Magic Genesis Brasileira

Autor(a): Rafaela R. Silva


Volume 2

Capítulo 32: Sombras de uma nova ameaça

A voz era doce e, ao mesmo tempo, provocante. Com um tom levemente estridente, parecia embrulhada por risos. E então, a silhueta finalmente se revelou. Diante deles, havia uma mulher sentada em uma adornada cadeira de madeira escurecida e volumosas almofadas vermelhas. Seus longos cabelos azuis davam cor ao acinzentado cenário à sua volta. Seus olhos, do mesmo tom, brilhavam como se fossem iluminados por cristais de mana.

— Isso não é bom... — resmungou baixinho, Gutter.

Escondido entre fissuras nas rochas, uma construção que lembrava uma fortaleza se evidenciava. Desgastada, quase se fundia ao terreno desolado, sem vida e pelo tempo esquecido.

— Vocês invadem meu território e é assim que se comportam? — A mulher parecia indignada com a postura do grupo.

A singular figura, agora de pé, revelava um traje incomum, roupas justas de tecido preto resistente, uma meia-calça rendada e uma elegante bota que lhe trazia um ar sensual enquanto caminhava em direção a um enorme amontoado de pedras transparentes e empoeiradas. Enquanto andava, um rastro de sangue a seguia, escorrendo de um de seus punhos, ininterruptamente. Carregava consigo uma pequena adaga, a qual deslizava o fio profundamente entre os tendões. O líquido impregnava nos cristais de uma forma estranha e, o que a pouco estava sem vida, agora brilhava intensamente.

— Ah! Que tédio! Vão ficar parados aí? — questionava a mulher enquanto observava seu ferimento cicatrizar.

— Creio que já descobrimos o que viemos procurar — respondeu Cázhor, finalmente. O mago estava apreensivo e em alerta.

— Podem levar! — disse a mulher, olhando para o outro lado.

Logo após, uma espécie de fenda se abriu no ar, próximo aos cristais. As mesmas criaturas que antes eram seguidas pelo mago e seu grupo, brotavam de dentro dela. Todas seguiam o mesmo maneio, apareciam, quebravam e colocavam os pedaços de cristais banhados em sangue em um cesto, davam meia volta e sumiam no mesmo lugar de onde vieram.

Estava claro que ela era inimiga. Cázhor mantinha o olhar fixo na mulher enquanto os cristais eram lentamente levados. A tensão crescia e, a falta de atitude da mulher, trazia um desconforto ainda maior.

Rapidamente, sua ferida havia se curado. Era estranho como todo aquele sangue perdido não parecia lhe fazer falta. E então, a mulher se virou lentamente, com um sorriso cruel curvando seus lábios. Seus olhos brilharam com uma centelha sombria. E quando a última gota de sangue caiu, dois chifres negros e pontiagudos brotaram em sua cabeça, fazendo os logos fios azuis se movimentarem para dar espaço e acomodá-los.

— Cuidado! — advertiu Varbbek, ao presenciar a cena.

Com um movimento suave, ela desapareceu em meio às sombras no chão. As criaturas continuaram seu trabalho, mas agora ela tinha vantagem.

— Detesto falar sozinha. Vamos nos divertir um pouco! — A mulher disse ao pé do ouvido de Cázhor, deslizando a língua levemente em sua bochecha até seus lábios.

Sem hesitar, após sentir o toque frio e ameaçador da mulher-demoníaca, o mago reagiu imediatamente. Uma explosão poderosa no ar lançou violentamente a mulher para longe. A jogando contra o trono que estava sentada há pouco, fazendo a madeira estilhaçar em vários pedaços e acertando, logo em seguida, a parede.

— Ah! Um mago habilidoso. Isso vai ser divertido — disse ela, rindo e levantando-se como se nada tivesse acontecido. Seus chifres reluziam com um brilho opaco e ameaçador.

Cázhor ajustou sua postura, tentava absorver o máximo de informação que podia, afinal estavam no território inimigo e mal sabiam sobre seu adversário. Varbbek e os outros do grupo se aproximavam, formando um semicírculo em volta da mulher. A ideia era flanqueá-la e avaliar melhor sua força.

— Se querem brincar, vamos elevar a dificuldade. — A mulher ergueu uma das mãos e as sombras ao redor começaram a se agitar. Delas, emergiam formas grotescas e distorcidas, diferente das que seguiam a pouco, essas criaturas pareciam feitas de pura escuridão. Elas não tinham rostos, apenas silhuetas deformadas e exalavam uma sede de sangue.

Cázhor sentiu o peso esmagador do momento e, mesmo a perda de um dos braços, não foi empecilho para que ele atacasse. Erguendo sua mão restante, ele rapidamente desenhou no ar símbolos rúnicos que se transformaram em esferas flamejantes. Uma chuva de chamas, explodindo tudo que havia à sua frente. Seu espírito permanecia indomável. Ele olhou para Varbbek e os outros, percebendo que todos compartilhavam a mesma determinação.

Uma imensa nuvem de poeira se instalou devido ao impacto das esferas flamejantes.

— O senhor acertou em cheio! — comemorou Gutter.

Uma lufada de ar fez com que a poeira se esvaísse rapidamente, revelando uma figura destorcida e desfigurada. As chamas haviam deixado marcas profundas em sua pele. Os enormes buracos emanavam cheiro de carne queimada e as sombras invocadas não passavam de apenas borrões no chão, provando o quão poderoso havia sido o ataque.

