Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 3

Capítulo 130: Recreação Mágica

A tarde se espalhou pela universidade como um suspiro quente. O ginásio estava iluminado por feixes dourados que passavam pelas janelas altas. Os alunos, cheios de expectativa, começaram a se reunir na quadra para a aula da professora Seraphine Muller. 

Rydia, aproveitando sua folga, decidiu observar tudo das arquibancadas, cruzando os braços enquanto os olhos analíticos seguiam cada movimento na quadra. Seraphine entrou com passos decididos, trajando uma camisa branca folgada, shorts laranja, tênis branco e um colar com um apito que balançava com seu ritmo. O contraste entre a postura descontraída e sua habitual autoridade deixou os alunos confusos. Murmúrios curiosos se espalharam enquanto ela se posicionava no centro da quadra.

 

 

— Boa tarde, pessoal! — disse ela, erguendo o apito. — Vamos nos aquecer! Dividam-se em grupos de cinco.

Os alunos obedeceram rapidamente, formando os grupos com algum alvoroço. No entanto, ao chegar ao último grupo, formado por Rufus, Kreik, Joabe, Cassie e Clemência, Seraphine franziu o cenho ao notar a mão enfaixada de Rufus. 

— Hmm... você tá fora, Rufus. Não é pessoal, mas não dar para participar dessa aula com a mão fraturada. — Seus olhos vagaram até a arquibancada e pousaram em Rydia. Um sorriso maroto surgiu. — Você aí, na plateia! Venha substituir o Rufus. 

Rydia imediatamente sacudiu a cabeça, descruzando os braços com irritação. 

— Nem pensar. Estou aqui para observar, não participar. 

— Não seja tímida, garota. Você é perfeita para isso — insistiu Seraphine, gesticulando para que ela descesse. 

Os alunos começaram a rir e murmurar, pressionando Rydia com olhares divertidos. Bufando, ela se levantou, claramente relutante, e desceu os degraus. 

— Isso é um absurdo... — murmurou, cruzando os braços ao se juntar ao grupo. 

Com as equipes formadas, Seraphine voltou sua atenção para os alunos, pegando o apito. 

— Agora, antes de começarmos nossa aula de Recreação Mágica, todos vocês precisam trocar de roupa. Algo mais leve, como o que eu estou usando. Têm cinco minutos! Corram para o vestiário!

O som do apito ecoou pela quadra, e os alunos se dispersaram às pressas, indo buscar as roupas nos vestiários. Enquanto Rydia se trocava, o anel que ela havia roubado de Hazard caiu no chão. Ela o pegou e, após pensar um pouco, decidiu pô-lo no dedo.

Do lado de fora, Uji, ainda trajando seu uniforme de faxineiro, avistou um grupo de alunas indo em direção ao ginásio. Seus olhos brilharam com um misto de curiosidade e entusiasmo. 

— Que roupas são essas? — murmurou para si mesmo, seguindo o grupo com passos ligeiros.

Assim que entrou no ginásio, ele viu os alunos retornando, agora vestidos com shorts e camisetas leves. As alunas, em especial, chamaram sua atenção. Ele se recostou na parede, com um sorriso largo no rosto. 

Rydia, que estava próxima à professora, imediatamente o percebeu e estreitou os olhos. 

— O que você tá fazendo aqui, Uji? 

 

 

— Adivinha... — Ele cruzou os braços, ainda com o sorriso malandro. — Não perderia a chance de ver todas essas gatinhas de shortinho nem se me pagassem. Principalmente você, minha linda... 

— Cale a boca, seu samurai pervertido! — ela retrucou, furiosa. — Você tá aqui como faxineiro, não acha que deveria ficar em um local limpando alguma coisa? 

— É por isso que estou aqui. — Uji apontou com um gesto dramático para o chão. — O ginásio está sujo, e eu sou um profissional dedicado. 

Rydia estreitou os olhos, analisando o local. 

— Eu não vejo nada sujo. 

— Como não? — Ele chutou duas lixeiras discretamente, derrubando seu lixo pelo chão. — Olha isso! Esses alunos bagunceiros! Infelizmente, vou ter que limpar... e, ah, que pena, terei que assistir a aula enquanto faço isso. 

— Uji... por acaso você não tem limites para a sua cara de pau... 

