Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 52: As Vezes só Queremos Dormir e Viver no Mundo dos Sonhos

Olhos famintos encaravam San, a animação claramente sendo vista; o lobo encontrou sua presa, a céu aberto, machucado e sem essência.

Até o hospital era alguns metros; tendo apenas esse objetivo, San correu. O corpo cansado e exausto, implorando descanso, a mente já fraca e quase desmaiando.

Poucos passos, podia ver as pessoas dentro, a desordem e os feridos. Conseguiria, entraria pelas portas e ficaria a salvo; pelo menos era isso que queria, a realidade foi outra.

De repente, da visão de uma porta de vidro, mudou pra metros de distância, subitamente de volta à escuridão da noite. Ainda entendendo, tentou se levantar, só pra ser forçado ao chão.

Virando a cabeça, a pata enorme do lobo sob seu corpo, o amassando, esmagando. Nesse momento, sua mente compreendeu; havia sido arrastado e nem notou, desmaiou e só acordou por conta da dor.

O monstro poderia o matar esmagando, comendo e de vários jeitos. Ao invés disso, escolheu a forma lenta, machucar o causador da caçada tão demorada.

San só aceitou; fugir era impossível, então deixou. Uma hora sendo arremessado contra o chão, em seguida, a pele rasgando e sangue caindo. Inúmeras vezes perdeu a consciência, e acordou só pra ver a face do lobo a centímetros do seu rosto, derrubando baba e soltando um hálito de sangue.

Prestes a perder a consciência novamente, o lobo se cansava, daria um fim, pisando na presa. Mantendo os olhos abertos, viu a pata chegar, esse seria seu fim.

Era isso que imaginava; ao invés, chamas surgiram, formando um tipo de parede, afastando o lobo brevemente. Atravessando a parede de fogo, Garmir pulou, seus olhos mostrando preocupação.

Essa era a oportunidade de San; fugir, sobreviver. No entanto, o corpo atingiu o limite, mover um dedo sendo o máximo.

Era óbvio que aconteceria uma hora; todos têm um limite, e San atingiu o seu há tempos. Lutando contra Gus e tendo uma casa desmoronando em cima, cuidar do amigo e suas irmãs enquanto enfrentava monstros constantemente, e ultrapassar janelas junto às portas, correndo.

Para sua sorte, Garmir era um familiar muito bom; seu elo os fazia sentir as emoções um do outro, e ter uma certa resistência ao fogo.

Aproveitando, o cão do inferno mordeu fortemente a perna de San, ao ponto de cair sangue, e o arrastou no asfalto.

O lobo, vendo sua presa fugindo, rompeu das chamas, soltando gritos. Mas já havia sido decidido, San sobreviveria; o fogo se movia por conta própria, impedindo sempre o monstro.

Finalmente passando o complicado, entrou no domo cobrindo o hospital; a mente de San atingindo um limite, só dormiu, a última visão sendo de um jovem o pegando.

Sonhos, um escape da realidade, capaz de criar mundos completamente novos, às vezes bom, e às vezes ruim. San nem percebia estar sonhando.

Sentando em uma cadeira, comia a comida no prato à sua frente. Na direita, uma mulher jovem, de cabelos ruivos e olhos escuros, ria e falava alegremente. À esquerda, outra mulher, também ruiva, a diferença sendo a idade, sendo anos mais velha e os olhos de um azul forte. E sentando na ponta oposta, à sua frente, Leo, bem e saudável.

No sofá, Emma brincava junto a Garmir com Emile, a divertindo e fazendo rir.

— É bom isso, né? A vida perfeita, irmã, mãe e amigo. — Leo falou.

— Sim, adorei.

— Bom, infelizmente, é cedo para você vir até aqui, falta tempo.

— Como assim? Vou ficar aqui.

— Essa é a mentalidade. Lembre da próxima vez, porque terá uma próxima. Por enquanto, deve viver sua vida de merda no mundo normal, sofrendo.

— Não tô entendendo.

— Nem precisa, só espere, te darei a chance de viver a vida perfeita. Agora, deve acordar, seria horrível perder essa visão.

O mundo escureceu, as pessoas sumiram e só restaram as sombras. San tentou agarrá-las, em vão, passando entre seus dedos.

