Volume 3
Capítulo 106: Iluminação
“Minha alma? O que você sabe sobre isso?” Lith ficou surpreso com a proposta. Ele nunca tinha sido uma pessoa espiritual, mas depois de reencarnar duas vezes e se encontrar com Scarlett, não ter dúvidas sobre isso seria uma idiotice.
“Guardiões são diferentes de monstros ou bestas mágicas. Não evoluímos por causa do poder, e também ganhamos uma afinidade maior com a Grande Mãe.” Ela acenou ao seu redor. “Nós Dríades, em particular, estamos profundamente ligadas a todas as formas de vida em um nível espiritual. Posso dizer à primeira vista que a sua está danificada. Não tenho como saber como isso aconteceu ou como isso mudou sua vida …”
– “Acho que tenho uma ideia clara sobre isso.” – pensou Lith.
“Mas talvez, apenas talvez, eu possa lhe oferecer uma solução, ou pelo menos apontar a direção certa.” Completou a dríade.
“Como exatamente?”
“Você já teve um déjà vu? Ou a sensação de estar no lugar certo na hora certa? Isso acontece quando sua alma consegue guiá-lo para uma encruzilhada importante em sua vida.
Podemos mostrar onde e quando um evento de importância acontecerá, mas o feitiço requer pelo menos duas dríades. “
“Pelo menos duas? Quantas de vocês vivem nesta floresta?” A paranoia de Lith o atingiu, então ele começou a procurar por inimigos ocultos em volta, sem encontrar nenhum.
“Apenas nós duas.” Ela suspirou. “Eu não teria deixado meu território se minha irmã não estivesse em perigo mortal. Nem teria lhe entregado meu coração se eu tivesse qualquer outra escolha.”
Irmã. Essa palavra acendeu uma pitada de compaixão no coração de Lith. Ela havia assumido um risco enorme para proteger sua família, algo que ele respeitava profundamente.
Apesar da dríade não poder se mover sem a permissão dele, seus olhos estavam cheios de orgulho e desafio.
Depois de ponderar sobre suas opções, Lith dispersou todas as energias sombrias. Ele já tinha outro refém, caso a ruiva tentasse algo engraçado. Além disso, ele não tinha uso para elas desde o início.
Se contrabandear uma flor brilhante era difícil, então como ele poderia explicar duas dríades o seguindo por toda parte? Os tesouros naturais eram suficientes para compensar todos os seus problemas.
Sem a energia negra minando seus poderes, a vermelha conseguiu se vestir com um aceno de mão, conjurando um vestido matutino de cetim dourado e vermelho, complementando a cor de seus olhos.
Quanto mais tempo ficava em contato com a terra, mais forte ela se tornava.
Lith armazenou os tesouros naturais, sem deixar que as dríades saíssem de sua vista. Desde que a segunda dríade apareceu, ele sentiu uma sensação desagradável de formigamento dentro do coração, algo que parecia culpa.
Ele sempre agiu sem escrúpulos, matando sem distinção ou remorso, mas secretamente se orgulhava de nunca ter feito mal a alguém sem motivo. Sabia que no momento em que começasse a matar por livre arbítrio, ele teria perdido seu último resquício de humanidade.
Seguindo seu modo de vida “viver esperando o pior”, desta vez quase matou um inocente, forçando outro à escravidão no processo. Mesmo para ele, esse era um novo ponto baixo.
Sentindo-se perplexo, Lith buscou o conselho de sua bússola moral.
– “Você acha que eu exagerei dessa vez?”-
-[“Deixe-me ver.”]- Solus ponderou. [“Você quase foi morto por um monstro de tentáculo, e quando outro apareceu você tomou precauções. Essa foi a coisa certa a fazer. Mas quando você determinou que não era uma abominação, não havia razão para ter sido tão cruel.
As criaturas mágicas são como os humanos. Algumas são boas, outras são ruins. Ainda assim, você a etiquetou sem fundamento como uma ameaça. Temos sorte de você estar mascarado, caso contrário, da próxima vez que nos encontrarmos, eu esperaria que ela nos atacasse imediatamente. “]-
Ele silenciosamente concordou com ela.
“Faça o que você tem que fazer.” Lith recuou, permitindo que eles se aproximassem.
As duas dríades juntaram as mãos, e instantaneamente seus olhos se encheram de uma luz branca, enquanto uma poça d’água se formou no espaço criado entre seus braços, enchendo-o até a borda.
A luz desceu na água, moldando uma esfera branca que girou sobre si mesma, puxando a água em um redemoinho e fazendo-a parecer uma projeção 3D de uma galáxia. Assim que se estabilizou, um pequeno fio negro saiu do corpo de Lith, fazendo-o de repente sentir-se mais leve, como se parte de sua carga emocional finalmente tivesse sido aliviada.
O fio entrou no vórtice, transformando-o em uma cor de profundo laranja crepúsculo. Nesse ponto, as dríades soltaram suas mãos, deixando a galáxia moribunda seguir seu caminho.
Ela continuou girando sobre si mesma, ou um pouco antes de se mover em direção a Lith, fundindo-se com seu corpo e forçando-o a reviver todas as suas três vidas.
A dor invadiu seu corpo enquanto sua mente pegava fogo como um incêndio. Lesões e hematomas antigos apareceram e desapareceram em uma fração de segundo, enquanto as memórias de sua primeira vida inundaram todo o seu cérebro.
Ele caiu de joelhos, arranhando o chão com tanta força que acabou quebrando as suas unhas.
A dor, a raiva, o desespero de luto, a vingança e, finalmente, a paz. Então foi a vez de sua segunda vida, com sua loucura, a solidão e a fome.
Com a memória de sua segunda morte, uma ferida aberta se abriu em seu peito. Ele tentou cuspir um bocado de sangue, mas só saliva saiu, a ferida já havia sumido, restando apenas a dor antes do alívio permitido pela morte.
Então veio sua terceira vida, e não era como ele se lembrava. Havia dor, fome, mas também muita luz e alegria. Lith foi forçado a perceber todo o amor e carinho com que as pessoas o inundaram, mesmo quando ele ainda as tratava como ferramentas, manipulando suas ações e sentimentos. Começando pelo pai, depois seguindo para Selia, Nana, Lark e finalmente seus amigos da academia.
Quando as imagens em sua cabeça alcançaram o presente, elas seguiram em frente, mostrando-lhe um lugar que ele nunca tinha visto antes, um lugar onde ele deveria estar a todo custo.