Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 16: Começando uma Viagem

O fogo queimava na lareira e um cheiro de comida enchia o ar. Fora da casa, uma tempestade enchia o céu.

Sentado no tapete de pele, duas crianças ouviam o som da constante chuva. A garota, uma menina pequena de olhos escuros iguais à noite, encolhia-se toda vez que o som de um trovão enchia o ar.

O garoto, um pouco mais velho que a irmã, olhava com seus olhos azuis pela janela os constantes raios, admirado.

Logo, uma mulher bonita apareceu. Tinha um cabelo ruivo como a menina e olhos iguais aos do seu filho. Ignorando o frio, usava uma regata, revelando seus músculos e uma calça de pano. No pescoço, dava para ver uma corrente, o restante escondido na roupa.

Vendo o estado da sua filha, aproximou-se rapidamente e deu um abraço apertado.

— Ah, minha garota, eu também não gosto de trovões. Mas sabe o que faço quando estão altos?

Olhando animadamente para cima, perguntou:

— O que, mamãe?

— Ouço uma música, vamos ouvir?

— Siiim! — ela gritou se alegrando.

As duas ficaram pulando e gritando, balançando seus corpos animadamente. Se acalmando, a mulher caminhou até o canto da sala, onde um piano preto bem cuidado ficava.

Em um sorriso no rosto, começou a tocar uma música alegre. O menino, mesmo querendo continuar a ver os raios, escolheu prestar atenção na sua frente.

O som ecoava na casa inteira, em um ritmo agitado, fazendo as pessoas quererem dançar, e é isso que a menina fez. Distraída na melodia, esqueceu seu medo e pôs-se de pé no tapete.

Independentemente de ser jovem, dançou muito bem balé, mantendo-se no tapete e nunca chocando em algo.

O garoto olhava tudo aquilo admirado, sentindo uma paz encher seu peito, sem preocupações ou problemas. Por isso, se distraiu e não percebeu alguém chegar de trás.

Um homem usando camiseta branca e com um sorriso pôs a mão na cabeça do filho e disse:

— Minhas garotas, ou melhor, nossas garotas.

A voz era grossa e calma, a mulher, ouvindo, virou e deu um sorriso alegre. Infelizmente, quando o garoto tentou olhar o rosto do homem, só pode ver escuridão o cobrindo, menos em uma parte: seus olhos, que tinham a cor de um vermelho morto.

***

Acordando em um pulo, San sentou no sofá, virando a cabeça, cuidando cada som estranho. Uma porta abriu, e pegou imediatamente sua faca presa ao tênis. Se aproximando a passos lentos, parou na frente e esperou.

Quem saiu, era Emile, pega de surpresa, deu um pulo e arregalou os olhos. Vendo ser San, soltou um suspiro de alívio e disse:

— Nossa! Como chegou tão perto sem fazer barulho?

Ficando calmo, escondeu a faca e disse:

— É minha especialidade. Por que tá aqui tão cedo?

Desviando o olhar, disse baixo:

— Tava apertada. Vou voltar a dormir.

Voltou ao quarto descalço. San viu o relógio e decidiu ser hora de levantar. Coçando os olhos, perguntou-se por que do sonho nostálgico. “Deve ser a caixinha de música.” Inconscientemente, assegurou a pequena chapa de metal do colar.

Tomando café, fez a comida para as garotas. Ao chegarem com cara de sono, comeram felizes. San também, precisava de energia naquele dia.

Quando as duas já se prepararam para irem à escola, as parou.

— Tenho que falar com vocês.

As duas, em dúvida, perceberam a sua voz ficando séria.

— Vou trabalhar hoje, posso demorar bastante. Enquanto isso, Emma tá no comando.

As duas relaxaram, concordaram e saíram. Já se acostumaram com seu irmão passando dias trabalhando. Descendo as escadas, foram embora.

Sozinho, foi até o baú embaixo da cama. San usou o kit completo: sua armadura de couro, cinto de facas, botas e um manto. “Ainda é difícil acreditar, perdi a minha besta, agora com meu poder seria inútil, ainda assim, podia vender.”

Chegando na loja de penhores, Floki fumava um charuto atrás do balcão, usava uma camisa xadrez e por baixo uma camiseta de flores. “Pelo menos tá um pouco normal hoje.”

— San! Meu amigo, tá cedo, bom. Me siga.

Caminhou calmamente entre as prateleiras cheia de tralhas. No caminho, dava para ver na parte de baixo de sua roupa, usava uma bermuda listrada, meias coloridas e chinelo de dedo grande. “Lá se vai o normal,” pensou, seguindo-o.

