Magus Supremo Americana

Tradução: SilentFitts

Revisão: Barão_d’Alta_Leitura


Volume 3

Capítulo 145: Arrependimentos

Depois que o rei foi forçado a desligar a chamada para a zona de quarentena, muitas coisas ainda precisavam acontecer antes que aquele longo dia chegasse ao fim.

Usando o cansaço como desculpa, Lith foi escoltado até seu novo alojamento. Era uma pequena tenda para apenas um homem, com cerca de dois metros de altura e um diâmetro de simples 3 metros. Estava completamente vazia, tendo apenas uma cama e uma mesa de cabeceira.

Foi a menor acomodação que ele já teve; a única característica redentora era que pelo menos ele tinha um pouco de privacidade. A menos que enfiassem um saco de dormir, não havia como outra pessoa caber.

Então, a primeira coisa que Lith fez foi checar seus poderes. Como esperado, todos os tipos de magia elemental além de luz e escuridão pareciam estar bloqueados tanto para magia falsa quanto para magia verdadeira. Mas enquanto a magia falsa simplesmente não dava resultados, com a magia verdadeira ele podia sentir uma obstrução.

Era como tocar um objeto através de um plástico, ainda podia sentir a energia mundial ao seu redor, mas não era capaz de alcançá-la pelos meios convencionais.

Lith não tinha ideia de como o Pequeno Mundo funcionava, mas estava bastante confiante de que, em caso de necessidade, ele ainda seria capaz de usar magia se avançasse com força suficiente para superar essa barreira invisível.

– “O problema é o grau de consciência que o artefato concede a Varegrave. Há uma forte possibilidade de que magia verdadeira bem-sucedida possa ser detectada, mesmo se eu tentar esconder. É melhor mantê-la como último recurso.” –

Para sua satisfação, tanto a magia espiritual quanto a magia de fusão funcionaram sem problemas. Ou o Forgemaster que criou o Mundo Pequeno era um mago falso, ou havia deixado lacunas de propósito, para não ser vítima de sua própria criação.

Lith suspirou, qualquer que fosse a resposta, ainda era um pequeno consolo, em comparação com a percepção de que perdia o controle sobre sua vida, tornando-se um fantoche em jogos pelos quais não tinha interesse.

– “Sabe, Solus, este pode muito bem ser o pior dia da minha terceira vida. Primeiro fui tirado da academia, depois quase fui morto, e agora declarado um segredo de estado. Tudo em um dia. Imagine o que pode acontecer amanhã. ” –

– [“Não é como se eles tivessem sequestrado você. Lhe ofereceram um emprego e você o aceitou.”] – Solus não acreditou em suas próprias palavras, ela estava apenas tentando aliviar o clima. Sabia que, enquanto vivessem em qualquer país, sempre haveria ofertas que não poderiam ser recusadas.

– [“Depois disso, as coisas ficaram desagradáveis, mas pelo menos você deve ser recompensado por seus serviços. Você pode até conseguir uma bela casa e um título nobre.”] –

– “Você está brincando comigo?” – Ele bufou. – “Isso seria o pior. Se eu puder escolher, vou pegar dinheiro, sem dúvidas. Um título significaria ter subordinados, responsabilidades, me tornar uma parte ativa do sistema do qual estou tentando escapar desde o primeiro dia da minha vida.

Sem falar em ser obrigado a frequentar a vida social, casar e fazer política. ”-

Ele bateu a mão na mesa de cabeceira, fazendo-a afundar alguns centímetros no solo macio.

– “Droga, eu nunca quis ser um herói, nem conquistar esse mundo de merda. Meu objetivo sempre foi encontrar uma solução para o meu problema de reencarnação, e então viver uma vida feliz e tranquila.

Agora, em vez disso, estou prestes a ser reconhecido pela própria Coroa e, se isso acontecer, minha família sempre será usada como uma alavanca contra mim. Já posso sentir as algemas em volta do meu corpo ficando cada vez mais apertadas.

Mas que opções tenho? Matar minha própria família só para não ter mais laços? E depois? Viver toda a minha vida como o monstro que me tornaria, sozinho, passando toda a minha vida correndo e lutando como um cachorro louco?

