Volume 2
Capítulo 70: Construindo Pontes
As duas inimigas se entreolham, uma aura invisível de rivalidade impregnando o ambiente. Cubinho está erguido sobre as patas traseiras, apenas aguardando o comando de sua domadora.
“Essa garota maluca foi capaz de derrotar Bruce. Ela não tá de brincadeira. Bruce foi impulsivo e lutou sozinho... Não posso cometer o mesmo erro, preciso observar a luta, mas também não posso me expor. Ela é bem mais forte do que eu em termos de força bruta. Dependendo do golpe que ela me der pode ser fatal.”, pensou Erina, segurando o seu braço quebrado com o outro.
“A luta com esse felino foi mais complicada do que eu pensei. Se essa batalha se estender, o urso me mata, não tenho dúvida. Preciso encontrar um ponto fraco. Mas qual?”, Moara, exausta e quase sem poder mágico, refletia.
Uma leve brisa passou pelo local, balançando os cabelos das magas. Elas fecharam os olhos por um instante e, quando a brisa cessou, ambas os abriram simultaneamente e iniciaram seus movimentos. Erina correu para se esconder atrás de uma árvore, enquanto Moara lançou Bruce pelo rabo na direção do rosto de Cubinho. O urso agarrou seu companheiro, e Moara aproveitou para desferir um Gaia Punch na pata direita da fera. A estratégia não funcionou, pois Cubinho já previa o ataque e a chutou antes de completar o golpe. Ela caiu no chão, mas rapidamente se levantou e assumiu posição de guarda.
Cubinho colocou Bruce no chão e lançou cristais de gelo da sua boca.
“Impossível! Como esse urso sabia que eu ia atacar sua pata? A não ser que...”, sua linha de pensamento foi cortada enquanto desviava dos cristais lançados pelo urso.
Moara correu, passando os dedos suavemente no chão e materializando duas ripas Cat Killer. Cubinho arrancou dois troncos de árvores e os congelou com seu bafo. O urso e a garota começaram a trocar golpes, com as ripas de Moara colidindo contra os troncos congelados de Cubinho. A força do urso prevaleceu, e ele quebrou as ripas de Moara. Em seguida, arremessou os troncos, mas Moara saltou para trás, desviando dos golpes. Cubinho também saltou e tentou pisá-la, todavia, ela novamente desviou, dessa vez, pulando para o lado.
Sem dar tempo para descanso, Cubinho lançou mais cristais de gelo. Moara desviava ágil, mas um cristal acertou sua coxa, provocando uma dor aguda. Cubinho inclinou-se e partiu para um ataque com sua garra de gelo da esquerda para a direita. Moara tentou bloquear com um Gaia Punch, mas o urso novamente levou a melhor, fazendo-a voar e colidir com uma árvore.
“Ela nunca vai vencer enquanto eu estiver observando a luta. Eu consigo orientar Cubinho telepaticamente, dizendo como ele deve agir. Mais uma habilidade do meu Jack Frost.”, pensou Erina, observando a luta com confiança de sua vitória.
Moara levantou-se, cambaleante e com grande parte de suas forças consumidas após a luta contra Bruce. Tentou pensar em uma forma de vencer, mas nada vinha à sua mente. Tudo o que conseguia pensar era em lutar com todas as suas forças até o fim.
Moara, determinada, murmurou para si mesma: “Estou toda acabada, sem forças... Dorga! Ele pode até me matar, mas vou morrer lutando!”. Ela firmou os pés no chão, em uma postura de karateka, e com um soco lançou um pedregulho materializado. — Tome isso! Quero ver se você defende, seu ursinho de merda. GAIA SHOOT!
O pedregulho foi lançado contra Cubinho, que o agarrou com suas mãos. Ele foi arrastado alguns centímetros para trás, mas conseguiu bloquear com sucesso. Orgulhoso, a fera destruiu o pedregulho com suas próprias mãos e rosnou para a garota, demonstrando sua superioridade.
— Não fique se achando. Quero ver você defender esse! Gaia Shoot! — gritou Moara, repetindo a técnica em um ato desesperado.
Novamente, Cubinho segurou o pedregulho com as mãos, mas desta vez ele o congelou com seu bafo e o arremessou de volta contra Moara.
Moara, com todas as suas forças, exclamou: — Eu não vou perder tão fácil. Vamos ver quem é o mais forte! — Ela materializou um pedregulho ainda maior e o lançou com um soco poderoso.
