Masmorra do Desejo Brasileira

Autor(a): Alonso Allen & Zunnichi


Volume Único

Capítulo 28: Meu Único Desejo

A luz da espada pulsou, o tempo congelou e de uma hora para a outra houve um choque repentino no ar. O homem de armadura deu um passo para trás, aquela força sobrenatural, era impossível uma sacerdotisa ser capaz de desferir um golpe forte como esse e rebater sua lança para trás. Ele estendeu a mão, mana negra se uniu na ponta de seus dedos e tocou a testa dela.

 

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A magia de Inspirar Medo falhou

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Como ela…?

 

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A habilidade Coragem foi ativada.

A habilidade Inspiração Divina foi ativada.

A habilidade Proteção Arcana foi ativada.

A habilidade Barreira foi ativada

A habilidade Benção da Deusa foi ativada

Atributos total: Indefinido

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Alice encarou a lança, de repente o objeto apareceu em seus dedos, saindo do domínio de seu inimigo. Ela viu seu rosto refletido no metal frio em meio aos adornos dourados, era uma aparência digna de uma deusa, e por algum motivo não a satisfazia tê-la. Puxando a arma para trás, a energia divina se apoderou da lança.

— Eu sempre fui franca, meus pais me abandonaram apenas por ser quem sou. Eu sou uma vergonha para minha família, desgraça só aconteceu a mim porque nasci…

 

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A habilidade Cântico Constrangido foi ativada.

O poder da magia aumentou em 50%.

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A luz ao redor da lança a revestiu numa poderosa aura que estalava o ar com eletricidade. Não demorou um instante para que a arma voasse em direção ao seu verdadeiro portador, mas agora ele não tinha mais força para empunhá-la, sendo parcialmente acertado no flanco.

A armadura se destroçou em instantes, seu braço direito foi arrancado e um buraco se abriu no canto em que a armadura quebrou. Medo tomou conta do corpo do ser, que nunca imaginou encontrar uma pessoa tão forte quanto ele.

Tudo foi planejado para que enfrentasse os aventureiros no final e protegesse o mundo de um desejo que pudesse destruir tudo, no entanto, a sacerdotisa enfrentava com tamanha naturalidade um dever imposto a ele séculos atrás. O semblante de Alice se contorceu em uma carranca, a espada em forma de cruz na sua mão aumentou de tamanho, seguido por uma sequência de passos cada vez mais pesados em direção ao inimigo.

— Eu nunca fui pura de verdade. Eu sempre desejei coisas ruins a alguns, usei meu encanto para conseguir coisas dos outros… Haha… Huahahahaha! Eu não valho isso o que acreditam que eu sou! Meu corpo até mesmo foi maculado!

 

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A habilidade Cântico Constrangido foi ativada.

O poder da magia aumentou em 50%.

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— Mas, ainda assim, ainda sendo a pessoa que sou… Eu farei questão de expurgar você desse mundo, independente do quão pura eu for.

A intensidade do brilho cresceu. Alice ergueu a cruz para o alto e a desceu com toda a força que tinha, cortando o corpo do homem em dois, as chamas divinas consumiram o corpo dele, destruindo o teto e permitindo que a luz do sol entrasse na sala do trono. Aquele ser de armadura desapareceu por completo, sua lança foi a única coisa que sobrou, despencando do céu e se cravando no chão.

A clériga tomou um grande suspiro. A energia mística correndo pelo seu corpo sobrecarregou sua mente, rachaduras abriam sua pele e despejavam gotas de sangue. Aos poucos, sua consciência também desaparecia, como se as memórias fossem absorvidas pela mana ao invés de se manterem dentro da cabeça.

O fim se aproximava. A espada caiu, seus dedos estavam quebradiços como os de uma velha boneca de porcelana. Não muito longe da morte e nem longe do desejo, ela respirou fundo e levantou o rosto. Estrelas, planetas e o sol pintavam a abobada celeste, seguido por um véu azul-escuro que reforçava a beleza do cosmos.

 

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A Masmorra do Céu foi concluída.

As entidades estão aqui para lhe oferecer qualquer desejo seu.

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Finalmente… Ela se ajoelhou, um pedaço da sua perna separou do restante do corpo. — Gente, terminamos, nós…

Alice virou a cabeça para trás, mas não recebeu nenhuma resposta. Sabia exatamente o porquê, todos estavam deitados e sangrando, não havia um traço de calor ou energia vital irradiando de ninguém. Eles morreram, morreram antes mesmo de chegar a tempo, numa jogada de azar suas vidas foram ceifadas.

Por um momento, seu desejo passou pela cabeça. Ela queria uma família que a amasse, diferente dos idiotas que a abandonaram no templo anos atrás. Era muito egocentrismo pedí-lo aqui e agora, vivendo sua vida feliz? Depois de andarem por meses pelos continentes, será que era correto pedir isso? Ela matou o chefe, logo, o desejo deveria ser seu.