— Professora, você não viu nada ainda... — Uji piscou para ela, o sorriso ainda maior.

— Esse samurai é bem astucioso — Seraphine comentou, observando a cena com risos.

 — Tenho muita da minha astúcia para te mostrar, se me permitir. 

Seraphine riu, balançando o apito entre os dedos. 

— Melhor mostrar sua astúcia para outra pessoa. Eu já disse, prefiro os ruivos. 

Ela olhou de soslaio para Kreik, passando suavemente a língua pelos lábios. Kreik, que estava amarrando o cadarço, levantou a cabeça confuso, sem entender a insinuação. 

Seraphine abriu sua mochila, um orbe dourado saiu dela e começou a circular a quadra, ela então retirou duas bolas vermelhas com símbolos rúnicos cravados e voltou ao centro da quadra. Ela soprou o apito, chamando todos para perto. 

— Certo, hora de começar a aula! Quero ver o desempenho de você no runeball! 

Os alunos formaram círculos ao redor dela, prontos para o que quer que a professora havia planejado para a aula de Recreação Mágica. A animação estava estampada nos rostos, exceto no de Rydia, que observava tudo com um suspiro resignado.

— Certo, pessoal, bem-vindos à aula mais divertida da semana! — disse Seraphine, girando a bola em seus dedos com destreza. — Hoje vamos jogar Runeball. Para quem não conhece, é simples: um jogo mágico que combina estratégia, trabalho em equipe e, claro, muita diversão.

Ela jogou a bola para o alto, fazendo-a flutuar por um instante antes de pegá-la com um movimento rápido.

— O objetivo é acertar aquele Orbe Dourado — continuou ela, apontando para a esfera dourada que flutuava no ar, movendo-se aleatoriamente pelo campo. — Parece fácil, né? Mas não é. Primeiro porque o Orbe não fica parado e só pode ser atingido quando ele estiver no campo adversário. Ou seja, se acdertá-lo quando ele estiver em seu próprio campo, não muda nada no jogo!

Os alunos se entreolharam, intrigados, enquanto Seraphine andava pela quadra com passos leves, como se estivesse desfilando.

— Cada time vai ter cinco jogadores: dois atacantes, dois defensores e um coringa. Os atacantes tentam eliminar os adversários ou acertar o Orbe. Os defensores protegem o Orbe e evitam que ele seja atingido. Já o coringa... Bem, ele faz o que der na telha — ela deu uma piscadela. — Ataca, defende, improvisa. É o papel mais divertido, mas também o mais difícil.

Seraphine parou de andar e apontou para a linha branca no centro da quadra.

— O campo é dividido em duas partes. Vocês só podem atacar o Orbe quando ele estiver no lado do campo inimigo. Em suma, o lado que estiver com o orbe terá que defender e o lado contrário, terá de atacar com essas bolas vermelhas especiais.

— Especiais? O que quis dizer com isso? — perguntou Joabe, com os braços cruzados.

— Essas bolas são equipamentos rúnicos, capazes de refletir a característica do poder mágico do jogador atacante, tipo... se um mago tem luvas que emitem poderes de fogo, a bola irá ficar flamejante, se algúem tem poderes elétricos, a bola fica eletrificada e assim sucessivamente. No começo de cada rodada, o time atacante receberá cinco bolas dessas. É bom avaliar bem como e quem atacar.

— Professora Seraphine... — Rydia manifestou-se, com a mão na cintura. — Creio que se alguém for atingido por essa bola vai doer muito. Não tô afim de me machucar em um simples jogo.

— AAh, doi não queridinha, essas bolas são projetadas para não gerarem muito dano ao colidirem, embora elas sejam mais difícieis de segurar, quando imbuídas de magia. Vocês vão entender quando o jogo começar. — A professora gargalhou. — Aah, e, claro, quem for atingido por uma das Bolas Vermelhas Rúnicas e deixar a bola cair no chão... — ela fez uma pausa dramática, olhando para os alunos com um sorriso malicioso — ...está fora, indo direto para a Zona Morta.

— Zona Morta? O que é isso? — perguntou Cassie, franzindo a testa.

Seraphine se virou para ela, apontando para a área atrás do campo adversário.

