Luvas de Ifrit Brasileira

Autor(a): JK Glove


Volume 1

Capítulo 1: O exilado

 

O crepúsculo tingia o céu com tons de laranja e vermelho, refletindo a tensão que permeava a floresta. Um jovem de 18 anos, cabelos ruivos com mechas pretas entremeadas estava ajoelhado, ofegante, seu corpo tremendo de exaustão e desespero. As folhas secas e os galhos quebrados estalavam sob seus joelhos.

O sangue escorria lentamente de um corte em sua testa, misturando-se ao suor que lhe empapava o rosto. Em suas mãos, as Luvas vermelhas com simóbolos rúnicos brilhavam com um tom carmesim, quase como se estivessem vivas.

À sua frente, um samurai com longos cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, olhava-o com frieza. Seu kimono verde esmeralda ondulava suavemente com a brisa, contrastando com a lâmina afiada da katana que ele mantinha próxima ao pescoço do jovem ruivo.

— Perder a minha vida eu não me importo, mas envolver meu avô nisso... Ele não merece. Droga! Tudo isso acontecendo por causa dessas malditas luvas... — murmurou o jovem ruivo, a voz embargada, quase sussurando.

— Para muitos, essas luvas seriam um objeto de poder, mas para você, elas se tornaram uma sentença de morte — retrucou o samurai, sua voz tão gélida quanto o aço, pronto para desferir o golpe fatal.

Dois dias antes...

Em um dia ensolarado e tranquilo, dois viajantes caminhavam em um pequeno vilarejo chamado Lakala, localizado no continente de Lestarus, no planeta Etérea. Ao passarem em frente a uma enorme biblioteca, um deles comentou com tom cômico:

— Nossa, que prédio enorme e bonito! Ouvi dizer que essa biblioteca foi reconstruída recentemente pela GPA. Ao vê-la pessoalmente, desperta até o desejo de dar uma olhadinha no local, não acha, Joabinho?

Joabe, um jovem de 18 anos, com cabelos brancos que chegam até o pescoço e olhos pretos, vestia uma camisa de mangas longas branca com um colete azul-escuro sobreposto. Um cachecol da mesma cor, cinto marrom e faixas brancas nos antebraços completavam sua vestimenta. Suas calças eram de um azul-escuro e as botas brancas contrastavam com o resto da roupa. Seu rosto estava parcialmente coberto por uma máscara azul-escura que deixava à mostra apenas seus olhos.

 

— Moara, deixe de gracinhas! Você apenas quer criar uma desculpa para arranjar confusão. Fique na sua, sem chamar atenção. Temos apenas dois dias para nos prepararmos até a caravana da GPA passar, trazendo as luvas de Ifrit — respondeu Joabe, de forma direta.

— Aff! Se todos os cidadãos do reino de Suna forem iguais a você, tenho certeza que lá deve ser o local mais tedioso do planeta — retrucou sarcasticamente Moara, virando-se de frente para o amigo e revirando os olhos de tédio.

Moara era uma jovem de 17 anos, com pele morena e longos cabelos castanhos-escuros jogados para trás, entremeados por algumas tranças. Seus olhos tinham a mesma tonalidade de seus cabelos. Ela usava brincos indígenas e roupas de lutadora, predominantemente pretas com detalhes em rosa. Seu traje era composto por um top e uma calça, adornados na cintura com faixas rosas. Naquele momento, ela carregava uma bolsa de couro a tiracolo.

 

A calma do vilarejo foi interrompida subitamente por um jovem de cabelos vermelhos espetados, com mechas pretas. Ele vestia uma jaqueta vermelha, com uma camisa preta por baixo e calça marrom, e corria segurando uma sacola de pães, seguido de perto por alguém que gritava:

— Ladrão, ladrão, peguem esse ladrão!

Moara, que estava em frente a Joabe e de costas para essa situação, se virou e viu de relance o rosto do adolescente que em direção à dupla. O suposto ladrão passou apressademente e exatamente ao lado dos dois viajantes, esbarrando em Joabe, que teve uma expressão de fúria enquanto o jovem demonstrava puro medo.

