Volume 3
Capítulo 129: Caos
Derek acordou no que era sem dúvidas um quarto de hospital. Mesmo com a cabeça confusa e a visão embaçada, ele sabia que havia apenas um lugar ao qual pertenceria tanto branco. Os lençóis, as cortinas, até as paredes e o teto eram da mesma cor.
Tentou esfregar os olhos, mas descobriu que seu braço direito estava algemado ao lado da cama, enquanto o esquerdo parecia tão pesado que ele não conseguia reunir forças para levantá-lo.
– “Deve ser a morfina. Ou me amarraram.” – pensou. A última memória razoável que tinha era sobre ele matando o desgraçado que havia assassinado seu irmão mais novo.
– “Policiais de merda, não podiam simplesmente me deixar morrer? Eu não sei se é por causa do dano cerebral ou porque me drogaram muito, mas isso foi um inferno de um sonho.” –
Balançou a cabeça, tentando clarear sua visão.
– “Um pouco absurdo demais, mesmo para um sonho, no entanto. Poderes mágicos, uma mulher-torre senciente mística, animais falantes e um Reino em perigo. Só faltava uma princesa vestida de rosa sendo sequestrada por uma tartaruga cuspindo fogo para ser ainda mais ridículo.
Isso, ou eu encontrando meu final feliz com a moça-torre. Caramba, mesmo que fosse tudo dentro da minha cabeça tem sido o relacionamento mais significativo que já tive.”- Ele zombou.
– [“Sério? Eu nunca teria imaginado que você pensaria em mim dessa maneira.”] – O vermelhar da mente de Solus foi muito forte, a ponto de superar a barreira que geralmente mantinham a separar seus pensamentos mais íntimos.
Lith conseguiu evitar gritar de surpresa e constrangimento apenas porque o Blind foi puxado pelo professor Manohar, que veio verificar suas condições.
“Como está meu paciente?” perguntou. “Lembre-se, a única resposta aceitável é ‘bem e cada vez melhor’. Se você morrer, vai estragar minhas estatísticas.”
“Professor Manohar?” Lith ainda estava se recuperando do choque. “Então, foi tudo real?”
“Eu sei o que parece, um tal incidente, se quisermos chamá-lo assim, acontecer na academia White Griffon é simplesmente inacreditável, mas aconteceu… Estranho, eu regenerei perfeitamente sua pele, mas você está todo vermelho até os ouvidos.
Você está sentindo algum desconforto ou apenas teve um demasiado… caliente? ”
As sobrancelhas de Lith franziram, enquanto sua memória finalmente estava voltando.
“EU…”
“Apenas um sim ou não. Não estou interessado em suas fantasias.”
Lith corou ainda mais, mas desta vez de raiva pela completa falta de tato de seu curador.
“Sem desconforto e sem esse tipo de sonho. Obrigado por sua preocupação. Por que estou algemado? Não me lembro de ter feito nada para merecer esse tratamento.”
“Você quer dizer a corrente? Isso não é punição, é apenas para evitar que você role para o lado errado. A ferida mal está fechada, ainda precisamos recolocar seu braço, afinal. Eu esperaria que um curandeiro talentoso como você entendesse algo tão simples. ”
Lith virou a cabeça abruptamente, tentando tocar o pequeno coto onde antes estava seu braço, mas a corrente o deteve de novo.
Naquele ponto, Solus havia recuperado o suficiente de sua calma para compartilhar suas memórias dos eventos mais recentes, trazendo-o a par de tudo.
“Quanto tempo fiquei inconsciente?”
“Algumas horas, mal é hora do almoço.” Manohar respondeu, pouco antes de lançar uma série de feitiços de diagnóstico que fizeram Lith brilhar como uma lâmpada.
“Tudo parece bem. Seu corpo se cura magnificamente, jovem. Continue assim e você terá alta antes do jantar.” Manohar sacou seu amuleto comunicador, informando a Linjos que o paciente poderia receber visitas.
– [“Lembre-se de agradecer devidamente aos seus amigos. Eles deram de tudo para salvar sua vida antes que Manohar chegasse.”] – Normalmente, Lith teria objetado ao abuso da palavra ‘amigos’, mas depois de olhar as memórias de Solus, ele não se sentia mais tão certo sobre isso.
– “Uau, Quylla realmente deu um soco em Linjos. Era realmente tão perigoso me mover naquela hora?” –
– [“Não, não era. Mas eu não posso culpá-la por ser protetora. Eu teria feito o mesmo.”] –
– “Ok, então por que Manohar deu um soco nele também? Ele não parece o tipo protetor.” –
– [“De acordo com seus discursos enquanto terminava de curar você, Manohar sempre sonhou em bater em um Diretor e se safar. Quylla simplesmente deu a ele a inspiração de que precisava. Ele mesmo disse a ela antes de conceder outros trinta pontos.
