Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 31: Evolução

Gente corria, se afastando o máximo possível dali, batendo umas nas outras e empurrando. San permaneceu parado, sua mente processando aquilo. “Leo faz parte dos Salvadores, pôs fogo em um prédio e tá fugindo agora.”

A polícia já havia chegado, assegurou alguns civis e as prendia, nem sabendo serem culpadas. Jogando os pensamentos de lado, afastou-se, olhando os lados, esperançoso de achar as garotas.

Enquanto saia, teve que se esforçar para ficar de pé; todo mundo corria desesperado, com medo de ser preso.

Longe o suficiente e Garmir o seguindo, achou um lugar isolado e deu um tapa na cabeça, “merda, eu devia ter ligado para elas.” Abrindo o holograma de discagem, digitou e esperou. Segundos depois, Emma atendeu, dizendo tá bem e já tava em casa.

Suspirando de alívio, também voltou. No caminho, tentou evitar pensar no pior, mesmo assim, não deu. “Talvez estejam o forçando, ou o ameaçando.” Logo após ter essa ideia, a descartou rapidamente, “Sua voz era animada demais para alguém sendo forçado.”

Pensando em uma desculpa, nada vinha. Tudo que podia fazer era criar teorias na sua cabeça, ou perguntar diretamente ao amigo; o problema era se queria a resposta.

Voltando ao apartamento, as duas garotas faziam suas coisas e deram um cumprimento preguiçoso. Ao verem Garmir entrar, deram cafunés na sua cabeça.

— Conversaram com o Leo recentemente?

— O mano falou que ia passar uns dias fora. — Emile falou brincando com uma boneca e o filhote.

“Pode estar bolando o plano do próximo ataque.” Balançando a cabeça, repetia pra si: “Deu de tentar imaginar o que está acontecendo.” Infelizmente, as ideias vinham.

Preferindo se distrair, foi ao banho. Quando a água o tocou, sentiu o corpo dolorido. A adrenalina indo embora, percebeu o quanto tava péssimo depois dos exercícios. Saindo de baixo do chuveiro, cuidou seu reflexo.

O cabelo cresceu um pouco, batendo na metade da testa a franja. As olheiras grandes debaixo dos olhos e tinha o rosto cansado.

No seu quarto, deitou-se, abriu a caixa de música ao seu lado e deixou tocando enquanto olhava a parede quebrada. “Preciso ficar forte, independente do jeito.”

***

Duas semanas passaram. No decorrer dos dias, a fama dos Salvadores aumentou, seja bom ou ruim. Quem concordava, juntava ao grupo, e os que discordavam, só eram ignorados. Houve dois ataques, causando ferimentos em quatro policiais.

Um ataque foi a destruição de uma viatura de polícia e o outro terem encurralado um agente da lei. Depois de apanhar, confessou ações horríveis feitas. Leo ainda mantinha distância do amigo, fazendo o novo trabalho.

Nesse tempo, San ficou em constante movimento. Treinou diligentemente, fez os exercícios diariamente. Sentia-se cada vez melhor. Também aprimorou os treinamentos do uso do seu poder, já o movia melhor, fazendo curvas longas.

Andando nas ruas do bairro rico, estava sério. Havia chegado o pior dia do mês. Passando pedestres, o olhavam de cara feia, ocasionalmente revelavam medo.

Só de ver as roupas de San, sabiam que não era um habitante dali. Com os ataques dos Salvadores aumentando, os bairros ficaram hostis.

Imóvel na frente de dois homens de rostos duros, esperou o reconhecerem e permitiram a entrada. Bateu na porta de madeira cara e detalhada.

Segundos depois, uma mulher vestindo roupa de empregada abriu. Reconhecendo-o, só o deixou passar. Subindo as escadas, de frente à porta do escritório. Duas batidas depois, uma voz foi ouvida o permitindo entrar.

A parte de dentro: móveis caros espalhadas, quadros caros pendurados e Eugene sentado atrás da sua mesa.

“Parece que o cara tá sempre aqui, talvez seja esse o motivo por ser gordo.” Dando um sorriso, se aproximou. Eugene o encarava, analisando de cima a baixo.

Sinalizando sentar, San fez sem questionar. Os dois ficaram quietos.

— Você está diferente. — Eugene disse curioso.

— Tô treinando.

— Interessante, imagino o tipo de treinamento um mutante faz.

— Você tem homens como eu na sua folha de pagamento.

— Sim, mas muda dependendo do indivíduo, alguns saem machucando gente e testando seus limites.

— E aposto que permite.

— É claro, caso seja no meu nome.

Cansando da conversa furada, San estendeu o braço sinalizando fazer a troca de dinheiro. Demorou tanto para conseguir, precisou fazer várias missões para ter a quantia certa.

