Volume 2
Capítulo 89: Gerente Geral
Voltando à cena do hospital, já no tempo presente, Rydia, com uma expressão amarga, finalizou a explicação de sua indignação.
— Esses malditos nos enganaram. Perdemos quase todo o dinheiro, restou só essa merreca — disse ela, furiosa.
— Calma, Rydia. — Kreik tentou consolar a amiga. — Ajudamos a salvar uma cidade inteira. Isso é incrível.
— Eu lá queria saber de ajudar merda de cidade nenhuma, seu idiota. — Rydia deu um cascudo em Kreik. — Queria é o nosso dinheiro. Ajudar os outros não enche a barriga de ninguém. Vamos logo embora desta cidade maldita.
Dois dias depois, a guilda, reunida, saiu do hospital. Enquanto caminhavam pela cidade, a população os aclamava como heróis e salvadores, gritando “Crossed Bones” ao redor.
— Isso é incrível! — exclamou o mago ruivo, empolgado.
Moara, caminhando quase como modelo desfilando, disse com um sorriso satisfeito:
— Me sinto até uma artista famosa caminhando no hall da fama.
Uji corria e beijava as mãos das donzelas, até que Rydia o puxou pela orelha para que ele se controlasse. Ela estava claramente irritada pela falta de dinheiro. Joabe, com um sorriso de canto de boca, observava a cena, caminhando com os braços cruzados. Baan, sempre o showman, acenava e lançava beijos para a multidão.
Ao chegarem na saída da cidade, foram recebidos por Trace e a família Otogi. Kreik correu para abraçar Joshua e Javier, e todos choraram de saudade. Kreik perguntou se eles se despediram de Otto. Os garotos confirmaram e disseram que Otto e o pai haviam pedido desculpas por tudo. Eles e a família acataram o pedido de desculpas e a dupla partiu em seguida.
Joe se aproximou de Baan e estendeu a mão.
— Obrigado por tudo, Baan — disse ele, com gratidão sincera. — Se precisarmos de ajuda novamente, chamaremos vocês.
Baan apertou a mão de Joe e sorriu. — Estamos sempre prontos para ajudar — respondeu ele. — Mas na próxima vez, cobraremos bem mais caro, não vai ser só essa mixaria.
— Hehehe! Na próxima iremos pagar um valor melhor.
A guilda Crossed Bones deixou a cidade de Passafora, cada um com seus pensamentos sobre os acontecimentos. Enquanto a multidão continuava a aplaudi-los, eles sabiam que o verdadeiro preço da vitória nem sempre era pago em ouro.
Ao sair de Passafora, a Crossed Bones retomou sua jornada, cada membro perdido em seus próprios pensamentos. Rydia, embora ainda furiosa pela perda do dinheiro, sabia que a guilda havia conquistado algo maior: respeito e reconhecimento.
Baan olhou para seus companheiros, sentindo uma mistura de orgulho e responsabilidade. Eles haviam enfrentado desafios imensos e saíram vitoriosos, mas a jornada estava longe de terminar.
Após alguns dias, ainda em Passafora, durante o amanhecer de um ar fresco e revigorante, Erina subia lentamente uma colina com flores nas mãos. Ao chegar ao topo, ela viu o céu tingido de laranja e rosa, refletindo a paz que sentia enquanto colocava flores em dois túmulos. Um era de Nathan, o outro, de Guinter. Após uma oração silenciosa, Erina levantou-se e avistou Joe Otogi e sua esposa Catlyn subindo a colina.
Joe olhou para a maga com um rosto apreensivo.
— Erina, para onde vai agora? Acredito que não vai ficar em Passafora.
Erina olhou para o horizonte, deixando a brisa matinal acariciar seus cabelos.
— Vou voltar para Frost Gardens. Tenho algumas pendências a resolver lá.
— Não quer saber do paradeiro dos seus outros dois companheiros? — Catlyn perguntou, curiosa.
— Steffens e Rafarillo? Não precisa. Eles são esguios, provavelmente fugiram e devem recomeçar a vida em outro local — respondeu a maga, sua voz calma, acompanhada de um leve sorriso. — Na verdade, tem outra coisa que me intriga... por que cuidaram das minhas feridas?
