Volume 6

Capítulo 230: De volta a Barbola

"Puxa, enfim voltamos a Barbola. Com certeza já faz um tempo desde a última vez que estivemos aqui."

— Nn.

Apenas um mês se passou desde que deixamos a cidade, e ela não havia mudado muito enquanto estávamos fora. A única diferença real era que a maioria das coisas que haviam sido destruídas pelos Seres Malignos havia sido consertada. Afinal, o estado atual da cidade fez tudo isso parecer algo que não era tão importante. Mesmo assim, eu ainda não podia deixar de sentir que estávamos longe há um bom tempo.

"Vamos começar visitando todos que conhecemos."

— Nn.

O primeiro lugar que visitamos foi a Guilda dos Chefs, porque era o local mais próximo. Infelizmente, a pessoa que tínhamos a intenção de visitar, o velho juiz, não pôde ser encontrado.

Tentamos sair no momento em que descobrimos que ele não estava lá, mas uma das recepcionistas nos parou.

— Hum, com licença, mas eu poderia ter um pouco do seu tempo?

— Nn?

— A verdade é que você e seu mestre se classificaram para um aumento de rank, então eu estava pensando se você não se importaria de eu lhe dar cartões da guilda mais atualizados.

Não me lembrei do fato de sermos parte da Guilda dos Chefs até que a recepcionista nos lembrou disso. Eu tinha esquecido por completo que tínhamos que nos inscrever para participar do concurso de culinária.

E foi exatamente por isso que não entendi por que estávamos tendo um aumento de rank em nossa classificação como chefs. A única coisa que fizemos foi participar do concurso, mas eles teriam aumentado nossos ranks antes de partirmos se não fosse por tudo o que tinha acontecido.

— Por quê?

— A receita de curry pela qual vocês dois são responsáveis se tornou muito popular. A taxa de crescimento do curry é tão explosiva que logo se espalhará por toda a nação.

Fiquei bastante satisfeito ao ouvir as palavras da recepcionista. Fran acabaria se regozijando se o curry se tornasse tão popular que ela poderia comprá-lo independentemente de onde estivesse.

— Sua contribuição para o desenvolvimento da economia e da cultura de nosso país deu a você o direito de receber cartões de guilda de prata.

Fran pegou nossos dois cartões e os trocou por um par com bordas prateadas que a guilda já havia preparado para nós com antecedência.

Os cartões emitidos pela Guilda dos Chefs eram bem diferentes daqueles que a Guilda dos Aventureiros emitia no sentido de que eles não estavam magicamente encantados de nenhuma maneira. Comparar os dois foi como comparar o analógico com o digital.

— Esse cartão serve para demonstrar que você tem o nosso apoio em todos os empreendimentos relacionados a negócios que você realizar dentro da cidade.

— Nn. Entendido.

Nós não precisávamos do apoio deles, mas, ei, por que não, certo...?

— Lembre-se de que sua classificação pode cair com o tempo se você não renovar o seu cartão antes que ele expire, ou se você não conseguir nada significativo por um longo período de tempo.

Eu não estava tão interessado antes, mas fui sugado quando a recepcionista nos disse que tínhamos que fazer coisas de forma ativa para manter nosso rank. Nós já tínhamos o aumentado, então deixá-lo cair parecia um desperdício.

"Mestre, e agora?"

"Hmmm… acho que deveríamos dar a eles algum tipo de receita."

O interesse deles em curry parecia indicar que eles apreciariam se déssemos algum tipo de receita exótica. Hmmm…

"Você tem alguma ideia Fran?"

Entregar um dos pratos favoritos de Fran parecia ser a melhor escolha. Eu vim de outro mundo, por isso duvidava que meu paladar fosse o melhor.

"Nn… Katsudon¹?"

"Sim, acho que essa parece uma ideia bastante decente."

Alimentos fritos e receitas que utilizavam ovos eram muito raros. Da mesma forma, o molho de soja também foi considerado um tempero incomum. A combinação dos três fatores mencionados acima fazia do katsudon um prato raríssimo. Eu nunca tinha visto nada que tivesse a menor semelhança com isso aqui em Barbola.

E assim, acabamos entregando à guilda uma cópia da minha receita de katsudon. Nos certificamos de registrar como fazer do katsu² parte do katsudon, bem como qualquer tempero opcional da receita e detalhes mais refinados, a fim de facilitar a propagação da receita.

Fran preencheu todos os documentos necessários e os entregou à recepcionista.

— Uou. Isto… é incrível. Parece uma inovação genuína e até descreve como a receita pode ser expandida. Devo registrar esta receita com seu nome e o de seu mestre?

— Nn. Por favor.

— Tudo bem, fique à vontade para considerar esta receita aceita. A tornaremos pública em breve. Parece realmente promissor, então espero que se espalhe da mesma forma que o curry.

