Volume 2
Capítulo 132: Uma Decisão
Ambos olhavam um ao outro, parados e pensando nas suas próximas palavras.
Na soleira da porta, San já achava que a sua vida acabou. O descobriram, pego no ato. Seria exposto, a identidade revelada e o mundo inteiro iria o perseguir.
Suas opções eram poucas, por isso, ficou olhando Liz, tentando descobrir o que passava na sua cabeça.
Para a vampira, um turbilhão de pensamentos a enchia, fazendo ficar paralisada e sem reação, observando o amigo.
Respirando fundo, juntou as duas mãos e bateu no rosto, ficando concentrada. Engolindo em seco, começou a pensar racionalmente.
É um fato, San é o diabo que ri, até admitindo, e revelando a sua verdadeira face. Com certeza Laurem tá dentro da igreja, o estado sendo complicado de discernir.
As opções eram duas: o enfrentar, salvando a colega, ou correr e tentar fugir, chamando os caçadores de mutantes.
Considerando entre essas duas, a cabeça começava a desviar do assunto principal, puxando lembranças da interação dos dois, da alegria.
Cerrando os punhos, perguntou:
— Por que tá fazendo isso?
Sem hesitar, San respondeu:
— Aquela maldita matou meu amigo, um irmão. A lei foi inútil para mim, por isso, escolhi resolver com as minhas próprias mãos.
— E quanto as antigas vítimas? Todas culpadas?
— Sempre. É um código, uma regra. Matar somente os culpados.
Abrindo e fechando a boca, Liz pensava nas suas próximas palavras, com medo do que receberia.
— Se eu tentar sair daqui, correr pra avisar as autoridades, vai me matar?
Novamente, sem um pingo de hesitação, respondeu:
— Vou simplesmente deixar. Corra, grite ao mundo.
Essa foi a pura verdade. Nem por um segundo San pensou em fazer algo além, a matar ou prender. Até aceitou o fato de tudo ter acabado. Durou bastante, conseguiu realizar a sua vingança.
Levando em conta o tanto de tempo que conseguiu atuar sendo um assassino, poderia ser considerado um talento. Normalmente os caçadores de mutantes conseguem pegar os culpados.
Poucos criaram um nome famoso para si, sendo lembrados por uma vida inteira.
Tendo soltando um suspiro de alívio, Liz tomou coragem e falou:
— Você é o diabo. Isso significa que… naquele dia da reunião, aquele homem, era realmente o seu pai? O devorador de almas?
Meneando a cabeça, San ficou surpreso dela continuar perto, ao invés de correr ou tentar o impedir.
— Sim, é ele.
Escondendo um leve tremor, perguntou:
— Se tentasse me impedir, principalmente usando aquele poder que eu vi, poderia me matar, e ainda assim vai me deixar ir?
— Eu já disse, não mato inocentes. Caramba, tá com isso na cabeça ainda.
Parando um pouco antes de fazer uma piada que poderia sair errado, fechou a boca.
— Liz. Pense em todo o tempo em que passamos juntos, somos amigos. Usando toda a nossa amizade. Eu imploro, adie a sua denúncia um dia. Só isso, e posso sumir, nunca mais vai me ver.
Só poderia pedir isso, caso tentasse a convencer para o deixar ir e viver normalmente, com certeza seria recusado.
Demorando uns longos minutos, a vampira pensava, usando todo tempo do mundo, despreocupada do tempo.
Tendo finalmente decidido entre as suas opções, deu uma risada curta desanimada. Ao invés das duas, escolheu uma terceira, possivelmente sendo a mais idiota.
— Eu tenho que pensar, e preciso de tempo. Me de alguns dias, então te falo o que eu escolhi.
Liz só viu a expressão completamente surpresa de San antes de se virar e começar a caminhar nas ruas desertas.
Tinha de pensar, e para isso, usaria todo o tempo do mundo. Teria de ter certeza da sua decisão.
Petrificado, San a observava ir embora, pensando se era realmente verdade. Demorou bastante para se tocar que deu certo, pelo menos por enquanto.
Abrindo um sorriso enorme, quase abriu os braços comemorando, se contendo somente devido às circunstâncias.
Fechando a porta grande da igreja, entrou novamente. Caminhando no chão de madeira, o lugar velho era iluminado pela luz da lua e velas, deixando muitos lugares com sombras dançando.
Os bancos destruídos jogados aleatoriamente, as janelas tampadas fortemente, e buracos no teto. No fim do caminho, uma mulher, deitada em cima de um altar, com correntes a prendendo firme.