Joabe fechou o punho, pronto para acertar o ladrão ruivo com um soco, mas Moara, rápida, interceptou o movimento, segurando no antebraço do amigo.

— Ei, pimentinha, você acabou de falar para ficarmos na sudirna e não chamarmos atenção. Agora tá querendo entrar numa luta desnecessária.

Joabe relaxou o punho e a pose agressiva, mas resmungou, vendo o jovem fugir, levando consigo o saco de pães.

— Tsc. Tem razão. Dessa vez esse maldito se safou... mas não vou esquecer disso. Ainda vou dar o troco.

O perseguidor, ofegante, desistiu de seguir o jovem ruivo e parou ao lado da dupla. Moara, com um gesto gentil, retirou uma garrafa de água de sua bolsa e ofereceu ao homem, aproveitando para perguntar sobre o ocorrido. Ele, ainda tentando recuperar o fôlego, agradeceu:

— Obrigado pela água. Sou dono da padaria na outra rua e aquele moleque maldito roubou uma sacola de pães. Só podia ser esse garoto demônio. Espero que ele e seu avô sofram com uma imensa dor de barriga.

— Veja pelo lado bom, foi só uma sacola, assim você não perde muito dinheiro — consolou Moara com um leve sorriso.

— Não perdi dinheiro algum. Ele deixou no balcão o valor correspondente.

— Se o rapaz pagou pelos pães, por que tá chamando ele de ladrão? — perguntou Moara, confusa, coçando a cabeça com o dedo indicador direito.

— Embora ele tenha deixado o dinheiro, eu me recusei a vender os pães. Qualquer coisa vinda daquele garoto é amaldiçoada, até mesmo dinheiro.

— É a primeira vez que ouço falar de um comerciante negando uma venda a alguém disposto a pagar. Afinal, quem é esse garoto e por que você o odeia tanto a ponto de recusar receber dinheiro dele? — questionou Moara, intrigada.

— Esse moleque se chama Kreik. Provavelmente ele foi levar esses pães ao avô dele, Gurren. Ninguém daqui gosta deles, trata-se de um sentimento compartilhado por todos.

A jovem ficou ainda mais curiosa e questionou o padeiro sobre os motivos de tamanha ojeriza contra o jovem e seu avô.

— O pai daquele garoto... graças a ele, todos nós sofremos anos de duras punições da GPA — o homem suspirou e apontou o dedo indicador para o lado. — Tá vendo aquela biblioteca? — Joabe olhou para o lado e Moara assentia com a cabeça. — O pai daquele merdinha destruiu a biblioteca e o posto militar da GPA que ficava ao lado. A GPA puniu o vilarejo e construiu um novo posto militar, mais afastado da cidade. Mas agora tudo mudou, o período de punição acabou e eles reconstruíram a biblioteca, o nosso maior orgulho.

— Ho-ho, estou curiosa para saber mais detalhes. Me fala mais sobre o pai daquele ruivinho — comentou Moara, com um brilho de curiosidade nos olhos.

— Bom, anos atrás...

— Já chega! Moara, isso não é problema nosso. Pare de lotar esse homem de perguntas tolas. Vamos seguir, temos assuntos mais importantes — interrompeu Joabe, visivelmente irritado.

O jovem de suna seguiu seu caminho e sua companheira o observou caminhar, afastando-se dela sem olhar para trás. Esta, com as mãos na cintura, suspirou, e se dirigiu ao padeiro verbalizando:

— Desculpe pela grosseria do meu amigo. Ele é um pouco... como posso dizer... ah, excêntrico! Fique com o resto da água e bye-bye. — Acenou a jovem ao padeiro com um sorriso. — Ei, espere, seu carrancudo tedioso! — exclamou Moara, correndo em direção ao amigo para acompanhá-lo.

Uma hora depois, o jovem ruivo, ainda segurando a sacola de pães, aproximou-se de uma cabana situada a aproximadamente 4km a leste da área urbana do vilarejo. Árvores jaziam ao redor da cabana e um minijardim ficava próximo a sua porta. No local não havia vizinhos por perto, um verdadeiro refúgio solitário dos demais moradores.

