Lorde sem Olhos Brasileira

Autor(a): Sr. V


Volume 1

Capítulo XV: "Pesadelo"

— Levante seu Grostatt! 

Aqueles lindos olhos se abriram, estavam confusos em meio a escuridão. Um orbe brilhante passou por ele de repente, em seguida vários outros que começavam a iluminar o local.

Ele agora podia ver as ruínas que o cercava, o chão em que pisava aos poucos se tornava água, seu nível parecia subir aos poucos, cobrindo seus pés e mãos, obrigando-o a levantar:

“Onde estou? Eu–” 

Um barulho repentino o fez virar, enquanto seus olhos maravilharam-se com o que viu: duas enormes estátuas, cobertas por um musgo vermelho e avariadas pelo tempo, mesmo assim continuavam ali imponentes e duradouras. 

Uma retratava um homem ajoelhado, ele parecia rogar pedindo clemência com seu semblante abatido. Estátua feita de porcelana ou algo similar, parecia frágil, embora houvesse apenas algumas avarias e arranhões.

— O que é tudo isso…?

A outra estátua mais acima, representava uma mulher com longas vestimentas, havia ouro derretido cobrindo seu rosto, estátua feita de prata. Ela estava de pé, com sua mão direita apontando para o céu e sua mão esquerda apontando para o inferno.

Estava suspensa na entrada de uma caverna, dando passagem a um enorme portão vermelho e cheio de arranhões e marcas. Nele, vários símbolos em um negro profano pareciam se mover como sombras, juntos de talismans de proteção que balançavam ao vento.

— Hã?

Seu corpo arrepiou com um frio que passou em seu pescoço, enquanto uma sensação ruim o tomava. Virando-se para trás, encarou a escuridão adiante, não podendo ver muito, mas o suficiente para notar o movimento na água. 

— Tem alguém… aí?

Em resposta escutou o som das borbulhas, quase como um grito de afogamento, sendo sufocado pela água e pelo escuro. Tentando ver mais adiante forçou um pouco mais seus olhos, enquanto uma barbatana passou em meio a escuridão, afundando novamente na água.

“Merda o que foi isso?” pensou ele enquanto recuava para trás, vendo novamente a sombra na água, que agora vinha em sua direção. 

“O quê é isso?!” Pânico, tentou correr mas algo prendeu seus pés no lugar, ele paralisou ali, podia apenas esperar agora, enquanto a sombra o alcançava. 

“Vamos! Se mexe. Se mexe!!” Quando viu, já era tarde demais, estava agora ele cara a cara com a sombra. A sombra era enorme, o que tirou o fôlego de Aku, ele suava frio enquanto encarava totalmente imovel a figura a sua frente. 

Algumas borbulhas fugiram da água enquanto uma voz monstruosa falou: 

— Diga… Diga meu nome, criança humana!

Seis olhos se abriram, enquanto a criatura emergia da água. Aku com o susto tropeça, caindo ao chão, molhando suas roupas e percebendo enfim a coloração vibrante do vermelho.

Encarou ele suas mãos sujas de sangue, enquanto seus olhos arregalaram e, olhando para trás, se deparou com os olhos verdes, azuis e vermelhos que encaravam seu íntimo. A criatura era imensa, começando a ganhar ainda mais forma, aqueles olhos brilhantes pareciam julgar e condenar Aku.

— Nisdrit… Nosdrands, Nostratos… Namia, Irisma, Morgana…!

Aku estava imovel encarando a criatura que aos poucos surgia, sem entender tais palavras e antes que pudesse vê-la por completo, três enormes bocas medonhas se abriram lançando-se contra ele. 

— AAAAAHHHHHHH!!!

***

Um grito escapou de sua boca enquanto ele acordava apavorado. Apertando sua mão contra seu peito enquanto tentava recuperar o fôlego, sentia seu coração querer sair de seu peito.

— Uff… Argh… 

Se encolhendo na cama, senti ele o lençol em suas mãos, notando enfim, que tudo foi apenas um pesadelo. Suspirou ele em alívio, agora tentando se acalmar, embora as lembranças ainda estivessem vividas em sua mente. 

“O que foi tudo aquilo? Um mal presságio? Foi tão real… Mas foi apenas um sonho!” 

Respirando fundo, tentando recuperar enfim notou os arredores, parecia estar em uma tenda. Seu braço esquerdo tinha alguns galhos amarrados com uma faixa de pano, no susto tentou mexer seu braço que doeu muito.

—Argh! — Segurou seu braço com dor.

“Droga… Então quebrou mesmo, ein?” 

Olhando seu corpo percebeu que sua cintura também estava enfeixada, junto de seu peitoral e uma de suas pernas. Uma dor repentina o fez colocar a mão na cabeça, a qual também estava enfaixada.