Abrindo os olhos e levantando imediatamente, San olhou tudo ao redor. Deitado no chão no meio do corredor, pessoas passavam apressadas, enfermeiros e feridos.

Garmir montava guarda ao seu lado, e ao ver o parceiro acordado, começou a lambê-lo. Rindo um pouco, o empurrou. Movendo o corpo, sentiu dores em cada parte.

— Recomendo descansar.

Virando a cabeça na direção da voz, viu um garoto de no máximo dezesseis anos encostado na parede. Os cabelos escuros longos iam até os ombros, sua altura era baixa. Usava uma camiseta queimada e calças inteiras.

— Te conheço?

Revelando um sorriso, disse:

— Jack, o cara que fez o fogo atacar o monstro enorme e te ajudou a entrar.

Acenando, deu uma olhada em si, vendo bandagens em toda parte, e uma dor grande na perna, bem no lugar mordido por Garmir. Também viu estar desarmado.

— Cadê a minha cimitarra?

— Sobre isso, a peguei e deixei em um armazém especial.

— Por quê?

— Só os guardas daqui podem andar com uma, fizeram essa regra caso um paciente decidisse dar a louca e atacar o povo.

— Tendi.

Se virando ao cão do inferno, falou:

— Cadê o Leo e as garotas?

Ouvindo esse nome, o familiar abaixou a cabeça e virou o rosto. Antes de San perguntar o motivo, Jack disse:

— Pera, você tava com umas garotas e um cara machucado?

— Sim, tão bem?

— Claro, os ajudei. Há, achei mesmo estranho, uns minutos após atrair o lobo, elas correram pra cá.

— Me leva no quarto?

— Claro, se conseguir andar.

Assegurando na parede, uma sensação de tontura quase o fez cair. Independente disso, levantou e o seguiu, mancando e sempre tendo de se apoiar em algo.

Durante a caminhada, viu o estado das coisas. O hospital uma bagunça, pacientes machucados no chão, funcionários correndo de um lado a outro, sons de batidas na barreira.

Passando uma porta, viu um quarto cheio de pessoas, todas aglomeradas e apertadas. Acelerando o passo, chegou no quarto onde o amigo tava.

Jack parou na porta e disse:

— Volto daqui a pouco, e, me desculpa.

Desconhecendo o motivo, entrou, e nesse momento, seu corpo gelou, a ansiedade aumentou e a raiva cresceu.

O quarto, repleto de gente machucada, tossindo, desanimados e tristes. No canto, Emma colocava o corpo na frente da irmã mais nova, encarando de frente um homem velho e maltrapilho.

— Some daqui! Esse cobertor é do meu irmão.

— Mocinha, ele tá morto, deixe para pessoas melhores.

— Não vou repetir, meu irmão vai continuar com o cobertor.

— Sua imprestável, vamos ver então.

Erguendo o punho, o velho ia atacar. Antes de conseguir, foi empurrado contra a parede, tendo seu pescoço apertado.

San olhava nos olhos do homem, apertando cada vez mais em volta do pescoço, impedindo-o de respirar.

— Levante essa sua mão de novo para uma delas, e estará morto no segundo seguinte.

O homem balançava a cabeça constantemente, suplicando. O soltando, jogou fora do quarto. Seu corpo continuava ruim, mas enfrentar um mendigo fraco foi fácil.

Ao virar na direção das meninas, foi recebido por um abraço de ambas. Escondendo a dor de ser apertado, retribuiu. Rapidamente levantaram a cabeça, seus olhos derramando lágrimas e suas mãos tremendo.

— O que aconteceu? — San perguntou, imaginando ser obra do velho.

— O mano, tá mau. — Emile falou.

Recebendo espaço, caminhou até ao lado do amigo. Leo tava com bandagens no corpo todo, porém, podia-se ver claramente a necessidade de tratamento, tremia e falava palavras aleatórias.

Sua respiração acelerou, achou estar errado, os olhos pregando uma peça. Imediatamente mancou até o corredor e encontrou Jack conversando com um mercenário.

Ao ver San, afastou o cara e esperou, acostumado a essas situações.