Floki mexeu em vários itens até achar o que queria, um pedaço de papel velho enrolado e cheio de poeira. O levando fechado de volta ao balcão, abriu.

O papel era velho, a poeira se espalhava em todos os lados e até tinha alguns furos. O pior para San era desconhecer os lugares marcados.

Dando uma soprada forte, ajudou, dava para ver muitas demarcações espalhadas, algumas com desenhos do que se assemelham a monstros e outras com escritas de diferentes cores, mudando de azul, amarelo e vermelho.

— Tá legal, vamos do início, esse mapa é uma parte ao norte de onde estamos, ao percorrer até uma certa distância, verá uma árvore morta, é essa aqui — apontou o desenho de uma árvore verde — após a passar, siga o mapa até aqui. — Terminou apontando num desenho de baú repleto de moedas. — Pode ir.

Em dúvida, San falou:

— Cê tá brincando né?

— Não, tá tudo aqui, só seguir.

— Vou perguntar de novo, vai que seus ouvidos estão com problemas. Você tá brincando né?!

— São os seus ouvidos que estão com problema. Está certo, siga o mapa direitinho e ficará bem.

— Já fui uma vez até essa árvore morta, demorou meio-dia inteiro só na ida, quase passei a noite na floresta, e quer que eu a ultrapasse, procure as plantas raras e volte antes do anoitecer?

— Essa é a questão, meu jovem, vai continuar lá fora.

— Só pode tá zuando. — falou enquanto colocava as mãos no rosto.

— Qual o problema? Já passou a noite fora uma vez. — San o olhou com uma cara irritada, como se fosse pular e o estrangular. — To brincando, não na parte de passar a noite, isso é verdade.

— Olha, me denuncia, faz o que quiser, esse risco é demais.

Indo na porta, Floki falou apressadamente:

— Nem se tivesse um jeito de nenhum monstro te encontrar? — San parou. — Viajo bastante, e adoro a noite, mas sempre me irritei por ser perigoso. Então criei uma forma de dormir lá, e os monstros nem te notam.

Curioso, San voltou.

— Continua.

— He he! Sabia que isso te interessaria. No mapa, há três tipos de demarcações. Os azuis são lugares seguros, montei uma espécie de base para me proteger, tem até desenhos ilustrados delas. Os amarelos são onde os monstros aparecem de vez em quando. Já os vermelhos são ninhos das bestas.

San sentiu seu corpo arrepiar ao perceber haver quatro pontos vermelhos no mapa. Os ninhos eram locais de monstros em uma espécie específica, escolhendo de lar, reproduzindo-se e protegendo os filhotes.

— Quanto tempo até eu chegar nas plantas?

— Segundo as minhas estimativas, se escolher ir com cautela, evitando os perigos, uma semana. Depois, eu imagino precisar de uns três dias para achar a flor, e uma semana voltando. No total, vinte dias.

— São dezessete. — San falou, pensando se era uma brincadeira.

— Verdade! Foi mal, sou ruim com números.

“Preocupante, considerando ser dono de uma loja.”

— Tá, e as plantas? Tem algum perigo nelas? Tipo, um monstro as monopolizando? — perguntou o mais preocupante.

— Nem perto, estão só jogadas ali, espalhadas para pegarem.

Suspirando, San ficou aliviado.

— Tá, falou.

Ao tentar pegar o mapa, Floki repeliu suas mãos.

— Qual o problema?

Sem responder, foi até os fundos novamente. Voltando, segurava uma mochila marrom. Pegou o mapa com cuidado e o guardou dentro. Entregando a San, disse:

— Essa é uma mochila especial; ao achar a flor estelar, pegue todas — Pela primeira vez na conversa, Floki adotou uma expressão séria.

— Se eu fizer isso, você guardará meu segredo?

— É claro. Juro de dedinho.

Quando San pegou a mochila e a substituiu da atual, saiu pelos portões. A vistoria demorou segundos, um pouco menos rigorosa.

Já havia se despedido de todos; só por garantia, mandou uma mensagem para as garotas. Uma última coisa que precisava fazer: Pegar sua espada. Se iria passar dias em uma viagem, ia o melhor preparado possível.

Abrindo o buraco na árvore, prendeu a espada no cinto, tava pronto. Teria de ser rápido ao alcançar uma das bases do Floki, a noite vinha e o tempo encurtava.

Dando o primeiro passo, ouviu um assobio surpreso vindo de trás. Já ativando seu poder no dedo, apontou para trás.