No interior da cabana o ambiente era simples, repleto de móveis desgastados e com iluminação suave. O cheiro familiar de madeira e ervas secas permeava o ar, trazendo um conforto nostálgico.

A porta da cabana rangeu ao se abrir e uma voz debilitada advinda de um dos quartos quebrou o silêncio:

— Quem é? É você, Kreik?

— Sim, sou eu, vovô. Trouxe uma sacola de pães para você se alimentar — respondeu o jovem, entrando no quarto com passos decididos.

Kreik, um jovem de 18 anos, com cabelos ruivos espetados e algumas mechas pretas, tinha pele branca e olhos castanhos profundos. Ele vestia uma jaqueta vermelha sobre uma camiseta preta, calça marrom e botas vermelhas. O contraste entre sua figura vibrante e o ambiente envelhecido era marcante.

 

No quarto havia uma cama gasta pelo tempo e nela se encontrava um velho deitado, com olhos cansados e pálido, demonstrando possuir uma saúde debilitada.

Gurren, um idoso gentil de 69 anos, tinha cabelos grisalhos pouco volumosos e bagunçados, olhos castanhos profundos e uma barba grisalha completa. Vestia roupas simples de camponês, que contrastavam com a vivacidade de seu neto.

 

Kriek se aproximou da cama, entregando ao avô um saco de pães e um copo de leite.

— Aqui, vovô Gurren, coma tudo para se recuperar logo. Não posso perdê-lo — disse Kreik, com um olhar cheio de preocupação.

— Obrigado, meu neto — respondeu Gurren, aceitando o alimento com as mãos trêmulas —, mas depois dessa doença, me sinto um estorvo.

— Não diga isso, vovô. Sei que é uma situação difícil, mas essa doença passará e você ainda terá muitos anos de vida pela frente — Kreik tentou reconfortá-lo, mas a angústia era evidente em sua voz.

— Mesmo assim, meu neto, espero que você esteja preparado quando eu partir. É uma parte inevitável da vida — disse Gurren, com uma voz serena e resignada.

— Vovô, já não basta eu perder a minha mãe... — Kreik segurou suas lágrimas, sua voz carregada de dor — enquanto você estiver aqui, farei tudo o que puder para cuidar de você — prometeu ele, com firmeza em sua voz, ao tempo que ajeitava a coberta do avô e o ajudava a se sentar para comer.

— Antes que eu possa partir, seja mais cedo ou mais tarde do que pensa. Quero que me prometa uma coisa. — Gurren segurou o ombro do neto com uma força surpreendente para alguém em sua condição.

— O quê, vovô?

— Assim que eu partir, você encontrará uma forma de viver sua vida longe daqui. Desbravar o mundo, conhecer novos lugares e pessoas — pediu Gurren, com uma fagulha de esperança nos olhos.

— De novo com isso, vovô? O senhor sabe que isso é impossível. Não quero prometer algo que não vai acontecer — Kreik respondeu, desanimado e desesperançado.

— Nada é impossível. Sua mãe sempre dizia que você faria grandes coisas. E agora, te vendo crescido, tenho certeza de que ela estava certa. Mas enquanto estiver neste vilarejo, isso nunca acontecerá. Por isso, por favor, me prometa que partirá daqui — insistiu o velho, apertando os ombros do neto.

Kreik olhou para baixo, lutando com suas emoções. Depois de um momento de silêncio, ele suspirou, evitou que seu olhar encontrasse os olhos do avô e, sem convicção, disse:

— Eu não sei, mas se isso te fará feliz, eu pro...

— Não, Kreik, assim não! Olhe para mim e fale com convicção! — Gurren interrompeu com um grito surpreendentemente forte.

Kreik respirou fundo, firmou a postura e declarou com determinação:

— Sim, vovô, um dia sairei desta vila e farei grandes coisas. Eu prometo!

Olhando um para o outro, avô e neto começaram a rir com sorrisos genuínos, quebrando a tensão do momento.

— Obrigado, vovô. Só você para me fazer sorrir numa situação dessas.

— Sorrir é o melhor remédio, meu neto. Acredite, sua vida está prestes a mudar.

— Assim espero... — Kreik, hesitante, coçou a cabeça. — Vovô, aproveitando o momento queria te pedir uma coisa... uma autorização, na verdade.

