Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 30: Salvadores

Quando San escutou aquelas palavras, ficou desesperado, a respiração acelerada e olhos arregalados. O homem, com certeza, estava irritado e triste. Queria descontar em algo; infelizmente, foi na cidade e seu povo.

— Vai matar todos? — perguntou relutante.

Levantando o dedo ao queixo, pensou na resposta. Enquanto isso, San olhava ao redor, cuidando cada monstro. Tantos, espécies diferentes, e prestando atenção, sem desviar o olhar.

“Entendi, Mavara disse de monstros de certos grupos estarem sumindo do nada, vieram aqui.”

O Caninospino no canto olhava fixamente o assassino dos seus companheiros, esperando a ordem de atacar, sempre os dentes à mostra.

— Nem todos. — falou com a voz calma. — Deixarei quem quiser fugir ir, mas os que preferirem lutar serão mortos, simples. Principalmente o mercenário culpado por tudo, aquele maldito, dizendo do mundo ao meu filho.

— Só supondo, e se esse cara tiver mudado de cidade?

— Difícil. Mercer sabe da minha existência, está me esperando.

Esforçando-se para perguntar que o deixava mais nervoso, falou:

— O que vai acontecer comigo?

Mark encarou calmamente seus olhos, abrindo um sorriso, disse:

— Não gosto de jovens morrendo. E outra coisa, deve entregar a nossa conversa a pessoas capazes. Afinal de contas, preciso ficar conhecido, para me temerem.

— Posso ir?

— Óbvio. Só um aviso, tome cuidado por aí; vai que tento fazer um ataque e um jovem fique na frente.

— Você mandou os monstros irem à cidade! Sabia, foi estranho.

— Descobrir a força do povo é importante. Bem, me empolguei, faz tempo que falo com um humano e contei muito. Pode ir.

Levantando, San andou a passos lentos, olhando constantemente suas costas. Confirmando que tava sozinho, partiu em disparada. Tropeçou várias vezes quase caindo, e suas mãos doíam de raspá-las tanto na volta.

Saindo na luz do sol, percebeu suas mãos tremendo. Sem pensar, saiu correndo. Nada apareceu em sua frente, besta ou pessoa. Teve minutos para pôr os pensamentos em ordem.

“Merda! Eu devia ter apertado a mão dele e copiado um poder. Um ataque vai acontecer; tenho de me preparar imediatamente.” Antes de alcançar a cidade, perguntou a Sacro:

— O maluco é amigo daqueles monstros, por influência de uma habilidade ou viver a vida inteira junto?

— Boa pergunta. Já houve casos de crianças abandonadas nas florestas onde bestas os adotaram, eram criadas igualmente. Pode ser os dois.

Perto do muro da cidade, desacelerou e passou pelos portões, direto à base dos mercenários.

Chegando, tudo continuava normal. Claro, ninguém sabia do perigo os rondando. Indo até Barbosa, que o cumprimentou em um sorriso, perguntou:

— Foi bem a sua missão?

O primeiro pensamento de San era de gritar de um lunático com um exército de diversos tipos de bestas esperando, e a qualquer momento, atacariam. Contudo, enquanto ia até a base, reconsiderou.

Contar só iria causar caos e violência, então se assegurou. Falaria primeiro a alguém que realmente pudesse ajudar.

Sentiu um pouco mal por isso. Se fosse ele, preferia saber que um exército poderia marchar em direção à sua casa.

No balcão, tentou conter o nervosismo e disse:

— Completei — falou, tirando as orelhas do bolso.

As pegou e analisou, elasticidade e cheiro, acabando, disse:

— São verdadeiras. Porém, está faltando um par.

— Sobre isso, é que o Caninospino fugiu e quando o achei de novo, em uma caverna com vários monstros, um cara os curava. Tive uma conversa estranha e saí sem conseguir completar a missão.

Ao ouvir as palavras saírem da sua boca, San notou soar uma história ruim para encobrir sua falha. “Talvez eu devesse ter falado com um mercenário ao invés de um recepcionista.”

O rosto incrédulo, Barbosa tentava ver se a pessoa à sua frente mentia.

— Espere. — falou enquanto ia a uma porta o levando aos fundos.

Depois de uns minutos, voltou acompanhado. O homem tinha dois metros, pele de cor escura, cabelo corte militar. Usava uma regata exibindo os músculos bem treinados e suor cobrindo o corpo.