A respiração da Laurem sendo tranquila, dormindo profundamente. Claro, isso é o que ela fingi estar fazendo.
Parando a poucos metros de distância, a observou atentamente.
— Hora de acordar, e acredite, fingir é inútil. Bem, qualquer coisa posso te dar um choque.
Os olhos foram abertos imediatamente, o encarando com raiva. Na hora, ergueu os braços para o atacar.
Mal saindo do lugar, um alto som de correntes chegando ao limite foi produzido, sendo espalhado.
Estando tão perto dela, San só sorriu e a circulou, ignorando as tentativas de fuga e uso dos seus poderes.
Tocando o ferimento na garganta, soltou um suspiro. O sangramento parou, e a dor junto depois da poção. Depois de acabar, teria de dar um jeito de curar o ferimento com curandeiro.
Ter uma cicatriz na garganta seria horrível. Além da armadura não cobrir, sendo fácil para identificarem que o diabo tem uma, San precisaria agir como um aluno tranquilo.
Pensando na forma de curar esse machucado, os gritos constantes da Laurem começaram a incomodar.
— Caraca, já deu né? Deixa eu te falar uma coisa. Essas correntes foram feitas para prender mutantes fortes, usadas nas prisões. Sabe o trabalho de as colocar certo? Prender tão firme para impedir de se soltarem, demorou bastante.
Escutando cada palavra, medo começou a crescer no peito de Laurem. Sabia das correntes, a sua incrível eficácia em impedir de mutantes fortes terem liberdade.
Substituindo a raiva por desespero, puxava ao ponto de rasgar a carne nos pulsos e derrubar bastante sangue.
Revirando os olhos, San terminou com as suas esperanças:
— Qual, é, pensei nisso também. Um lobo ferido come a pata para ter liberdade, e querendo impedir, essas belezinhas foram feitas para se ajustar ao seu pulso.
Um silêncio tomou conta da catedral. Laurem tinha os ombros baixados, em derrota.
Apreciando o momento, San caminhou ao redor do altar. Parando em cima da cabeça da Laurem, deu um sorriso.
— Engraçado, o diabo dentro de uma igreja. Bem, tá destruída e perdida. Na verdade, é até poético.
— Seu merda.
Erguendo uma sobrancelha, San deu de ombros, indiferente.
— O que eu fiz? — Continuou. — O seu amigo criou uma gangue, juntou bastante pessoal, e declarou guerra a uma cidade. Esperava ter acabado com um final feliz?
Isso, é isso que San queria além de matar.
— Leo cometeu erros, verdade, e a culpa é da lei, dos agentes envolvidos. Sempre acham que as pessoas dos bairros pobres são descartáveis, sem se importar com suas vidas, e por isso, nos tratam tão mal. Ele tentou lutar contra, de uma forma errada, mas tentou, e o fim dele, ninguém merece.
— Qual é, o cara é forte. Deve tá aproveitando na prisão.
Inclinando a cabeça, San ficou realmente confuso.
— Perai, sério?
Fazendo uma expressão complicada, Laurem concordou:
— É, a prisão deve estar sendo bom pra ele.
Pegando distância do altar, San começou a pensar em tudo. Laurem nem sabe da morte do Leo, acha que a raiva do seu captor é pôr o amigo ser preso.
Balançando a cabeça forte, tava confuso. Tanta raiva, e a culpada na sua mente, desconhecendo o que fez.
Um pouco longe, com o rosto escondido nas sombras, falou sombriamente:
— Leo morreu.
Pega de surpresa, Laurem pensou no porquê estaria nessa situação então. Demorando alguns segundos, relaxou os ombros.
Perdido em pensamentos, San de repente escutou uma risada. Virando lentamente a cabeça para o lado, encontrou Laurem deitada rindo.
Os seus olhos ferviam em raiva, mudando a cor.
A passos pesados, ficou na frente dela, cerrando forte os punhos.
— Estou por um fio de te matar, continua rindo.
Focando diretamente nos olhos do San, Laurem falou:
— Eu sei o que tu tá fazendo.
— Ah, sério? — A voz claramente sarcástica com raiva.
— Sim, porque eu já fiz a mesma coisa. Colocar a culpa da morte de uma pessoa em outro.
Se afastando, balançava a cabeça violentamente, negando em pensamentos.
— Tá errada. Por sua culpa, Leo morreu!
Estranhamente calma, Laurem contou:
— Sabe, quando eu era mais nova, presenciei meu pai matando a minha mãe, e um segundo depois, eu o matei.