Não, pedir isso é errado… Lágrimas douradas escorreram de seus olhos, repletas de mana que derretia o mármore. Eles vieram comigo até aqui e se esforçaram tanto por isso. É errado morrerem aqui, não importa o quanto eu queira meu desejo…

As palavras se enterraram no fundo da garganta. Ela queria muito pedir o que tanto seus dias imploraram, mas sua língua se recusava e sua própria mente batalhava contra um dilema. O braço esquerdo se despedaçou, metade dele caiu no chão e se tornou poeira cósmica. 

— Reviva eles…

 

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Desejo concedido.

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Luzes caíram do espaço e cobriram o corpo de cada um dos aventureiros. Suas almas e vidas retornaram, mas permaneciam inconscientes. Ela sorriu, pareceu a escolha mais certa a se fazer, mesmo que doesse por não satisfazer o seu maior sonho. Heh, eu estou pensando assim sendo uma sacerdotisa… Não era para eu pedir a desgraça do próximo quando tenho a chance de ajudá-lo, não era? Se bem que… eles foram mais família para mim do que meus próprios parentes. Nossos meses juntos tiveram mais valor do que anos de uma relação de sangue…

Um riso fraco escapou de sua boca. A vida era irônica demais para permitir isso acontecer, no entanto, os astros e a mensagem flutuante à sua frente não sumiram.

 

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As entidades maiores dialogam entre si.

Elas parecem muito interessadas na sua natureza divina.

Elas ofereceram um acordo: você pode escolher ascender ao cosmos como uma deusa, ou pode trocá-la para mais um pedido.

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— Mais um…?

Por mais que a maioria olhasse para a primeira opção e a agarraria para salvar sua própria pele, os olhos de Alice se concentravam somente na segunda. Outro desejo, o que faria se pudesse obtê-lo? Escolher ter uma família e sobreviver dali? Seria uma escolha da qual os outros com certeza não reclamariam depois de retornarem do mundo dos mortos.

Mas…sua mente ficou confusa. Mais lágrimas correram pelo seu rosto. Ela queria ser ignorante uma vez, ter tudo para si, mas ainda assim não sentia que era certo. O rosto de Alexsander veio à mente, o dia em que foram a igreja da deusa ainda estava gravado no âmago, junto das inúmeras memórias com os demais ao longo de sua longa viagem.

Lohan passou por maus bocados, treinou loucamente para ser útil de novo ao grupo e atingiu um altíssimo patamar, Minerva reclamou e fez de tudo para continuar ajudando todos, mesmo não sendo o melhor. Os três trouxeram muitos sorrisos a Alice, uma felicidade tão grande que após se separarem, ela nunca mais teria aquilo novamente.

Não… quando nos separassemos, eu retornaria para o templo e voltaria a minha vida… Eu não… eu não quero… As lágrimas aumentaram ainda mais, seu outro braço caiu ao lado e seu corpo parecia se desmanchar. — Realize o desejo deles e tome meu poder… É-é só… é só isso que eu quero! Por favor, realizem os desejos deles!

 

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As entidades consideram tal pedido válido. 

Em troca, elas tomarão a sua divindade.

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Alice teve a impressão de estar vazia por dentro. O poder imenso que corria por cada veia sumiu de uma hora para a outra, mas os efeitos colaterais não. Sua vista ficou turva, agora havia uma imagem rachada da sala do trono pairando diante dela. Seu corpo despencou sozinho para o lado, só para ver uma última vez o rosto de um de seus companheiros.

Era Alexsander, que lentamente levantou a cabeça apenas para olhar Alice desaparecer no meio do ar. Ele estendeu a mão, mas de nada adiantou, ela sumiu como poeira ao vento. Os dedos do guerreiro tremeram, a cena se rebobinou sozinha mais uma vez, uma tragédia aconteceu a alguém querido e ele não pôde fazer nada.

— Alice…

 

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As entidades estão aqui para lhe oferecer qualquer desejo.

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Sua amiga desapareceu no ar após fazer o tal desejo, ele não sabia direito o que ela havia pedido, mas tinha um pressentimento ruim no ar. Sua mente entrou no mesmo dilema moral, deveria fazer seu pedido original ou chamá-la de volta? Essa seria a única oportunidade para conseguir o que tanto queria.

Cerrou os punhos e mordeu os lábios de frustração, batendo repetidas vezes no chão. Suas mãos ficaram vermelhas e começaram a sangrar pelas unhas. A pancada de seus braços fez o piso rachar, o local em que socou possuía a exata marcas dos braços.

— Porra! Por que isso sempre acontece?! Por que é tão difícil pelo menos alguém na minha vida continuar vivo?!?

