Volume 2

Capítulo 5: A Princesa dos Ratos

Satou aqui: Quando era um estudante, costumava ler livros de vários gêneros, mas um deles era realmente interessante, por mais que tentasse, não conseguia solucionar os mistérios apresentados nas novels, sempre caindo em pistas falsas.

― Venha nos visitar de novo, jovem mestre.

― Sim, eu virei.

Em pé do lado de fora de um bordel, respondi com cordialidade o convite da mulher sexy, antes de sair noite adentro pelas ruas da cidade.

Depois de pôr Arisa e Lulu para dormir, saí para o Quadrante Oeste em busca de um analgésico e acabei encontrando alguns mercadores que salvei no labirinto, me trataram com bebida e no fim acabou que foi me dito para seguir para o bordel favorito deles.

Uma coisa leva a outra, e acabou que ganhei as habilidades Sedução, Conversa de cama, Técnicas Sexuais e Quiropraxia1. Adquiri um monte de títulos também, mas vou deixar isso para sua imaginação. Os mercadores com os quais vim beber, agora já devem ter suas próprias companhias.

Bem, estava divertido, mas se voltar pra casa assim, alguém/Arisa irá descobrir através do perfume em mim.

Deixando o bordel segui em frente pela Rua Oeste, por aqui encontrei uma garota com um cajado que assemelhava-se a usuária de encantos, usando Magia Diária2 em algumas “mulheres da vida”, então pedi que usasse em mim, Limpar e Secar. A taxa noturna parece um pouco alta, mas considerando como é refrescante pode ser uma barganha.

Esta área é perto do Distrito dos Trabalhadores do Norte, então queria pegar uma carruagem, mas infelizmente não havia nenhuma a esta hora da noite, exceto as que estavam reservadas.

“Então tá, acho que vou ter que andar.” As ruas Central e Oeste, são iluminadas com postes que, ao invés de tochas, tem uma magia cotidiana chamada Iluminar em intervalos regulares.

Parece que está magia tem efeito durante duas horas, a noite é dividida em três períodos noturnos. São eles: primeiro, segundo e terceiro período. Durante o último período, todos os postes estão acesos, mas ainda é muito escuro se comparado com a noite do Distrito Comercial do Japão.

Talvez eles tenham uma linha de lâmpadas de papel com velas.

Nas estradas é possível ver prostitutas procurando por clientes. Fico feliz que não estão oferecendo-se para mim, mas um cobre pela noite toda, parece um absurdo de barato. Já tive meu momento noturno, então não estou muito interessado em aceitar ofertas. Por outro lado o AR pop-up contém informações preocupantes, no Status : Doente; Doença Venérea[incubação], então dispenso. Poucas delas têm Status: Doente; Doença Venérea[Ativa].

Sim... é muito importante se proteger.

No caminho de volta para a estalagem, passei em um boticário para comprar o medicamento para Lulu. O custo estava dez vezes mais alto que o preço de mercado, mas quando tentei negociar com o farmacêutico ele tentou me passar uma medicina de baixa qualidade há muito tempo vencida, no que apontei isso, me vendeu o remédio por um preço decente.

Como lembrei do Japão e de seus preços ilógicos, resolvi olhar no Log e descobri que tinha ganhado a habilidade Analizar.

Isto foi o que o AR analisou, não eu…

Mas parece útil, então aloquei pontos a habilidade.

O terceiro período noturno se foi enquanto caminhei de volta, apenas metade das lâmpadas está acesa agora.

Sob os sons da noite na estrada, acredito ter ouvido o bater de asas, então olhei para o céu noturno.

Não pude ver a criatura, mas consegui descobrir sua identidade quando uma pena caiu sobre mim, de acordo com minha nova habilidade, é uma pena de um pássaro chamado Coruja das Sombras.

Não é à toa que esta criatura pode voar tarde da noite.

Estou realmente surpreso com a beleza desta pena quando a coloquei abaixo da luz dos postes, então a guardei no Armazenamento com o intuito de tornar isto um suvenir para Pochi e Tama.

Já é muito tarde da noite, tem cada vez menos pessoas na rua.

Não sei se foi por causa das circunstâncias ou se foi minha habilidade Audição Aguçada, mas pude ouvir o tilintar do metal semelhante a uma batalha em uma rua próxima.

Não estou muito interessado, mas é certo de que me sentirei um desgraçado se ouvir no outro dia que alguém foi assassinado ou algo assim.

Se for uma briga de bêbados, vou apenas deixá-los pra lá, mas se for um roubo ou algo nesta linha, irei surrar os malvados.

Com esta resolução em minha mente, atravessei pela escuridão, em um beco sem luz. Tinha certeza de que este local está perto da mansão que vimos hoje mais cedo, a base de uma guilda criminosa, será que os membros estão lutando entre si?

O luar bloqueado permitia o breu cor de ébano3 que estabeleceu-se.

Esforçando-me a ver, notei a silhueta de uma criança sendo cercada por figuras ameaçadoras.

Pensando bem, tinha adquirido a habilidade Visão Noturna, então coloquei alguns pontos nela e ativei.

Voltei minha linha de visão para o beco escuro, o local impossível de visualizar-se antes, foi exposto diante dos meus olhos graças a habilidade.

Usar Visão Noturna é como usar aquele dispositivo chamado Night-Vision Device: Starlight.4

Aqui não há outras pessoas em volta. Derrubei um pedaço de madeira, o que fez um barulho alto, gostaria que isso fosse o suficiente para assustá-los, mas vieram em minha direção.

Eram… Sombras.

Estas coisas estavam aproximando-se de mim, como poderia descrever, são sombras em forma de pessoas. Olhando para eles o pop-up AR ativou me dando mais informações. São chamados Perseguidores das Sombras, um monstro de level 11. E assim como sua aparência sugere, ataques físicos não funcionam.

Não sei se vieram rompendo a barreira da cidade ou escaparam do labirinto, mas se são monstros não a razão para conter-se, derrotá-los não será um problema.

Peguei minha Pistola Mágica do Armazenamento, apontei para os Perseguidores das Sombras e puxei o gatilho. Atirei várias vezes presumindo que o adversário iria resistir ou desviar, mas não era necessário, eles tinham um tempo de reação muito lento, ou estavam confiantes em sua habilidade especial, porque não fizeram nenhum esforço para desviar das minhas balas. A Sombra dissipou-se, deixando para trás um núcleo vermelho no chão.

Mas após derrotar o primeiro perseguidor, o segundo aproximou-se muito, descendo uma lâmina criada com sombra sobre mim, dar pra ver isso desde que está muito próximo. Saí para o lado, e continuei evadindo de acordo com minha habilidade Evasão me guiava.

Enquanto esquivava, ouvi o pedaço de madeira ser cortado atrás de mim. Nós acabamos trocando de lugar no processo de evasão, quando notei a lâmina vindo, chutei a madeira e manobrei para sair do alcance, e ela que ficou no caminho foi fatiada.

Eu preferiria não ser cortado assim, se possível. Pequenas feridas devem se curar por conta própria graças à minha habilidade Auto-cura, mas prefiro não descobrir como seria eficaz se tivesse um membro decepado. Preparei minha arma, com o objetivo de derrotá-los antes que pudesse mudar sua postura.

― O quê…?

A sombra fez um movimento que seria impossível para um humano, revertendo seus lados e atacando-me com a lâmina. Mal consegui evitá-lo.

Caí no chão, armei-me com a pistola e dei três tiros consecutivos contra as sombras.

Ufa! Esses já foram, esqueci por um momento que meu adversário não é humano…

Bati nas minhas bochechas, tentando me recompor. Se não me apressasse e ajudasse essa criança, as sombras iam matá-lo. Vi o ocasional clarão vermelho de uma arma parecida com um machado em suas mãos, então parece que estava manejando os monstros com ele, até que fecharam o espaço.

A criança me pareceu muito habilidosa com a arma, mas não podia mover-se direito, pois estava protegendo alguma coisa atrás dele.

Deve ter alguns ferimentos causados pelas lâminas dos perseguidores, que mudavam distorcendo ou mudando para um chicote.

Apontei a minha arma mágica para as duas sombras que não estavam na frente do garoto. Desta vez, coloquei a arma no poder máximo, por isso levou apenas um tiro para derrotar a primeira sombra. No entanto, usar o poder no máximo, causa atraso maior entre cada tiro.

Por isso, minha ideia de cuidar de tudo à distância não funcionou. A outra sombra que estava ali me notou e veio atacar. Tentei derrotá-lo de outras maneiras, mas quando veio em minha direção, se dividiu em várias flechas de sombras e aproximou-se com alta velocidade. Não havia espaço para esquivar-se naquele beco, pelo menos não na horizontal. Impulsionei-me na parede e saí para acima evitando o ataque no primeiro momento, não desistindo, as flechas mudaram a trajetória e me perseguiram, mas continuei evitando-as saltando apoiando nas paredes. Foi uma jogada vertiginosa, mas com a ajuda da minha habilidade de Manobra Tridimensional, consegui fazer isso sem perturbar meus sentidos.

Uma vez que as flechas sombrias retornaram a forma de uma pessoa, aproveitei a oportunidade para acertar um tiro com a minha arma.

Boom…! Um pesado baque ressoou pelo beco.

Droga... A perda de sangue deve ter diminuído demais a capacidade do garoto para evitar os ataques das sombras, porque agora, está caído contra a parede de pedra. Me apressei em verificar seu HP… Bom. Ainda continua vivo. Parece que a sombra havia se transformado em uma bola preta e projetou-se. Ele foi capaz de evitar os ataques de chicote, então deve ter mudado para um objeto de ataque frontal.

Saiu uma rachadura no centro da esfera, já se podia ver a alça da machadinha do garoto saindo dela, mas pensei que ataques físicos não funcionassem... Oh, deve ser uma arma mágica.

Arranquei em direção a criança rápido o suficiente para abrir um buraco no chão, acelerando e fechando a distância em segundos, como um personagem em um jogo de luta, fiquei de frente a sombra em apenas três passos e dei um chute firme no cabo do machado, o levando a afundar no centro da sombra.

Eu senti a sensação de algo quebrando sob o meu pé, e a sombra se dissipou, com os fragmentos de seu núcleo caindo. Ignorando isso, recuperei apenas o machado mágico.

O mais importante agora é verificar a condição da criança, ele estava caído contra a parede como uma marionete com cordas quebradas… Não, de acordo com o pop-up do AR, não é uma criança. Corri para o lado dele, puxando o capuz para verificar o rosto e se não soubesse o que esperar de antemão, é provável que teria gritado.

Coberto por um capacete vermelho, o rosto coberto de pele cinza de um rato. Apesar de sua natureza animal, seu rosto parecia sugerir que é de um tipo distinto, um cavaleiro de pele cinzenta.

Seus órgãos internos devem ter sido danificados, porque está tossindo líquido vermelho-escuro, graças a isso seu status é de Lesão Grave [dano a órgãos internos], seu HP estava em constante declínio.

― Quem é você?