Os dois levantaram os pulsos. Concluído, San afastou, então teve o pulso agarrado. O aperto era forte e o impedia de sair.

— Me diga, garoto, se juntou àquele grupo idiota?

— Salvadores? Não.

— Por quê? Achei que fosse um dos primeiros a se candidatar.

— Fica tranquilo, os considero tão ruins quanto certas pessoas.

— Bom. — Seu aperto soltando. — Porque já pertence a alguém.

Livre do agarramento, levantou.

— Concluído, te vejo no próximo mês.

— Espere. — falou antes de se afastar. — Qual a sua habilidade?

A pergunta o pegou de surpresa. Ninguém perguntava diretamente a um mutante o seu poder; poucos gostam de dizer.

Contudo, Eugene é o senhor do crime da cidade, tudo de ruim que acontece, tem o seu dedo. Se é ordenado, tem de obedecer.

— Disparo energia.

— Energia?

Levantando o dedo indicador, uma esfera azul formou, iluminando levemente o lugar. Independente da demonstração na sua frente, mantinha um rosto calmo.

— Boa habilidade, pode ir.

Saindo dali, San ficou confuso, porém, achou ser um teste, para ver o que faria.

Ao invés de ir em casa, entrou fundo no bairro pobre. Passou pelos becos e deu de cara na porta de metal tão conhecida.

Dando duas batidas rápidas e uma lenta, um homem a abriu. O passando, subiu as escadas ao segundo andar e observou as pessoas gritarem.

A maioria na beirada da arena, olhando os competidores brigarem, torcendo animadamente. Já uma tradição, sentou no banco do bar e pediu uma bebida aleatória.

O barman, usando seu uniforme e cabelo arrumado de sempre, o olhou surpreso, entregou a bebida e disse:

— Faz tempo desde a última vez.

— Tava resolvendo uns assuntos, agora, tô voltando.

— Bom, perguntavam de você, sabia?

— Sério? Devo ser famoso.

— Tomara que atenda às expectativas. Foi só entrar pela porta e começaram a cochichar.

— Que bom, vou lutar hoje.

Abrindo um sorriso, o barman disse:

— Sabe que os donos daqui têm contatos até nas esquinas. Vai lutar na liga mutante.

— Eu sei.

Levantando-se, tomou o restante da bebida, agradeceu e desceu as escadas. A liga mutante era animada, rendia um bônus no dinheiro e diversão ao público. Também era uma das mais violentas.

Como mutantes são difíceis de matar, é permitido que a violência prolongue, entretanto, por causa disso, só podiam lutar entre si, deixando os normais de lado.

Inscrito, esperou até ter seu nome chamado. Não sabia quem iria enfrentar, comum para todos. Sentou-se em um dos bancos no vestiário, alongando e aquecendo.

Demorou; ao chamaram seu nome, entrou na arena já sem camisa, mostrando as cicatrizes cobrindo a parte de cima toda.

O outro participante entrou do lado oposto; era alguém sem muitos músculos, mesma altura de San e um cabelo ruivo. Exibia um sorriso animado e energético, pulando e dando socos no ar.

O apresentador no meio da arena, vestindo um terno caro, cabelo jogado para trás, dando um sorriso e assegurando um microfone.

— HOJE, TEMOS UM LUTADOR QUE HAVIA SUMIDO, MAS O FILHO PRÓDIGO RETORNA, GALERA. ESTAMOS FALANDO DE SCAAAAAR!!

Pessoas aplaudiam, tinha até mulheres soltando beijos no ar e homens juntando. San agradeceu às garotas e fez uma cara estranha aos restantes.

— O ENFRENTANDO, TEMOS O TANNNK. FAÇAM SUAS APOSTAS!!

Era normal numa luta dessas; antes de iniciar, dar minutos para apostar. Acabando o tempo, os dois levantaram as mãos. O apresentador no canto, gritou no microfone:

— COMEEEEEEÇEMMM.

Os dois ficaram parados, encarando, esperando ver quem atacaria primeiro. Tank foi em frente, aproximou a passos lentos, um sorriso confiante e as mãos abaixadas, livre de posição de luta.

Chegando perto o suficiente e ia levantar as mãos, recebeu um soco certeiro no nariz, dando passos para trás. A mente ainda girando, recebeu um segundo soco no exato lugar, rápido e acertou perfeitamente.

Dessa vez, se afastou, tentando desviar do ataque. Em vão; San evitou o deixar ir longe e dava socos aumentando a força.

Tank levantou os braços pretendendo defender o rosto, e recebia os golpes, só que em outras áreas do corpo.