Todos ao redor, comendo e conversando, ficaram quietos; alguns até o encaravam fixamente.

Olhando San com seus olhos escuros e tensos, aproximou e disse:

— Me siga.

Hesitante, seguiu o homem desconhecido até a porta. Andaram em um corredor longo, passando portas de metal grossas. Uma abriu por dois homens; um segurava uma adaga e o parceiro um machado grande, seus corpos cheios de cortes. Mesmo assim, riam.

O cara entrou em uma porta igual às outras, com somente uma diferença: havia uma placa escrita: “Escritório do Mercer.”

Entrando junto, San se deparou num lugar grande. Prateleiras de livros, duas cadeiras, uma pequena mesa no canto, um tapete macio branco e a mesa principal cobria um bom espaço; papéis espalhados e um notebook aberto.

“Sem fotos de amigos ou família. É uma pessoa isolada ou focada no trabalho.” Abriu uma gaveta e tirou uma toalha branca. Secando o suor, falou:

— Sou Mercer, chefe dos mercenários. Desculpe ter me visto assim. Eu tava na academia quando me chamaram.

— De boas.

“Torço, com todas as forças, não ser o cara que Mark pretende matar.”

— Você falou a um dos recepcionistas ter encontrado algo… interessante. Pode me explicar? Detalhadamente.

Contando desde o início, San falou tudo, só escondendo a parte sobre saber dele. Mercer ouviu sem interromper uma vez, e seu rosto só mudou de expressão sabendo que Mark o deixou sair para dizer ter um ataque.

— Boa história. — Abriu outra gaveta e tirou um tablet grande. — Me mostre onde é essa caverna.

A tela ligou revelando um mapa ao redor da cidade. San olhou admirado, guardando na memória as informações. O dele tinha áreas detalhadas, o da sua frente, focava nos perigos.

Avistando facilmente a caverna e apontando, devolveu. Mercer, sempre num rosto sério, analisou e disse:

— Aqui é a base de um gigante.

“Sabem o que vive ali, por que o deixam vivo?”

— Sim, mas parece que liberou para hóspedes.

Dando um suspiro e coçando os olhos, disse:

— É muito raro monstros fazerem alianças. E no nível dito, é impossível. Se matariam só de ver o outro.

— Também acho estranho; por isso, a habilidade daquele homem deve ser algum tipo de controle ou acalmá-los.

— Se for verdadeiro o que diz.

— Por que eu mentiria?

— Ocultar a vergonha de ter falhado na sua primeira missão ou ganhar fama.

Ficando sério, falou olhando diretamente nos olhos do Mercer:

— Acredite, fama é a última coisa que eu quero. Tenho pessoas importantes vivendo aqui e quero a proteção delas.

Ficando quieto, encarou San, procurando achar sinais de mentira. Na verdade, torcia que fosse; um perigo desses estava em um novo nível.

— Certo, irei mandar um grupo investigar.

— Bom, já posso ir?

— Última coisa, Mark disse meu nome?

Demorou responder, já era uma resposta. Soltando um suspiro, Mercer falou:

— Pergunta.

— Sabia dele? — falou o que mais o deixava curioso.

— Sim, o conheci há anos atrás, quando era jovem. Ainda tinha sua família e aparência. Fiquei amigo do seu filho, e o apoiei ir embora.

— Por isso Mark te culpa.

— Pois é, e por isso continuo nessa cidade sendo rank A, o esperando.

Entendo e levantando, San agradeceu e foi pra fora; no vão da porta, Mercer disse:

— Obrigado escolher contar a mim ao invés de espalhar. Receberá a sua recompensa total, e um acréscimo; considere um bônus.

— Obrigado.

Saindo, voltou no corredor. Quase abriu uma das portas para ver o outro lado, contudo, se assegurou, independente da curiosidade; queria dar a impressão de responsável as câmeras o seguindo, não um muleque xeretando lugares proibidos.

Voltando ao balcão de Barbosa, onde dava um sorriso nervoso, recebeu o dinheiro e saiu dali. Alguns o observavam, intrigados do porquê de alguém que entrou no mesmo dia aos mercenários falar com o chefe.

Andando pela rua, olhou seu dinheiro; havia ganhado um total de setecentos créditos. Abrindo um sorriso animado, voltou em casa.

Pondo um pé dentro, Garmir correu na sua direção, latindo e pulando. Devido ao elo deles, conseguiu sentir a preocupação.