O homem abriu um pouco os olhos e me interrogou com uma voz rouca e difícil de entender.

Grrr... boc... um de sus minions, coff... ?

― Eu não estou com eles.

Não sabia de quem ele estava falando, mas neguei, deve estar se referindo a quem tinha enviado essas sombras. Meu radar me informou que havia outro ser no pacote de pano que o homem protegia, seja quem for que esteja lá, deve estar inconsciente, porque nem mesmo se mexeu.

Enquanto falava com o homem, li as informações na tela do AR que apareceu, bem, estou surpreso com o que estava escrito.

― Bem… estou acabadooo... Tome conta da Brinpesa.

― Tudo bem. Eu irei.

Parecendo aliviado com a minha promessa precipitada, o homem perdeu a consciência, claro, havia uma razão para ter feito tal promessa, tinha um bom palpite sobre o que ele chamava de princesa - ou "brinpesa", como sua pronúncia fazia soar.

Agora é hora de agir, o HP dele ainda estava se esvaindo.

Peguei um pano do Armazenamento para estancar o sangramento de suas feridas externas.

Habilidade Adquirida: Primeiros Socorros

Título Adquirido: Paramédico

Eu obtive uma habilidade conveniente como sempre, então coloquei alguns pontos nela e a ativei, refiz os procedimentos de primeiros socorros; O cheiro de sangue e o odor do rato me fizeram enrugar meu nariz enquanto trabalhava. Ok, parecia que seu HP parou de diminuir.

Do Armazenamento, peguei uma capa preta que se misturava na escuridão e o vesti. Colocando o capuz sobre meus olhos, enrolei uma toalha longa em volta da minha boca como uma máscara, só por segurança mudei o campo de nome na minha guia social deixando em branco. Agora minha identidade estava escondida.

Considero que a máscara de prata seria muito visível refletindo o luar, então não usei desta vez.

Eu levantei o homem e a princesa e segurei-os contra meu peito, então saltei usando a parede de pedra para pular em cima do telhado, pulando pelos telhados como o Kaitö5, fiz meu caminho até o Armazém Geral.

Eu bati com força na porta dos fundos. Infelizmente, verificando o mapa, vi que tanto o gerente quanto o Nadi tinham o status Dormindo.

Parecia que os dois viviam no segundo andar, mas em quartos separados, então acho que não são um casal. Não queria fazer muito barulho e chamar a atenção dos guardas, usei um arame do Armazenamento para destrancar a porta. Minha habilidade Desbloqueio da Caixa do Tesouro parecia ser suficiente para fazer o truque.

Habilidade Adquirida: Destrancar

Título Adquirido: Arrombador

Eu entrei e deitei os dois no sofá na área de recepção, por isso, o capacete do homem bateu contra a estrutura de madeira do braço do sofá emitindo um ruído seco.

Oh, parece que o gerente da loja notou, seu status mudou de Dormindo para Nenhum.

Ele começou a se mover em silêncio para não acordar a Nadi.

― C-chefe? …Você está aqui para o Yobai6?

― Não.

Minha habilidade Ouvidos Atentos me permite ouvir a situação no andar de cima. Nadi parecia bastante esperançosa, estou com um pouco de pena.

Com Nadi seguindo atrás dele, o gerente desceu as escadas, não queria que ter ele me confundindo com um intruso suspeito e me atacasse, então falei primeiro.

― Boa noite. Desculpe incomodá-la Nadi, sou eu, Satou.

― Satou-san?! O que você poderia querer a essa hora?

A voz de Nadi tinha um tom de suspeita, bem, acho que não posso culpá-la.

― Trouxe um conhecido do gerente, ele está gravemente ferido, então estava esperando que você pudesse tratá-lo...

― Conhecido?

Ouvindo que um conhecido dele estava ferido, o gerente e Nadi emergiram das sombras das escadas.

― ■■■■ Mana Light, Matou!

O gerente balançou seu cajado e lançou um feitiço. Éh… Bem... Acendeu como um LED.

― Homem-rato? A julgar pelo capacete, este deve ser o famoso cavaleiro de rato de capacete vermelho que tem uma recompensa em sua cabeça...

― Não conheço.

Nadi reconheceu o equipamento do homem, enquanto o gerente da loja falava com dúvida. Mas logo expliquei para ele.

― Sr. Gerente, seu conhecimento é o que está envolvido neste plano. Aquele com o capacete vermelho a chamava de "princesa".

― Uma princesa homem-rato? Até onde sei, os únicos títulos honoríficos entre as tribos deles são Chefe e Guerreiro…

Então os homens-rato são uma tribo de guerreiros? Nadi é muito bem informada. Desembrulhei o que estava lá para mostrar o que havia dentro.

― Mia...

Assim como suspeitava, a “princesa” que o homem estava protegendo era um conhecido do gerente da loja, afinal.

Nadi soltou um grito de surpresa depois de espiar o tecido, entendo como ela se sente, porque o que havia dentro do tecido era uma menina de pele branca, cabelos compridos que eram de um tom azul-esverdeado claro, e orelhas pontudas.

― Isso não é um elfo?! ― Nadi exclamou, estava certa e era preciso, porque era uma elfa que a trouxe para ver o gerente da loja, o outro da cidade, eles também compartilhavam o mesmo nome de família: Bolenan.

O grito de Nadi pareceu ter despertado a princesa Mia, que abriu os olhos um pouco, então olhou em volta observando o ambiente, virou sua linha de visão em minha direção por um tempo com olhos cinzentos desfocados e, murmurou a palavra ― Lindo... ― E voltou à inconsciência.

O que exatamente ela estava se referindo como lindo? Fiquei um pouco intrigado, mas era mais importante focar no homem que está a beira da morte.

― Então, o que devemos fazer com esse cara no capacete vermelho? Traga-o para os guardas?

― Protetor. 

― Hm… Já que ele é o protetor da Princesa Mia, o gerente não quer entregá-lo.

― Não é “princesa”.

― E a Mia-san não é uma princesa.

Nadi elaborou as palavras resumidas do gerente.

Atrás de nós houve um som de uma tosse pesada.

― Mais importante, acho que ele vai morrer se não o tratarmos.

― Hum.

Nadi entrou em ação.

― Está horrível. Vou falar com Horn, o ex-padre do beco, porque ele trata qualquer um independente das circunstâncias. Parece que você parou o sangramento, então por favor libere as vias respiratórias dele com magia, Gerente. Temos que tirar esse capacete vermelho e escondê-lo em algum lugar também.

Agarrando uma capa que estava pendurada na parede e jogando-a sobre o pijama, Nadi saiu para chamar o ex-padre.

É perigoso sair sozinho à noite. Irei lhe acompanhar.

Depois que o gerente da loja começou seu feitiço, segui atrás de Nadi.

***

Quando amanheceu, Arisa estava mais uma vez me atormentando.

― Francamente! Por que você iria a um bordel enquanto tem a mim? Não sei quem não gostaria de ter uma garota linda como eu, pronta para servi-lo a qualquer momento!

― Acalme-se. ― Não consigo ver uma menina em idade escolar como objeto de desejo sexual.

Arisa está enérgica, arrancando o pijama enquanto se aproxima, então peguei minha capa que estava em cima da cama e a cobri com ela.

Fufufu... Cheira a Garoto … ― Essa maldita pervertida... Arisa começou a sentir o cheiro do meu manto, mas de repente gritou:

― ISSO CHEIRA A ANIMAL!

E jogou fora.

― Não me diga que você gosta de ursos? ― Ela perguntou com tom acusador.

O que significa isso? Tinha uma ideia do que ela estava falando, mas há um limite para o quão grosso devo ser.

― Ajudei um homem fera moribundo na noite passada, enquanto estava a caminho de casa após comprar ‘o remédio para Lulu’.

Enfatizei "o remédio de Lulu", a fim de desviar sua raiva.

Oh? Era uma mulher?

― Era um cara velho que parecia meio tonto.

― Então foi um BL7, né, né? Eu entendi agora! É como aquela cena em “Dora x Hebi” quando o homem musculoso com orelhas de tigre de repente pega o menino com orelhas de coelho! Guhehehe... Vou explodir!

― Pare de falar asneira e coloque algumas roupas. Isso é uma ordem.

Eu não estava interessado em transformar isso em um BL.

Todo esse barulho parece ter acordado Lulu, ela ainda parece um pouco pálida, então perguntei:

― Como você está?

― Eu melhorei desde ontem, obrigado.

― Comprei algum remédio para você tomar se a dor ficar muito forte.

Dei a Lulu o pacote de analgésicos que comprei ontem e transmito o uso e avisos que tinha recebido na farmácia, de forma curiosa, para este tipo de medicamento é melhor tomar antes ou entre as refeições.

― Oh, certo. Arisa.

― O que foi?

Enquanto abria o remédio para Lulu e o colocava em um copo com água, passei a informação sobre o labirinto que recebi e tinha me esquecido de mencionar ontem.

Arg.. Civis não podem entrar no labirinto da cidade de Seiryuu?

― Sim, parece que é impossível entrar por algum tempo lá.

Tentei consolar Arisa que estava sentada triste na cama.

― Mestre, você vai se estabelecer nesta cidade?

― Não, uma vez que eu terminar de fazer um tour por aqui, estou pensando em ir para o sul em direção à antiga capital.

Tour?!

Eu já estava prestes a fazer turnês pela Cidade de Seiryuu, mas ainda tinha que manter minha promessa de ir com a Zena ao restaurante do outro lado da parede interna.

Depois disso, planejei ir em direção à antiga capital e a Cidade do labirinto ― Selbira, onde as meninas de pele animal devem ser capazes de viver uma vida normal. A razão pela qual decidi ir a antiga capital como meu destino atual, é que lá tem fama de possuir um lindo rio e cenário noturno.

Ah, nesse caso … ― Arisa se aproximou animada. ― Depois da antiga capital, quero ir para a cidade de Labirinto!

― Sim, quero ir lá também.

― Sério?! Então é uma promessa!

Arisa esticou o dedinho, então fiz uma promessa de mindinho com ela, que riu quando olhou para os nossos dedos ligados.

Com Arisa a reboque, fui em direção ao estábulo para encontrar as meninas homem fera para o café da manhã, tenho que falar com elas sobre a antiga capital e a Cidade do Labirinto também.

Depois que todos comeram o café da manhã, saí sozinho para o Armazém Geral.

― Bom Dia. Como estão?

― Os dois ainda estão dormindo.

Nadi parecia cansada enquanto respondia. O ex-padre Horn havia tratado os ferimentos do capacete vermelho, mas como só podia usar Magia Sagrada Iniciante, então parece que o capacete vermelho não tinha se recuperado, o sangramento parecia ter parado, mas parece que seus órgãos internos danificados só poderiam ser curados apenas por Magia Sagrada Intermediária ou superior.

? Espere, pensei que o gerente da loja tinha Magia de Transferência e Magia da Floresta, não pode usar um desses para curar? Curioso, perguntei a Nadi sobre isso.

― A magia do gerente não serve para tratamento médico. Ele me disse que o máximo que pode fazer é desinfetar feridas e interromper o sangramento.

