Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 9: Fuga

A duas seguiram andando rapidamente. Elas nada disseram durante a breve caminhada, Lana em momento algum soltou o braço de Aline, que a seguia dando pequenos saltos para compensar diferença de passada entre elas. Até que finalmente se depararam com a paliçada.

— É este o ponto? — perguntou Lana.

— É sim, eu acho.

— Bem, é alto mesmo! — respondeu Lana com uma careta.

— Eu te disse desde o começo que era alto!

— Eu sei, eu sei! — disse Lana virando as costas para a amiga e se curvando.

— O que está fazendo?

— Vamos! Monte nas minhas costas. Não temos tempo a perder, o ideal era que fosse feito a noite, mas não podemos esperar.

— Você vai me carregar? — perguntou Aline incrédula com a proposta.

— Anda logo!

— Eu não acredito que é este o seu plano de fuga!

— Quer tentar escalar isso sozinha? Para mim é mais fácil! Melhor, explique para aqueles soldados que estão vindo em nossa direção o que exatamente você está fazendo aqui comigo!

— Que soldados? Onde? — perguntou Aline de susto prendendo-se rapidamente nas costas de Lana sem se dar conta de que não havia nenhum guarda por perto.

— Tudo bem! Agora é a parte mais difícil — disse Lana tomando fôlego e cravando a primeira lâmina na madeira.

Foi uma escalada longa que avançava lentamente, mas depois de um tempo era possível ver o progresso ao olhar para baixo.

— Não quer cravar primeiro os buracos e depois subimos? — perguntou Aline.

— Agora que estamos na metade do caminho que você me dá essa ideia? — respondeu Lana com muita dificuldade.

A jovem loira tentava permanecer o mais imóvel que podia. Sentia o corpo trêmulo e o suor que escorria de sua amiga.

Finalmente chegaram próximas ao topo.

— Aline, você consegue se pendurar na madeira? Suba que eu não vou aguentar por muito tempo.

— Espere. Eu vou tentar! — Aline escalou por cima de Lana com um pouco de dificuldade e finalmente alcançou o topo da paliçada. Neste instante a menina ficou pálida ao ver um pequeno grupo de soldados se aproximando.

— Lana! Venha logo que eles estão chegando!

A ruiva virou o rosto e localizou o homem com um sabre nas mãos correndo adiantado em relação aos demais. De súbito ela empurrou Aline para o outro lado, que desprevenida gritou desesperadamente até que caiu em cima de um denso arbusto.

Com os braços e pernas arranhados a menina se esforçou para se levantar em vão, o mundo girava a sua volta. Uma forte dor percorreu seu corpo, os olhos ficaram vermelhos e marejados. Ela deu um gemido e teve vontade de chorar. Contudo antes de qualquer reação ela escutou o som das facas deslizando pela madeira.

Lana descera tudo que havia escalado, usava as facas para suavizar a queda e os pés descalços contra a madeira para manter o equilíbrio. Assim que chegou ao solo gritou:

— Aline! Eu quero que você siga beirando o muro na direção do portão de entrada. Lá você deve criar uma distração para que abram o portão. Você acha que consegue?

Ainda sem entender a situação, a menina choramingando e ainda deitada no solo apenas apoiada pelos braços respondeu:

— O que aconteceu? Por que você não pulou para este lado?

— Apenas faça isso! Por favor!

— Está bem! — respondeu Aline tentando se levantar.

Neste momento Lana virou em direção ao homem que se aproximava. Seus olhos se transformaram em chamas. Consumida pela raiva a jovem segurou a faca com firmeza e apontou em direção ao homem.

O soldado veio correndo levantado o sabre acima da cabeça, pronto para golpeá-la.

Lana pacientemente apenas o esperava chegar mais perto.

O homem passou, o sabre cortou o ar em arco, mas nada acertou além do vento. A jovem se esquivara agachando-se ao lado passando rente ao corte da espada e com a lâmina da faca perfurara o estomago do seu oponente. Por um breve instante a jovem encarou o homem que começara a verter sangue pela boca enquanto a faca terminava de girar em suas entranhas.

A ruiva empurrou o corpo sem vida e correu em direção ao portão de entrada. Ouvindo os passos vagarosos da amiga um pouco a sua frente do outro lado do muro, ela gritou:

— Anda logo Aline que eles estão chegando!

— Não sei se você se lembra, mas você me jogou de trinta metros de altura contra o chão sem ao menos me avisar! Como é que você quer que eu ande rápido?