Você sabe, eu realmente gosto daquela garota. Eu não teria nada contra ela ser sua amante até que encontrássemos um corpo adequado para mim. “] –
Outro poderoso vermelhar mental o fez entender que ela não estava brincando, mas felizmente Linjos entrou em seu quarto, salvando-o de um tópico tão estranho. Lith nunca tinha ficado tão feliz em ver o rosto longo e taciturno do diretor.
Ao contrário de suas expectativas, atrás dele não havia nenhum vestígio de seus colegas. Em vez disso, era seguido do professor Marth e, graças à sua audição aprimorada, Lith pôde ouvi-los se desculpando repetidamente a alguém.
“Sentimos muito pelo que aconteceu com seu filho, mas como você verá, ele recebeu as melhores curas disponíveis em todo o Reino. A razão pela qual chamamos você aqui é para ajudá-lo a superar o choque de perder um braço.
Embora seja apenas uma condição temporária, pode afetar gravemente sua mente e decisões futuras. Não queremos que ele saia da academia, seria uma perda muito grande. Por favor, seja forte.”
Lith ouviu um rosnado de seu pai, Raaz, interrompido por sua mãe, Elina, apressando Linjos para deixá-los entrar. Correram para o lado da cama de Lith, fazendo o possível para não chorar ou olhar para seu coto.
“Professor, por favor, me diga que ele vai ficar bem.” Apesar de todos os esforços, os olhos de Elina estavam lacrimejantes e sua voz falhou. Raaz segurou a mão dela com força, procurando a força para parecer calmo e confiante e, assim, tranquilizar seu filho ferido.
“Não se preocupe, senhora. Estávamos prestes a recolocar o braço dele.” Disse Manohar, lançando um olhar sedutor a ela. “Devo dizer, deve haver algo especial em sua linhagem.”
Lith começou a xingar internamente sem parar. Talvez depois de olhar para ele e seus pais, o gênio curandeiro Krishna Manohar tenha notado alguma anormalidade causada pelo uso do Revigoramento por Lith em toda a sua família enquanto buscava remover as impurezas de seus corpos.
“Caso contrário, não posso explicar por que seu filho é tão talentoso; você, tão linda; e até mesmo o querido avô de Lith, tão bem preservado, apesar de sua avançada idade.”
Nesse meio tempo, Marth, Raaz e Linjos ficaram pálidos como fantasmas, enquanto a fúria tingia as bochechas de Lith de vermelho — seus olhos reduzidos a fendas de fogo. Ele não podia acreditar que seu estimado Professor estava realmente dando em cima de sua mãe bem na sua frente.
Apesar da situação, Elina e Solus não paravam de rir.
“Ele é na verdade meu pai.” A voz de Lith estava fria como pedra, fazendo Manohar engasgar de surpresa.
“Você tem muita sorte, bom senhor.” Ele disse apertando a mão de Raaz, mancando de surpresa. “Seu filho é um garoto corajoso e sua esposa poderia ter ficado muito, muito melhor.”
Se o braço de Lith ainda não tivesse que ser recolocado, Raaz provavelmente o teria estrangulado pelos insultos repetidos.
“Vê, meu velho?” disse Manohar dando tapinhas no ombro de Linjos. “É por isso que eu digo pra você nunca perder a esperança. Neste mundo ainda existem mulheres que não se importam muito com a aparência.”
Antes que a situação se tornasse ainda mais humilhante, o professor Marth arrastou Manohar para longe.
***
Na cidade de Kandria, todos os hospitais e os escritórios de curandeiros estavam lotados até a borda, enquanto a guarda da cidade prendia muitos cidadãos por crimes hediondos. Os dois lugares tinham apenas uma coisa em comum: todos os envolvidos contariam histórias inacreditáveis para justificar o que havia acontecido.
Um homem alegou que sua esposa pegou fogo enquanto preparava o almoço, uma mulher contou como seu irmão se transformou em um pedaço de gelo enquanto conjurava um pouco de água para lavar a louça.
Um curandeiro além de qualquer suspeita estava tentando explicar como nunca teve a intenção de amputar a perna de sua paciente, ela apenas se transformou em um pedaço de carne depois que ele tentou curar uma fratura.
Mas a verdadeira causa estava ocorrendo dentro da filial local da Associação de Magos, onde muitos mágicos relatavam como haviam inexplicavelmente perdido seus poderes.