— Não queríamos e nem faríamos isso, mas Moara insistiu.
— Moara e suas pontes... — Erina pôs suavemente a mão a boca, quase como se quisesse esconder o leve sorriso que se formou em seus lábios. — Já deveria suspeitar.
Com um agradecimento final e contido, Erina desceu a colina. Ao chegar ao pé, encontrou Bruce e Cubinho esperando por ela. Acariciou seus animais leais e partiu em sua jornada, deixando para trás memórias que nunca esqueceria, mas pronta para enfrentar o que viesse pela frente.
Enquanto isso, em algum lugar do vasto oceano, um barco balançava nas ondas suaves. Dentro dele, Osken e Otto seguiam para o reino de Kaazordan, seguindo o conselho de Baan.
O barco, que até então navegava tranquilamente, parou abruptamente, fazendo-os trocar olhares preocupados. A porta da cabine se abriu com um estrondo, revelando a figura imponente de um militar da GPA.
— Carmine Otto e Carmine Osken, estava procurando por vocês — disse o homem, sua voz carregada de autoridade. — Sou o Ás de Combate, da Brigada do Hemisfério Sul. Vocês estão presos, sem possibilidade de apelação.
Joran Pete, 47 anos, Ás de Combate da 2ª Brigada da Força Aérea da GPA, sempre visto em seu impecável uniforme branco e azul. Cabelos curtos pretos, olhos azuis e óculos de armação preta. Ele vestia uma jaqueta branca, adornada com insígnias e medalhas, calças azuis, combinadas com botas pretas robustas, e um cinto de utilidades preto completavam seu visual autoritário. Joran Pete era a personificação da disciplina e da honra, um militar resoluto e reservado.
Osken, em um ato de desespero, tentou atacar o militar com seu White Glow. Mas Joran Pete não sofreu nenhum dano; ao contrário, o braço de Osken quebrou instantaneamente ao atacar.
O Ás de Combate olhou para Osken com um olhar gélido e calculista.
— Quanta falta de respeito. Não é assim que se trata um militar de alta patente da GPA. — Ele olhou para Otto — Espero que não ofereça resistência te deixaremos também órfão de pai. — Ele ajeitou os óculos e gritou em seguida aos seus subordinados. — Soldados, desçam aqui e prendam os dois.
Os soldados capturaram Osken e Otto rapidamente. O militar então retirou uma runa de comunicação de sua jaqueta e a ativou.
— Coronel Andor Fuzaki, o garoto e o pai dele já estão comigo. Avise ao General que estamos prontos para iniciar o Projeto Prometeus II.
A cena mudou para uma taverna animada em Madrad, onde Baan se encontrava com seus companheiros de guilda. A atmosfera era vibrante, com risos e conversas ecoando pelo salão. O cheiro de cerveja e carne assada pairava no ar, enquanto os clientes brindavam e contavam histórias de suas aventuras.
Baan Maverick, com seu jeito falastrão e brincalhão, se dirige, com um sorriso despreocupado, ao balcão onde ficava a atendente administrativa responsável pela distribuição das missões. Ele pega alguns amendoins de uma tigela e começa a comê-los casualmente enquanto escorava os cotovelos no balcão e conversava com Keya, a atendente.
— Keya, meus amigos falaram com você? — perguntou Baan, jogando mais um amendoim na boca.
Keya piscou os olhos em confirmação, sorrindo.
— Sim, eles vieram mais cedo — ela respondeu, arrumando algumas canecas no balcão.
— E aí, minha taverneira preferida, tem alguma nova missão para a gente? — Baan perguntou, ainda mastigando.
— Tem sim, essa aqui. — Keya supirou sem tirar sorriso do rosto e entregou uma pasta para o amigo.
Baan folheou a pasta da nova missão com o olhar atento, absorvendo os detalhes. Ao final, se despediu de Keya, dando um leve aceno, mas antes que pudesse sair, ela pousou a mão em seu ombro com uma expressão preocupada e exagerada.