Os dois pedregulhos colidiram no ar e se anularam, espalhando pedaços de rocha em todas as direções. Um desses pedaços acertou o ombro de Erina, que estava escondida em um arbusto. Ela gemeu de dor e, com o impacto, caiu na terra, revelando sua posição para Moara. No mesmo instante, Cubinho grunhiu de dor, segurando seu ombro com uma das patas.
Moara arregalou os olhos, sorrindo de orelha a orelha, e gargalhou descontroladamente. Erina recompôs-se, confusa e furiosa.
— Do que você tá rindo, sua doida? É desespero por tá próxima da morte?
— Não é desespero... é alegria. Eu já sei como vencer essa luta. Como não pensei nisso antes? Tão simples. — Ela levantou o dedo para o alto e depois apontou para Erina, com um sorriso radiante. — Se você recebe o mesmo dano sofrido pelos seus animais, o inverso também é verdadeiro. Ou seja, eu não preciso vencer seu urso, eu preciso vencer você. Vou te acertar e fazer seu ursinho sofrer — respondeu Moara, confiante.
— Ocorre que seu plano tem uma falha. Para ele funcionar, você precisa saber onde eu estou. Cubinho, ataque! — retrucou Erina, ainda confiante.
Cubinho lançou mais cristais de gelo, mas Moara desviou, pulando para o lado. Erina aproveitou o momento e se jogou nos arbustos, escondendo-se novamente e caminhando entre as árvores, sempre mantendo a visão da batalha e orientando telepaticamente sua fera. Moara, com um sorriso confiante, correu na direção de Cubinho com toda a sua velocidade.
— Menina fera, acha que essa sua tática covarde vai me impedir? Eu sei exatamente onde te achar — gritou Moara, aproximando-se do urso.
O urso levantou uma de suas patas traseiras para pisá-la, mas Moara foi ágil e passou por baixo com uma rasteira. Erina já previa o movimento e orientou seu companheiro telepaticamente.
— Gire e chute!
Cubinho assim o fez. Enquanto girava, já preparando seu golpe, a jovem maga deu um soco no chão e fez um pilar de terra emergir diretamente sob Erina, atingindo-a na barriga. O dano foi compartilhado com Cubinho, que sentiu a pancada no mesmo local, fazendo-o perder o equilíbrio e cair. Moara correu até a fera caída e desferiu um Gaia Punch em sua pata traseira, causando intensa dor no animal. Erina sentiu o mesmo dano, mas mordeu a mão para evitar gritar e revelar sua posição.
Moara já preparava outro Gaia Punch quando Cubinho inclinou a coluna e lançou mais cristais de gelo de sua boca. A jovem maga cruzou os braços em forma de "X" para reduzir o dano, mas os cristais penetraram em sua pele, provocando gritos de dor. Ela caiu de joelhos, mas ainda se recusava a desistir.
“Como ela soube minha localização? Impossível. Será que foi um golpe de sorte?”, refletiu Erina, mudando sua posição e se escondendo atrás de uma árvore.
Moara, fixou suas mãos no chão e olhou ao seu redor, buscando algum vestígio de Erina. Até que ela olhou na direção que a vilã estava escondida e materializou duas ripas Cat Killer de menor tamanho, arremessando-as em seguida.
Erina, perplexa, pensou: “Impossível! Ela me encontrou de novo?”
A vilã fugia das ripas, contudo o balançar das plantas e dos arbustos revelou visivelmente sua posição.
Moara levantou-se rapidamente, acompanhando com seus olhos o movimento da oponente pelos arbustos e lançou um Gaia Shoot na direção de maga vilã.
Vendo o pedregulho voando em sua direção, Erina sentiu a derrota iminente. Mas Cubinho interveio, colocando sua pata direita dianteira sobre o pedregulho e desviando a trajetória do ataque. Isso permitiu que Erina escapasse. A pata de Cubinho ficou machucada, e, consequentemente, a mão de Erina também.
Erina, telepaticamente, comunicou-se com seu animal enquanto se escondia novamente na floresta: “Cubinho, vamos lançar nosso golpe mais poderoso. Preciso matá-la agora. Essa luta não pode se estender.”
Cubinho abriu a boca, e um diamante de gelo começou a se formar. Moara, percebendo o perigo iminente, reconheceu o golpe que Bruce havia usado anteriormente contra ela. Sem hesitar, ela ergueu uma barreira de terra com o seu Gaia Wall. No entanto, o poder do diamante foi esmagador. A parede de terra não aguentou e se estilhaçou, sem conseguir conter totalmente o diamante. Instintivamente Moara inclinou-se de lado, a fim de salvar parcialmente seu lado direito, caindo no chão em seguida, após o impacto.
Caída no chão, Moara cuspiu sangue. Cada fibra do seu corpo parecia clamar por descanso, seus músculos tremiam de exaustão.