Os dentes se chocaram um contra o outro, lançando-o em um estado imerso na própria ironia da realidade. Viver era realmente uma desgraça, cada um ao seu redor morreria antes dele por coisas totalmente fora de seu controle, assim como aconteceu com sua irmã anos atrás, assim como aconteceu a Alice minutos atrás. Agora, ele não sabia o que fazer.

Os demais um a um se levantaram, apenas para encontrarem o líder ferido nas mãos e chorando, enquanto puxava os cabelos como uma forma de acalmar a raiva. 

— O que… o que aconteceu? — perguntou Lohan. — Onde está a Alice? Temos… temos o nosso desejo?

O líder não soube como responder, mastigando os lábios enquanto pensava numa solução para desviar da flechada de culpa que receberia se escolhesse um lado. A elfinha o pegou pelo pulso, mas isso não o puxou do seu estado de transe, como se uma torrente de memórias o impedisse de raciocinar corretamente.

— Urgh… porra, tinha que ser a Alicezinha? — reclamou Minerva. — E agora, o que a gente faz?

Houve silêncio. Todos gostavam de Alice, sem sombra de dúvidas, mas entravam no mesmo dilema moral de uma vida ou do seu maior desejo. A dupla de mago e ladino queriam muito seus próprios pedidos, o mago até acreditava que o seu faria muito bem ao mundo, mesmo custando a vida de sua amiga, e justamente pela necessidade de ignorância para com a vida do outro que não conseguia abrir a boca.

— Aquela maldita fez o que? — Barbara se ergueu com uma carranca feiosa, se o olhar pudesse matar, então o dela teria levado um mundo inteiro junto. — Ah, pro inferno! Reviva Alice Lux, aquela desgraçada! Esse é o meu desejo!

 

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Desejo concedido 

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Do espaço sideral, o corpo de uma delicada garota desceu suavemente em direção aos aventureiros. Ela tinha cabelo loiro, duas orelhas pontudas e uma feição serena de um sono profundo. Alexsander ficou completamente sem palavras, enquanto Barbara xingava e cuspia no rosto da sacerdotisa por ter sido tão idiota e ter morrido para outro que não fosse sua arqui-inimiga.

Foi um momento muito rápido de desespero, no entanto, lindo demais para se perder. A mulher que se auto consagrou a inimiga mortal de Alice foi a mesma que a trouxe de volta, mas Minerva e Lohan tiveram que segurá-la para não acontecer nenhuma segunda morte.

O guerreiro a segurou no colo, sentindo a falta de calor sobre a pele, mas ainda estava grato do fundo do coração por tê-la de volta. Ele chorava, no entanto era de pura felicidade e alívio que sua amiga não se foi para sempre.

Minerva deu um passo em frente e encarou a tela azulada, o desejo estava na ponta da língua.

— Me dá uma aljava com infinitas moedas de ouro.

 

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Desejo concedido.

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Uma aljava se materializou nas mãos do ladino, sempre que ele colocava a mão, conseguia retirar um punhado de moedas de ouro. Um sorriso largo apareceu em seu semblante, recebendo olhares julgadores de todos… um desejo bem mesquinho, mas era o que ele queria.

Em seguida, Lohan levantou o rosto.

— Me dê todo o conhecimento do mundo! 

 

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Desejo concedido.

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Uma onda de memórias fluiu pela cabeça da elfinha, que caiu no chão em questão de instantes por não aguentar tamanha pressão mental. Seu amigo ladino chegou perto e a cutucou, felizmente continuava vivo, só desacordado. Aquele desejo era bem estranho, todo mundo estava curioso para saber o que seria, mas no final era algo genérico assim.

Alexsander engoliu seco ao reparar que era o último. Ele encarou Alice, respirou fundo e por fim falou: — Traga minha irmã Ana de volta à vida.

 

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Desejo concedido.

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A tal garotinha foi revivida, assim como Alice, mas veio de uma maneira diferente que a mulher em seus braços. Ela saiu de uma porta que despencou do céu, de adornos escuros e com uma caveira preta no topo. Uma péssima metáfora para “retornar dos mortos”, especialmente quando uma menina abriu aquelas portas e olhou ao redor com plena confusão.

— Irmão…? — perguntou, encarando-o de joelhos ali. — Onde você tava? Eu fui pra um lugar totalmente escuro quando algo bateu em mim… Fiquei preocupada com você. Hum? Por que tá chorando, irmãozão?

Ela se aproximou bem devagar e usou os dedos para limpar as lágrimas, lançando o mais brilhante sorriso que Alexsander conhecia. Ele, sem saber direito o que falar, apenas a abraçou com força junto da inconsciente Alice.

— Ana!

Todos conseguiram seus devidos desejos. Muitos desafios pavimentaram o caminho, mas, como toda história boba de heróis procurando alcançar seus objetivos, eles conseguiram. Enfim a vida teria um final feliz para aqueles que tanto sofreram com suas perdas.