— Antes de ir... o Gerente Geral quer falar com você. — Ela ergueu as sobrancelhas e, em tom zombeteiro, passou a fazer uma careta imitando o chefe com raiva, inclusive no tom de voz, fazendo Baan gargalhar, até que ela abruptamente mudou o semblante para um tom sério. — Baan, nós recebemos uma notificação da corte imperial de Byron sobre a última missão de vocês. Parece que vocês... destruíram boa parte de Passafora.
Baan arqueou as sobrancelhas, surpreso, e soltou uma risada nervosa.
— Ah, então é isso... faz sentido agora — ele comentou casualmente, pegando mais alguns amendoins da mesa antes de subir as escadas em direção ao gabinete do misterioso Gerente Geral.
Ao chegar, ele bateu na porta de madeira escura. Lentamente, a porta rangeu, se abrindo por si mesma.
— Pode entrar, Baan — ordenou uma voz grave e autoritária, vinda das sombras da sala.
Baan sorriu de canto e, mantendo o tom irreverente, entrou com passos largos. Ao ver as cadeiras luxuosas, brincou:
— Sabe, Gerente Geral, essas cadeiras têm um alcochoamento especial, elas são perfeitas para aliviar o estresse — ele riu, tentando aliviar o ambiente tenso.
Mas o Gerente Geral, envolto em um manto negro com detalhes de pele de lobo, estava de costas, fixo na vista da cidade de Madrad pelo janelão de vidro. Sua figura parecia esculpida na penumbra, e um gesto de mão silenciou qualquer tentativa de descontração.
— Não precisa se sentar, Baan Maverick. Esta conversa será breve — disse ele, sem sequer se virar, lendo um livro com suas mãos.
O sorriso de Baan vacilou por um instante, mas ele recuperou a postura, tentando manter a descontração.
— Eu sei, eu sei. A notificação da corte imperial sobre Passafora... olha, fomos pegos de surpresa por uma guilda de nível “C” que apareceu do nada. Não estávamos preparados... — ele tentou justificar, coçando a cabeça.
O Gerente Geral, ainda imóvel, cortou suas palavras com frieza.
— Essa não é a razão pela qual estamos conversando, Baan.
Baan piscou, confuso, inclinando a cabeça.
— Não? Então... é sobre as luvas de Ifrit? — arriscou ele, seu tom mais cauteloso.
Houve um silêncio pesado na sala antes que o Gerente respondesse, sua voz carregada de uma calma ameaçadora.
— Eu pedi para que você obtivesse as luvas e as entregasse a mim. No entanto, você escolheu colocá-las nas mãos de um companheiro de guilda.
— Ah, isso foi um... acidente! — Baan riu nervosamente. — Kreik acabou colocando-as sem querer. Sabe como é... essas coisas acontecem. — Ele tentou soar despreocupado, mas o suor começava a se formar em sua testa. — Gerente, será que não pode relevar só dessa vez?
Houve uma pausa prolongada, o Gerente Geral continuava a lê o seu livro, até que ele muda de folha e finalmente responde, ainda sem virar.
— Vou relevar... desta vez. Não vou exigir a devolução imediata das luvas, já que o jovem Kreik trabalha para você, e você, Baan... trabalha para mim. Logo, ainda tenho acesso a elas, mesmo que indiretamente.
O ar pareceu se tornar mais denso. Baan tentou relaxar suspirando, mas a tensão só aumentou quando o Gerente Geral falou:
— Outra coisa, você pediu para que dois magos, Osken e Otto, salvo engano, conseguissem um barco para o Reino de Kaazordan.
— Sim, eles precisavam de transporte urgente.
— Keya conseguiu um navio clandestino para eles, com a minha ajuda. Lembre-se, Baan... você me deve mais um favor. — confirmou o Gerente, sua voz com um toque de advertência.
Baan assentiu lentamente, sentindo o peso do acordo não dito. O Gerente então acrescentou, com uma seriedade cortante:
— A próxima missão é vital. Eu não aceitarei erros vindos da sua guilda.