Isso continuou, San batendo e Tank defendendo de um modo ruim; ocasionalmente, dava um soco, só para ser desviado e receber outro em resposta.

No entanto, recebia tantos ataques, e os ferimentos eram mínimos. “Ah, o nome já até diz o poder. Só vou derrubar de vez.” San facilmente adivinhou ser um poder parecido no de Leo. Resistência aumentada.

Já sabendo o jeito de lidar, afastou, dando espaço para Tank recuperar. Ofegante, olhou o cara que desde o início deu golpes sem parar. Estava hesitante, perguntando por que naquele momento parou a sequência.

Com medo, ficou distante. San cuidava os mínimos movimentos; logo percebeu algo estranho: o nariz roxo voltava à coloração de segundos atrás.  “Tá zoando. O segundo poder é regeneração, raro e uma boa combinação da resistência.”

Vendo o inimigo recuperar, esperou; só precisava da oportunidade. Recuperado, Tank veio de novo, dessa vez preparado.

Deu socos, mirando o queixo, ganchos e qualquer local que tivesse uma oportunidade.

San desviou agilmente, dava a impressão de nem estar esforçando. As pessoas de cima, ficaram surpresas.

Mesmo tendo melhorado, alguns ataques o acertavam, pelo menos reduzia o dano de vez em quando, fazendo pegar de raspão.

Nesse tempo, só desviava, esperando. Abrindo uma brecha, aproveitou sem hesitar.

Desviou de um soco, fazendo o passar de raspão na sua bochecha, se aproximou do rosto de Tank o deixando assustado, colocou um pé atrás do seu joelho e usou o peso do corpo derrubando de costas no chão.

Antes de sequer considerar um plano, San pisou com tudo na garganta dele. A resistência aumentada e regeneração funcionavam perfeitamente, independente, foi ruim. Tentou tirar o pé de cima; porém, nada adiantava.

San pressionou mais. Tank olhou nos seus olhos e sabia que perdeu.

Batendo a mão no chão, sinalizando desistência. San o soltou. Todos, desacreditados no desenrolar da luta, facilmente, gritaram e comemoraram.

Mesmo tendo a resistência aumentada e regeneração, ficar sem oxigênio o faria desmaiar, finalizando a partida e incapacitando de lutar outra vez na noite se permanecesse desacordado.

O apresentador ainda o encarava duvidoso. Recompondo, foi até o meio da arena e levantou o braço do vencedor.

— MINHA GENTE, QUE LUTA! SCAR VENCEU, UMA SALVA DE PALMAS!!

Fizeram como pedido, até os que apostaram contra. Olhando Tank levantando e tocando o pescoço, parou ao seu lado e estendeu a mão.

— Boa luta.

Abrindo um sorriso, disse:

— Verdade, na próxima vez, farei melhor.

San saiu da arena e pegou seu dinheiro, ganhou um total de 500 créditos, uma quantia incrível considerando às vezes anteriores. Normalmente iria para casa, mas planejava lutar novamente, então voltou ao segundo andar e cuidou as lutas seguintes.

Passando pela multidão, sussurros eram ouvidos.

— …O poder dele deve ser agilidade melhorada…

— …Viu a velocidade dos movimentos…

— …Jeito de lutar interessante…

Todos se perguntavam o que aconteceu. San treinou a dança da serpente por duas semanas; nesse tempo, achou capaz o suficiente para testar alguns dos ataques, e precisava melhorar.

Por isso, foi no melhor lugar para ter uma luta controlada e ganhar dinheiro. Pra melhorar, a cada luta, teria uma habilidade diferente. No aperto de mãos, já sentia o poder percorrendo as veias. Duvidava ser a regeneração ou a resistência; perguntando se ver o cara aguentar os socos contava.

Ficando ali horas, as lutas eram incríveis, poderes onde realmente queria e lutadores para tomar cuidado. Depois disso, teve suas lutas.

Voltando em casa, já era meia-noite; entrou discretamente, cuidando barulhos altos.

Indo deitar no sofá, notou a luz do banheiro ligada e a porta entreaberta.

Prestando um pouco de atenção, escutou um barulho baixo, difícil de dizer o que era. Se aproximando, hesitou. “Deve ser uma das meninas, seria falta de educação entrar assim. Melhor deixar.”

Decidindo não fazer aquilo, ouviu algo que o impediu. O som de choro. Esquecendo a educação e privacidade, preferiu arriscar, entrou.

Era Emma. Sentada na tampa do vaso, com um lenço e olhando o chão. Percebendo alguém entrando, levantou a cabeça imediatamente.

Vendo o rosto dela, facilmente entendeu o motivo do choro. Seu olho direito roxo, e de experiências passadas, sabia que era resultado de um soco.



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