Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 39: O jardim das estátuas

Nevava gentilmente na capital do reino. Era cedo e os esparsos flocos de neve caiam suavemente sobre a cabeça de Rafael, que sentado no banco central do jardim não se incomodava.

Tal como as setenta e oito estátuas em tamanho real feitas de pedras que espalhadas pelos diversos corredores compunham o jardim, o jovem príncipe mantinha-se estático e indiferente. Tanto que não se deu conta da aproximação de sua meia-irmã, nem mesmo quando ela sentou ao seu lado. Ela riu da situação e experimentou ver por quanto tempo ela permaneceria ali sem ser notada. Levou alguns minutos quando ele entediado virou-se e surpreso quase pulou de susto.

— Oi — disse Karine o encarando de perto e acenando com a mão.

— O que você faz aqui? — perguntou Rafael surpreso.

— Eu é que te pergunto! — respondeu rindo.

— Faz tempo que você está aqui?

— Nossa você estava distraído mesmo!

— É verdade.

— E então, o que faz aqui? Já percebeu que está nevando?

— Percebi sim — respondeu sorrindo. — É que eu gosto deste lugar, me faz pensar no passado. E você?

— Fiquei curiosa e vim dar uma espiadinha. No que estava recordando?

— Sabia que cada grande homem na história de Polaris possui uma representação?

— E quem não sabe? Vai me dizer que veio procurar um lugar para deixar a sua estátua?

— Para isso eu tenho que fazer algo merecedor primeiro, algo digno.

— E você quer isso, não quer?

— Sim, mas não é como uma obrigação ou uma ação premeditada, eu espero naturalmente ser merecedor desta honra.

— Ora, os que estão aqui representados não precisam fingir modéstia. Não é melhor ser mais prático?

— Imagine que você está num baile minha irmã. Mas não qualquer baile, é o seu aniversário. Você irradia alegria neste dia, está magnificamente bela e usa o vestido mais lindo da festa. Metade das garotas te admiram sinceramente e a outra metade morre de inveja.

— A proporção nem sempre é a mesma.

— Que seja. Tudo está indo perfeitamente bem e então em meio a uma roda de garotas você avista o homem mais belo do recinto. Você não o conhece, mas no exato momento em que coloca os olhos nele, você deseja intensamente que ele segure as suas mãos enquanto vocês percorrem todo o salão numa envolvente dança acompanhada por uma linda melodia.

— Não poderia dizer apenas que eu queria dançar com ele?

— Não me interrompa. Me diga como você faria para tornar isso realidade? O convida para dançar, demonstraria sua intenção deliberadamente?

— Claro que não. Uma mulher sabe fazer ser percebida.

— Você quer dançar com ele, mas para que isso aconteça ele precisa te convidar, mas quem deseja isso é você.

— Como sabe que ele também não quer? — questionou jovem.

— A hipótese é minha. A festa é minha.

— Acha que não pode oferecer algo de grandioso sem que antes o reino peça?

— Eu poderia tentar, mas sinto que não teria o mesmo efeito.

— Como não? Há várias coisas que poderiam ser feitas em benefício do reino.

— Por exemplo?

— Ah não sei, mas tenho certeza que se você pensar, logo vai encontrar a reposta.

— Eu ainda acho que não teria o mesmo efeito.

— Você é meio complicado, sabia? Acho que entendi aonde você quer chegar, mas eu discordo de você irmãozinho. Bem eu vou entrar. Ah!  Antes que eu me esqueça o nosso pai deseja falar com você. — Karine levantou, deu alguns passos e virou-se para o irmão e ainda disse: — Ah! E só mais coisinha, eu quero deixar claro que o tal homem, ele só não me deseja porque ainda não me conhece.

E assim ela partiu deixando o jovem com um ar de admiração.



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