— Entendido, chefia. — Baan tentou manter o tom leve, apesar da pressão evidente. — Não vamos desapontar.
Um silêncio pesado pairou entre eles. Baan hesitou antes de finalmente perguntar:
— Sobre a missão em Passafora... achei estranho que ela tenha vindo de Joe Otogi, já que ele havia cancelado o contrato. Pelas regras da taverna, essa informação deveria ter chegado a mim antes. Por que não fui informado?
O Gerente permaneceu em silêncio por alguns segundos, lendo seu livro, até que respondeu, sem emoção.
— Houve um erro na atualização das pastas. Achamos que a missão ainda estava ativa. Apenas isso.
Baan assentiu, mas o desconforto crescia em sua mente. Ele deixou o gabinete, descendo as escadas em passos calculados, pensativo. Algo não se encaixava.
“Erro... você não me parece o tipo que comete erros”, refletiu ele, enquanto voltava à mesa onde seus companheiros o aguardavam, o sorriso descontraído de volta ao rosto, mas com a mente ainda agitada.
— Pessoal, temos uma nova missão — anunciou ele, despojadamente, um brilho malicioso em seus olhos, enquanto se aproximava da mesa onde seus companheiros de guilda estavam reunidos.
— Para onde? — Kreik, sempre curioso, foi o primeiro a perguntar.
— Meryportos, a capital do Reino Província de Basten — Baan respondeu com um tom de entusiasmo:
— Ficou louco? — Rydia arregalou os olhos de surpresa. — Fazer uma missão em um Reino Província é confrontar diretamente a GPA. Já basta os problemas que tivemos em Lakala — disse ela, incrédula.
Baan deu de ombros, um sorriso brincalhão no rosto.
— O contrato é bom, Rydia. Dez mil rilds e só querem uma guilda de ranking “E”. Não teremos concorrência.
Rydia suspirou e bateu a cabeça levemente na mesa, resignada e Moara, sempre animada, perguntou:
— E o que vamos fazer nessa missão? Salvar outra cidade?
— Não exatamente — disse Baan com um sorriso enigmático. — Hora de estudar, vamos para uma universidade de magia!
Todos os membros da guilda gritaram, surpresos:
— O QUÊ?!
— Vamos! Eu explico no caminho — Exclamou Baan empolgado.
Ele e o pessoal da guilda deixaram a taverna. O gerente, pelo janelão de vidro, observou enquanto eles saíam pelas ruas de Madrad, aparentando estarem contentes.
“Vander Kreik, vejamos como você se comporta nessa missão... Me mostre que realmente é merecedor das luvas de Ifrit”, pensou o Gerente, com um leve sorriso de canto, segurando em uma das mãos um livro cujo título era “O Conto do Fogo Livre”.
Nesse momento, Keya subiu com algumas pastas para o gerente assinar.
— Só para confirmar, qual missão você designou Baan e sua guilda? — perguntou o gerente, ainda de costas, sem revelar o rosto.
— A de Meryportos, assim como você pediu — respondeu Keya.
— Excelente trabalho, Keya — elogiou o gerente, colocando o livro que estava em suas mãos sobre a mesa.
— Obrigada, senhor gerente. — Ela sorriu, agradecida.
O gerente virou-se com um sorriso singelo no rosto.
— Já te disse Keya, mesmo aqui na taverna, você ainda pode me chamar pelo nome.
Keya, corada, respondeu:
— É verdade, desculpe-me! Vou refazer meu agradecimento... Obrigada, Leif Eibor!
Leif Eibor, gerente geral das tavernas dos reinos livres do continente de Lestarus, 45 anos, olhos castanhos, cabelos branco puro, curtos, espetados e penteados para trás, com mechas irregulares sobre sua testa, conferindo-lhe um ar selvagem e determinado. Ele vestia roupas pretas com detalhes em vermelho e botões prateados na parte superior. Por cima de suas roupas, tinha um casaco longo e elegante, adornado com pele de lobo, chegando até os tornozelos e, por fim, calçava botas pretas, com detalhes prateados.