinesia. O ataque foi rápido; atravessei dois núcleos de nossos inimigos e os absorvi com precisão. Então usei uma mistura de magia do vento e força telecinética para evitar que escapassem antes de rasgá-los um após o outro.

Peguei seus corpos e os enfiei no meu depósito logo depois de derrotá-los. Os cães-venenosos eram muito fracos. Eles não deviam valer muito, mas decidi saqueá-los mesmo assim, só por precaução.

O cocheiro parecia querer dizer algo sobre o fato de que os monstros tinham desaparecido em um instante, cadáveres e tudo mais, porém, acabou guardando seu comentário porque não queria estragar o humor de Fran. Em vez disso, o homem soltou um suspiro de alívio e agradeceu, ao que a garota respondeu acenando de leve quando voltou para o interior do veículo. Lá, ela se viu regada por gritos de gratidão e louvor.

Ela respondeu a eles um a um no início, afirmando que não tinha feito nada de impressionante, e que ela estava apenas fazendo seu trabalho, mas acabou sendo oprimida pelo entusiasmo e forçada a recuar para o lado do cocheiro.

Ela já tinha cumprido seu dever e mostrou o quão forte um gato-negro poderia ser, então não havia qualquer problema com sua retirada. Mesmo assim, ela ainda inventou uma desculpa e afirmou que estava se reposicionando para que pudesse ficar atenta a quaisquer monstros adicionais.

— Haha, eles com certeza fizeram um alvoroço. — O cocheiro sorriu sem graça. Os passageiros tinham sido bastante barulhento, então ele sabia bem o que tinha acabado de acontecer.

— Nn.

A única coisa que seguiu a resposta da garota foi o silêncio. O cocheiro reconheceu que havia uma grande lacuna entre o status social da garota e o seu próprio e, assim, permaneceu em silêncio e não tentou falar com ela. Dito isso, ele não parecia tão incomodado com o silêncio. Ele apenas continuou a olhar para a frente e dirigir o chifre-duplo ao longo da estrada diante dele.


E assim, 4 horas voaram.

— Cidade avistada. —, Fran comentou quando ela acordou de um cochilo.

— Você tem olhos muito bons! Estamos prestes a chegar em Argentlapn. —, respondeu o cocheiro, surpreso.

Demorou um bom tempo, mas enfim chegamos ao nosso destino. Houve apenas um único grupo de monstros pelo caminho. Fran não tinha muito o que fazer. A combinação de seu tédio e o tremor suave do veículo fez com que ela acabasse cochilando em cima do assento do condutor durante a maior parte da viagem.

— Guilda dos Aventureiros na cidade?

— E uma bem grande. É bem na entrada da cidade, então você vai vê-la em breve.

Ao contrário de Greyseal, Argentlapn não tinha um espaço especificamente destinado para carruagens com chifres. Nosso veículo acabou parando ao lado de uma diligência¹ nos arredores da cidade.

Os passageiros começaram a descer logo após o veículo chegar ao seu destino. Cada um agradeceu Fran e, em seguida, o condutor, nessa ordem, enquanto saíam.

— Obrigado!

— Devemos nossas vidas a você, milady!

— Xau, xau, Furan!

Ela respondeu a eles com o usual "Nn", antes de sair da área de desembarque.

Para ser honesto, ter pessoas nos tratando assim era meio cansativo. Parece que teremos que aturar isso se quisermos continuar reforçando a posição da Tribo dos Gatos-Negros na sociedade dos homens-fera...

Senti o desejo de soltar um gemido mental enquanto contemplava esse pensamento, mas fui interrompido por Fran.

— Mestre.

“O que foi?”

— Cansada…

Parecia que eu não era o único. Mas ainda assim, não era um problema sério. Com certeza ficaríamos acostumarmos com isso no devido tempo.


Nota

[1] Uma diligência é um tipo de carruagem fechada de quatro rodas utilizada para o transporte de passageiros e mercadorias, extremamente resistente e puxada por quatro cavalos. Amplamente usada antes da introdução do transporte ferroviário, a diligência fazia viagens regulares entre estações, que ofereciam locais de descanso para quem viajava nestes veículos.



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