— De verdade?

— É claro. Sua receita de curry a tornou bastante conhecida. Tenho certeza de que muitos chefs pedirão a receita no momento em que souberem que vocês dois são seus progenitores, não duvido que ela se espalhe por Barbola como um incêndio.

As perspectivas da receita do katsudon pareciam muito boas. Eu esperava que um dos chefs de Barbola fosse criativo o suficiente para combinar nossos dois pratos e criar katsu-curry.

Com isso feito e resolvido, deixamos a Guilda dos Chefs. A recepcionista se despediu de nós com um grande sorriso no rosto.

"Hmm… e agora? Isso levou um pouco mais de tempo do que eu esperava."

— Orfanato?

"Essa não é uma má ideia. Talvez seja melhor pararmos e dar uma olhada."

Sabíamos que Amanda havia feito algo, mas nunca visitamos pessoalmente o local após sua intervenção.

Fran, Urushi e eu acabamos congelando no momento em que enfim colocamos os olhos no orfanato. A mudança sofrida foi incrível.

O exterior costumava ser todo bagunçado; podia-se dizer que o lugar estava em frangalhos à primeira vista. Isso já havia sido reparado, mas não foi só isso. A parede ao redor do orfanato havia sido repintada e o jardim agora exibia um enorme canteiro de flores.

— Olhem, é Urushi!

— A garota aventureira está aqui!

Por sorte, as próprias crianças não haviam mudado. Eles estavam vestindo roupas melhores que não pareciam nem um pouco surradas, mas isso era tudo. Bem, essa é Amanda para você, eu acho.

Parecia que todos os órfãos ainda se lembravam de Fran e Urushi, pois eles imediatamente se reuniram ao seu redor com sorrisos nos rostos.

— Ó, ei Fran!

— Io.

Io saiu do orfanato e nos cumprimentou ao perceber que as crianças estavam se agitando. Eu ainda me lembrava dela, porque ela era gentil com as crianças e muito boa em cozinhar.

— Muito obrigada por tudo que você fez por nós. O orfanato está enfim em mãos muito melhores e as crianças estão sorrindo muito mais do que estavam antes.

A talentosa chef curvou a cabeça para nós, embora não pensássemos ter feito muita coisa. Foi Amanda quem salvou o orfanato, não nós.

— Amanda nos disse que você foi a única razão pela qual ela sabia que o orfanato estava com problemas e que você havia pedido a ela por ajuda.

— Só fiz isso. Nada mais.

— Não seja tola. Há também o assunto da receita de curry que você publicou. As crianças adoram isso. Eles não conseguem se satisfazer, mesmo que eu tenha começado a fazer esse prato uma vez por semana.

— O curry que você faz é realmente saboroso, Sra. Io!

— É supergostoso!

Io já era capaz de fazer uma sopa deliciosíssima sem acesso a nada além de vegetais da classe mais baixa. Eu estava muito curioso para saber o que ela era capaz de fazer agora, uma vez que Amanda havia a fornecido acesso a ingredientes de maior qualidade.

Ao que parecia, amanhã era o dia de curry desta semana. Acabamos pedindo que Io fizesse um pouco a mais para Fran e Urushi porque eu queria vê-la experimentando o prato.

— Tchau. Vou visitar amanhã.

— Estaremos esperando!

— Até mais!

— Tchau Urushi!

Eu levei um momento para considerar o que fazer a seguir. Verificar o Conglomerado Luciel parecia ser uma das poucas opções restantes. Todos os nossos outros conhecidos eram aventureiros, o que significava que ainda deviam estar em Ulmut.

Isso, no entanto, não significava que estávamos sem opções.

"Tá legal, o que você acha de procurarmos o velhote?"

— Nn. Parece bom.


Notas

[1] Katsudon é um prato japonês, constituído por arroz coberto por tonkatsu (milanesa de porco) temperado com molho próprio e envolto por ovo bem cozido ou não. É classificado como uma variedade dos pratos japoneses chamados donburimono (ou simplesmente donburi ou don). O katsudon pode ser servido em jūbako (caixa japonesa própria para servir comida), sendo chamado de katsujyū neste caso. Também pode se servir somente a parte superior do prato, o tonkatsu temperado e envolto em ovo, e neste caso é chamado de katsutoji (katsu selado) ou tamagotoji (selado por ovo).

[2] Katsu é a abreviação de katsuretsu, a forma como os japoneses pronunciam a palavra inglesa "cutlet", que significa "costeleta" em português. Costeleta é um osso e carne adjacente à cavidade torácica (de carneiro, de vaca, de porco, de vitela, borrego, cabrito, etc.), cortada em redondo (uma costela por cada costeleta). Pode ser preparada de várias formas: frita, empanada e grelhada, na chapa ou no carvão.



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