Volume 6

Capítulo 231: Regus, o informante

Começamos a andar para procurar o Velho Gallus.

Comecei a pensar com quem precisávamos conversar para encontrá-lo. A Guilda dos Aventureiros sempre era uma opção, uma vez que os aventureiros estavam sempre à procura de ferreiros qualificados. Havia uma boa chance de alguém saber algo sobre onde ele estava.

Da mesma forma, a Guilda dos Ferreiros também parecia uma escolha bastante decente. Ele provavelmente teria passado por lá pelo menos nos últimos tempos se ainda estivesse trabalhando em Barbola.

"Acho que devemos ir primeiro à Guilda dos Aventureiros."

— Entendido.

Para Fran, a Guilda de Aventureiros era mais ou menos sua base de operação. Ela já havia se encontrado em pessoa com Gamud, o mestre da guilda, e até se tornou famoso por causa de quão longe ela chegou no torneio de Ulmut. Simplesmente não havia como a Guilda recusar um pedido de informações sem motivo.

Falando nisso, a rede de informações da Guilda dos Aventureiros devia superar a dos Ferreiros. Não havia razão para escolher a segunda das nossas duas opções em detrimento da primeira. Diante de tudo isso, acabamos virando nos calcanhares e seguimos em direção à Guilda dos Aventureiros.

Por alguma estranha razão, Fran e Urushi acabaram se remexendo de forma inquieta lançando seus olhares por todo o lado enquanto avançávamos.

A inquietação deles parecia indicar que eles estavam sentindo algo.

"Há algo errado?"

— Cheiro de curry.

Eu esqueci que Barbola estava no meio de uma explosão de curry até que Fran e Urushi me lembraram disso. Havia várias barracas de rua em nossa vizinhança. Fazia sentido que pelo menos uma delas estivesse servindo o prato, considerando sua popularidade.

Fran conseguiu, de alguma forma, limitar a busca a exata tenda em questão e se aproximou de forma casual. Ela fez isso de forma tão natural que quase parecia instintivo.

Uma parte de mim não pôde deixar de suspeitar que ela cairia em qualquer armadilha que envolvesse atrair a presa com curry, mesmo se estivéssemos no meio da exploração de um calabouço.

— Bem-vinda!

— Isto, o quê?

— Sim, esses é meu macarrão de curry. Nóis fazêmo isso com base no curry.

Fiquei surpreso por alguém já ter tido a ideia de usar curry para criar um prato à base de macarrões. Pareceu-me que a receita deles envolvia juntar o macarrão e o curry em uma panela grande e cozinhar tudo de uma vez. O resultado parecia muito bom quanto a aparência, mas achei que o macarrão acabaria sendo cozido demais e ficaria empapado. Ainda assim, eu não podia afirmar que estava sem interesse. O mesmo parecia valer para Fran, pois ela comprou duas porções, uma para si e outra para Urushi.

— Urushi, aqui.

Au!

Meus dois companheiros viraram suas tigelas inteiras no mesmo instante. Eles pareciam satisfeitos com o sabor.

"Como estava?"

— Gostoso.

Au, au!

"O macarrão não estava muito empapado?"

— Nn.

Parecia que o chef tinha conseguido criar algo para manter os macarrões gostosos e firmes. Perguntei a Fran um pouco mais tarde, e conseguimos concluir que o macarrão era do tipo que não ficava empapado, a menos que você os deixasse por muito tempo na água. Eles provavelmente continham algo como konjac¹ ou celofane².

O prato era interessante e fiquei impressionado com a engenhosidade do chef. Ele aumentou o nível; eu estava começando a esperar muito mais dos pratos de curry das outras pessoas.

Fran continuou a visitar barraca após barraca enquanto se dirigia para a guilda.

A Guilda dos Aventureiros de Barbola era animada; ela continha um número incrível de aventureiros.

Uma boa parte deles pareceu desviar o olhar da direção da garota no momento em que ela entrou. Eles retiraram seus olhares, como se não estivessem dispostos a encará-la. Seus olhos pareciam cheios de dúvida e suspeita, mas ela não se importava e, em vez disso, apenas marchou direto para o balcão.

— Tenho pergunta.

— Por favor, sinta-se livre para perguntar.

O profissionalismo da recepcionista me impressionou. Ela tratou Fran com cortesia e educação, apesar de não conhecer sua identidade.

— Procurando por alguém.

— Você deseja emitir uma solicitação de busca? Posso apresentá-la a um aventureiro especializado nesse campo, se desejar. Você se importaria de negociar diretamente com a pessoa em questão?

Gostei da sugestão da recepcionista. A pessoa em questão poderia fazer um bom trabalho se a guilda o considerasse um contato respeitável o suficiente para uma recomendação.

— Pode ser. Posso conhecer pessoa logo?

— É claro. Afinal, ele está bem ali.

A recepcionista dirigiu o olhar para um aventureiro próximo, um homem de meia-idade com uma classe do tipo batedor. Suas estatísticas baseadas em combate eram bastante baixas, mas isso acontecia apenas porque ele se especializou na coleta de informações. Ele possuía várias habilidades baseadas em detecção, furtividade e em negociação.