— Parece que minha situação é pior do que pensei. Mas… Onde estou? E quem cuidou de mim?

Sentiu ainda mais dor enquanto levantava da cama,  continuou olhando ao redor dando seus primeiros passos com um pouco de dificuldade. “Que lugar estranho!” pensou enquanto olhava os arredores, parecia estar em uma tenda.

Uma mobília simples, alguns caixotes de madeira com frutas e baús. Sem contar uma mesa com algumas cartas e um vestido vermelho florido, também havia uma prateleira cheia de ervas e potes de vidros com insetos ou partes de animais.

Ele estava um pouco apreensivo, embora, avistou sua capa pendurada em um cabideiro junto de algumas cartolas. Estava tudo calmo, quando enfim podia escutar o som de instrumentos um pouco distantes dali.

Seguia ele à saída da tenda, enquanto era guiado pelas risadas, cantoria e muito barulho festivo. O som ficava mais animado e alto à medida que ele se aproximava da entrada da tenda.

“Uma festa?” 

Correndo sua mão nas cortinas, avistou enfim o lado de fora. Haviam algumas crianças, mulheres, homens e idosos que riam e comemoravam com boa música e bebida. Todos compartilhando do mesmo detalhe, orelhas de animais e caldas, para surpresa de Aku todos ali eram meio-humanos ou monstros.

Viu ele homens lagartos, anões, hobbits, orcs e alguns do povo fera. Não se vendo um único humano além de um dos bardos que tocava um alaúde e cantarolava bem contente e animado em meio a todos aqueles diferentes dele. 

Com seu cabelo ruivo e olhos verdes, possuindo boa afeição e roupas bonitas, encantava a todos com sua cantoria:

— Essa próxima música é em homenagem ao meu primeiro capitão, e minha capitã dona do meu coração e musa do meu viver… O mar!! Chamo essa de: “Alcoólico Estopim!”

 “Hum… Hum… Hum… Levante sua caneca e beba até cair, o último de pé é sempre o último a sair. Esse é um destino que irei seguir, não somos covardes, então beba até cair! 

Avante, avante disse o beberrão! Avante, avante diz o capitão!  

 Siga em frente sem desanimar, ao fim dessa luta, iremos brindar. 

Meu capitão é um bom homem  sim senhor, foi ele que trouxe o meu grande amor! Dois quilos de pólvora e um barril de rum, que dia feliz.

Rum, rum, rum! Meu grande amor! Rum, rum, rum! Bebo com louvor!

Meu casamento foi em alto mar, pois é na água que devo estar. Minha capitã é exemplar, me embebedou e me jogou no mar.

Mar, mar, mar! Quase me afoguei! Mar, mar, mar! Me apaixonei!

Mar, mar, mar! Quase me afoguei! Mar, mar, mar! Me apaixonei!

Minha lua de mel vai ser em alto mar, pois o som das ondas combinam com o luar. Agora imagina o meu grande amor, vestida de noiva e com um buquê de flor.

Então repito sem esmorecer, beba e beba até deus saber.

Beba, beba até cair! Beba e beba estamos aqui! 

Beba, beba até cair! Beba e beba estamos aqui!

Então repito com muito amor…

Avante, avante, avante sem esmorecer! Avante, avante eu bebo por você!

Avante, avante disse o beberrão! Avante, avante um brinde ao capitão!  

Tal donzela era como o mel, doce mas amarga como fel. Então um brinde a esse amor, que vai durar com muito fervor.

Levantem suas canecas e bebam até cair, o último de pé sempre o último a partir…!”

Parecia uma cena de um livro, uma festa com bebida, música boa e comida. Aquela atmosfera deixava Aku encantado, seus olhos brilhavam enquanto andava em meio aquelas pessoas estranhas mas muito animadas.

Algumas moças dançavam em uma roda, outras pessoas jogavam pétalas de rosas para cima, era uma enorme folia. Toda aquela animação, toda aquela comemoração depois de tudo o que haviam passado, era como se não tivessem presenciado o inferno dias atrás.

Aku sorriu feliz, sendo tomado por um sentimento gostoso de calma, aquela atmosfera o fazia bem, embora a alegria tende a durar pouco nesse mundo. 

“Parecem boas pessoas… Talvez eu devesse me juntar a eles? Está tão animado aqui!”

De repente uma mulher na multidão avistou ele, percebendo que se tratava de um humano gritou enquanto sua caneca com bebida caiu:

— Ahhhhh!!! Um humano invadiu o acampamento. Salvem suas vidas! Salvem-se quem puder!!

E de repente a música se tornou gritaria, correria e pânico. Alguns esbarraram nele enquanto corriam para longe, fazendo-o cair ao chão enquanto segurava seu braço quebrado o protegendo.