— Diga, embora eu já imagine o que seja.

— Você sabe que daqui a dois dias o festival em comemoração à reconstrução da biblioteca e ao fim das sanções da GPA acontecerá. Todos estarão participando usando fantasias e máscaras, então...

— Não, Kreik. É perigoso. Mesmo fantasiado, qualquer vacilo pode te denunciar. Se te reconhecerem, todos se reunirão para te linchar sem piedade. Não autorizo, meu neto. Desculpe-me — disse Gurren, com uma expressão de preocupação.

— Vovô, essa é a minha única oportunidade. Talvez, interagindo com as pessoas fantasiado, elas percebam que sou apenas um rapaz comum. Podem até acabar me aceitando de volta — Kreik argumentou, desesperado.

— Não seja ingênuo, Kreik. Eu te proíbo — gritou Gurren, sua voz cheia de temor.

Kreik cerrou os punhos e os dentes, e saiu do quarto sem dizer nada, apenas com raiva pela negativa do avô.

— Kreik! Kreik! Volte aqui, não faça nenhuma besteira! — esbravejou Gurren, tossindo fortemente.

A cena mudou para um quartel militar da GPA. Lá, um soldado de uniforme azul e branco, segurando uma caixa preta com detalhes dourados, entrou em uma sala e bateu continência a outro militar. Este estava sentado em uma poltrona atrás de uma mesa de escritório. Ao lado do militar sentado na poltrona havia um aparelho similar a um telefone.

— Major Condor Brihen, fui enviado pelo General Levi Burgess. Ele me incumbiu de lhe entregar esta caixa e essa runa de comunicação. O General quer tratar de um assunto urgente e confidencial diretamente com o Senhor.

Major Condor Brihen, um homem de 38 anos, com cabelos loiros de comprimento médio bem claros e olhos azuis, um militar refinado. Usa óculos e veste um uniforme militar adornado com detalhes dourados, sobrepondo-o com um elegante colete bege. Ele é conhecido por não tolerar brutamontes ou pessoas mal-educadas.

 

O Major dispensou o soldado e rapidamente pegou a caixa e a runa de comunicação, encaixando-a no centro do aparelho telefônico. Ao puxar o fone do gancho do aparelho e colocá-lo no ouvido, a runa, a qual era similar a uma pedra azul com símbolos brilhantes, brilhou e a voz do General foi ouvida do outro lado da linha.

Seguindo as instruções do General, o Major Brihen abriu a caixa e ficou extasiado. Seus olhos arregalados demonstravam sua nítida preocupação com o rumo da conversa. Brihen se recompôs rapidamente e terminou de ouvir atentamente as ordens do General.

Ao finalizar a ligação, o Major levantou-se rapidamente e saiu de sua sala. Ao avistar um de seus soldados, exclamou, sua voz carregada de urgência:

— Soldado, prepare uma caravana que será liderada por mim o mais rápido possível. Além disso, me traga a Tenente Mayumi. Agora!

O soldado saiu apressadamente, correndo desesperadamente pelos corredores enquanto Brihen entrava novamente para sua sala e olhava fixamente para caixa.

Longe do posto militar, no alto de um penhasco no meio da floresta, um homem encapuzado, vestido com um manto negro adornado por detalhes dourados, contemplava a paisagem. Seus olhos percorriam as árvores e as nuvens no céu.

— Já faz um bom tempo desde que pisei neste continente... — murmurou o homem, sua voz carregada de mistério e amargura. — Mas agora, chegou a hora de mover as primeiras peças e garantir a ascensão do rei.

Ele esticou os braços, como se quisesse abraçar o próprio destino, e fechou os olhos. Uma brisa suave acariciou seu rosto, como se o mundo também estivesse ciente da magnitude do momento.

— Amigos — sua voz ecoou pelo penhasco — chegou o momento de alcançarmos o nosso sonho, de ascendermos ao Céu Exterior! — O entusiasmo e a determinação vibravam em suas palavras, reverberando entre as árvores e as rochas. — Nossos inimigos não nos deterão. O mundo se curvará diante da vontade do rei.

 



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