— Ei, ouvi dizer que você está procurando alguém?

— Nn.

— Eu sou o que muitas pessoas gostam de chamar de fracote porque eu praticamente só faço trabalhos que não me obrigam a sair da cidade. Mesmo assim, posso compensar isso porque sei de quase tudo o que acontece aqui em Barbola, por isso devo ser capaz de te apontar a direção correta. De qualquer forma, eu acabei divagando um pouco, por que não começamos os negócios?

Nosso novo conhecido se apresentou como Regus. Ele parecia dirigir suas operações dentro da guilda, ele nos fez sentar com ele em um dos cantos enquanto falava. Sua atitude era descontraída e ele também não parecia menosprezar Fran, o que era bom.

— Então, quem exatamente você estava procurando mesmo?

— Gallus. Ferreiro.

— Ó? Você está procurando o famoso ferreiro, não está?

— Conhece ele? Quero saber o paradeiro atual.

As coisas estavam melhorando. Parecia que poderíamos encontrar o Velho Gallus contanto que pagássemos.

— Pagarei taxa de informação.

— Não se incomode com isso. Eu não vou cobrar de você.

— Nn? Por quê?

— Bem, sabe, o problema é que eu não sei muito sobre onde ele está agora. Eu tenho um pouco de informação para você, mas não é nada substancial o suficiente para justificar uma cobrança por isso. Além disso, um relacionamento com a Princesa do Raio Negro vale muito mais para mim do que alguns trocados.

As palavras de Regus demonstraram que ele agiu da maneira que agiu porque sabia quem Fran era. De qualquer forma, eu não me importei, pois acabamos recebendo as informações que precisávamos.

— A última vez que ouvi falar dele foi há cerca de dez dias. Ele ainda estava em Barbola, e acho que ele fez alguns reparos na arma do Mestre da Guilda.

Não havia mais informações sobre ele. O próprio Regus era da opinião de que Gallus devia ter deixado a cidade.

— Mas não vi em Ulmut.

— Vocês não entraram em contato nenhuma vez?

— Nn.

— Hmmm... posso pensar em várias possibilidades, se for esse o caso.

A primeira possibilidade que Regus levantou foi que Gallus se metera em algum tipo de problema a caminho de Ulmut. O velho poderia ter sido atacado por feras demoníacas ou ladrões.

— Mas duvido que seja isso. O torneio tornou as estradas mais povoadas do que o habitual. Houve mais patrulhas checando a rota também, então haveria alguns relatos de testemunhas se isso tivesse acontecido.

Gallus era proficiente em Habilidades com Martelo e Magia do Fogo, então eu duvidava que ele fosse atrasado por qualquer tipo de conflito menor.

A segunda possibilidade era que ele se envolveu em um incidente ocorrido dentro de Barbola, um que aconteceu antes que ele conseguisse sair. Ele era um ferreiro habilidosíssimo; havia uma chance de ele ter sido sequestrado por um comerciante de escravos ou organização criminosa que queria fazer uso de suas habilidades.

Embora a primeira e a segunda possibilidades insinuassem que ele estava com algum tipo de problema, isso por si só era uma suposição que poderia ou não estar correta. Gallus poderia ter aceitado um emprego que exigia que ele ficasse fora do radar. O velhote tinha a tendência de fazer o que queria, mas isso não significava que ele estava a salvo da realeza ou de outros nobres mais influentes. Ele poderia ter sido arrastado por um deles, porque eles queriam que ele fizesse alguma tarefa ultrassecreta.

Além disso, sempre havia a chance de ele apenas se esquecer de manter contato, porque ficava um pouco absorto em seu trabalho. Ele tinha um verdadeiro temperamento de artesão, de modo que era sempre uma possibilidade que tínhamos que considerar.

Não havia como descobrir exatamente o que havia acontecido.

— Você se importaria de me dar um dia para investigar?

— Obrigada. Alguma tarefa para mim?

— Eu não acho que algo muito chamativo funcione para nosso benefício... hmm... espere, você conhece o mestre da guilda de Barbola, certo?

— Nn.

— Tudo bem. Provavelmente seria melhor para você ver se consegue obter informações tanto do mestre da guilda quanto da guilda dos ferreiros. Não se preocupe em investigar e descobrir se eles estão tentando esconder alguma coisa. Apenas fale com eles como faria normalmente.

— Entendido.

Tudo bem, acho que isso significa que iremos visitar Gamud.


Notas

[1] Konjac, também conhecida como konjak, konjaku, língua-do-diabo, voodoo lily, ou elephant yam (mesmo nome usado para a A. paeoniifolius), é uma planta do gênero Amorphophallus. Nativa do Sudeste Asiático, do Japão e da China até ao sul da Indonésia. O konjac é cultivado na Ásia Oriental por ser uma grande fonte de amido, sendo usado para criar uma farinha e uma pasta com o mesmo nome. É usado no veganismo como substituto de gelatina.

[2] O celofane é um polímero natural derivado da celulose. Tem o aspecto de uma película fina, transparente, flexível e resistente a esforços de tensão, porém muito fácil de ser cortado. Outra de suas qualidades é ser biodegradável. Não resiste bem à umidade, já que tende a absorvê-la.



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