Se abaixando para dar carinho, disse:

— Hoje foi um dia complicado, amigo. Mal ter te preocupado.

Vendo ser 16 horas, abriu o compartimento secreto; de lá, viu a máscara, como se o encarasse, ignorando o arrepio que sentiu; pôs a mão no fundo, e tirou um livro.

Era o que ensinava da dança da serpente, “preciso ficar forte e rápido.” Abrindo na primeira página, leu calmamente.

Já que os números de página eram poucos, terminou depois de uma hora. O fechando, surpreendeu e Sacro falou:

— O que achou?

— É diferente. Ágil e certeiro.

— Tomara que tenha gostado; antes de aprender as técnicas, deve iniciar nos exercícios adequados.

— Sim. Infelizmente, os exercícios são estranhos.

— Se acostumará.

— Tomara…

A dança da serpente é um estilo de luta focado na flexibilidade e agilidade do usuário; os exercícios iniciais têm de objetivo alongar os músculos para ataques melhores.

Começou nos alongamentos. Primeiro a panturrilha; permaneceu um bom tempo nisso, depois esticou em várias posições, até o limite. Pegando uma corda, pulou por quinze minutos.

Cansado, continuou no próximo, já que era um dos que mais o interessava. Levantando as mãos, deu socos no ar, depois chutes.

Misturando tudo, manteve-se nesse ritmo o máximo possível. Ficando de joelhos, seu corpo ardia por toda parte, e suor pingava no chão.

— Fala, Sacro, o que errei?

Finalmente podendo falar o esperado. Não se conteve; criticou o jeito de se mexer, as repetições, o exagero sem descanso, como tem de melhorar os socos. No fim, deu importância em beber água.

Seus joelhos cambaleavam quando sentou e abriu o livro de novo. Reviu os golpes e o método de luta.

Todos os ataques eram para acertar uma parte importante: garganta, olhos, genitais, orelhas etc. Também dava ênfase em atacar primeiro e sem piedade.

O estilo tinha uma arma principal, uma espada diferenciada; essas foram deixadas de lado por enquanto, só o básico, e passaria ao próximo se sentisse estar pronto.

Levantando-se com dificuldade, ia tomar um banho, e algo chamou sua atenção, precisamente, da cidade inteira.

Ouviu uma explosão, ressoando; nem um minuto depois, uma fumaça preta encheu o céu. Olhando da janela, San ficou nervoso. Percebendo que as garotas se atrasaram e piorando, a explosão veio do caminho da escola.

Adrenalina percorreu seu corpo inteiro, ignorando toda a dor, disparou em uma corrida descendo as escadas até a rua, e Garmir atrás o seguindo.

Pessoas saíam de suas casas vendo o que acontecia. Passando por elas, San ignorou os insultos e reclamações de quem pechava.

Chegando no lugar, um amontoado de gente aglomerada, vendo os causadores do caos. De longe, dava para ver um prédio em chamas.

San se espremeu e procurou em todo o canto. Nada, indo pra frente, deu uma olhada no que olhavam, o porquê de seus rostos estarem assustados.

O que viu, assustou até ele. Eram criminosos; usavam panos tapando as bocas e cabeças, deixando apenas os olhos à mostra. Se alinhavam na frente do prédio, uma bandeira erguida e um desenho de algemas quebradas.

Um deu um passo à frente, usava uma roupa preta e algemas partidas nos pulsos. Seu olhar varreu a multidão.

— Meu povo. Estamos aqui por vocês, que foram julgados, abandonados e maltratados. A polícia, deveria nos proteger, ao invés disso, nos acusa falsamente, nos incrimina e quando alguém é preso, se não confessar, é torturado.

Alguns se animaram ao ouvir, outros ficaram tensos. Mesmo assim, ninguém atrapalhou.

— Somos os Salvadores. Servimos para ajudar os abandonados! Sabem o quanto o sistema é corrupto, favorecem os com dinheiro e ignoram nós. Mudaremos isso, nos libertaremos.

Pessoas concordaram com as palavras, acenavam positivamente. E abriam sorrisos.

— Esse é só o começo! Quem quiser juntar, aceitaremos todos.

Terminando de dizer aquilo, ouviram sirenes. O grupo separou na multidão que se espalhava.

San ficou parado, petrificado. Aquela voz era familiar, muito familiar. Afinal de contas, a escutava por anos. Em discussões, contando piadas, ou qualquer outra coisa.

Queria negar, no entanto, sua mente recusava.

— Leo…



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