— Tsc! — resmungou Cázhor.

Gutter e os demais soldados não compreendiam a irritação do mago, isso até perceberem uma voz rouca se sobressaindo ao som dos estalos das chamas.

— Isso é o melhor que consegue? — ela rosnou, suas palavras saíam entre dentes cerrados.

A demônio começou a se reerguer de maneira sobrenatural. Um brilho vermelho pulsava em suas feridas, misturando-se com a carne em brasa e a pele carbonizada. Diante dos olhos incrédulos do grupo e com uma velocidade incrível, as partes danificadas se regeneravam em sequência. Em poucos instantes, ela estava inteira novamente, como se nunca tivesse recebido ataque algum.

Seus olhos, selvagens, brilhavam intensamente enquanto fixavam sua presa. Então, num movimento quase impossível de acompanhar, ela lançou-se para frente com uma velocidade devastadora. Uma linha de poeira se levantou, reforçando o quão rápido foi o movimento. Seu foco estava no mago. Apesar de parecer recuperada, ela sabia que sua regeneração talvez não fosse tão efetiva se recebesse outro golpe dessa magnitude.

— Protejam o mago! — gritou Varbbek, a urgência em sua voz demonstrava o quão desesperadora era a situação do grupo.

Mas o horror tomou conta de sua face quando viu seus companheiros sendo devorados pela escuridão, afundando e desaparecendo em meio às garras de criaturas sóbrias que os encobriram, rapidamente se fundindo ao chão.

— Não vai ser tão fácil, druida — debochou a demônio, misturando um tom de diversão e desprezo.

— Como saímos daqui?! — gritou Gutter, logo em seguida, engolindo seco.

O jovem observava com olhos esbugalhados para onde, até alguns segundos atrás, estava o resto de seu pelotão. Por sorte, ele não havia sido engolido pelas estranhas criaturas.

— Preciso de um pouco mais de tempo — respondeu o mago.

— E parece que temos essa opção? — questionou, em seguida, o druida. Enquanto levantava um espesso e reforçado paredão de pedra.

Com um estalo de dedos, novas criaturas surgiram, ainda mais ferozes e impiedosas. A mulher parecia brincar com o grupo. Soltava gargalhadas ao mesmo tempo, em que estraçalhava a muralha do druida com certa facilidade.

Cázhor estendeu a mão que ainda tinha e conjurou uma esfera flamejante que explodiu no meio das criaturas, iluminando a sala com um clarão. As criaturas recuaram brevemente, mas continuavam a avançar.

“Isso não vai dar certo. Não consigo imaginar uma forma de virar o jogo a nosso favor.” Cázhor sabia que estender essa batalha, para eles, não era nada vantajoso.

Porém, o mago não desistiu. Com um gesto firme de sua mão, ele canalizou sua magia, criando uma barreira reluzente ao redor dos três. A energia crepitava no ar, formando um escudo que tremulava chamas azuladas, repelindo as densas sombras que os cercavam. Ele sabia que isso os compraria algum tempo, um tempo precioso. Suficiente ao menos para realinhar seus pensamentos. Ele sabia que isso não os protegeria para sempre, mas era o suficiente para buscar uma solução em meio ao caos.

— Vocês estão atrasando o inevitável. — Ela avançava sem temer as chamas do mago.

— Mas... o quê?! — Cázhor olhava incrédulo.

— Eu também tenho alguns truques na manga, docinho!

Envolta por uma densa película de energia negra, a mulher avançava, rasgando a barreira com as mãos. Suas longas e afiadas unhas perfuravam as chamas como se fosse algo palpável, abrindo caminho para passar. Seus cabelos azuis se misturam às chamas de mesma cor, mas dessa vez, sem inflamar, dando um aspecto de um longo e sedoso véu fluorescente.

A situação estava pior do que imaginavam. Gutter parecia incrédulo com tamanho poder da criatura. Mal conseguia se mover.

— Você não tem mais tempo, mago! Precisamos que haja. Agora!

Cázhor parecia ignorar toda a pressão ao seu redor. Respirava fundo, se concentrando apenas em sentir o fluxo de magia pulsar dentro de si. Agora, a marca de Fazhar em sua mão também brilhava, e ao abrir seus olhos, um pequeno, mas intenso feixe de luz avermelhada inundava seu olhar.

— Achei! — disse Cázhor, quebrando o próprio silêncio com um tom de triunfo, enquanto sua mão parecia agarrar algo invisível no ar.

De sua palma, até então vazia, surgiu uma linha incandescente de magia que se expandiu rapidamente, transformando-se em um círculo. As luzes das chamas, dançando de forma hipnotizante, lembravam um espelho esfumaçado cuja outra face permanecia oculta. O coração do mago batia freneticamente, uma mistura de euforia e temor pelo desconhecido.

— Entrem! — ordenou ele.

Sem questionar, os outros dois se lançaram pelo portal. Não havia espaço para hesitação. O risco era sua única opção. A demônio soltou um grito de fúria ao perceber o plano, correndo em direção ao círculo com uma expressão de puro ódio. Mas o círculo se fechava rapidamente, e num lampejo, comprimiu-se em uma pequena esfera de chamas azuladas.

E então, uma explosão. O impacto foi brutal, distorcendo o espaço e lançando a demônio para longe. O mundo pareceu tremer antes de ser engolido pela escuridão.

No silêncio que se seguiu, o único som que ecoou foi um grunhido estridente e enfurecido que logo se dispersou.

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