O inesperado foi encontrar Floki ao lado da árvore que escondia sua arma, e pra piorar, mexendo no esconderijo.

— O que tá fazendo aqui? — falou apagando o poder e se aproximando.

— Vim te ver antes de ir. Quero as minhas flores rapidamente, por causa disso, vou te dar uma ajudinha. E só pra constar, buraco legal.

— Como vai me ajudar?

Sem falar, abriu um sorriso, correu na mata. Curioso na ajuda, San o seguiu. Correram alguns minutos em alta velocidade, só pararam subindo uma pequena colina.

Do alto, dava para ver o topo de muitas árvores. Apreciando a vista, Floki falou:

— Perfeito, agora toque no meu ombro.

Hesitante, obedeceu. Quando o fez, Floki tirou do bolso um binóculo. “O que ele tem feito já ta ultrapassando um novo nível de esquisitice.”

Floki parou, imóvel, só apontando seu binóculo. Quebrando o silêncio, falou:

— Se assegura bem, isso vai ser incrível; nunca testei junto a alguém em distâncias tão longas.

— Testa o...

Prestes a falar, tudo começou a mudar, seu campo de visão completamente espichado. Não podia sentir o chão, como se estivesse flutuando.

Demorando até seu cérebro entender, estava em um lugar diferente; seu equilíbrio estranho, caiu de bunda, e uma vontade de vomitar subiu a garganta.

— A, moleque! Sabia que ia dar certo, bem, achei.

Enquanto San tava no chão se assegurando em deixar o café da manhã na barriga, perguntou:

— Que merda foi essa?

— Meu poder, consigo me teleportar por onde vejo. Você nunca fez isso, seu corpo tá tentando se adaptar. Anda logo, temos de repetir isso duas vezes.

Escondendo a surpresa, voltou a tocar no seu ombro, dessa vez com força.

— O que acontece se eu soltar enquanto estamos nos teleportando?

— Boa pergunta, realmente é curioso. Uma vez, acidentalmente, soltei uma maçã da minha mão, voltando, ficou espatifada.

Nas duas próximas vezes, a visão espichando e o equilíbrio sumindo em questão de instantes. Na última, San atingiu o limite e vomitou no chão. Olhando para cima, viu uma árvore morta com galhos secos.

— É isso, nos separamos aqui. — Floki falou, já apontando o binóculo para trás.

— Espera! Me leva até onde tenho que ir.

— Se eu pudesse, já teria feito. Boa sorte. Ah! Antes de me esquecer, volto daqui a dezessete dias. Se não estiver, volto no seguinte. E se ainda assim eu não te ver, vou te considerar morto.

E tão veloz quanto apareceu, sumiu. San continuou deitado no chão por vinte minutos, seu estômago péssimo, e a tontura só piorou.

Aproveitando estar incapacitado, perguntou a Sacro:

— Qual classificação está o poder dele?

— Épico. Pessoas com teleporte são difíceis de se achar.

— Agora entendi o porquê de dizer ser bom em fugir.

— O que sentiu ao encostar nele?

— O normal, uma energia entrando no meu corpo e indo ao cérebro.

— Sem diferença das outras vezes?

— Mais ou menos, foi forte, como se tivesse carregado de essência.

— Interessante, lembre disso, da sensação; pode ser um jeito de descobrir a classificação dos próximos.

Ficando de pé, deu tapas na roupa, limpando a terra e abriu o mapa. A base segura mais próxima era a horas de distância; porém, havia outra que demoraria o dobro, mas se conseguisse, encurtaria uma boa caminhada da viagem.

Levantando a cabeça, o sol demoraria horas até se por, e talvez nem visse monstros. Escolhendo arriscar, começou a sua caminhada.

O caminho era em uma área amarela, e mesmo assim nenhum monstro apareceu; na verdade, tudo continuava bem. Via animais de vez em quando e frutas espalhadas.

No entanto, continuava sendo uma área amarela, e monstros andavam por aí, longe da cidade e sem medo.

Andando com os sentidos alerta, percebeu algo vindo na sua direção. Abaixando a cabeça na hora, evitou por pouco, fazendo um vento nos cabelos. Conseguindo se afastar, encontrou o culpado.

Andava de quatro, sua barriga quase encostando o chão; seu corpo era revestido em uma armadura marrom espinhenta e uma cauda longa afiada. Era conhecido como bicho de terra.

San podia fugir, contudo, queria testar a força da sua habilidade. Desde o aprimoramento, não conseguiu realizar testes, então considerou um bom momento.