“Merda… O que eu fiz?!”

Quando enfim abriu seus olhos para se levantar, se viu cercado por um grupo de meios-humanos que apontaram suas armas para ele. Que por vez levantou as mãos, enquanto uma mulher o apontava sua espada diretamente em seu pescoço, se aproximando mais dele: 

— Levante sem fazer nenhum movimento brusco. Sem nenhuma gracinha, ou eu corto sua garganta sem pensar duas vezes!

Aku a encarou, uma moça meia-humana com olhos laranjas e pele rosada, um corpo definido, cabelo longo e espalhado como uma juba, nas cores brancas com listras pretas. Também possuía orelhas de tigre e uma cauda que na ponta era felpuda, estava com roupas simples e uma armadura de couro bem justa cobrindo seu busto avantajado.

Ela também estava com algumas faixas ao redor de seus punhos e braços, usando botas de ferro e sua espada prateada refletia com o brilho do sol. Aku não podia evitar de encará-la, ela era linda demais para ele evitar de olhar, ela por vez o retribuiu cuspindo em sua cara. 

— Seu porco nojento!

Aku agora a encarava com raiva, limpando seu rosto com suas mãos. Alguns outros chegaram para ver o que estava acontecendo.

“Merda, o que está acontecendo aqui? Eu fiz alguma coisa de errado?”

De repente uma garota meia-humana correu até eles, entrando na frente de Aku enquanto rosnava para os outros. Ela parecia o proteger, foi então que disse:

— Não machuquem ele! Ele não fez nada.

— Como? — Perguntou a moça confusa.

— Ele não invadiu o acampamento nem nada assim!! Eu que o trouxe comigo.

— Você trouxe um inimigo?! Como ousa?! Está traindo sua própria raça?! — Gritou um homem lagarto.

— Ele salvou minha vida! Não só a minha mas de muita gente no ataque. E também… Olha, não conseguem ver?! Ele é pode ser o “Espírito lobo!”

— Heresia!! Sua herege. Como pode comparar o grande espírito da floresta com um humano estupido?! Quer tanto assim ser castigada pela mãe natureza?! — O homem lagarto sacou sua espada.

— Calma Plonk… Ela deve ter seus motivos. Não vamos fazer coisas precipitadas! — disse a moça baixando sua espada.

“Quem é essa garota? O que está acontecendo? Foi ela que cuidou de mim?” 

Aku estava pensativo, mas percebeu que aquele não era momento para se perder em pensamentos.

— Ele não é um monstro! Ele não fez nada… acreditem em mim… Por favor. — Encarou ela a moça.

— Ele ainda não fez nada, isso é fato. Mas pode fazer, por isso devemos eliminar os riscos! Agora, saia da frente Rubi!

Disse o homem lagarto enquanto dava seus primeiros passos em direção deles, já se preparando com sua espada. Aku recuou juntamente da garota, mas estavam cercados, foi quando um meio-humano apareceu.

Ele tinha orelhas de lobo, olhos azuis sendo um de seus olhos cego, possuindo uma cicatriz, ele não possuía cauda. Ele parecia muito irritado, segurava em suas mãos a capa de lobos.

— Olha o que eu achei nas coisas dele! Esse lixo imundo… Deplorável, verme deplorável! — disse jogando a capa no chão. — Um lixo como você deve morrer!!

Todos se espantaram com aquelas vestes imundas, agora era ainda mais claro, que esse humano era um verme asqueroso e deplorável.

— Está vendo Rubi?! Os humanos são todos monstros asquerosos! Eles tiram da natureza e matam as pobres criaturas sem ter um pingo de respeito pela vida. Pobres animais… Prometo que após matar esse monstro e vingar essas pobres criaturas, irei eu mesma providenciar um enterro decente para elas.  — disse a mulher encarando Aku — O que está olhando seu Snorke?

Novamente cuspiu nele, embora desta vez Rubi entrou na frente, assim o protegendo mas sendo acertada no rosto, limpando seu olho gritou:

— Não, ele não é um monstro!! Graças a ele não perdemos mais pessoas no ataque. E como eu disse antes: “foi ele que nos ajudou!” Ele ajudou todo mundo, até mesmo a mim e a Judy!

— Até parece que esse covarde é um herói… — disse o homem lagarto.

— Estou dizendo, ele é diferente dos outros! Se não fosse por ele eu… e Judy… a gente… Nós não estaríamos aqui!!!

Todos ficaram em silêncio, embora a moça de cabelos brancos o encarasse ainda com nojo, parecia chateada. Tudo ia de mal a pior, quando escutaram o soar de berrantes distantes dali onde estavam.

— Hehehe… É o seu fim humano! — disse o homem lagarto.

Continua...



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