— O meu amigo precisa de um tratamento de verdade, cirurgia aposto.

— Concordo, o problema é arrumar médico pra isso.

— Não tem nenhum?

— Tem, no entanto, seu amigo… tá complicado, ferido demais e mora nos bairros pobres, tão priorizando outras pessoas.

— Quer dizer os ricos! Deve tá me zoando.

— É errado, eu sei. Mas é o jeito, até reclamei pro superior do hospital.

A mente de San funcionava a mil, pensando em formas de contornar a situação. Tendo uma ideia, disse:

— Lisa Zuco, a médica, tá viva?

— A conhece?

— Sim, me leva até ela.

Hesitante, Jack continuou parado por um tempo, pensando se era verdade, considerando. Balançando a cabeça, disse:

— Certo, me segue.

Orientando as garotas a esperarem, seguiu com dificuldade Jack, o pé latejando de tanta dor. Entrando em um elevador, subiram até o último andar.

Enquanto esperavam, San repassava a ideia na mente. Lisa é a irmã da sua ex, Sarah. Foi prometido um acordo entre si, que quando precisasse de tratamento, seria posto na frente dos outros.

As portas do elevador abriram, e passando por uma recepção faltando o secretário, entraram nas portas de vidro.

A sala era grande, ocupando uma boa parte do último andar. A decoração simples, uma mesa à esquerda para reuniões, cadeiras no canto onde um homem sentava e na mesa central, Lisa, sentada em uma cadeira.

Seu cabelo cacheado desarrumado, tinha grandes olheiras sob os olhos e usava um jaleco manchado de sangue. Ao ver os visitantes, ergueu uma sobrancelha surpresa.

— San, tá vivo.

— É, e você tomou o controle.

— Ah, muitos funcionários morreram, só peguei o cargo vago.

— Entendi.

Virando os olhos na direção do homem sentado no canto, o viu levantar e se aproximar. Era de uma altura normal, cabelo loiro curto, trinta anos, corpo livre de músculos e o rosto cansado.

Estendendo a mão, disse:

— Marco, prazer.

A apertando, sentiu copiar um poder e ir até o cérebro. “Estranho, nunca vi esse cara, como copiei a habilidade?”

— Guarda-costas?

— Há, nem perto. Sou o mutante responsável pelo domo cobrindo o hospital.

Sabendo disso, San soube o motivo de ter copiado. É necessário ver a habilidade, e viu o domo de longe; isso já contou. Tirando pensamentos inúteis, sentou na cadeira em frente à mesa e disse a Lisa:

— To aqui pra usar aquele acordo.

O rosto dela desanimou imediatamente. Pondo os braços em cima da mesa, disse:

— Impossível.

— Nem vem, fizemos um acordo. Se eu ou um amigo estiver ferido, vai o colocar na frente da lista, passando qualquer um.

— Eu lembro, contudo, os tempos eram outros; a nossa situação tá complicada. Temos três mutantes com habilidades de cura, cinco cirurgiões e poucas pessoas capazes de entrar na sala de cirurgia.

Cerrando o punho, San o bateu contra a mesa, balançando os objetos. Seus olhos irritados a olhando.

— Acordo é acordo, não me fode.

Sempre mantendo uma postura serena, respondeu:

— Sinto muito.

Encostando as costas na cadeira, seus olhos cansados, sem esperança. Acabou, o amigo morreria, tudo por conta desse sistema; era inaceitável.

Levantando da cadeira, os ombros caídos e completamente desanimado, indo embora, pôs peso no pé ruim e caiu. Chegando no chão, foi agarrado por Marco.

— Eu te ajudo.

Apoiando nele, caminharam um pouco até San parar no meio da sala.

— Algum problema? — Marco perguntou.

— É, mal por isso.

Em um movimento foi até as costas dele, o segurando no pescoço, forçando e impedindo de se mover. Pra finalizar, apontou o dedo na sua cabeça.

— Vai fazer a cirurgia, ou ele morre.

Lisa olhava com um rosto tranquilo, achando que a pessoa à sua frente tava louca; um dedo era despreocupante. Jack deu um passo, e a ponta do dedo brilhou, criando uma esfera de energia.

— Vamos de novo, faz a cirurgia, ou ele morre!