— Sim, querida. É ali que os eliminados ficam. — Ela apontou para uma área logo atrás onde a equipe principal fica. — Mas não pensem que vão ficar só assistindo. Vocês ainda podem tentar interceptar as bolas que passarem por lá. Se conseguirem segurar uma, ela volta para o time de vocês na próxima rodada, ganhando uma bola extra para ataque para cada aparada realizada com sucesso. Agora, se pisarem fora da faixa, a bola cair no chão ou acertar vocês... Bem, aí é game over. Quem for vacilar dentro da zona morta é eliminado definitivamente, sem chance de retorno.

— Professora — Rufus levantou a mão, mesmo com o gesso no braço. —, e se a gente estiver protegendo o Orbe e levar uma bolada?

— Ótima pergunta, Rufus! — exclamou ela, animada. — Se você estiver defendendo o Orbe e for atingido, não será eliminado, desde que a bola não toque o chão e você seja um dos defendentes do seu time. Contudo, o time atacante ainda pode lhe atacar com as demais bolas, mas você protegeu o orbe dourado, é o que importa. Isso se chama... dedicação ao trabalho em equipe! — Ela sorriu, jogando a bola para ele, que a pegou com a mão boa.

Uji, que estava encostado em um canto fingindo limpar o chão, levantou a voz com um tom brincalhão.

— Professora, e se alguém for muito bom e acertar o Orbe direto?

Seraphine colocou uma mão no quadril e inclinou a cabeça, olhando para ele com tom divertido.

— Aí, meu caro faxineiro, o jogo acaba imediatamente, e o time que acertou o Orbe vence. É por isso que vocês precisam ficar atentos o tempo todo. Um bom defensor nunca tira os olhos do Orbe, e um bom atacante sabe a hora certa de arriscar.

Ela voltou ao centro da quadra e levantou o apito pendurado no pescoço.

— Agora que vocês já sabem as regras, vamos colocar isso em prática. Vamos lá, escolham suas funções e preparem-se! — Seraphine soprou o apito, o som ecoando pelo ginásio. — E lembrem-se: aqui não tem perdão. É cada um por si e todos pelo time. Quero magia, estratégia e... diversão! Quem tá comigo?

Os alunos gritaram em resposta, a animação tomando conta do ambiente. Seraphine olhou para Rydia, que cruzava os braços, claramente tentando não se deixar contagiar pela energia.

— E você, Ludya? Vai só assistir ou vai entrar para mostrar como se joga de verdade?

Rydia suspirou, balançando a cabeça, mas um leve sorriso denunciava que ela estava mais animada do que queria admitir.

Com os grupos formados, as primeiras equipes tomaram posição após o comando da professora, de um lado estavam Kreik, Clemência, Cassie, Joabe e Rydia, formando o time Epopeia; do outro, Prya e os clones de Donny, Moara, Kenia e Vicente, formando o time Nefilim.

— Times, apresentem suas funções!

— Eu e Cassie seremos a defesa; Kreinald o coringa; Joraco e Clemência o ataque — explicou Rydia.

— Eu serei a coringa; Moara e Donny os atacandes; Vicente e Kenia os defensores — Prya falou.

As duas equipes se entreolharam, a rivalidade impregnando o ambiente, o jogo estava prestes a começar, e a tensão no ar prometia um espetáculo emocionante.

Alguns minutos após  a aula de recreação mágica, longe da quadra, especificamente no jardim da universidade, diversos trabalhadores lá faziam manutenções. Eles martelavam, limpavam e reconstruíam, tentando reparar os danos causados pelo tumulto da noite anterior. O som de ferramentas ecoava, mesclando-se ao canto suave de pássaros que pareciam alheios à confusão. Sentada em um banco sob a sombra de uma árvore, Leonora observava a movimentação com um olhar distante, enquanto o vento balançava suavemente os fios de seu cabelo. Seus pensamentos estavam presos ao passado, mais precisamente às memórias de seu falecido esposo.

Baan Maverick aproximou-se, com sua postura desleixada e o habitual boné laranja cobrindo parte do rosto. Ele ajeitou o boné, na tentativa de esconder o símbolo rúnico em sua testa antes de cumprimentá-la.

— Boa tarde, Reitora. O que faz aqui tão reflexiva? — perguntou ele, com um tom mais leve, mas com curiosidade sincera.