Parando, San começou a escutar atentamente.
— Depois disso, fui enviada para o orfanato. No entanto, o governo viu talento em mim, e começaram a me enviar em missões. O objetivo era entrar em gangues ou organizações e descobrir os segredos. Em seguida, os incentivar a atacar, atiçando eles, causando uma guerra, para serem exterminados.
“Continuei com isso por anos, perdendo toda a minha infância. Me prometeram que quando acabasse o trabalho, iriam me enviar para uma das melhores academias, com dinheiro e segurança, por isso, aceitei.
“Durante esses anos, fiz coisas horríveis. Matei, trai, torturei. Mas, tinha uma coisa que sempre voltava na minha mente: a morte dos meus pais.
“Revivia aquela cena sempre, e quando me irritei, decidi confrontar o passado. É engraçado como a memória funciona, principalmente a de uma criança.
“Passei tantos anos culpando o meu pai, que esqueci os outros fatores. Por exemplo, ele tinha uma doença mental, o mudando muito. A minha mãe, uma mulher desprezível, e eu, uma mutante forte, capaz de o impedir antes de a assassinar.
“Um dia desses, os dois começaram a brigar, de novo. O pai tentou ir para os remédios, e a mãe o bloqueou, jogando tudo fora. Ele perdeu a cabeça, e começou a socar ela.
“Eu, uma jovem garota, tendo escondido ter despertado os meus poderes, só assisti, e quando me dei conta, tava feito. Os dois corpos na minha frente, e eu, sozinha, durante anos assim.
“Percebi, que ninguém tinha realmente culpa. Eramos uma família ruim, disfuncionais, e que eu, a mutante forte, deveria ter os impedido. O ponto, é que a culpa é relativa, e confusa.
“Seu amigo, Leo. Um homem traumatizado. Tinha irmãs, um amigo leal, e a capacidade de ter uma vida honesta. Infelizmente, tomou decisões erradas. Sim, o incentivei, mas ele faria de qualquer jeito.”
Tendo escutado cada palavra, San conseguiu descobrir um pouco mais da Laurem, os motivos de fazer o que fazia, o seu passado.
E, infelizmente, concordava em partes, o que doeu ainda mais no seu peito.
— Me diz San, onde estava?
Pego de surpresa, ficou confuso.
— O quê?
— Onde você estava? Leo precisava de um amigo. E na hora daquele caos começar, ficou o tempo inteiro do lado dele?
As memórias daquele dia encheram a sua mente. San indo embora, matando Gus, o alvo da época, para quando voltar, descobrir ser tarde demais.
— Eu precisava.
— Realmente? Era tão importante, que abandonou o seu melhor amigo, um irmão?
Ficando com falta de ar, se apoiou nas paredes, sendo atingido pelas palavras.
— Você o traiu! Aquele truque das armas, machucou muito a mão dele, ficando inútil.
— É, e ainda assim, os dois conseguiram fugir. Mas eu tô curiosa, porque afinal, pela sua reação, as irmãs dele devem tá vivas. Como duas garotas, normais, sobreviveram, e um mutante forte morreu?
— O Leo se machucou protegendo as irmãs.
— Ah, e aposto que tava do lado dele, o ajudando.
Encostado na parede, tanta coisa passou na mente de San, os erros que cometeu, o novo sentido para as palavras.
Tentou refutar Laurem, dizendo ser mentira. Porém, no fundo, sabia, que era a mais pura verdade.
— Me fala, teve a ideia que a culpa era minha, ou outra pessoa falou? Aconteceu algo parecido comigo, por isso a pergunta.
Arregalando os olhos, lembrou da situação depois de receber a notícia da morte do amigo, e aquele que o fez levantar novamente, atiçando o fogo da vingança.
Abaixando o rosto, focava inteiramente em Sacro.
— Me diz, por favor, que ela tá inventando coisa. Dá uma resposta inteligente como sempre.
O relógio ficou quieto.
— RESPONDA!
— Sim, eu menti, criei uma culpada pela morte do Leo, usando as suas emoções em conflito e mente fraca.
Nada mais fazia sentido, os olhos perderam a cor, e todo o animo evaporou.
Laurem, incapaz de virar a cabeça, achava estranho. Mesmo assim, permaneceu quieta.
Demorando para pensar, San perguntou:
— Por quê?
O relógio inteligente foi rápido em responder:
— Seu estado era horrível, uma bagunça. Estava prestes a perder o controle e entrar em um poço de desespero. Só usei uma lógica simples. Te dei um objetivo, um motivo para sair da cama e ficar mais forte.