Levantando da cadeira, Lisa mostrou preocupação, confusa da forma de agir. Tentando ficar calmo, disse:

— Se o Marco morrer, o domo protegendo esse lugar vai sumir.

Abrindo um sorriso enorme, San começou a rir, quase caindo.

— Eu sei, por isso o peguei de refém. Só pra avisar, esse tiro atravessa até a carapaça de monstro, e eu controlo o movimento, já sabe o perigo.

— Todos vamos morrer. — Jack disse a breves passos de distância.

— Vocês vão. Despistei aquela coisa lá fora por um bom tempo; dessa vez, eu não serei o alvo, imagine a facilidade.

Parados, como se estivessem paralisados, ninguém movia um dedo, preocupados no tiro de energia disparar. Marco, respirava apressado, os olhos arregalados e suando frio.

— Tá, faço a cirurgia, solta ele. — Lisa cedeu.

— Haha, deve achar que sou um idiota, primeiro tratem o meu amigo, então eu o solto.

Cerrando os punhos, abaixou os ombros em derrota, soltando um suspiro longo, falou:

— Tá, fiquem aqui por enquanto, vou preparar tudo.

Jack e Lisa saíram da sala lentamente, San mantinha o olho neles, até as portas do elevador abrirem e fecharem.

Soltando Marco, sentou em uma cadeira e disse:

— Senta.

Obedecendo, um ficou na frente do outro. Na verdade, foi um blefe, San tava zerado de essência, o máximo era criar uma bala de energia; nem conseguiria disparar se quisesse.

Ambos continuaram sentados, esperando. San considerou o plano dar errado e mentirem sobre a cirurgia; no entanto, a vida do responsável por deixar um lobo enorme afastado dependia disso; seria arriscado demais o enganarem.

— Realmente gosta desse amigo, se arriscar assim. — Marco falou tomando cuidado nas palavras.

— O considero um irmão, e ele vai viver.

— Pensamento interessante, espero que dê certo.

— Estranho um refém torcer o sucesso do cara o ameaçando.

Soltando um suspiro, apoiou a mão no queixo e disse:

— Os ricos têm tratamento preferencial, é assim e sempre será. Dessa vez, é diferente, por um bom motivo, por isso nem tento resistir.

Mantendo o silêncio novamente, de vez em quando, tremores na barreira podiam ser vistos, ataques do monstro. Marco empalidecia toda vez, quase vomitando.

Uma hora depois, um bipe do elevador soou. Jack passou a porta e a passos lentos, disse:

— Seu amigo entrou pra cirurgia, espera na frente da sala.

Permanecendo quieto, San encarou o garoto. Claramente era maduro pra idade, e impulsivo; poderia tentar atacar ou invocar as chamas. O observando por um tempo, tentou ver mentira no seu rosto, nada.

Acenando a cabeça, levantou e mandou Marco na frente, e o dedo erguido. Até seria cômico vendo de fora, um jovem ameaçando um homem com o dedo.

No elevador, desceram em silêncio, San no fundo, prestando atenção nos movimentos dos dois. Alcançando o corredor, caminharam por um tempo até pararem na frente de um par de portas brancas e duas fileiras de cadeiras nas paredes.

Jack sentou na ponta, Marco na outra e San longe. Aproveitando o momento, perguntou:

— Cadê as irmãs dele?

— Jantando, as tranquilizei e deixei comendo uma boa comida. Achei melhor considerando a situação.

Horas se passaram, a tensão no ar diminuiu e só restou a espera. Jack conversava de vez em quando com San, fazendo perguntas simples, Marco se juntava, tirando o tédio.

Nesse tempo, San recuperou uma parte da sua essência, o suficiente para soltar um tiro. Ainda demoraria até se recuperar.

Passando as portas, o mesmo médico que cuidou de San ao voltar do ninho apareceu, Hershel, vestindo uma roupa azul e o rosto cansado. Procurando brevemente, disse:

— Santiago Lunaris?

— Exatamente, como foi a cirurgia? — falou levantando-se e aproximando.

Pondo o braço no ombro de San, disse:

— Eu sinto muito, Leonardo Avalon infelizmente sucumbiu aos ferimentos.



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