Leonora desviou os olhos dos trabalhadores e encarou-o. Havia um brilho irônico em seu olhar.

— Apenas observando os funcionários repararem os danos que um grupo de desajustados causou neste jardim — respondeu, com uma ponta de sarcasmo.

Baan coçou a cabeça, desviando o olhar como se fosse a personificação da inocência.

— Ultimamente, vem acontecendo cada coisa estranha nesta universidade... — murmurou ele, assobiando despreocupadamente.

Leonora arqueou uma sobrancelha, seu tom severo o suficiente para furar a fachada relaxada de Baan.

— Espero que você controle seus... garotinhos. Não quero gastar todos os recursos da universidade apenas para consertar os rastros deixados por vocês.

Baan soltou uma risada nervosa e ergueu as mãos em um gesto de rendição.

— Prometo que seremos mais cautelosos — disse ele, com um sorriso sem jeito, até que virou o rosto vendo algo que lhe chamou atenção. — Reitora, aquele poste alí no meio do nada, qual o sentido dele?

— Os trabalhadores instalaram errado aquele poste. Por isso eu vim até aqui. Quero que corrijam, mas conseguiram fazer isso apenas amanhã... — A reitora suspirou — Sabe como é... Algum aluno desatencioso pode bater a cabeça nele.

— É possível, mas tem que ser alguém muito burro para isso.

O silêncio pairou entre eles, enquanto ambos observavam os trabalhadores finalizar suas atividades. O ambiente estava calmo, mas após alguns instantes, isso mudou, quando Baan adotou um tom mais sério.

— Tá tudo certo para investigarmos a professora Areta hoje à noite. E para isso, vamos precisar da ajuda do Rufus.

— Rufus? Por que envolver o Rufus nessa história?

Baan inclinou-se um pouco para frente, como se fosse confidenciar algo importante.

— A besta mágica dele é a única forma de conseguirmos investigar Areta sem levantar suspeitas. Ah, e tem mais uma coisa... A professora Areta fez uma parceria com o professor Lemon Doyle para te derrubar.

— Lemon Doyle? — O semblante de Leonora endureceu. A notícia parecia pesar em seus ombros. — Não esperava por essa... — murmurou. — Precisamos manter os olhos bem abertos. Poeta Fantasma, Areta e agora Doyle... Tá tudo muito nebuloso. Parece que estou sendo atacada de todos os lados.

Nesse momento, a professora Kassandra surgiu ao longe. Seus passos eram rápidos, e um sorriso brincava em seus lábios. Ao aproximar-se, ela cumprimentou ambos com um gesto educado, antes de dirigir-se a Baan com uma piscadela.

— Professor Baandalf, adorei a nossa noite ontem... Se quiser, pode jantar novamente em minha casa esta noite.

Leonora manteve a postura séria, mas seu olhar dizia que havia entendido perfeitamente a insinuação. Baan, por outro lado, ficou visivelmente desconcertado. As bochechas dele coraram, e ele coçou a nuca nervosamente.

— Professora Kassandra, lembra que inicialmente eu tinha te dito que eu tinha um compromisso. Bom, ontem aceitei seu convite porque eu havia reagendado o compromisso para hoje. Infelizmente, desta vez, não poderei fazer o mesmo. Mas, em outra noite, com certeza aceitarei.

— Vou deixá-los a sós. — Leonora levantou-se, ajustando seu manto com elegância. — Parece que têm assuntos a resolver — disse, sua voz carregada de sutileza.

— Com licença, reitora Leonora — interrompeu Kassandra, com um tom respeitoso. — Eu vim até aqui para lhe trazer um recado. — A aula de recreação mágica acabou, e a professora Seraphine Muller encaminhou um aluno para o seu gabinete.

Leonora fez uma pausa, absorvendo a informação. Seu tom ficou mais firme.

— Obrigada pela informação. — Ela voltou-se para Baan, lançando-lhe um olhar penetrante. — Espero que não seja um dos seus alunos envolvidos nisso.

— Tenho certeza que não, Reitora.

— Assim espero — respondeu Leonora, antes de virar-se e caminhar em direção ao edifício principal.

Kassandra observou a Reitora se afastar, depois virou-se para Baan com um sorriso.

— Parece que a Reitora tá lhe exigindo bastante, professor.

— Nem me fale...



Comentários