Ela se esforçou para se levantar, apesar da dor lancinante em sua perna e braço esquerdos, ambos quebrados pelo golpe.
— Essa luta ainda não acabou. Eu ainda posso vencer — ela murmurou, com um sorriso desafiador se espalhando por seu rosto ferido.
Erina, percebendo a determinação de sua oponente, transmitiu uma ordem telepática a Cubinho: “Mate-a, Cubinho. Vejamos se ela vai continuar sorrindo no outro mundo.”
O urso, agora de quatro patas, deixou suas presas crescerem, cobertas por uma camada brilhante de gelo. Ele avançou, correndo com toda a sua força, confiante de que essa seria a investida final.
“Você já era!”, pensou Erina, certa de sua vitória.
Moara, no entanto, não estava disposta a se render. Com um movimento rápido, retirou a adaga de Catlyn do bolso e a lançou com precisão. A lâmina passou pelo lado do urso e acertou Erina, que só percebeu o ataque quando viu as gotas de sangue caírem no chão. A adaga estava fincada profundamente em sua barriga.
Cubinho sentiu a mesma dor que sua mestra. Ele tropeçou, mesmo tentando manter o equilíbrio, acabou caindo, tornando-se uma presa fácil para Moara. Com um sorriso determinado, ela reuniu toda a força que lhe restava e desferiu um Gaia Punch no rosto do urso. O impacto foi tão poderoso que o chão ao redor de Cubinho se rachou. O grande urso não aguentou e desmaiou.
De longe, Erina assistia, horrorizada. Ela levantou a mão em direção ao seu companheiro caído, lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
— Desculpa, Cubinho... eu não fui uma boa mestra... — Com um último suspiro, a vilã bateu fortemente com a cabeça no chão, sentindo o mesmo dano.
Moara, exausta e ferida, aproximou-se lentamente até onde Erina estava caída no chão, arrastando sua perna quebrada. A vilã, ofegante e derrotada, sem força alguma para se mexer, olhou para ela, confusão e dor refletidas em seus olhos.
— Como você sabia onde eu estava? — perguntou Erina, sua voz fraca e quebradiça.
— Você não é a única que tem um animal de estimação. — Moara ergueu o olhar para o céu e apontou para Bardo, que havia pousado em um galho alto. — Bardo é um pássaro Mahaliano. Ele entende tudo o que um mago diz. Quando apontei para o céu explicando minha estratégia, eu não estava falando com você; estava falando com ele. Depois disso, ele passou a vigiar você, voando ou pousando em um galho acima. Aí ficou fácil te achar. Bastava localizá-lo. Onde Bardo estivesse, você estava logo abaixo — ela explicou, um sorriso cansado, mas triunfante, iluminando seu rosto.
— Eu, uma maga introvertida, que usa animais para lutar na linha de frente enquanto fico nas sombras, perdi para uma outra maga, extrovertida, que luta na linha de frente enquanto seu animal dá suporte nas sombras. É irônico... — Erina deixou escapar um suspiro resignado. — Sinto como se tivesse perdido para minha contraparte.
Moara balançou a cabeça, compreendendo.
— Menina Fera, vou compartilhar com você o mesmo conselho que um velho monge uma vez me deu. Eu repito e o aplico todos os dias da minha vida.
Erina, com a pouca força que lhe restava, ouviu atentamente.
— Todos nós vivemos em nossas próprias ilhas, e ao longo da vida, nos esforçamos para construir pontes que conectem nossos corações aos dos outros. Haverá momentos em que essas pontes serão destruídas ou rejeitadas... — Moara susupirou, com uma leve pausa. — Mas é importante lembrar que ninguém tem a obrigação de aceitar sua ponte. No entanto, é sua responsabilidade continuar construindo novas pontes, mesmo quando as antigas desmoronam. Se alguém recusar a conexão que você tentou estabelecer, não se desespere. Olhe ao redor. Há sempre novos horizontes a serem explorados. Nosso maior medo não deve ser o de ver nossas pontes caírem, mas sim o de nos isolarmos completamente em nossa própria ilha.
— Até que me parece ser um bom conselho... — Erina sorriu. — Talvez se eu tivesse sido mais aberta como você, pudesse ter sido aceita por alguém — complementou a maga da Sabertooth, aceitando sua derrota e desmaiando em seguida.
A batalha havia terminado, e Moara saíra vitoriosa, usando não apenas sua força, mas também sua inteligência e sua conexão com Bardo. As sombras da floresta pareciam menos opressoras agora, dissipadas com a queda de Erina.
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