Acho que se o gerente fosse capaz de usar a magia de cura, não precisaríamos chamar o ex-padre Horn em para começar.

― Você não pode usar uma poção mágica ou algo assim?

― Uma Poção Mágica Intermediária funcionaria, mas é muito caro para nós.

Eu tinha dado todas as poções mágicas que tinha no labirinto, para ajudar os feridos, então não tinha nenhuma comigo, não me importaria de lhes emprestar o dinheiro para comprar algumas, mas tive a sensação de que seria muito intrometido da minha parte.

Nadi parece ter tido um mal-entendido sobre o meu silêncio.

― Não se preocupe com o remédio ― disse, tentando me tranquilizar. ― O gerente fez um acordo com um conhecido, contanto que nós recolhemos os ingredientes, ele nos cobrará mais barato.

Parece que o gerente da loja havia saído de manhã cedo para uma floresta montanhosa um pouco distante para coletar esses ingredientes, bom, o homem-rato está sendo bem cuidado, então perguntei sobre Mia.

― A princesa não parecia ter nenhuma ferida externa, ainda não recuperou a consciência?

― A Pequena Mia não está ferida, mas parece estar muito cansada, o chefe disse que ela tem todos os sintomas de alguém que teve seu Poder Mágico esgotado por um longo período de tempo.

Esgotamento de Poder Mágico… Gostaria de poder transferir um pouco do meu próprio MP para ela, ainda assim, o que poderia tê-la enfraquecido tanto?

Deve ser fácil curar seus sintomas com a Magia de Transferência ou com a Magia da Floresta, mas...

Nadi explicou que, mesmo que usassem magia para restaurar seu MP ou resistência, ele se esvai como se jogasse água em uma panela cheia de buracos. Apesar dos longos anos de experiência do gerente e do extenso conhecimento de Nadi, nenhum deles conseguiu descobrir porquê.

Eu usei o Mapa para ver o status de Mia. Ela tem 130 anos, sexo feminino, nível 7. Possui duas habilidades Magia da Água e Arco e um dom chamado Visão Espiritual. Seus títulos eram Mestre do Berço e Criança da Floresta de Bolean. A julgar pelas palavras criança e berço em seus títulos, parece que 130 anos ainda é muito jovem para um elfo. Sua aparência é a de uma estudante do ensino fundamental ou médio, o que desmentia sua verdadeira idade.

Mia parecia ser um apelido, seu nome verdadeiro sendo Misanalia Bolean, teria esperado um apelido como Misa ou Lia, mas acho que Mia estava mais de acordo com o costume élfico.

Ela não tinha nenhum problema de status, como uma maldição ou doença, e não parecia haver nada de estranho em seus títulos. Talvez o título do Mestre do Berço significasse que ela estava de cama, mas duvido muito disso, ainda não tinha recuperado nem 10% de sua resistência, mas parecia que sua barra de MP estava se enchendo.

Talvez o tratamento do gerente da loja tenha funcionado? Queria transmitir essa informação para Nadi, mas não conseguiria explicar como sabia disso. Talvez deva tentar mencionar o assunto e orientá-la a perceber por si mesma.

― Existe alguma coisa que possa ajudar além da Magia de Cura?

― Uma poção de mana certamente curaria Mia, mas repito, elas são muito caras, acrescentou de maneira seca. ― Todo mundo é pobre aqui. ― Seu sorriso estava irritado. ― Tenho certeza que trazê-la para uma fonte de mana ou uma veia subterrânea a ajudaria a se recuperar também, mas as únicas fontes por aqui estão no castelo do conde ou no Vale dos Dragões.

Entendo... Uma "fonte"? Queria perguntar mais sobre o termo, mas tive que adiar meu questionamento quando ouvi um barulho no andar de cima. Estava vindo do quarto em que Mia estava dormindo, então chequei o Mapa e vi que o status dela havia mudado de Desmaiado para Nenhum. Nadi parece não ter ouvido, então disse a ela.

― Acho que ouvi algo no andar de cima. Talvez ela esteja acordada?

― Uau, Satou-san, seus ouvidos são tão afiados quanto qualquer elfo ou da Tribo das Orelhas de Coelho.

Orelhas de Coelho? Como ... coelhinhas? Não parece haver nenhuma na cidade de Seiryuu, mas era algo que gostaria de ver.

Nadi e eu subimos as escadas para visitar o quarto em que Mia estava dormindo, esperei do lado de fora do quarto para que Nadi, após averiguar se poderia, me dar sinal para entrar.

― Mia, você está acordada?

― Quem?

― Eu sou Nadi, o funcionário desta loja. Meu chefe, o gerente, é Yusaratoya. 

― Yuya é…?

A voz de Mia soava tão jovem quanto sua aparência sugere, é um pouco rouca também, porque tinha acabado de acordar.

― Quem está lá fora?

Mia parecia ter notado que eu estava esperando do lado de fora, isso foi intuição? Não, talvez tenha notado que havia passos de duas pessoas subindo as escadas.

― Essa é a pessoa que resgatou você e seu amigo de capacete vermelho.

Mize? ― Mia murmurou quando Nadi falou.

Tem ela e o gerente da loja, me pergunto se falar tão pouco era uma característica racial.

― Mize é o rato com o capacete vermelho? Ele está dormindo agora que foi tratado.

― Nm.

Teria sido mais preciso dizer que nós “terminamos seus primeiros socorros de emergência”, mas dizer isso apenas serviria para as acender as chamas da ansiedade em Mia.

Depois dessa interrupção, Nadi terminou de me apresentar.

― Então, a pessoa do lado de fora da porta se chama Satou-san

― Satou...

Tudo bem se ele entrar?

― Nm.

Nadi me chamou e entrei no quarto. Meu palpite é que era o quarto de Nadi; era refinado e de bom gosto e, de certa forma bastante feminino ao mesmo tempo, mas acho que há plantas decorativas demais, no entanto.

― Satou?

Balancei a cabeça e me apresentei. ― Prazer em conhecê-la. Sou Satou, um mascate ― Com seus olhos prateados e rosto adorável, ela parecia uma boneca.

― Espiritualista?

Inclinei minha cabeça confuso para a pergunta súbita de Mia, posso usar um pouco de magia do fogo, mas pelo que entendi dos meus livros de magia introdutória, os espíritos não tinham nada a ver com isso, claro, se houvesse espíritos da água sexy como Ondinas ou espíritos da floresta voluptuosos como dríades, ficaria feliz em conhecê-los.

― Não, infelizmente, nunca encontrei nenhum espírito.

― Não pode vê-los?

A expressão de Mia parecia confusa, perguntei a Nadi se eles eram algo que devo ser capaz de ver.

― Apenas pessoas com o dom da Visão Espiritual podem vê-las

Ela me informou que a Mia tinha o dom da Visão Espiritual, mas o gerente não tinha, então acho que nem todos os elfos podiam ver espíritos.

Ajudei a Nadi a dar uma bebida a Mia.

― Você acha que pode comer alguma coisa?

― Nm.

 

― Vou fazer uma sopa ou mingau, então. Você pode ficar com a Mia por algum tempo?

Nadi parecia querer que fizesse isso enquanto perguntava, então concordei.

Enquanto o cheiro simples de mingau começou a subir para cá, passamos o tempo conversando sobre espíritos, claro, sem Nadi por perto para ser minha intérprete não consegui juntar todos os detalhes sobre os espíritos das frases curtas de Mia, além de adjetivos inúteis, como fofo e brilhante, consegui entender que eles eram criaturas que fazem fluir as Veias de Mana Subterrâneas, são Canais de Mana e têm Atributos Mágicos.

Também ganhei duas habilidades por causa da conversa, Língua Élfica e Decifrar Códigos, e parece que conquistei a atenção de Mia também. Ganhei a habilidade Língua Élfica quando perguntei a Mia como dizer "bom dia" em élfico. Acho que a razão pela qual aprendi Decifrar Códigos é óbvio.

Depois de comer o mingau, Mia começou a parecer sonolenta.

― Sinto muito por ficar tanto tempo, vou para casa daqui a pouco.

― Mrr.

Comecei a me levantar da cadeira ao lado da cama, mas Mia me parou, agarrando a manga do meu manto.

― Fica ― Mia pediu, ansiosa.

Bem, acho que posso ficar até ela dormir.

 

― Esta carta significa cadeira, certo? Isso faz dez cartas para mim!

― Uau~!

― Arisa é muito boa, nano desu!

― Tama e Pochi não percam tempo tendo inveja. Concentrem-se!

― Você é tão inteligente, Arisa.

Ouvi as vozes de todos vindo de um canto do pátio da Estalagem do Portal, essa última voz me faz crer que Yuni estava jogando com meu set de cartas junto com as meninas, não os vi quando entrei no pátio, então olhei para o meu Radar e os encontrei reunidos em um pequeno lugar sob a sombra de uma sebe jogando algum jogo. Estavam todos sentados no círculo em torno de uma porção de cartões com a face para baixo, organizados como um Jogo da Memória. Oh... Essas foram as cartas que comprei ontem.

Ao observá-los por um momento, percebi que tinham que adivinhar qual coisa as letras viradas para cima representavam para adquirir aquele cartão. Eles podiam confirmar a resposta olhando a foto na parte de trás, então até participantes que não sabem ler ainda podiam aprender jogando.

― Parece divertido.

― Mestre, no desu!

― Aprendendo~!

Pochi e Tama me viram oculto na sombra e correram até mim.

― Veja isso, veja, nanodesu!

― Três cartas~!

Os dois levantaram as cartas que haviam ganhado, esperando por elogios enquanto olhavam para mim, e assim como esperavam, acariciei a cabeça dos dois.

― Ótimo trabalho.

Enquanto estava fazendo isso, pensei em perguntar sobre as cartas que elas aprenderam.

― O que é essa carta?

― É carne, desu! ― Não, isso é uma cabra.

― E o que é isso?

― Carne também~. ― Não, é um coelho.

Eu olhei para Arisa, que deve saber que elas estão erradas.

― Bem... Elas pareciam tão confiantes quando disseram 'carne', não pude dizer que estavam erradas ― Arisa confessou com um sorriso irônico.

Tentei ensinar-lhes as palavras corretas.

― Nós erramos? É uma cabra, mas ainda é carne, nano. 

― Huuh? É um coelho, mas é carne~.

As duas garotas pareciam intrigadas.

― Então isso significa que essa carta é pássaro, não carne de pássaro?

Liza se juntou à conversa, parecendo surpresa, se você sabe que tipo de animal é, por que você precisa adicionar “carne”?… Era o que queria dizer, mas não conseguia fazer isso. Acho que foi assim que Arisa se sentiu.

Em vez disso, acabei ensinando as palavras uma carta por vez.

― Como se escreve carne, nano desu?

― Assim.

Não havia carta para "carne", então adicionei um à mão. 