 

☆ ☆ ★ ☆ ☆

 

O mundo retornou a um estranho estado de paz quando as masmorras foram derrotadas. A história oficial se manteve desconhecida, os reis também preferiram não interagir com os aventureiros, pois por terem derrotado as masmorras, com certeza aquele grupo era o mais forte de todos os continentes. Era uma mentira, só que ninguém sabia além do grupo.

Um livro infantil obscuro surgiu como forma de preservar a história desses heróis, mas pela falta de popularidade e pela natureza tão caótica dos eventos, não houveram tantas vendas. Quem acreditaria que o elfo ranzinza de centenas de anos virou uma garotinha porque roubou a poção de um amigo seu, para então ser amaldiçoado por uma entidade e assumir aquela forma para sempre? Essas e outras questões colaboraram para a história ser considerada somente uma forma bizarra de colocar crianças para dormir.

Bom, quanto às masmorras, elas ainda estavam em pleno funcionamento e muita renda surgiu por meio do inteligente uso dos materiais que os monstros deixavam, contudo nunca mais se viu a masmorra do céu ou outro aventureiro que concluiu todas as masmorras. Por anos tentaram de alguma forma concluí-las e conseguir todas as marcas, mas nada ocorreu, e por mais que muitos caçassem pelo tal desejo oferecido, ninguém realmente poderia obtê-lo mais.

Quanto aos aventureiros, cada um tomou um rumo apropriado. Barbara seria a melhor para introduzir; após ter feito o vergonhoso desejo de pedir que revivessem Alice, ela peregrinou ao longo do mundo para de algum jeito afundar sua vergonha de se submeter a perdoar sua inimiga. Em sua cabeça, era completamente imperdoável sua escolha, deveria ter pedido para enviá-la às profundezas do inferno onde apodreceria pela eternidade, mas ver uma tristeza tão grande no rosto de Alexsander a fez mudar de ideia.

Merda, lembrei disso de novo, urgh! Depois de puxar um pouco dos cabelos, Barbara olhou para seu grimório sombrio novamente. Fazia um bom tempo que andava com ele, e o livro nunca a decepcionou quando precisava… exceto nas vezes que os mortos-vivos não a obedeciam. Felizmente, esse robe do rei dos mortos-vivos ajudou a aliviar muito desse problema.

A viagem ao longo das masmorras foi frutífera. Mesmo tendo que ficar ao lado de sua inimiga mortal, a sacerdotisa caída gostava dos itens ganhos e das experiências, além de ter se apegado bastante ao seu novo pet: um dracolich renascido de um vulcão, que abanava o rabo ao seu lado.

Os dois estavam na ponta de um penhasco, o dragão a trouxe ali por um comando seu, era uma região distante que muitas pessoas se aventuraram e que muitos morreram. Um sorriso surgiu no rosto de Barbara, com o levantar de um dedo dezenas de pilares negros espiralaram em direção ao céu. O exército de mortos-vivos se construiu de pouco em pouco diante dos olhos de Barbara, cujo sorriso ia de orelha a orelha.

— Ah, que satisfação…

Os esqueletos e zumbis marcharam junto dela para o horizonte, desaparecendo no processo. O que ela faria com aquele exército? Talvez tentar derrubar um reino, construir um esconderijo para estudar mais necromancia, quem sabe realizar um ataque surpresa em Alice quando a encontrasse… só o tempo diria.

Por outro lado, duas outras pessoas realizavam coisas mais interessantes que montar uma força morta-viva gigantesca. Minerva, o ladino da equipe, se tornou uma pessoa podre de rica ao ponto de não necessitar de mais nenhum trabalho, ou melhor, ele virou um nobre depois comprar o título real do reino, mais exatamente um marquês.

Por causa da bolsa de riquezas infinitas, ele adquiriu um capital imenso e vagou até encontrar um canto que pudesse se instalar, preferencialmente perto da cidade mágica Meloth. Quando se instalou na região, ele decidiu criar uma vila ao redor de sua morada e então vagou pelas demais cidades sem motivo aparente… nenhum nobre sabia o porquê ele adorava tanto andar pelas partes pobres, possivelmente porque não sabiam de sua descendência como um plebeu e também de sua história.

Um marquês de moicano verde e com as orelhas furadas atraia muitos olhos, no entanto também trazia um certo medo para interagir com ele. Minerva não deu uma singela foda para isso, se pudesse espancaria os nobres por serem muito irresponsáveis com seus altos cargos. Ai ai, preciso esquecer isso de uma vez, tenho que focar que hoje é um dia especialzão!