— Desculpe, eu prometo que não faço mais isso, mas não exagere não foi tão alto assim! Eu prometo que da próxima vez eu deixo você me empurrar!

— Me lembre de nunca mais, mas nunca mais mesmo escalar um muro junto com você!

— Olhe o portão está logo à frente! Atraia a atenção dos guardas!

— Por que não escala novamente? Agora não fica mais fácil? — perguntou Aline sem entender a razão da mudança de planos.

— Sem chance.

Aline avançou alguns metros à frente mancando, e desajeitadamente pulou na frente do portão gritando como se fosse uma louca. O plano era claro, atrair a atenção dos guardas para que abrissem o portão, e então Lana passaria por ele e salvaria sua amiga. Havia três guardas no portão. Dois no chão, sendo um responsável por levantar e baixar o portão de madeira, outro que ficava ao seu lado e mais um que observava do alto de uma torre de sentinela.

Assim que avistou a menina pulando do outro lado o soldado deu a ordem para que seu companheiro levantasse o portão, mas o que elas não contavam era o fato de que o guarda que ficava na torre portava um arco e ele logo mirou uma flecha em Aline.

— Flecha! Ele tem um arco e flecha! — disse aos gritos, enquanto o outro aguardava de sabre em punho o portão ser erguido.

A flecha foi disparada, Aline apavorada pelo medo deu três passos para trás e caiu sentada no chão. A seta não lhe atingiu, perfurou o chão entre as pernas da menina, fazendo um furo no seu vestido.

Para a sorte da pequena loira, Lana havia escalado e empurrado o homem de cima da torre, mas não antes que ele tivesse efetuado o disparo, o empurrão foi o suficiente para comprometer a trajetória da flecha.

O portão estava quase aberto, Aline ainda estava caída no solo e congelada pelo medo.

— Só mais um pouco! — disse Lana apontando o punhal em direção ao guarda que suspendia o portão.

Ele girava com força a alavanca que recolhia a corda e assim suspendia o enorme e pesado portão de madeira. Quando completamente suspenso o outro soldado deu um passo em direção de Aline. Imediatamente Lana gritou:

— Ei, vocês! Eu estou aqui! — E o punhal voou em direção ao guarda que havia erguido o portão.

Os dois soldados olharam assustados. Ferido no braço o homem soltou a alavanca que passou a girar rapidamente em sentido contrário, já o segundo guarda foi jogado ao solo imediatamente pelo peso do portão que caiu em cima dele.

Lana desceu rapidamente e encarou o último soldado, aquele que fora ferido no braço.

— Você! Era para que estivesse na solitária! — berrou perplexo o guarda ao reconhecer a jovem.

Lana abaixou e tomou o punhal do guarda inconsciente que fora empurrado da torre. Os dois então tomaram postura de luta. Ao fundo dava para ouvir as tropas se aproximando.

Por menos de um minuto se encararam, mas se não moviam. Quando o guarda então resolveu esboçar alguma iniciativa, foi possível apenas escutar um breve zunido. Ele baixou a cabeça, e para o seu espanto viu o punhal cravado em seu peito. Ele sequer notou quando a arma foi arremessada. O homem caiu sem vida.

Lana se apressou, e passou rapidamente por baixo do portão, o corpo do outro soldado garantia uma fresta com espaço suficiente para que escapasse sem demais dificuldades.

Aline ainda estava sentada no chão, completamente paralisada com tudo que aconteceu.

A ruiva parou em sua frente e estendeu o braço, olhou para o seu rosto e disse:

— Muito prazer! Eu sou Lana, agora temos que ir!

A pequena apenas deu o braço, levantou-se e seguiu pela mata junto com a amiga em silêncio. Começava a ficar claro para Aline porque Lana estava presa na solitária.

E apesar das muitas dúvidas que isso trazia, um sentimento muito maior tomava conta de si. Maior do que a dor, mais forte que o medo, e mais presente do que as incertezas. A sensação da liberdade conquistada.

Com um preço muito alto a ser pago, ela comprou a liberdade em estado bruto. Sem garantias, sem um refúgio para ir, como uma estrada a ser construída, e ainda sem destino traçado. Ela tinha um estranho sabor amargo.

E cada uma, em seu íntimo jurou que jamais retornariam para o Campo de Contenção Vinte e Nove ou para qualquer outro que fosse. Estavam mentalmente exauridas e fisicamente machucadas, mas finalmente estavam livres.



Comentários