Habilidade Adquirida: Pintar

Habilidade Adquirida: Caligrafia

Habilidade Adquirida: Jogos

Desenhando uma única carta me rendeu uma grande quantidade de habilidades, como um bônus, por ensinar Pochi e Tama a palavra para carne ganhei a habilidade Ensinar, como parece útil, maximizei seus pontos de habilidade.

Talvez deva criar uma lista com sugestões de ações que possam me dar habilidades e, depois ter um dia dedicado a aquisição de habilidades ou algo assim.

Conversando com as garotas enquanto fazia o cartão, descobri para minha surpresa que Arisa não podia ler ou escrever na linguagem de Shiga.

― O reino de onde vim era terrivelmente machista, não consegui ninguém que me ensinasse, disseram que mesmo as mulheres da realeza não precisavam saber ler! Entrei nas aulas dos meus irmãos mais velhos para aprender a ler e escrever a língua oficial para que pudesse ler meus livros mágicos. ― Arisa no geral agia como uma garota mimada, mas na verdade ela era muito esforçada.

― Então, aprender a ler cartas como essas não me levará mais de três dias, apenas veja!

Apoiando sua afirmação ousada, já conhecia trinta das cem cartas do baralho.

― Isso é incrível! Qual é o seu segredo? ― Yuni ainda não conseguiu memorizar um único cartão, então pediu ajuda a Arisa.

― Me lembro dos grupos de letras associado com uma única imagem. Por que não tenta com algumas palavras que lhe interessam?

― Oh, Yuni! Então é aqui que você está se escondendo!

Houve um farfalhar nos arbustos e Martha apareceu, seu cabelo tinha se emaranhado nos galhos finos, então ajudei a libertá-la, as narinas de Arisa queimaram, e ela murmurou algo incompreensível como

― Não é uma Daphne8 do arbusto, mas elas farão!"

Talvez tenha sido uma referência a um mangá que ela leu em sua vida anterior ou algo assim.

Quando Martha apareceu, Yuni parecia confuso, acho que ela ainda está no horário de trabalho.

― Me desculpe, Martha.

― Oh... Deus, você é só uma criança, vem, vou te ajudar com a limpeza das cabanas no estábulo e a troca do feno, mas só até a hora do almoço. ― Martha repreendeu Yuni, então arregaçou as mangas, pronta para ajudar a reparar o erro de seu pequeno protegido.

― Oh, hum... Eu já fiz isso.

― Huh?

Yuni falou desculpando-se, olhando para Martha com os olhos redondos e inocentes.

― Pochi e Tama me ajudaram, sabe.

Parece que ela terminou seu trabalho mais cedo graças à ajuda da dupla, e era por isso que ela teve tempo para estar brincando com os outros.

― Nós fizemos como um, 'RaaOh E pegamos água do poço, nano desu!

― Cuidamos dos cavalos~.

As duas garotas explicaram o trabalho que tinham feito com a ajuda de vários gestos.

― Muito bem ― Os elogiei enquanto acariciando cada um na cabeça, Tama esfregou sua cabeça na minha mão em resposta; Pochi ficou parada, exceto pela cauda, ​​que balançava com tanta força que parecia que ia cair.

No fim, depois de avisar a Yuni que ela deve sempre falar quando seu trabalho for concluído, Martha acabou se juntando a mim para assistir ao jogo de cartas.

― Olá! Meu nome é Arisa. 

― Eu sou Pochi, nanode!

― Tama~.

As três meninas começaram a se apresentar assim que a porta do quarto de Mia se abriu. O som das meninas subindo correndo as escadas deve ter assustado Mia, que puxou o cobertor por cima da cabeça e espiava cauteloso através de um pequeno espaço.

Quando mencionei durante o almoço que estava indo visitar não apenas o cavaleiro homem-rato, mas também a princesa que estava protegendo, todas insistiram em vir junto para conhecê-la.

Imaginei que Mia estaria sozinha, e poderíamos dar a Nadi um tempo para descanso, claro, Liza e Lulu vieram junto com as crianças, as duas estavam lá embaixo ajudando Nadi. O remédio que Lulu tomou esta manhã parecia ter funcionado, ela havia almoçado normal, e sua pele parecia muito melhor.

― M-Mia.

Mia puxou o cobertor bem abaixo dos olhos e timidamente se apresentou com poucas palavras como sempre, não pude esconder minha surpresa quando olhei para o rosto tímido de Mia, seus olhos que tinha certeza que eram de prata antes, agora eram um lindo verde esmeralda. Parece que ela não foi substituída por outra pessoa, então talvez a cor dos olhos tenha mudado quando ela estava usando a Visão Espiritual?

― O que a ...?

― Ela é uma princesa, nano desu!

― Seu cabelo bonitinho!

Arisa estava olhando para o rosto de Mia em choque também, embora por um motivo diferente, ela estava entendendo mal da mesma forma que Nadi antes.

― Você não disse que ela era a princesa dos ratos?

― Não, não disse. Falei que ela era uma princesa sendo defendida por um homem-rato, lembra? ― Corrigi, mas tenho que admitir que usei palavras bastante enganosas na esperança de surpreendê-las um pouco. Acho que Arisa não foi capaz de dizer com a Verificação de Status que Mia era uma elfa porquê estava embaixo do cobertor. Ao contrário do meu pop-up AR do Menu, parecia que ela precisava de um alvo visível para analisá-lo.

Influenciados pela ousadia de Arisa, Pochi e Tama ficaram à vontade com Mia.

― Vou ficar no andar abaixo por um tempo. Cuide de Mia por mim. 

― Tranquilo.

― Hai! nano desu!

― certo~. 

― Mrrr…

As crianças obedeceram tranquilamente, mas Mia resmungou com relutância, tirou a mão de debaixo do cobertor e agarrou minha manga, liberando-me apenas quando insisti que voltaria logo. Por que ela está tão apegada a mim?

No andar de baixo, Nadi estava comendo a um ritmo alarmante.

― Muito obrigado. Tudo o que comi hoje foi um pouquinho de mingau pela manhã.

Terminando sua simples refeição de pão de centeio e sopa, Nadi sentou-se satisfeita e respirou fundo, apreciando o cheiro do chá de ervas luz que Lulu lhe servia.

― Chá de ervas.

Seus gestos faziam parecer luxuoso, mas na verdade era apenas água quente com algumas folhas aromáticas flutuando nele. Não era tão forte quanto na hortelã, mas o sabor era bem refrescante, e muito barato também, com um saco cheio de folhas sendo vendida por uma única moeda de um centavo.

― Satou-san, você é um mascate, certo? ― Tomando um gole de chá, Nadi iniciou uma conversa. Ah... Sim, acho que é isso que tenho dito às pessoas, mas está ficando um pouco estranho, já que não tinha feito uma única atividade comercial desde que cheguei na cidade, mas mantive assim mesmo. ― Então você tem uma carruagem puxada por cavalos?

― Não... Eu tinha um cavalo de carga, mas ele fugiu de mim depois da queda das estrelas um tempo atrás. ― Tenho certeza que é o que disse a Lona também.

― Oh... isso é terrível, bem, se você tiver os fundos, por que não comprar uma carruagem agora? ― Fez uma proposta repentina com um olhar preocupado.

Segundo ela, um conhecido do gerente da loja era um comerciante que estava se aposentando, então estava querendo vender sua carruagem e os dois cavalos que a puxam. Uma vez que terminasse o turismo nesta área, estava planejando trazer as meninas de pele de animal para algum lugar onde elas podem viver em paz, por isso, esta foi uma oportunidade perfeita... mas havia um problema.

― Isso seria excelente, mas não tenho experiência em dirigir uma carruagem... ― Tenho uma habilitação normal, mas nunca dirigi qualquer coisa puxada por cavalos. Fiquei em silêncio por um momento, sem saber se recusaria a oferta ou perguntaria se ela poderia me apresentar a alguém que pudesse me ensinar o básico.

Naquele momento, percebi que Lulu queria dizer algo, então mudei de assunto.

― Lulu, se você tem algo a dizer, fique à vontade para dizer.

― H-hum, bem, eu dirigi uma carruagem de um cavalo antes... ― Ela parou e mordeu o lábio algumas vezes, mas por fim, Lulu conseguiu forçar as palavras a sair e, dizer que tinha alguma experiência.

― Bem, neste caso, acho que você pode me ensinar. Então, Nadi, acho que vou comprá-lo afinal, se puder.

― Que decisão rápida. Mas você não quer saber quanto custa primeiro, Satou-san?

Merda, me deixei levar por causa de todas as moedas de ouro que tenho no Armazenamento. Olhei para fora e encontrei uma carruagem puxada por cavalos passando pela praça, usando minha habilidade de Estimativa para verificar o preço. Um truque bem legal.

― Vou confiar em você nisso, Nadi. Contanto que possamos mantê-lo dentro desse orçamento, isso não é um problema. Você pode pegar o troco para você.

Entreguei a Nadi uma sacola cheia de moedas de ouro, tentando modelar minha expressão como a de um comerciante em um filme antigo com segundas intenções. A bolsa continha o valor de mercado e mais duas moedas de ouro, então deveria ser suficiente, desde que não estivéssemos sendo enganados.

Se a negociação falhasse aqui, minhas habilidades de Negociação e Pechincha teriam que entrar em cena.

― Quando você...

Nadi estava perplexa, mas ela contou as moedas e me deu um recibo temporário. Acho que meu desempenho foi um pouco ruim, teria sido mais natural se tivesse proposto uma quantia e fornecido a ela mais tarde, em vez de colocar as moedas em uma sacola na Storage e entregá-las de uma vez. Tudo bem, tenho o suficiente de arrependimentos, vou ser mais cuidadoso da próxima vez.

***

― Vamos praticar nossas habilidades de acampamento antes de sairmos em viagem!

Por sugestão de Arisa, decidimos montar um acampamento de prática em um terreno baldio no quadrante oeste.

Nadi obteve permissão de uma pessoa no poder para usá-lo, seria bom usá-lo sem permissão, mas como usaremos fogo neste caso, é melhor perguntar antes. O lote estava cheio de grama e outras ervas daninhas, então usei uma foice que tinha comprado de uma loja de ferragens nas proximidades para começar a fazer a limpeza de um local para nós praticarmos.

Eu tinha enviado Arisa, Lulu e Liza para comprar mais ferramentas e suprimentos necessários que usaremos para acampar.

― Ceifar?

― Deixe isso conosco, nano desu!

Pochi e Tama começaram a cortar a grama, trabalhei junto com elas, cortando em um único local para torná-lo limpo, na área em que estaremos fazendo nossa cozinha improvisada arranquei as ervas daninhas pelas raízes em vez de cortá-las, em seguida, coloquei algumas pedras que Pochi e Tama reuniram para criar um fogão improvisado.

Estava confiando em minhas memórias de acampamento quando era um estudante, mas acho que consegui fazer um bom trabalho.