Após bater nas próprias bochechas por alguns momentos, ele trouxe o melhor sorriso do mundo ao rosto e comprou uma loja inteira de doces que encontrou na rua principal da cidade, além de também vários buques e outros mimos a mais. Era para uma mulher? Não. Era para Lohan? Se fosse, Minerva teria se convertido a uma religião para não cometer uma gafe tão diabólica.

Então para quem esses presentes seriam entregues? Para as pessoas que realmente merecem.

Uma parte de seus subordinados levavam uma cesta cheia de flores, enquanto os olhos do antigo ladino rondavam de lá pra cá em busca do tal lugar. Suas íris esverdeadas se cravaram numa placa de uma casa larga decadente, “Orfanato da Mel”.

Ele arrumou um pouco sua postura e entrou pela porta, o sino soou acima de sua cabeça. Do outro lado da entrada, havia uma moça de meia-idade costurando um cachecol, cantarolando uma musiquinha para aliviar o silêncio.

Minerva pigarrou, chamando a atenção da senhora que não notou na batida do sininho.

— Oh! No-no que posso ajudar, meu caro senhor…? — Ela arrumou os óculos de garrafão e estreitou os olhos, não conseguindo olhar direito.

— Eu quero levar umas crianças, só isso.

— Claro, claro! Por favor, me acompanhe para ver…

— Não precisa. Eu vou levar todas. 

— Hã?

— Ué? Não ouviu? Eu quero levar todas. Se a senhora quiser vir junto, não é problema também. — Ele estalou os dedos. — Meninos, distribuam os presentes com a garotada! Deixem eles bem a vontade, e se eu ouvir qualquer reclamação depois, vocês vão se ver comigo!

— Sim, senhor!

Minerva mais uma vez olhou para a moça atônita. Um cartão deslizou da sua manga e então entre os dedos, apenas para cair na mesinha.

— Aqui o meu cartão, você provavelmente saberá quem sou assim que vê-lo.

Depois de um breve aceno de mão, o marquês ordenou ao restante dos seus subordinados a trazerem felicidade e brincarem com as crianças, reforçando novamente o aviso de antes. Minerva possuía um encontro muito especial naquela cidade, ele encontrou o orfanato por acaso e achou justo dar um bom presente às crianças e convidá-las se quisessem morar num canto bom.

Ele nunca teve uma chance de viver num lugar assim, onde você poderia crescer em paz e cheia de pessoas que o suportariam, onde podia ser acolhido independente do que aconteceu no seu passado, mas não queria dizer que nunca anseiou por algo assim. O dinheiro era um canal usado para ajudar os outros, um dos motivos para tanta ganância — fora não precisar trabalhar. — era justamente essa causa empática.

Enfim, como marquês, haviam diversos encontros importantes para se ter. Minerva ia neles? Não, era uma chatice de qualquer jeito, enviar um representante seu e deixar por isso seria mais eficiente. No entanto, havia exceções, uma delas era seu querido amigo Lohan. Não dava para acreditar no que aquele elfo ranzinza conquistou, mas foi uma das coisas mais incríveis do mundo.

Primeiro, causou choque geral na comunidade mágica por ser o primeiro e único a mudar de forma, coisa que muitos magos pesquisaram e nunca atingiram em anos de pesquisa. Ele foi o único capaz de estudar o tópico e desenvolveu diversos feitiços de mudanças de forma, além de também usar tudo o que coletou na aventura para fundar a primeira Torre Mágica do mundo.

Mesmo naquela pacata e remota cidade, Minerva via na distância um tipo de linha acinzentada no horizonte. Era muito fina, muito mesmo, e ainda por cima era a tal torre mágica. Quem olhasse de perto também encontraria centenas de círculos mágicos ao redor, mas a essa distância era impossível de notá-los. Enfim, o elfo ranzinza e seu melhor amigo se tornou uma pessoa de sucesso, dizendo que conquistou o objetivo de sua vida.

Existiam outros enormes feitos, mas Minerva sentia que era chato demais lembrar desses ou de ter que fazer uma listinha de tudo, especialmente quando entravam em tópicos mais abrangentes e complexos como “esgrima arcana” ou “itens mágicos”. Ele era um antigo ladino e agora um nobre, saber de coisas assim era chato e não precisava, porque já havia dindin no seu bolso e uma infinidade de coisas mais legais de se fazer, como esquiar no continente gelado em Frostholm.

Minerva dobrou uma rua e se deu de cara uma taverna. O nome pouco importava, só visitaria aquele lugar uma vez de qualquer jeito. Depois de chutar a ponta e entrar com as mãos enfiadas no bolso ao estilo mais “pivete problemático” possível, ele fez questão de andar em direção a uma mesa com uma garotinha de cabelo loiro bebendo suco. Todos encararam as costas de Minerva com olhos raivosos, mas não fizeram nada por causa das roupas nobres. Rico podia fazer o que dava na telha.

