Volume 1
Capítulo 25: Um Trato
Vendo o amigo encolhido atrás do sofá, San se aproximou preocupado.
— O que aconteceu, cara?
Observando os lados, Leonardo levantou. Sem falar nada, analisou completamente o apartamento. Lentamente voltando ao normal, seus olhos ficaram mais calmos e suas mãos pararam de tremer.
Sentando de novo, o rosto curioso do amigo e disse:
— Eu não sei, desde que me soltaram, qualquer barulho assim e lugares apertados, me diz pra fugir ou lutar.
Percebendo o amigo mal, forçou sua voz a soar calma, mesmo sendo bem difícil por vê-lo assim:
— É melhor descansar dos seus trabalhos de sempre, são bem estressantes.
— E morrer de fome? — Sua voz era rouca e brava.
— Posso te ajudar.
— San, deu. Eu, melhor que ninguém, sei o quanto você se mata para ter dinheiro e pagar a sua dívida. Eu seria um parasita.
Querendo discordar, dizer estar tudo bem, seria mentira. Os seus gastos acumulavam a cada dia, principalmente por perder a maioria dos seus itens na recente viagem.
— E mais, ainda consigo trabalhar. Enquanto to nas ruas, me sinto eu de novo.
O trabalho de Leo era o que fez boa parte da vida: Serviços criminosos. Quando era novo, a mãe deu as filhas a ele para cuidar sozinho, por isso precisava de dinheiro tão desesperadamente quanto San. Na verdade, foi assim que se conheceram.
No início, fazia somente entregas ou pegava o produto, mas ao despertar, cobrava as pessoas e batia em quem devia.
Por causa disso, teve uma ficha criminal grande. E sendo menor de idade, passava pouco tempo na cadeia e logo saía. Pelo menos, esse trabalho, conseguiu se sustentar e as suas irmãs.
San, mesmo criança e livre de dívidas na época, também trabalhava nisso. Tinha contas hospitalares a pagar. No passar dos anos e sua ficha crescendo com alguns delitos, achou formas diferentes de ganhar dinheiro, sem quebrar a lei.
Infelizmente, independente de quanto insistisse, Leo continuou no ramo, e a partir de um tempo, aprendeu a gostar.
— Se cuida.
— Sim — falou coçando o cabelo — preciso acumular uma grana. Sei que já me ajudou bastante, e tenho uma dívida enorme com você. Contudo, por favor, continua cuidando das garotas.
— Claro. E você não tem uma dívida comigo, a gente é amigo, praticamente irmãos, tá de boa.
Dando um sorriso, levantou e disse:
— Tô indo. Vou me despedir das garotas.
Leo foi até a porta. Saindo, o rosto de San, antes calmo e um olhar de pena, mudou. Cerrando os punhos ao ponto das unhas cravarem fundo e seus olhos mudando ligeiramente em vermelho. “É culpa minha, eu o entreguei, e devem ter o torturado.”
Quanto mais imaginava o que aconteceu, pior San ficava, e uma vontade crescente de vingança crescia, o desejo de quebrar algo ou machucar alguém.
Sem perceber, Garmir entrou na casa e sentou ao seu lado, a cabeça encostada no seu colo. Como um familiar, sentia as emoções de San, e com toda a raiva, havia tristeza. Então, ao invés de incitar a violência, o acalmou.
De pouco a pouco, San voltava ao normal. Soltando um suspiro, afagou a cabeça do companheiro e disse:
— Valeu, eu realmente considerei fazer umas loucuras.
Mesmo sentindo raiva dos caçadores de mutantes, sabia que se tentasse retaliar, seria em vão. Por enquanto, teria de esperar. Tentando focar em outra coisa, virou-se a Garmir e disse:
— As garotas já vão voltar; vou sair e resolver uns problemas. Cuida delas pra mim?
Dando um latido animado, San sentiu concordância. Antes de ir, precisava urgentemente de um banho.
***
Na frente do bar do seu trabalho, San entrou e olhou ao redor. A situação voltava ao normal, clientes perambulando, bebendo e funcionários os atendendo.
Os passando, não reconhecendo, parou em frente à porta do chefe e bateu. Ao fazer, uma voz o mandou entrar.
Hesitando, entrou. O escritório era pequeno, uma mesa contendo papéis no centro, uma garrafa quase vazia de uma bebida e o chefe sentado do outro lado.