Como nós tivemos tempo para matar antes do grupo que foi às compras voltar, nos deitamos na cama que fizemos com a grama para olhar as nuvens. Então notei um movimento no log sobre aquisição de habilidades enquanto estava trabalhando, resolvi verificar. Consegui mais habilidades do que esperava, havia seis no total: Ceifador de Ervas, Agricultura, Cultivar, Coletar, Pedreiro e Acampar. Sobre a habilidade Acampar acho que deveria tê-la recebido antes, mas acho que tudo o que fiz no labirinto foi preparar uma cama sobre as pedras e tirar soneca, talvez isso não conte. Os requisitos para obter habilidades ainda eram pouco vagos.

― Estamos de volta e trouxemos os suprimentos! ― Arisa, Liza e Lulu voltaram.

Liza acendeu o fogão temporário e pôs uma panela no fogo, parece que já tinha pego água antes.

― Guh-heh-heh-heh, veja, veja!

O item que Arisa estava me mostrando com orgulho era uma chaleira, completa com um apito. Não tenho certeza se isso é para uso ao ar livre ou apenas porque não havia fogões a gás neste mundo, mas parecia que era para ser pendurado em uma haste e aquecido sobre o fogo, assim como um caldeirão. Lulu colocou algumas folhas de chá na chaleira e pendurou-a ao lado da panela.

O menu de hoje continha um guisado feito com carne seca e três tipos de vegetais picados, com um pão de centeio como acompanhamento. Acontece que o pão branco só podia ser comprado do outro lado da parede interna. Não tive nenhum problema com o pão de centeio por enquanto, então percebi que não havia necessidade de me esforçar para obter novas coisas a menos que ficasse doente disso.

Liza trocou sua lança por uma faca de cozinha hoje, servindo como nossa cozinheira, Lulu ajudou com papéis menores como descascar legumes, e Arisa os aplaudiu. Pochi e Tama tinham sido encarregados de vigiar a chaleira.

Fui até um canto do terreno baldio para pegar um tronco de árvore, nós podemos usá-lo como uma mesa. Ninguém estava olhando, então puxei o toco com força bruta, isso seria impossível sem maquinário pesado, mas a ajuda do meu atributo STR anormalmente alto tornou isso uma tarefa fácil, cortei as raízes grossas do toco com o machado mágico que peguei “emprestado” do homem-rato de capacete vermelho.

Pouco tempo depois ouvi a chaleira apitando, mas ao invés de removê-la do fogo, elas vieram correndo.

― Chaleira louca!

― Ajuda nano desu! O homem da chaleira está bravo nano desu!

O homem da chaleira?

Me parece que Pochi e Tama nunca viram uma chaleira com apito antes, e elas ficaram assustados com o barulho desconhecido.

― Isso é apenas o som do apito avisando que a água ferveu.

― Não está louca?

― Por que apita quando a água ferve, nano desu?

Tento explicar o mecanismo que é usado no apito com vapor e falho miseravelmente, peço ajuda a Arisa e lhe digo como expliquei.

― Claro que não entenderam, são crianças e não cientistas, como você quer que elas entendam que a água aumenta mil vezes de volume quando evapora― Está errado Arisa, a água na verdade aumenta 1699 vezes seu volume, mas claro não vou objetar aqui.

Abri a chaleira e mostrei o vapor a Pochi e Tama, Arisa aproveitando a oportunidade explicou:

― Veja isso. ― A fumaça branca do vapor se espalhava no ar ― Quando a água fica quente, ela se torna uma fumaça branca, essa fumaça é forte e pode empurrar coisas leves assim ― Arisa pegou um pedaço de grama e fez parecer um cata vento.

 

Ela segurou a chaleira e deixou o vapor girar, então a puxou o cata vento de grama e soprou.

― Assim como quando uma pessoa sopra, o vapor soprando através do apito faz um barulho.

― Incrível~!

― Você é tão inteligente, desu!

Para minha decepção, a explicação de Arisa parece ser fácil de entender para Pochi e Tama.

Se eu aprender a usar Magia da Água, quero tentar desenvolver um feitiço que lançasse uma rajada de vapor nos inimigos ou se colocasse com uma parede de névoa ou algo assim, embora é provável que já exista.

Assim que terminamos a refeição e relaxamos um pouco, notei uma luz no meu Radar e virei minha cabeça, olhos estavam travados em mim, três crianças gato e cachorro pararam em seu caminho.

Reconheci sua aparência de bicho de pelúcia.

― Peelo espertinhon de frrango, dês.

― Obrrrigato, nano.

― Foi muito delicioso.

As crianças de pele de animal agradeceram-me várias vezes, e cada um colocou uma pequena folha cheia de nozes e bagas no toco que serviu como mesa.

― O que é isto?

― É saboroso, nano.

Foi isso um presente de agradecimento? De repente, Pochi e Tama vieram correndo, Arisa e Lulu tinham ido com Liza, como sua escolta, para comprar algumas frutas para a sobremesa, por isso elas não estavam por perto.

― Nada de brigas!

― Você não pode intimidar nosso mestre, nano desu!

Parece que elas acharam que essas crianças estavam me atacando e estavam claramente prontos para bater neles.

― Está tudo bem. Essas crianças me trouxeram nozes como agradecimento pelo frango grelhado que lhes dei.

Com isso, Pochi e Tama relaxaram suas posturas de combate.

― Estas são nozes Chinquapin, nano desu! Elas são muito saborosas, nano!

― Lobos-marinhos. Eles são bons, também~!

Pegando as guloseimas nas pequenas folhas, as garotas me contaram os nomes.

― Esterrrs são parrrrra elerrrr, dês!

As crianças não parecem gostar que Pochi e Tama peguem algumas das guloseimas sem permissão, e reclamaram.

Queria aceitar seus presentes, mas considerando o que tinha ouvido falar de Pochi e Tama antes, estava preocupada que eles precisassem dessa comida muito mais do que eu... Já sei, vou dar-lhes um presente de agradecimento pelo presente de agradecimento.

Se tivessem vindo um pouco mais cedo, poderia ter dado a eles um pouco de ensopado e pão... Mas ainda tenho quase cinco quilos de carne seca, então acho que posso isso serve.

― Muito obrigado. ― Enrolei as nozes e as frutas em um lenço e guardei-as no minha Bolsa-Garagem.

As crianças pareciam satisfeitas com isso e começaram a sair, então as chamei.

― Eu tenho um favor para lhe pedir.

― Oorque serrria, nanoo?

― Nós temos muito disso aqui, e não poderíamos comer tudo. Você acha que pode pegar um pouco para si?

Pochi e Tama pareciam estar prestes a falar bobagem, então tive de cobrir as suas bocas. Tenho certeza de que eles iam me dizer que poderiam comer qualquer quantidade de carne.

― Arrre!, você não se importa?

― Não, você estaria me dando uma boa ajuda.

Pochi e Tama estavam me encararam com olhos reprovadores, mas fingi não notar.

Acenei para as crianças bestfolk quando elas saíram carregando o pacote de carne seca como um objeto precioso.

Em algum momento, Pochi e Tama descobriram que era legal esfregar a cabeça no meu estômago, então deixei que continuasse até que Arisa e as outras voltassem.

Na volta da nossa “prática de acampamento” (que era realmente apenas pretexto para um piquenique), parei no armazém geral para preencher a papelada necessária para comprar a carruagem puxada a cavalos, pedimos a Nadi que concluísse a compra no mesmo dia. Com a entrega marcada para o meio dia, dois dias após a compra. Foi um processo rápido o que me surpreendeu.

Enquanto trabalhávamos na papelada, Arisa sugeriu que devíamos levar Mia de volta para casa dela, então Nadi informou que os elfos viviam ao sul da antiga capital, por isso deve ser fácil ir até lá depois de passear pela cidade. Quando falamos sobre isso, Mia parecia bastante entusiasmada, e eu, claro, estava interessado em ver a aldeia dos elfos, então foi decidido que falaríamos com o gerente sobre isso quando ele voltar para a cidade de Seiryuu. Acho que precisamos ter a permissão de seu atual responsável primeiro, mas mesmo depois de tomarmos essa decisão e aguarda-lo, o gerente ainda não retornou, ainda assim, Nadi não parece muito preocupada com seu amado chefe, então deve estar tudo bem.

Quanto à carruagem, quando chegou a hora da tão aguardada instrução e test drive, Lulu e eu nos dirigimos para fora da cidade para que ela pudesse me ajudar a praticar a condução.

― O tempo está bom bonito hoje.

― Sim, des. É, des.

Eu tentei puxar conversa sobre o tempo, mas a expressão de Lulu estava tão complicada quanto antes. Lulu parecia ansiosa por estar sozinha comigo, seus ombros estavam tensos.

Os cavalos pareciam sentir seus nervos também, enquanto bufaram rudemente e não se acalmavam.

― Você não precisa ficar tão nervosa. Não estou esperando que comece a se comportar como Arisa... Na verdade, aliás prefiro que não o faça... Mas espero que esteja mais confortável comigo como Pochi e Tama.

― Mas... sou uma escrava. Isso parece tão estranho...

A voz de Lulu era tão baixa que era praticamente inaudível, parece que vai demorar um pouco para fazê-la mudar de ideia.

Por enquanto, talvez devo começar ajudando-a a respirar fundo e relaxar.

― Lulu, respire devagar... ― Tomei as rédeas dela enquanto dava as instruções. Pensando que seria melhor aliviar a tensão de seu corpo, assim como sua mente, mostrei a ela como fazer alguns alongamentos sentados que às vezes usava no trabalho.

Talvez porque tenha conseguido um corpo jovem quando cheguei aqui, não ficava com ombros tensos nem nada, então não os tinha feito mais.

― Você está um pouco melhor? Já que estamos aqui, gostaria de conversar um pouco? ― Olhei deliberadamente para longe de Lulu em direção às nuvens, falando em tom descontraído.

Sua tensão parecia ter diminuído, mas ela ainda estava dando apenas respostas curtas como "sim" e "de fato". Lembrei... não é Lulu desconfortável com os homens?

De acordo com Arisa, seus primos e garotos da vizinhança tinham intimidado ela às vezes, então não seria tão surpreendente, não parecia estar muito confortável em falar comigo também.

Em casos como este, a melhor estratégia, é deixá-los falar sobre o que realmente querem. Se era sobre algo que gosta ou pode se gabar, vai relaxar um pouco. Pelo menos é assim para os nerds como eu, afinal.

Agora, qual tópico seria bom? Pensei por um momento, depois resolvi que o assunto seria sobre Arisa.

― …É verdade! Arisa é tão incrível!

Parece que minha decisão tinha sido certa, Lulu parece estar se divertindo enquanto falava sobre Arisa; seus olhos brilham e suas bochechas estavam um pouco vermelhas.

Ela sempre foi uma menina bonita, mas isso só a fez ainda mais. Oh... Sim.

Meus pensamentos haviam se desviado para um território perigoso por um instante. ASSUSTADOR!

― Você realmente ama sua irmãzinha, né?

― Sim. Embora às vezes é difícil dizer qual de nós é o mais velho.

― Ela certamente não age como onze anos de idade.

― Bem, Arisa sempre foi um gênio, desde que éramos pequenas.