— E aí, ô garotinha — disse, esboçando um largo sorriso. — Sério que tu ainda tá nessa forma, Lohan? Hahahahah!

— Calado, eu fiz isso por escolha própria. — A elfinha arrumou a franja do cabelo perfeitamente penteado e revirou os olhos. — Além disso, esse corpo tem suas vantagens. Eu viverei muito mais e também posso aproveitar as maravilhas do gênero oposto…

— Eu tenho pena de qualquer cara que vier a gostar de ti quando você crescer daqui uns séculos… Eca, quero nem imaginar isso. Elfos tem mesmo uma coisa estranha com sexualidade.

— Bom, não levamos em conta que você também tinha certas habilidades peculiares, podemos talvez mudar um pouco a perspectiva e…

— Eu juro que ainda não joguei hidromel na sua cabeça porque hoje é um dia especial. — Assim que ele falou “hidromel”, um caneco com a bebida apareceu à sua frente, fazendo pegar o caneco e apontar na direção da elfinha. — E olhe que eu tô armado.

— Hah, como você tivesse coragem, meu caro filantropo cuidador de criancinhas…

— O que caralho é um filantropo?

— É mesmo difícil acreditar que você é nobre, pelo amor…

Eles jogaram conversa fora, talvez para dizer sobre as coisas que aconteceram nos últimos três anos. Um dos motivos pelo qual Lohan se manteve naquela forma era tanto por ser um lembrete quanto porque ele não fazia ideia de como desfazer a marca da entidade Esor Nethek. Seu campo de estudo mudou para as ações das entidades e como seus poderes funcionam, então uma das prioridades era saber os limites da marca. 

Minerva também comentou sobre o quão agitado sua vida agora era. Ao invés de um relaxamento eterno dentro de uma piscina de dinheiro rodeado de gente bonita, ele tinha que andar de lá pra cá para melhorar a qualidade do seu território, o que também causava insatisfação por parte de alguns que o acusaram de usar uma estratégia fajuta para em algumas décadas ter muita mão-de-obra.

— Se eu ainda pudesse usar minhas adagas, juro que eles tariam com a cabeça fora do lugar!

— Já pensou em participar de uma sessão de magias mentais na torre de magia? Eu descobri recentemente dos efeitos, e tem muitos contra instintos agressivos…

— Pra que eu faria isso? Sou nem doido.

Outra vez a porta da taverna abriu, trazendo consigo uma garotinha de cabelo vermelho-escuro e um homem gigante cheio de cicatrizes. Ele era muito alto e forte, ao ponto de fazer alguns dos mercenários nas cadeiras se encolherem. Usando as roupas de um plebeu qualquer, de mãos dadas com a menina que trouxe, o grandalhão caminhou entre as mesas em direção ao par do nobre boca suja e uma criança elfa de vestido de babados.

— Tio Minerva, irmã Lohan! — chamou a garotinha, tendo que ficar em pé na cadeira para alcançá-los

— Olha aí, a grandalhona veio também! — Um sorrisinho surgiu no rosto do ex-ladino, ele afagou a cabeça da menina. — E aí, se divertiu muito com os brinquedos que eu te dei?

— Sim, aquela coisa chamada “pula-pula” é muito legal! 

— Droga, eu demorei duas horas para arrumar esse cabelo… — murmurou Alexsander, passando a mão no rosto quando o penteado de Ana se desfez num piscar de olhos. — Hah, não acho que era necessário dar tantos brinquedos também…

— Não seja estraga-prazeres, ô grandalhão. Tua irmã gosta, pra que estragar a felicidade dela?

— Odeio falar isso, mas concordo com Minerva… — disse Lohan. — Crianças precisam brincar, correr, pular, isso é o correto. 

— Irmã Lohan, por que você não faz o mesmo também?

— Porque eu já sou velho demais para isso, menina. Você pode até não saber, mas tenho mais de 300 anos.

— Hum… você tá mentindo, nem elfos são crianças nessa idade.

Alexsander gostou da refutação de Ana. As aulas que participava com as demais crianças estavam dando bons resultados, ao ponto de deixar Lohan contra a parede para responder qualquer coisa. Ele tomou uma cadeira para si e esticou os braços, meio cansado por causa do tanto de tempo gasto na viagem para chegar ali.

Não ia beber por estar com sua irmãzinha, então relaxou as pernas e os ombros e pediu o maior bife possível para comer enquanto esperavam. Ele também contou algumas das coisas que aconteceram, como o caso em que o conde Phillip Edmund II ofereceu o cargo de cavaleiro pessoal. 

De maneira resumida, Alexsander recusou porque estava exausto demais das lutas, a essa altura seu maior desejo foi feito e sua cabeça só pensava em ter uma casinha numa vila qualquer para descansar pelo resto da vida.