Sem hesitar, ativou uma bala de energia na ponta do dedo e atirou mirando na cabeça. Em uma velocidade surpreendente, acertou a carapaça. Ao invés de conseguir matá-lo, um pequeno rastro de fumaça saía do local.

“Tá legal, é mais resistente do que eu esperava, ou o meu tiro é fraco. Tanto faz, é gordo, posso continuar a tentar o acertar.”

Encarando o humano na sua frente, a besta abriu a boca, revelando dentes pontudos. Seus olhos escuros começaram a brilhar. Prestes a formar um segundo tiro de energia, escutou:

— Desvie. — A voz de Sacro, sendo urgente.

Confiando no seu relógio falante, se jogou na grama; após isso, um vento forte passou. De olhos arregalados, um monstro o ultrapassou em segundos, acertando uma árvore.

“Aí, merda, é rápido.” Por sorte, o bicho de terra andava de quatro e tinha dificuldade em se virar. Sacando a espada, foi em direção à sua parte de trás, pretendendo esfaqueá-lo.

Antes de se aproximar, a cauda espinhenta, de algum jeito, sabia sobre o inimigo nas suas costas e foi na sua direção. Usando a lâmina como escudo, teve o corpo jogado para trás.

Caindo no chão, o monstro virava na sua direção, os olhos brilhando e a boca aberta. Sabendo que se fosse acertado assim, poderia morrer, concentrou toda a essência na palma da mão e disparou.

O bicho de terra ativou sua velocidade e pulou em frente; recebeu a explosão diretamente no rosto, só servindo para o retardar momentaneamente, e acertou a barriga de San.

Rolando no chão, parou longe, tossindo bastante e já sentindo o corpo ficando fraco por pouca energia. Sua força acabava rapidamente, então, superando a dor, pegou impulso e escalou uma árvore.

Chegando em um galho, tudo tremeu; de relance, viu o monstro utilizando sua cauda e tentando acertar o humano. Em uma boa altura, pensou: “A natureza me salvando de novo.”

Olhando para baixo, avistou o bicho de terra irritado. Alguns metros, sua espada jogada na grama. Escolhendo descansar, o observava.

Após uma hora, seu principal pensamento era: “Por que essas coisas ficam me esperando?” Com sua essência recuperando, notou certas peculiaridades. A besta só conseguia ir à frente na velocidade alta, sem mudar o percurso. Sua cauda era afiada e ia longe. No entanto, teve algo mais chamativo.

Seu corpo era uma armadura, mesmo assim é necessário aberturas na movimentação; prestando atenção nisso, achou algumas, uma no pescoço, nas articulações e a barriga.

Durante esse tempo, o monstro andou de um lado a outro, às vezes indo longe e voltando correndo, imaginando ter enganado sua presa. Esperando isso, San focou os olhos na sua arma caída.

Sem demora, a besta entrou no meio dos arbustos. Pulando, rolou na grama e pegou a espada de novo e subiu no galho. Pronto, preparou a garganta e gritou:

— Isso aí, maldito! Foge, covarde!

Entendendo ou não, o bicho de terra voltou, encarando o humano. Erguendo o dedo, San apontou e deu um tiro, acertando a carapaça de novo.

Juntando a essência de novo, deu um tiro, acertando no exato lugar da última vez. Repetindo isso quatro vezes, já se sentia esgotado, por sorte, deu certo.

Pegando distância, o monstro estava irritado. Com os olhos brilhando, se jogou no tronco. Na terceira tentativa, dava pra sentir uma certa inclinação.

Nessa tentativa, foi a hora. Como demorava para se virar, San esperou esse momento, o monstro perto o suficiente; pegando impulso, se jogou pra baixo, mirando no pescoço.

O que não esperava era ter errado o pulo, desviou da cauda, mas a direção era na cabeça. Sem forma de mudar o caminho, só deixou.

Quando chegou, a lâmina perfurou seu crânio, ultrapassando até o outro lado. Todo o corpo do bicho de terra permaneceu paralisado e caiu no chão.

Assustado, San ficou parado, tentando entender aquilo. Tirando sua arma, o sangue escuro de monstro pintou a lâmina. Curioso, deu uma estocada na armadura.

Incrivelmente, ultrapassou com certa dificuldade. Olhando incrédulo, abriu um sorriso animado. “Armas bestiais valem a pena.”

Se achando invencível e animado para a próxima luta, até ansiava encontrar inimigos; nesse instante, um uivo ecoou pela floresta. “É melhor eu ficar calmo, perigo é o que mais tem por aqui.”



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