Não tenho certeza se pode ser considerar um gênio, sendo que só tinha muito conhecimento de sua vida anterior. Me pergunto se ela conversou com Lulu sobre isso? Bem, tanto faz.

Enquanto estivermos no assunto, podemos saber um pouco sobre isso.

― Como ela era naquela época?

― Bem… Por exemplo [...]

Sua opinião elevada sobre Arisa parecia cegá-la de certas falhas, mas deixei-a falar o quanto quisesse, não fazendo nenhuma correção ou objeção grosseira.

Em um momento, Lulu começou a tossir e segurar sua garganta do esforço excessivo, então lhe dei um pouco de água, continuamos assim até ser quase meio-dia, com Lulu tagarelando sobre Arisa o quanto quiser.

Ouvindo o som do trovão distante, olhei para cima e vi as nuvens escuras estendendo-se sobre as montanhas, acho que ainda temos algumas horas, mas é melhor realizarmos o nosso principal objetivo antes de chover.

― Vamos começar a prática de condução? Parece que vai chover.

― Desculpa, só tenho falado sobre Arisa…

Uma vez que assegurei a Lulu que não havia necessidade de ficar envergonhado por falar muito, nós começamos a lição.

É claro, assim que comecei a dirigir a carruagem como Lulu me mostrará…

Habilidade Adquirida: Conduzir

Título Adquirido: Cocheiro

Imediatamente ganhei a habilidade necessária, então com cada parte de nossa aula, coloquei mais pontos de habilidade. Poderia ter acabado com isso imediatamente, mas queria ser atencioso, já que Lulu estava me ensinando, e levar o nosso tempo com a lição ajudou a facilitar uma comunicação mais relaxada com ela.

Ao longo do nosso bate-papo, consegui aprender mais conhecimentos gerais sobre a condução de carruagens. Conduzir me passa todas as sutilezas que preciso saber, mas não me ensina o porquê eu precisava fazer as coisas dessa maneira. Então confiei em Lulu para obter essa informação a mais.

Contudo, Lulu só tinha dirigido uma carruagem dentro da cidade antes, então achei que seria melhor que um cocheiro veterano me ensinasse algumas coisas também, antes de partirmos em nossa jornada.

Toda vez que havia um estrondo de trovão, a distância entre Lulu e eu diminuía um pouco, acho que é medo de trovões. Ela gritou um pouco e agarrou meu braço quando houve um relâmpago sobre as montanhas.

Se Arisa estivesse por perto, eu tinha a impressão de que ela iria gostar de ver mais de perto o trovão.

De repente, senti alguém me observando da floresta próxima, então me virei. Não havia ninguém lá. Nada de estranho no meu radar também. Talvez fosse um pássaro ou um pequeno animal... É uma coruja. Relâmpagos clareiam novamente, e peguei um vislumbre sinistro da silhueta da coruja contra as nuvens escuras. De alguma maneira, senti como se nossos olhos tivessem se encontrado por um momento, mas então a coruja pareceu perder o interesse em nós e saiu para pousar no teto de uma carruagem diferente indo em direção à cidade de Seiryuu.

― U-um... mestre...?

Meu súbito silêncio pareceu ter deixado Lulu ansiosa. Se eu a deixasse desconfortável agora, depois que finalmente ficássemos um pouco mais amigáveis, não haveria motivo para ouvi-la soltar elogios a Arisa por tanto tempo.

― Sinto muito. Pensei ter visto um pássaro enorme na floresta, então me distrai um pouco.

― Foi um falcão?

― Não, foi um pouco mais redondo que isso, então acho que poderia ter sido uma coruja… ― Desculpa bem encaixada, consegui recuperar o jogo, tornando a atmosfera mais relaxada de novo.

***

Quando retornamos à cidade, fomos para a frente do Armazém Geral, a Tama, que tem instintos afiados, foi rápida em nos localizar e acenar da janela do segundo andar, me movi para acenar de volta, mas o rosto dela já não estava na janela, então fiquei com a mão no ar sem uma boa razão, Lulu riu um pouco, então encobri o meu constrangimento, pedindo-lhe para dirigir a carruagem em direção a Estalagem Portal.

Bem, estou feliz que ela está mais “suave” comigo.

― Bem-vindo de volta, nano desu!

― Mestre~!

Pochi e Tama vieram correndo ansiosamente, então peguei-os em meus braços, Mia estava por trás delas, acompanhada por Arisa e Liza.

― Satou.

― Oi, Mia. Você já é capaz de andar um pouco? 

― Nm. Poção mágica.

Ela parece muito melhor graças à poção mágica que o gerente trouxe na volta. Esta foi a primeira vez que vi uma! Foi mágico! ― Arisa completou a curta declaração de Mia.

Verificando no Mapa, vi que o gerente estava no segundo andar da loja. Devemos ter passado um pelo outro, já que voltou para a cidade de Seiryuu logo depois que saímos.

― Estou feliz que você esteja se sentindo melhor.

― Nm, obrigada.

Mia parecia querer dizer alguma coisa e, atrás dela Arisa estava olhando para mim e apontando para a cabeça de Mia. O penteado de Mia hoje era diferente do habitual, costuma usar solto nas costas, mas hoje o colocou em duas tranças. Parece que devo comentar sobre isso.

― Esse é um penteado muito fofo. Isso combina com você.

― Nm. ― Mia respondeu ao meu elogio com uma voz baixa e tímida.

Arisa sugeriu ter algo bom para comer em comemoração à recuperação de Mia, então perguntei se Mia tinha alguma sugestão.

― Doces de mel.

Eu não esperava uma resposta tão rápida, então levei um segundo para reagir. Talvez levando minha reação atrasada como uma rejeição, Arisa continuou.

― Ela se interessou por eles depois que Pochi e Tama mencionaram tê-los comido antes.

― Liza comeu também, nano desu!

― Doce e feliz~!

Lembrando-se da experiência, Pochi e Tama pressionaram as mãos nas bochechas.

― Pensei que seria legal se Mia e todos pudessem comê-los também ― acrescentou Arisa.

Entendo. Então Arisa também quer comê-los, e ela está usando Mia como uma desculpa.

Não eram muito caros, então dei a Lulu e Liza algumas moedas de prata e pedi que comprasse doces suficientes para que todos tenham vários.

Poderia ter pedido a Arisa, mas tinha a sensação de que Mia, que ainda está em recuperação, também viria a querer ir, então deixei para as duas.

De repente, Tama olhou para o telhado da Estalagem Portal.

― O que foi, Tama?

― Hm... pássaro estranho.

Tama estava inclinando a cabeça incerta para uma coruja que estava empoleirada no topo do telhado... É a mesmo que vi quando estava treinando com Lulu a conduzir carruagens mais cedo? Vendo que nós à notamos, a coruja voou para longe.

 

― Olá, Nadi. O gerente está?

― Oh, seja bem vindo de volta, Satou-san. O gerente está com o Mize agora.

Quem é Mize…? Ah, sim, o homem de capacete vermelho.

Agradeci a Nadi e subi as escadas até o segundo andar. As crianças ficaram no andar de baixo no sofá e começaram a espalhar as cartas de aprendizagem na mesa. Elas realmente parecem gostar desse jogo. Parece que a chuva era iminente, então não havia clientes na loja, mas os avisei para não incomodarem Nadi só por precaução.

Batendo na porta levemente, entrei no quarto. Se este fosse o quarto de uma mulher ou de um garoto na puberdade, teria esperado por uma resposta antes de entrar, mas já que era apenas um velho, achei que era bom apenas esperar alguns segundos antes de entrar.

O gerente olhou para mim e deu um breve cumprimento.

― Satou.

― Zatoo? vozê zalvou minha vida, ah...

O homem-rato me agradeceu com sua voz rouca e quase impossível de entender. Tanto quanto posso dizer, não foi porque foi ferido, mas sim que sua boca, bem como as crianças Dogkin que conheci antes, não era adequado para formar as palavras.

Perguntei como acabou protegendo Mia e sendo atacado pelos perseguidores das sombras. Claro, isso foi principalmente por curiosidade, e não teria ficado surpreso e incomodado se os dois tivessem se recusado a explicar, mas ao em vez disso eles me deram uma explicação detalhada.

Um feiticeiro havia sequestrado Mia de sua cidade natal na aldeia dos elfos e a levado para uma instalação chamada Berço. Ela escapou enquanto estava sendo transportada e, por acaso, topou com o homem-rato, que ajudou a levá-la à cidade de Seiryuu para buscar a ajuda do gerente.

O capacete vermelho explicou que estava por perto na época, porque estava investigando se o Berço poderia ser a causa da crescente quantidade de ervas daninhas nas montanhas perto de sua aldeia.

Por sua vez, a razão pela qual o homem-rato chama Mia de “princesa”, apesar da evidente falta de uma ligação racial, era que ele obteve o hábito em sua juventude quando visitava a aldeia élfica para treinar.

O motivo pelo qual o feiticeiro havia raptado Mia era desconhecido. Tive a impressão de que o gerente da loja sabia de alguma coisa, mas parece não ter intenção de falar sobre isso, então ignorei.

Então, perseguido pelas Formigas de Presas e Formigas Aladas que serviam ao feiticeiro, o homem-rato usou alguns de seus contatos no submundo para se esgueirar pela cidade.

Sendo assim, aquele feiticeiro tinha enviado as Formigas Aladas que atacaram a cidade de Seiryuu também? Aprendi que ele usou Pedras de sal que poderia ser coletado perto de sua aldeia para comprar passagem para a cidade...

Ah... certo, tenho que perguntar ao gerente sobre se posso levar Mia de volta para sua cidade natal.

― Gerente, estava pensando…― O barulho repentino de trovão do lado de fora da janela e os gritos de Nadi e das garotas no andar de baixo interromperam a minha sentença.

― Nadi!

O gerente saiu da sala, então corri atrás, e o homem-rato me seguiu também.

Quando nós três chegamos lá embaixo, vimos Nadi e as meninas se agarrando uma na outra.

― O que aconteceu?!

― Gerente...

Em posição baixa, o homem-rato manteve um olho afiado na entrada da loja como uma sentinela. No entanto, não vi sinais de um inimigo no meu radar. Além de Arisa estremecer e chorar "ti,ti" enquanto Pochi e Tama se agarravam a ela em ambos os lados, não parecia haver nenhum problema.

Eu tirei as meninas de pele de animal de Arisa antes que elas pudessem sufocá-la.

― O que na terra... ― Um raio de luz me cortou desta vez.

Pouco tempo depois, o chuvisco se transformou em uma chuva, cobrindo o exterior com uma cortina de chuva em um piscar de olhos. Sentando no sofá com as meninas de ambos os lados de mim, percebi porque haviam gritado alguns momentos atrás. Elas tinham acabado de ser surpreendidas por um raio.

O gerente da loja usava magia para iluminar a sala. A luz iluminou o rosto de Nadi; agarrada ao braço do gerente da loja, ela parecia assustada, mas feliz. Riajuu devia explodir! Obriguei-me a lhe dar um sorriso invejoso.