Uma escolha bem chata, como julgado tanto por Minerva e Lohan, mas quem eram eles para julgá-lo? Era bastante entendível querer paz após muitas lutas e uma batalha contra tudo e todos durante dias sem fim. 

As cicatrizes em seu rosto serviam como prova do cansaço e degradação do antigo líder, assim como seu rosto com algumas rugas. O estresse o envelheceu, ainda que tivesse 25 anos, ou seja, depois de 3 anos quando enfrentaram as masmorras. A elfinha até se sentiu um pouco triste por vê-lo daquele jeito, já que o tempo passado era muito pouco para a expectativa de sua raça.

— Eu recomendaria ir para a torre mágica algum dia. Tenho algumas poções boas que você poderia tomar.

— Poções? Não gosto tanto da ideia. A última poção fez isso com você…

— São poções diferentes, acredite. Elas te deixariam novinho em folha.

— Não recomendo acreditar nele — comentou Minerva. — Dizem que a torre mágica gosta muito de gente que se presta como cobaia. Talvez o Lohan tá se aproveitando da sua boa-vontade.

— Ora, seu…! Como ousa desafiar a honestidade do mestre da torre mágica!

— O irmãozão não vai tomar bomba, faz mal pra saúde!

— Ana, pelo menos fique do meu lado!

O clima estava muito bom. Aquela mesa agitada atraia bastante atenção, especialmente porque era um grupo completamente fora do normal. Uma elfa com robes de um alto-mago cheio de babados, um nobre boca-suja, um homem com traços de um mercenário veterano e uma garotinha meio agitada que gostava de conversar casualmente com os três.

Só que faltava uma coisinha nesse grupo, um último integrante. Outra pessoa adentrou a taverna, uma linda meia-elfa de cabelo loiro e olhos claros, de corpo coberto por uma túnica grossa de capuz abaixado. Depois de pisar em alguns pés que tentaram fazê-la cair para provavelmente ver o que havia por baixo do capuz, ela chegou à mesa.

Ninguém comentou nada, na verdade apenas a encararam com certo encanto, seguido por um sorriso de cada um. A primeira a atacar foi Ana, como a boa criança que era.

— Tia Alice, senti saudade!

— Também senti saudade, Aninha. — Ela a pegou no colo, algo meio inesperado levando em conta que Ana não era tão pequena e leve para fazer algo assim. — Senti saudade de todos, na verdade… 

— Alicezinha, falar que ama a gente é mais fácil, tu sabe disso.

— Be-bem, dizer algo assim é um-um pouco de-demais…

— Pare de perturbá-la, Minerva — pediu Lohan, pronto para puxá-lo pelos cabelos. — Nós sabemos que para ela vir, teria que gostar da gente de um jeito ou de outro.

— Ah, deixa eu brincar pelo menos, ô elfo chato.

Como era de se esperar, os dois brigariam mesmo na mesa rodeado de pessoas. Alice sentou-se ao lado de Alexsander, abrindo um sorrisinho um pouco maior quando enxergou seu rosto, enquanto ele acenava com a cabeça em resposta. Já fazia muito tempo que o grupo inteiro não se reunia, e a clériga tinha uma boa pitada de culpa nisso.

Após derrotarem a masmorra do céu, ela entrou numa peregrinação durante o continente, com a desculpa de que precisava pensar e refletir sobre sua própria santidade. Durante meses e anos sua mensagem foi espalhada e seus milagres foram usados para o melhor do povo, ela até adquiriu fama e o título de “Dama da Luz” por seus feitos de caridade e boa-vontade. No entanto, só dessa vez ela interrompeu sua peregrinação para vê-los.

Nunca se soube o que aconteceu no meio tempo da viagem, somente rumores aqui e ali sobre Alice derrotando terríveis demônios e curando diversas doenças com sua fé. De qualquer forma, ela aparentava fazer o bem, então Alexsander se sentia orgulhoso pela sua escolha de sair espalhando bondade pelo mundo. 

Ocasionalmente ela se encontrava com os demais, era mais fácil quando alguém precisava ir a determinado lugar e por coincidência ambos se viam. No entanto, isso não tirou muito da saudade de revê-los, essas esbarradas ao acaso eram muito superficiais quando comparadas à experiência da aventura.

Minerva, como esperado, encheu a cara loucamente e Lohan teve que trabalhar para ajudá-lo de alguma forma, logo a baderna consumiu a taverna inteira. Era gritaria, canecos de hidromel descendo pela garganta, xingamentos e tudo o que se imaginava de ruim. Alexsander até pensou em afundar a cabeça do ex-ladino no chão por ter um palavreado sujo perto de sua irmã, mas se conteve o bastante para concentrar somente na comida.