De que adianta ter todo esse maldito poder se eu não posso nem mesmo proteger as únicas quatro pessoas com quem me importo? “-

Longe de casa, longe dos amigos, Lith nunca se sentiu tão desamparado e sozinho. Mais uma vez, Solus colidiu com sua condição.

Sabia que era naqueles raros momentos em que Lith estava se mostrando vulnerável que segurar sua mão ou simplesmente estar do seu lado o ajudaria a se livrar das paredes que havia construído para se proteger.

Mas ela era apenas um pedaço de rocha com uma voz, e não havia nada que meras palavras pudessem fazer. Lith passou sua primeira vida passando de um sofrimento para outro, com as pessoas lhe dizendo para permanecer forte, que tudo ficaria bem.

Agora, como então, ele não precisava de consolo. Lith precisava de alguém capaz de ficar ao seu lado e ajudá-lo a enfrentar a maré cheia. Por causa do Mundo Pequeno, ela era incapaz de mudar de forma ou mesmo usar seu bolso dimensional.

Solus se sentiu inútil, desejando por um segundo ser apenas uma ferramenta estúpida, não ser forçada a ver o sofrimento daqueles que amava e ainda ser incapaz de oferecer qualquer conforto.

 

***

 

Na tenda do Coronel, Varegrave e Kilian planejavam o futuro à sua frente enquanto bebiam Água do Dragão, um dos licores mais fortes e caros disponíveis no Reino de Griffon, com um teor de álcool próximo a 50%.

Kilian estava ouvindo vários relatórios de sua equipe, enquanto Varegrave revisava seu último testamento.

“A história do garoto confirma. Os batedores descobriram onde a última batalha de Velagros deveria ter acontecido. De fato, há sinais do uso de chamas roxas. Quem quer que fossem os agressores, não estavam dispostos a correr riscos.”

“Algum sobrevivente?” Varegrave perguntou como uma formalidade, sem levantar os olhos ou parar a pena.

“Nenhum. Sério, eu não posso acreditar que você é capaz de escrever seu testamento com uma cara tão séria.”

Varegrave bebeu seu copo em um gole, antes de enchê-lo novamente.

“Sou um soldado, velho amigo. Sei muito bem que cometi um erro ao permitir que assuntos pessoais se intrometessem em meu dever e estou pronto para arcar com as consequências.”

Varegrave ergueu seu drink em um tímido brinde, antes de esvaziá-lo novamente.

“Isso, e cinco copos de Água do Dragão podem transformar qualquer rato em um leão, caso contrário, eu já estaria estragando minhas calças.” Ele admitiu.

“Isso é ruim?” Kilian costumava passar mais tempo no campo do que no palácio real. Não sabia que os acontecimentos recentes haviam tornado a Rainha bastante implacável.

“Muito.” Varegrave suspirou. “Hoje em dia um mago forte vale centenas de soldados.

Vamos ser honestos, nossos magos não têm a lealdade cega que as tribos do Deserto de Sangue devotam a seu misterioso líder, nem investimos tanto quanto o Império Gorgon em nutrir nossos talentosos.

Já estamos perdendo a guerra fria com nossos vizinhos por acumular conhecimento e poder. Se meu destino estivesse apenas nas mãos do rei, eu poderia esperar um rebaixamento ou uma tarefa muito difícil, mas não impossível, de provar meu valor.

Mas, infelizmente, como meu primeiro erro em mais de vinte anos de carreira distinta, tive a estupidez de cruzar com a Rainha em seu próprio território, quase matando sua nova galinha dos ovos de ouro. Deuses, eu daria qualquer coisa para voltar no tempo e dar um tapa na minha cara estúpida. ”

Varegrave dobrou seu testamento, colocando-o em um envelope antes de passá-lo para Kilian.

“Por favor, quando esta história acabar, dê para minha esposa. Diga a Shya que é tudo minha culpa e que é para não criar nossos filhos odiando o Reino.”

Kilian agarrou sua mão, recusando-se a pegar o envelope.

“Você é um excelente soldado e amigo. Tenho certeza de que encontraremos uma maneira de fazê-los perceber que executá-lo é um erro e tirá-lo desse aperto. Enquanto houver vida, também haverá esperança.

E, a propósito, se você resmungar, serei o primeiro a brigar com você. ”



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