Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1

Capítulo 24: Interlúdio 1 – A história de Indiah (3)

Indiah grita novamente. Ela acorda para mais um dia.

Naquela semana a jovem desceu pouco para o solo, passava a maior parte do tempo dormindo e se recuperando dos ferimentos. Tinha um pouco de comida e água na sua caverna e isso por enquanto bastava.

A caverna não era muito profunda, sua entrada era pequena e discreta. Ela mesma havia colocada mais algumas pedras na frente para encobrir a visão de quem quer que fosse. Evitava também acender o fogo.

Ficava deitada no escuro, lá no fundo, com uma mão sobre o ferimento no peito que ainda doía muito e a outra sobre uma lança de madeira que deixava sempre ao seu lado.

As vezes uma ave ou outra pousava na entrada na caverna. Curiosas elas esticavam o pescoço para dentro do buraco, porem nada enxergavam. Exceto por dois olhos hostis que reluziam, isso era o suficiente para afugentá-las.

Os dias passaram ela foi melhorando, lentamente a garota sentia-se mais dispostas e logo estaria apta a retornar a sua rotina diária. Além da fome e da sede, ela possuía outro bom motivo para descer. Precisava fabricar mais flechas.

Permanecer alguns dias enclausurada em sua caverna a fez com que se sentisse mais acuada do que antes. Quando finalmente desceu passou a andar na mata com a atenção redobrada, qualquer ruído era motivo para ficar em alerta e o brilho do sol, ainda que fraco, incomodava muito a sua vista.

Indiah escolheu alguns gravetos na mata e planejava transformá-los em flechas. Contudo ela precisava das pontas de pedra. Eram muito trabalhosas de serem produzidas, mas eram de grande eficiência. Por isso ela resolveu ir atrás do cervo e do tigre, ao menos do que restara deles.

Tamanha foi a surpresa de Indiah ao descobrir que nenhuma das carcaças se encontravam em seu esconderijo. Nem mesmo a ossada, nem as flechas quebradas, muito menos as setas de pedra. Tanto trabalho para nada. Analisando a mata ela via, com muita dificuldade, um leve rastro de sangue e de vegetação caída. Ela olhou para os lados, socou uma arvore e gritou:

— Que droga! Algum bando de carniceiros os levou daqui e ainda por cima acabaram levando as minhas setas! Espero que não tenham ido longe!

E a jovem se encheu de motivação, e tratou de iniciar a sua busca munida apenas de uma lança de madeira e um pequeno arco sem flechas.

Demorou mais do que julgava, ela andou algumas horas pela mata, talvez duas ou três, não importava, ela teria todo o tempo que fosse necessário. Adentrando pela floresta ela cruzou por locais até então desconhecidos. Território não demarcado a preocupava mais do que qualquer outra coisa. Pela primeira vez depois de muito tempo ela temia por estar tão longe de casa, da sua caverna fria e escura.

Nas últimas horas de caminhada perguntava-se a todo instante se já não teria valido a pena fabricar novas pontas. Praticamente não via mais pista alguma a seguir, apenas por um simples impulso continuava andando adiante.

Estava entardecendo, Indiah havia andado mais do que deveria e foi em meio aos lamentos que a jovem por fim encontrou um barranco. Do alto, apenas alguns metros do solo, ela avistou uma carcaça em decomposição.

O cervo era mais osso do que carne. Estava quase que completamente devorado. Alguns ossos permitiam que fosse identificado o resto do animal que ali se encontrava. Além destes, havia uma flecha com a ponta de pedra no meio da ossada.

Havia apenas uma flecha. Era sem sombra dúvidas o cervo abatido.

Indiah saltou o barranco com sua habilidade natural. Foi direto ao chão, suas pernas enfraquecidas quase não deram conta do recado.

Ainda cambaleando a jovem deu uma rápida visualizada ao redor. Não havia sinal de outras feras por perto. Nem predador, nem carniceiro. A jovem então pegou a flecha no meio da ossada.

— E agora? Aonde está aquele maldito tigre?

Quando se deu conta, sentiu que estava sendo observada da parte de baixo do barranco.

Primeiro veio um rugido. Depois mais outro.  A fera debilitada saía aos poucos de sua toca. Era um monstro deformado. O tigre cego de um olho, cambaleando e salivando caminhava em sua direção com ódio. Aquele maldito cheiro impregnado de medo que farejara na semana anterior jamais seria esquecido pela criatura.

— Não pode ser! — Aos tropeços Indiah correu, seu medo era imenso. Não era possível que aquela criatura ainda estivesse viva.  O medo tomou conta e fugir era sua melhor opção.

Só se deu por satisfeita quando atravessou rio. Era estreito, mas relativamente fundo. Ao termino da travessia, ela debruçada numa pedra, olhou para trás enquanto recuperava o fôlego. Nenhum sinal da besta.

Indiah olhou então para frente e viu um enorme descampado¹ . Era os limites da floresta.

Estava anoitecendo e ela estava longe de seu refúgio, no meio do caminho agora havia uma fera assustadora.

Foi uma noite longa e difícil, com frio, caminhado ao relento junto às margens do rio, a jovem avistou algo que lhe paralisou.

Depois de tanto tempo ela avistou o brilho de uma fogueira.

Desde de que sua tribo foi dizimada ela não via um único ser humano.

Agora ela teria que decidir. Avançar ou recuar.


Nota:

1 – Descampado: desprovido de vegetação/árvores.



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