Não me importo que Arisa e Mia fiquem agarradas aos meus braços, ou até mesmo com as unhas de Tama enterrando-se em mim enquanto ela se encolhe no meu colo, mas gostaria que Pochi tivesse se agarrado em algum outro lugar que não fosse meu rosto. E que parasse de puxar meu cabelo.

Levantei Pochi e sentei-a no meu colo ao lado de Tama. 

― O homem do trovão é assustador, no desu!

― Luz, bum~!

― Está tão escuro, nano!

― E as árvores racharam. Medo absoluto de tempestades. É realmente muito assustador. Pior ainda… O trovão é realmente muito perigoso, você sabe! Realmente perigoso! Aaze me disse isso. Um relâmpago pode derrubar até dragões, você sabe. Até dragões! É verdade!

Uau, quem é você? Como se a sua habitual falta de vontade de falar fosse uma invenção da minha imaginação, Mia descarregou como uma metralhadora. Nunca tinha ouvido o nome Aaze antes. Talvez seja a mãe dela?

― Então você também tem medo de trovão, Arisa?

― Uhuh... muh? ― Assustada o suficiente, você não pode nem falar, né?

O rosto de Arisa ficou branco como um lençol e ela se enfiou embaixo do meu braço. Estava preocupado que iria tentar algum assédio de novo, mas podia senti-la endurecer de medo toda vez que o trovão ressoava, então acho não havia nada para se preocupar dessa vez.

Tama estava agarrada ao meu peito, a cabeça virada para observar a chuva lá fora.

― Qual o problema? ― perguntei a ela, mas o som de um trovão encobriu a minha voz.

O clarão do relâmpago iluminou uma pequena sombra do lado de fora, havia um ponto de luz no meu radar também. Emergindo da cortina de chuva pesada, uma grande coruja voou para dentro e aterrissou no balcão com um baque surdo...

Era a mesma coruja de antes. Veio se abrigar da chuva? Seus olhos redondos fixaram-se em Mia, e o pop-up do AR me deu mais informações sobre a criatura. Foi designada uma coruja das sombras, do mesmo tipo que vi na noite em que encontrei o homem-rato. Até aí estava tudo bem, mas seu título era Familiar do Zen. Um familiar? Agora, isso é uma fantasia. Mas… se fosse familiar, as chances eram boas de que isso funcionasse com mensageiro para um feiticeiro. Nesse caso, a pessoa que comanda esta coruja pode muito bem ser o mesmo feiticeiro que sequestrou Mia.

O nome desse feiticeiro era zen. Acho que ouvi esse nome em algum lugar antes... Oh, certo! O protagonista da peça que vi com Zena e os outros. Lembro-me que a história de amor trágica foi baseada em uma história verdadeira, mas deve ser apenas uma coincidência. Afinal, o feiticeiro Zen, que foi o protagonista dessa história, foi executado no final.

Eu tentei tirar essa informação inútil da minha mente. Por enquanto, tinha que lidar com esse familiar, tentei procurar no Mapa o feiticeiro por trás dele, mas quando procurei toda a cidade e até mesmo todo o condado, não estava em lugar nenhum…

De onde está controlando? Por enquanto, vamos pegar o familiar. Se não tirarmos os olhos e ouvidos dele, não há como saber se pode mandar monstros atrás de Mia de novo.

De olho na coruja, levantei Pochi e Tama do meu colo e os entreguei a Arisa e Mia respectivamente, então levantei-me do sofá para manter os quatro protegidos atrás de mim. A luz mágica lançou uma longa sombra na parede atrás da coruja. Algo saiu daquela sombra escura, e tudo ao meu redor congelou, como se o tempo tivesse parado.

Medo...

Sim, essa figura era como a própria personificação do medo em si.

Todos nós fomos engolidos por puro medo, esquecendo até mesmo de piscar.

Era impossível pensar em lutar contra tal coisa.

Queria gritar e fugir, a única coisa que me impedia era a necessidade de proteger as meninas e meu último resquício de orgulho. As meninas sob minha proteção foram tudo que me trouxe de volta aos meus sentidos. Depois de um momento, o medo diminuiu um pouco.

Foi a magia psíquica de Arisa? Com o pequeno pedaço da minha mente que retornou a lucidez, consegui abrir o Menu. Estava super lento, como um PC antigo. Amaldiçoando-o o tempo todo, abri a aba de habilidade e rolei para baixo para a habilidade que precisava.

Depois do que pareceu uma eternidade, encontrei o que estava procurando. A habilidade Resistência ao Medo. Operei o Menu com a intenção de mudá-lo de inativo para ativo e, de imediato, o tempo começou a se mover de novo.

Minha mente ficou clara, meu campo de visão, que havia sido restringido pelo medo, se espalhou como a maré sobre as areias da praia. O som da chuva também chegou aos meus ouvidos mais uma vez. Apesar de parecer horas, foram apenas alguns segundos desde que a figura sombria apareceu, como prova disso, ainda estava no meio de emergir da sombra da coruja.

Embora até um momento atrás parecesse um oponente enorme, agora sabia que era apenas um pouco mais alto que eu, um homem curvado em um manto marrom sujo, seu capuz pairava baixo sobre os olhos, obscurecendo suas feições.

Ao contrário da coruja, que tinha voado para dentro, esse cara simplesmente se materializou aqui, como que para confirmar sua chegada abrupta, um ponto branco de luz apareceu de repente no meu Radar. Ficando vermelho logo após. Isso deve ter sido magia, embora não sei de que tipo.

Mudei meu olhar para o pop-up do AR ao lado de sua cabeça. Seu nome era Zen, seu nível é muito alto em 41. Habilidades: Desconhecido. Tive um mau pressentimento sobre isso. Ele era outra existência fora do comum como os heróis ou Arisa?

Antes que pudesse ler até o fim, o feiticeiro Zen deu um passo à frente e olhou para nós, sua linha de visão se parou em Mia, acho que seus olhos tinham permanecido em Arisa e em mim por um momento antes disso, mas talvez fosse minha imaginação?

― Eu vim buscá-la, Mia.

Sua voz era como uma criatura morta-viva que se arrastou das profundezas do inferno. Atrás de mim, Mia estremeceu enquanto estava pendurada na minha manga. Este deve ser o feiticeiro que a sequestrou antes.

Debaixo do capô, seu rosto estava escuro apesar da magia que iluminava a sala. Tudo que pude ver foram dois pequenos reflexos de luz violeta que ardiam como brasas. Como Mia estava com muito medo para falar, respondi em seu lugar.

― Como vai você, Mago-sama? Eu sou Satou, um mercador. 

― Hmph. Não tenho negócios com um humilde comerciante ― Zen disse com arrogância. ― Embora esteja impressionado, descendente de herói. Ser capaz de falar com tanta facilidade ao ser inundado pelo Medo é uma façanha digna de louvor.

Quem você está chamando de “descendente de herói”?

Se estava assumindo isso a partir do meu nome e cabelo preto, ele na verdade deveria ser...

― Eu tinha planejado deixar você ir, mas se você se opor a mim, não vou deixar você sair assim.

Zen fez uma demonstração para dar o peso as suas palavras. Colocou a mão no balcão, a madeira secou e apodreceu em um piscar de olhos. Não sei se isso era um feitiço ou alguma ferramenta mágica, mas em qualquer caso, seria perigoso deixar esse cara me tocar. Tenho a habilidade Resistência à Decadência, então é provável que posso aguentar isso até certo ponto, mas não quero testar.

Em um jogo, o oponente sendo um Mago, na maioria das vezes significa que você deve ter cuidado com ataques mágicos com uma ampla área de efeito, mas desde que seu único objetivo parece ser raptar Mia, é provável que estávamos a salvo disso aqui.

― Prefiro abster-me da violência, mas Mia é uma amiga. Receio não poder deixá-la ser levada contra a vontade dela.

― Me pergunto se você ainda diria isso se apodrecesse seu braço direito como fiz a essa madeira?

O zen atravessou os restos apodrecidos do balcão, dando mais um passo em minha direção.

― Não há como convencê-lo a nos deixar em paz?

― Tolo. Se você deseja proteger Mia, mostre-me sua coragem. Minha loucura não é tão superficial a ponto de ser interrompida por meras palavras.

― Bem, acho que vou aceitar suas palavras então.

Tomando cuidado para não deixar um buraco no chão de pedra, acelerei fechando a distância entre nós e apontei um soco em seu abdômen, bem no plexo solar. Estava tentando reproduzir as artes marciais chinesas que havia visto em uma história em quadrinhos usando minha habilidade Combate Desarmado ajudou a torná-la uma realidade.

Isso poderia matá-lo de uma só vez se fosse muito longe, então também usei os sentidos que a minha habilidade de Abdução me deu para diminuir a força suficiente…

Isso foi luz. Ao invés de derrubá-lo, tinha a intenção de parar o golpe logo depois de bater em seu corpo, mas ainda não esperava que fosse tão leve. Olhando para baixo, vi que meu punho tinha atravessado o corpo semitransparente do Zen.

― O que?!

Quando olhei em choque, algo agarrou meu tornozelo e me levantou no ar em um instante. Minha visão foi de repente virada de cabeça para baixo. Graças à minha habilidade Movimento Tridimensional, fui capaz de olhar ao redor sem qualquer problema com meu ouvido interno. A força gigante que me agarrou foi na verdade vários tentáculos negros que saíram da sombra do Zen. Então ele poderia controlar as sombras? Não estava tomando nenhum dano, mas senti uma dor no meu tornozelo capturado.

Sei que Arisa e eu tínhamos essa capacidade, mas um oponente que podia usar magia sem nenhum canto era uma dor real.

Habilidade Adquirida: Magia das Sombras

Habilidade Adquirida: Resistência à Sombras

O Que diabos é Resistência à Sombras?! Quero reclamar, mas agora não era a hora certa para isso. Em vez disso, coloquei pontos na habilidade, aumentando minha capacidade de combater essa forma irracional de magia. Graças à minha nova habilidade Resistência à Sombra, o formigamento com dormência na minha perna desapareceu.

― Surpreendente. Então você é um artista marcial disfarçado de mercador? Dúvido que haja muitas pessoas com seu nível que possam se mover desse jeito.

― Bem, eu não fazia ideia de que existia um feiticeiro que pudesse manipular sombras, então acho que estamos quites.

Parece ridículo continuar sendo educado com um adversário hostil, decidi ser mais casual. Ainda assim, acho que ele me subestimou porquê defini meu nível na guia social como baixo. Essa é uma boa maneira de pegar alguém desprevenido, mas gostaria que não houvesse necessidade de fazê-lo para começar...

― Você ainda está falando tão orgulhoso em tal posição? Estou impressionado.

Outra nova sombra surgiu ao lado do Zen, formando um punho, um soco daquilo seria doloroso. Enfiei a mão no bolso do meu robe, planejando tirar minha arma mágica do Armazenamento.

― Tire suas mãos do meu mestre! ― Arisa gritou desesperada.