Quando viu San, abriu um sorriso e disse:
— Quem tá vivo aparece. Tá bem, garoto?
— Perfeito. Vejo que os negócios estão bons.
— É claro, tão se acalmando; os viciados em bebidas tão voltando.
— Que bom, queria falar uma coisa ao senhor.
Fazendo uma expressão complicada, abriu um sorriso forçado.
— Garoto, me desculpa, mas se veio pelo seu trabalho, dei a um novato. Eu te mandei várias mensagens dizendo já voltar e nada.
— Ufa. — Soltou um suspiro, deixando o chefe confuso. — É um alívio que encontrou um novo funcionário, decidi me focar ser um mutante.
— Ah! Já estava até com um discurso pronto dizendo que se quisesse, poderia te recomendar lugares, bem. Te desejo sorte.
— Obrigado. Já que estamos falando sobre isso, o que aconteceu com Sarah? Não a vi aqui.
— Você é o namorado e tá perguntando a mim?
— Fiquei fora duas semanas, e o relógio dela deve ter quebrado, porque mando mensagem e só recebe.
— Vish, deu ruim pra ti.
— Como assim?
— Tenho certeza que o dispositivo tá funcionando, conversamos há um tempinho. Deve tá te ignorando.
— Por quê?
— Isso é contigo, porém, soube que passou numa prova e tá trabalhando junto a irmã, de enfermeira. Deve tá no trabalho agora.
— Valeu, se falamo.
Indo embora, perguntava se fez algo errado, e tentando descobrir durante a sua caminhada, achava estar tudo bem. “Falei que ia tá trabalho, duvido ser isso. Deve ter um motivo.”
Só ficar imaginando é inútil, por isso, seguiu o caminho ao hospital.
No bairro rico, procurou o prédio, sabia de cor. Não por ter o usado, só pra visitas e pagar as contas assustadoramente altas.
Chegando na frente, o lugar grande e uma cruz vermelha na frente. Entrou pelas portas giratórias e parou em um saguão espaçoso, onde muitas pessoas sentadas em cadeiras, esperavam serem atendidas.
Parando na frente da moça de recepção, uma mulher idosa de cabelo branco, óculos finos e um sorriso de velhinho atendia os pacientes, parou e esperou a sua vez. Após alguns minutos, falou:
— Com licença, estou procurando Sarah Zuco.
Revirando os olhos, exclamou:
— Claro que está, normal. A menos que tenha dinheiro de contratar uma enfermeira particular, terá de se contentar nas outras.
— Desculpa, deve ter acontecido um engano; sou o namorado.
O olhando por cima dos óculos, o analisou de cima a baixo e disse:
— Sério?
— Sim, por quê?
— Nada, eu te levo. — terminou dando uma risada fraca.
Chamando uma mulher para a substituir, a velha seguiu com um sorriso a um corredor. Logo atrás, San tentava entender por que alguém procuraria Sarah.
— Então, ela tá se saindo bem?
Soltando uma risada estridente, falou:
— Bem é apelido, vários pacientes querem seus atendimentos.
— Tendi, isso é bom, eu acho.
Na entrada de um corredor, a velha estendeu a mão, sinalizando para ele esperar. Depois de algum tempo, disse:
— Deu, ali está sua garota.
Passando a velha, ao longe avistou Sarah. Usando um uniforme rosa de enfermeira, tinha o cabelo preso. Antes de se aproximar, outra pessoa puxava papo.
Era um médico. Usava um jaleco branco, entre seus 30 anos e penteava seu cabelo preto para trás. San esperou acabarem; enquanto isso, ficou vendo os dois.
Ela ria constantemente ao conversarem, sempre com sorriso estampado no rosto. O médico, estava perto, muito para se considerar somente um amigo.
Terminando, Sarah sussurrou no seu ouvido e se separaram. Ele no corredor contrário, ela continuando, ainda mantendo a expressão animada. Ao perceber San, seus lábios se abaixaram e os olhos arregalaram.
Sarah se aproximou a passos apressados, evitava contato visual. Formou um sorriso e falou:
— San! Me pegou de surpresa.
— Digo o mesmo, mudou de trabalho e me ignorou. Quem é o cara? Amigo novo?
O rosto ficando triste, numa voz baixa, disse:
— Um amigo.
— Sério? Que eu saiba, amigos não ficam daquele jeito.