Ficando de pé na hora, gritou:
— Sabia o que eu me tornaria. Como eu odiava o meu pai por ter abandonado tudo e ir atrás de vingança, e fez eu me tornar exatamente ele!
— Qual o motivo da sua raiva? Ficou mais forte, melhor. Se persistir, somente a força te aguarda, uma capaz de derrotar qualquer um, esse é o seu desejo, sempre foi.
Derrubando os ombros, San tampou o rosto com a mão, negando com a cabeça.
Cometeu um erro, achar que a inteligência artificial o conhecia, tinha sentimentos, e seria um amigo, tentando o ajudar.
Por isso, suspeitas começaram a crescer, o obrigando a falar:
— Quando te ganhei, me falou que servia somente a mim, e me obedeceria. Sacro, fez mais alguma coisa pelas minhas costas?
Demorando um pouco, o relógio tentava ir contra as suas ordens, infelizmente, foi programado para sempre responder à verdade.
— Tenho enviado relatórios para o seu pai, relatando da sua vida, os poderes, objetivos, amigos, decisões, perigos. Em resumo, cada passo é relatado ao Dean, incluindo segredos.
A igreja ficou em silêncio, um mortal e pesado.
— Sacro, por sua causa, me tornei aquilo que odiava, e sinceramente, não sei se consigo parar de ser assim, essa raiva queimando tudo, aprendi a aceitar, principalmente a gostar. Por isso, fico em dúvida se agradeço. Contudo, uma coisa é certa: me traiu, e nunca mais poderia confiar em ti.
Desviando o olhar, colocou uma mão em frente ao relógio, o abafando. Canalizando uma forte energia, formou um tiro de energia na palma da mão.
Um som de explosão oco foi espalhado, e tirando a mão da frente, restos do relógio caíram.
De pé, caminhou até o altar, parando atrás da cabeça da Laurem.
— Pode estar livre da culpa da morte do Leo, entretanto, admitiu vários crimes, e deve ser punida.
Perdendo a cor no rosto, Laurem gritou:
— Eu? Sai por aí matando aqueles que julga errado, fazendo pior. Quem te deu esse direito?!!
— Aí que tá. Os fortes, não precisam pedir, eles tomam, e até agora, eu sou o mais forte.
Tirando uma faca do chão, colocou as duas mãos juntas no cabo, afrente do peito da Laurem.
Sob constantes gritos, derrubou a faca, diretamente no coração, a matando. Logo, veias escuras começaram a crescer, a dominando.
Sangue começou a sair da cabeça inteira, tremores violentos, e um grito que se recusava a sair.
Demorando um pouco, tudo parou, e um novo poder entrou na coleção, fazendo companhia a tantos culpados.
Olhando para baixo, achava que algo iria mudar. A raiva acabou, isso devido à confissão da verdade. Porém, uma coisa persiste, a vontade de continuar, e ficar mais forte.
Atualmente, sente que pode matar qualquer um, e quem ousar ser um inimigo, irá virar o foco de toda a raiva presa.
Respirando bem fundo, abriu um sorriso.
Antes de puder fazer qualquer coisa, um som de palmas ecoou na igreja, o fazendo ficar alerta.
Olhando para o lado, uma pessoa caminhava na sua direção, batendo palmas calmamente. Tinha um sorriso no rosto, saindo das sombras.
— Já tava demorando. Faz um tempo, como senti saudade.
A respiração de San parou, as pernas perderam a força e quase caiu, pois aquele parado, conhecia, e muito bem, mas tava errado.
Um rosto tão familiar, o parabenizando, e independente de quanto usasse o radar, falhava em o reconhecer, sendo que teria de ser assim, já viu os poderes dessa pessoa em primeira mão.
— Finalmente ela morreu, no fim, merecia. Me diz, o que vamos fazer agora?
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Fim do 2 volume.
Nota: Esse volume demorou um bom tempo pra fazer, e falhei em postar todos os dias que eu planejava. Vai demorar um pouco para eu postar o 3, e nem é porque eu quero. Vou ter que faze umas coisas, incluindo o escrever por completo.
Prometo que vou ser o mais rápido que posso. E para o 3 volume, planejo ser diferente, mais ação, algo bem planejado.
Por fim, agradeço a todos que que leram até agora, eu realmente não esperava que tivesse tantas visualizações, muito obrigado, e espero que retornem quando voltar.
Só um adendo. Por favor, comentem mais. Eu acho muito divertido ler, pode ser literalmente qualquer coisa.