O dia passou rapidamente, a noite veio com rapidez. O marquês estava estirado no canto, bêbado demais para permanecer acordado, enquanto Lohan decidiu que era mais saudável levar Ana para passear pelas ruas da cidade. Não havia perigo, já que um arquimago varreria um ladrão com o estalar de dedos.

Nisso, apenas Alexsander e Alice permaneceram na taverna. Os dois partilharam uma refeição à noite e continuaram a conversar como se não tivesse ocorrido um turbilhão dentro do estabelecimento.

— Eu ainda me impressiono que nenhum de nós teve algum desejo malicioso… — comentou Alice, antes de cortar a carne e colocá-la na boca. 

— Desejo malicioso? Como dominação mundial ou coisa assim? Acho que o desejo de Minerva é o que mais se aproxima disso.

— Sim, concordo, senhor Alexsander. Só passa pela minha cabeça um cenário em que um de nós pediria algo assim, entende? Eu ficaria bem triste… Hah, também fui idiota quanto ao desejo que pensei que queria.

— E qual era o desejo?

— Bem… eu queria uma família que me amasse. Minha família de sangue nunca me amou de verdade, só me tornei uma sacerdotisa por falta desse amor. Mas, quando fui fazer meu desejo, eu me toquei que era um pedido muito mesquinho, que para ter o que eu queria não era necessário o poder de uma divindade.

— Entendo… Ainda assim, não seria um pedido ruim. Quer dizer, se era algo que você queria do fundo do coração, quem seria eu para julgá-la?

— É muito maldoso dizer uma coisa dessas, senhor Alexsander. Você permaneceria morto se eu tivesse realmente pedido isso. 

— Hahaha, verdade. Mas então, você conseguiu a família que queria que te amasse?

— Não, ainda não. Viajei para encontrar uma resposta para isso. E você, senhor Alexsander? Agora que está com sua irmã e pelo visto vai viver tranquilo, imagino que também achou uma noiva, não é?

— Primeiro, pare de me chamar de “senhor”, eu nem mesmo sou velho. Segundo, não encontrei. Não creio que haja muitas mulheres que gostariam de ficar com um cara como eu… Olhe para o meu rosto, eu grito “problema” de boca fechada, haha…

— É mesmo? Hmm…

Alice não respondeu, seus olhos vagaram pelo ambiente ao redor e suas mãos hesitavam por baixo da mesa. Eles terminaram a refeição sem demora, a taverna estava meio vazia, a luz das velas no ambiente traziam uma inesperada atmosfera esquisita para a sacerdotisa, que observava o homem à sua frente com um olhar curioso.

— Eu posso parar de cha-chamá-lo de senhor, desde que me a-ajude com uma coisa…

— O que? Não acho que seria difícil de ajudar.

— Eh… eu…

O rosto se contorceu, uma gota de suor desceu da sua nuca. Devo fazer isso? Não, não tem motivo… Engoliu seco, cerrando um dos punhos. Alice, se você nunca tentar, nunca poderá conseguir o que quer. Ela estapeou o rosto, fazendo Alexsander pular da cadeira de susto. 

— Vo-você tá bem? O que… 

Num movimento rápido, as mãos de Alice seguraram o colarinho da camisa de Alexsander, puxando-o repentinamente para perto e entrelaçando um beijo com os lábios. Alice não soube dizer quanto tempo durou, só que depois de se separarem, ela sentiu suas bochechas aquecerem e o sangue fluir rápido demais para a cabeça.

Como já não tinha como voltar atrás, ela colocou uma caixinha preta em cima da mesa e a empurrou na direção do seu melhor amigo, enquanto suas orelhas quentes subiam e desciam freneticamente.

— A-Alexsander, que-quer se casar comigo?!

De se esperar que Alexsander não sabia como acatar tal pedido. Foi tudo muito bem arquitetado, do começo ao fim. Uma jogada de mestre, definitivamente. Até mesmo ele ficou vermelho de vergonha, era a primeira vez que os papéis se inverteram assim, mas depois de tudo que passaram, tinha como negar um pedido tão direto?

— Se isso quer dizer que você ficará comigo, então sim, eu aceito. 

O homem abriu a caixinha e tirou o anel com um diamante incrustado de dentro, pondo-o no dedo de Alice, que escondia o rosto com uma das mãos por não ter coragem o bastante para presenciar aquilo. Ela estava feliz, borbulhando por dentro, tão ansiosa por ter seu desejo realizado da forma como queria.

Alice se levantou também, abraçando fortemente Alexsander e quase chorando, os olhos brilhantes refletindo as luzes das velas enquanto seu corpo tremia de agitação e alegria. 

— Obrigado por tudo o que fez e por sempre estar do meu lado quando precisei. 

Não houve gaguejou nem tropeço. Alice estava decidida, e mais do que tudo, feliz que poderia ter a paz e o amor que sempre quis. Seu desejo foi concedido.



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