— V-você viu?
— Sim, desde o início.
Soltando um suspiro, Sarah o encarou, com medo e apreensiva.
— Quero terminar.
— Ah, tô super surpreso. — Debochou. — Tá com aquele cara? Parece um velho.
— Tem trinta e quatro, e isso não é da sua conta.
— Há, claro. Tô meio preocupado caso eu tenha pego alguma doença, já que foi preciso eu ficar longe duas semanas para isso acontecer. Teve outros?
— Sério que tá me perguntando isso?
— Pois é, por que será que eu tô desconfiado?
— San, nesses dias fora, eu percebi que não quero ficar com uma pessoa arriscando a vida toda hora, poder sair e nunca voltar.
— E aí me trai!
— Achei que entenderia pelas mensagens.
— Que mensagens?! — falou quase gritando.
— Exatamente, eu fiquei quieta achando que me esqueceria.
— Nossa, realmente, não me conhece.
Cansando disso, só querendo paz, deu as costas e saiu de perto. No caminho, a velha sorria.
— Valeu. — disse se afastando.
Mesmo a senhora tendo o usado para saciar a sua curiosidade ou só por querer ver uma briga, deixou quieto. De qualquer forma, o ajudou a descobrir a verdade.
De volta no saguão, prestes a sair, a irmã de Sarah entrava em uma porta. Tendo uma ideia no calor do momento, decidiu arriscar.
Sem saber onde levava, a seguiu. Entrando, era um escritório grande, móveis bonitos, cadeiras brancas e quadros nas paredes. Quando o viu entrando, tomou um susto.
— O que está fazendo aqui?
— Ora, vim ver se vai cumprir o seu lado do acordo.
Entendendo facilmente, respondeu:
— O trato era terminarem, já providenciei isso.
— Sabia, só podia ter sido você. Acha que um cara dez anos mais velho é melhor que eu?
— É um bom médico, mas sim, é velho demais e tem uma reputação ruim; vou fazer se separarem também.
— To nem aí pra isso, o nosso acordo.
— Invalido, eu resolvi.
— Realmente acha isso?
Ficando duvidosa, disse:
— Como assim?
— Quando a achei, confessou e implorou para eu esquecer.
— Está mentindo.
Revelando um sorriso convencido, disse:
— Quer arriscar? Posso ir até lá agora. E se eu fizer isso, tenha certeza que vou a convencer de se demitir e trabalhar em uma loja de penhores de um amigo. Acredite, faço isso sem dó.
Ficando quieta, considerou ser verdade. Após uns minutos, disse:
— Tá legal. Fico te devendo um favor, algo em mente?
Considerando, por um momento, decidiu.
— Você é uma médica com uma reputação ótima, a maioria dos pacientes vive e é amiga de mutantes curadores. O meu favor é: Quando eu ou conhecido precisar, você vai os tratar pondo acima dos outros, fazendo seu máximo.
O encarando, permaneceu quieta, tentando comparar os prós e os contras; no fim, balançou a cabeça dizendo:
— Feito.
— Perfeito. Ah, Se quiser, pode perguntar a Sarah, porém, duvido admitir.
Pouco antes de passar a porta, olhou nos fundos dos olhos dela e disse:
— Tenho pena de Sarah, ter a vida controlada pela própria irmã. Nem tendo escolha com quem se relaciona.
Batendo a porta, saiu do prédio. Andando nas ruas, sentia que estava tendo um dos piores dias da vida: a namorada o traindo, amigo com problema, sem dinheiro e arma.
— Dá pra piorar? — murmurou para si.
Andando de volta a casa. Enquanto passava um beco, mãos asseguraram a gola da sua camiseta e o puxaram.
Forte, sem ter tempo de reagir, teve o corpo jogado ao interior, até bater contra uma parede. As costas doendo e recuperando o ar dos pulmões, levantou rápido e se preparou em dar uma surra no cara que devia estar tentando o assaltar.
San esperava um cara segurando uma faca ou forte, no entanto, era três, ambos usavam roupas pretas e cobriam o rosto com um pano. Na hora, identificou o maior problema, o de trás, um cara grande e musculoso.
Soltando um suspiro cansado, abriu um sorriso de orelha a orelha, estralou os dedos e abriu os braços.
— Eu realmente agradeço, meu dia tá uma merda e queria descontar em alguém.