No mesmo momento, senti algo puxando o lado direito do meu corpo. De acordo com o log, ela usou um feitiço de Magia Mental chamado Onda de Choque. Foi suficiente apenas para Zen cambalear para trás, não houve mudança em seu medidor de HP ou Resistência, mas o feitiço deve ter tido um efeito de empurrão.

O capuz caiu, revelando seu rosto para a luz… Não era nada além de um crânio. No lugar dos olhos, duas chamas roxas estavam escondidas nas órbitas vazias. Se não fosse pela minha habilidade Resistência ao Medo teria gritado até os pulmões fraquejarem.

Olhei para o resto do status do Zen, que não terminei de ler antes.

― Um... espectro? ― Nadi murmurou com uma voz rouca.

Arisa tinha conjurado Remover Medo antes de seu ataque, liberando todos da aflição do efeito de status. O palpite de Nadi não estava longe, mas esse adversário não era tão simples.

― Estou um pouco ofendido por ser comparado com essas criaturas mortas-vivas."

Parecendo irritado, Zen virou-se para encarar Nadi. O punho sombrio que estava pronto para me atacar atirou em sua direção. Torci meu corpo no ar, usando a arma mágica que acabei de retirar do Armazenamento para interceptar o punho. A bala mágica acertou o punho e o vaporizou, mas a base da sombra continuava se movendo em direção a Nadi sem qualquer perda de momentum. Puxei o gatilho para a próxima bala, mas o minúsculo atraso me impediu de disparar.

― Nadi!

O gerente da loja saltou na frente de Nadi, brandindo seu longo cajado e abrindo a boca para começar a cantar um feitiço, mas a ponta da sombra se espatifou no cajado, atingindo-o no peito.

A visão me deu uma ideia, puxei minha perna amarrada para longe das sombras que a seguravam, pisando na base com o outro pé. No instante em que escapei, corri para frente e esmurrei a sombra que se dirigia para Nadi e o gerente.

― Absurdo! Sim, isso é ridículo! Hmph…!

Puxei meu punho do chão de pedra que tinha esmagado junto com a sombra, então me levantei, tinha assumido que não seria capaz de tocá-lo porque era uma sombra, mas entendi mal. Se eles pudessem interagir conosco, então poderíamos interagir com eles também...

― Um chicote de sombra feito com Magia das Sombras só pode ser parado por magia ou itens mágicos.

Ou assim tinha pensado... estou feliz por não ter anunciado isso ou algo do tipo. Isso teria sido embaraçoso.

Mais importante, o medidor de HP da gerente da loja não ficou bem depois do golpe no peito, destruir a sombra não deve ter apagado o impulso por trás dela; Nadi, que havia segurado o gerente quando foi enviado voando, também estava inconsciente.

― Eu não bou deuxar bocê lebar a brincesa!

O homem rato assumiu uma postura de luta ao meu lado, segurando o cajado quebrado do gerente da loja. Atrás de mim, ouvi Arisa começar a dar a Pochi e Tama algum tipo de ordem.

― Pochi e Tama, eu vou distraí-lo. Vocês dois pegam Mia e escapam pelas costas. Você pode fazer isso, certo?

― Nós lutamos juntas, nano desu! 

― Bater no homem-osso~!

― Você não vai fazer nada disso! Você não pode vencê-lo. O nível dele é muito alto!

Nesse momento, Mia falou em uma voz trêmula, rejeitando o comando de Arisa.

― Não. Fuja!

― Qual é o sentido de fugir e deixar você para trás? Não estou apenas tentando ajudá-la a fugir porque você é nossa amiga. O desejo do nosso mestre é que você escape, então essa é minha maior prioridade.

Se Arisa não fosse criança, senti que poderia me apaixonar por ela.

― Mas...

― Sem, mas. Eu vou criar uma abertura para você, então, por favor, não se preocupe conosco e apenas corra!

Ela planejava usar uma habilidade única? Usou frases muito clichês para uma menina tão pequena, no entanto. Se pode romper minhas defesas, tenho certeza que não teria problemas com um mero adversário de nível 41. Pretendia cuidar dele antes de chegar a isso, no entanto.

― Mago-sama. Perdoe minha ignorância, mas você se importaria em nos informar sobre sua identidade? ― Perguntei, apontando a arma para o Zen.

Já sei sua identidade, claro. O pop-up do AR me informou que ele era o Rei dos Mortos-Vivos. Um morto-vivo do mais alto escalão, igualado apenas por lendas como o Rei Lich e o Nosferatu.

― Hm. Às vezes um comerciante, às vezes um artista marcial. A sua verdadeira identidade seria um atirador? ― Sem responder à minha pergunta, Zen respondeu num tom tão banal quanto o de Arisa, sua boca sem carne se movendo em uma risada estranha para combinar com suas palavras.

― Talvez tenha muitas identidades.

Se tivesse que escolher uma identidade “verdadeira”, sugeriria “turista do mundo paralelo”.

― Que divertido. Muito bem, Satou. Vamos ver se você pode adicionar 'Herói' a essa lista de identidades...

― Mestre, Rato-san, afastem-se!

Antes que a Zen pudesse terminar sua declaração, a voz de Arisa interrompeu de repente.

― Toma essa!

Sai do caminho assim como Arisa gritou. O Zen sofreu um impacto direto de um ataque invisível. Ele tropeçou de volta, mas isso foi tudo.

― Essa foi por pouco. Pensar que você teria uma habilidade única! E aquele cabelo... Você deve ser uma reencarnação também, hm? Não percebi que você estava usando uma peruca.

Então, assim como suspeitava, o Zen deve ser um reencarnado como Arisa.

― Arf... Ele resistiu...

O corpo de Arisa caiu no sofá. Esse ataque deve ter usado toda a sua magia e resistência. As outras garotas se reuniram em torno de Arisa desmaiada gritando seu nome e checando para ter certeza de que ela estava bem.

Tendo se esquivado muito tarde, o homem-rato começou a vazar fluidos corporais de seus olhos, boca, e também desmaiou. Não parecia que sua vida estava em perigo, mas provavelmente haverá efeitos colaterais desagradáveis ​​se for deixado assim.

Aproveitando a chance que Arisa tinha criado, apontei a arma mágica no ombro do Zen e puxei o gatilho, teria ficado relutante em atirar em outra pessoa, mas como era algum tipo de criatura morta-viva, não tive nenhum problema em atacá-lo.

A bala mágica foi em sua direção, mas uma barreira mágica apareceu diante dele e a afastou. Parecia uma parede de vidro preta e transparente.

Então a arma mágica não vai funcionar... Não posso usar a Bala de Fogo nele aqui dentro, Se o usar dessa maneira descuidada, não há dúvidas que toda a loja iria queimar.

Acho que poderia vencê-lo de forma fácil com uma das Espadas Sagradas ou Lâminas Divinas que tinha em Armazenamento, mas com certeza iria matá-lo, e não tinha certeza se queria fazer isso. Ele certamente parecia uma aparição, mas ainda sentia que teria dificuldade em dormir à noite se matasse algo com uma consciência humana. Demônios como Zoião-san e seu amigo, inimigos naturais da humanidade, eram uma coisa, mas…

― Usar o poder além do limite é implorar por destruição. Se você não quer que aquela garota se torne um brinquedo dos deuses, você não deve permitir que ela use essa habilidade única.

― Vou avisá-la quando ela acordar. ― Fingindo ouvir o conselho de Zen, tentei ser sarcástico. como um plano pra ganhar tempo.

― Muito bem. Então eu vou me despedir…

Ele estava desistindo de capturar Mia? Já estava prestes a me sentir aliviado com a retirada inesperada do Zen, mas depois me virei ouvi gritos atrás de mim.

― Força acabando...

― Me solta, nano desu!

― Satou!

Chicotes das Sombras levantaram Pochi e Tama no ar. Inúmeras sombras surgiram do chão e envolveram Mia, que gritou meu nome desesperadamente enquanto a arrastavam para baixo, metade de seu corpo já havia desaparecido nas Sombras.

As sombras drenaram a Resistência de Pochi e Tama e as jogaram no sofá. Por sorte, elas não parecem estar feridas. Minha preocupação agora é Mia.

― Mia!

Mentalmente me desculpando com Pochi e Tama, pulei em direção a garota elfa. Tentei usar minhas próprias mãos para arrancar as inúmeras sombras ao redor de Mia, mas não quebraram, apenas esticaram como borracha. Tudo bem, então, pensei, e comecei a atirar com minha arma mágica, mas novos chicotes se formavam das sombras, mais rápido do que poderia destruí-los.

Jogando de lado a arma mágica, agarrei Mia e tentei puxá-la para fora das sombras, mas a força com a qual eles estavam a arrastando para baixo era mais forte do que eu pensava. Mia soltou um grito de dor. Minha força física era muito maior que a das sombras, mas o HP de Mia estava se esvaindo, se puxasse mais forte, ela poderia ser dilacerada.

― É inútil. ― O Zen me desprezou quando afundou nas sombras sob seus pés.

Arisa, que acordou, tentou atirar nele com a arma mágica que joguei de lado, mas assim como antes, uma barreira parou a bala.

― Você não pode derrotar um poder que transcende a realidade como o meu, apenas compreenda que não há injustiça neste mundo, mas se você não teme a morte, venha em direção ao Cradle. Estou ansioso por sua invasão, demonstre-me a “sabedoria" e, a "coragem" de vocês.

Deixando essa frase ridícula como um presente de despedida, o Zen desapareceu nas sombras.

Ele não ficou para garantir que Mia fosse totalmente absorvida - era confiança ou apenas descuido? Meu corpo parecia ter sido arrastado também por um momento, mas minha Resistência às Sombras me impediu de afundar mais do que uma polegada.

― Mestre!

― Arisa!

Naquele momento, Liza e Lulu voltaram e, logo começaram a chorar quando viram a cena desastrosa lá dentro.

Eu tomei uma decisão.

― Liza! Lulu! Por favor, consiga tratamento para todos, chame Zena ou o ex-padre! ― Com essas breves instruções, joguei uma bolsa cheia de moedas de ouro para Liza. Era o que continha o brasão do Visconde Belton; se a necessidade surgisse, ele também poderia ajudá-los. ― Não se preocupem comigo. Eu prometo que voltarei com Mia!

Sem esperar por sua resposta, afundei nas sombras junto com Mia.


Notas:

1 - Quiropraxia: Técnica de tratamento alternativo para problemas musculares e desvios ósseos baseado em massagens.

2 - Mudei a tradução de Everyday Magic de Magia Cotidiana, Para Magia Diária

3 - Ébano: Cor da madeira nobre extraída das Ebaneias, reconhecida por sua coloração muito escura.

4 - Night-Vision Device: Starlight é um binóculo/mira de arma do tipo sniping para a visão noturna.

5 - Kaitö. Ou ladrão Fantasma é como se refere a bandidos do tipo Robin Hood.

6 - Yobai: costume do tempo antigo de esgueirar-se no quarto do/a parceira para a relação.

7 - BL: Boy’s Love, Amor homossexual entre homens.

8 - Daphne: É uma ninfa da mitologia que habitava em plantas.



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