Volume 1 – Arco 2
Capítulo 22: Apoio Místico
— Endoidou, Vaia?! Foi pelo sangue cheio de misticismo do Lâmina que você quase matou todos no barco! — Talyra se virou para a colega com um semblante desesperado.
— Maldição… Querem que toda essa luta e esses sacrifícios sejam em vão?! — respondeu — Heinrich, suas filhas, e até mesmo Jasmyne colocaram a fé da proteção dessa criança sobre nós!
— Vaia… — murmurou Lâmina, ele via o rosto frustrado da mulher enquanto não conseguia controlar suas próprias emoções. Se ele lutasse com tudo, poderia congelar até onde se via o horizonte, mas, possivelmente mataria a bebê e todos à sua volta.
— Ela tem razão
Cálix então continuou:
— Pessoalmente, eu não vi o que aconteceu com Vaia enquanto ela estava em frenesi. Pra ser sincero, eu estou aqui para concluir minha missão… — ele olhava fixamente para o navio, mas se virou para seus companheiros e esboçou um sorriso com o canto da boca.
— Nossa missão… é proteger aquela bebê! E eu acho que devemos dar nosso duzentos por cento!
Aquelas palavras eram tudo o que Vaia queria ouvir. Mesmo que O Círculo tivesse um envolvimento no envio daquele homem para matar a criança, o coração da moça ainda dizia para ela ir com tudo… Para proteger…
As pessoas que não a viam como uma aberração.
A bebê que lhe deu um senso de valor.
Aos amigos que estão dispostos a se sacrificarem para ajudá-la.
Todos olhavam para Cálix. Quando Lâmina nem percebeu, Vaia agarrou o espadachim e mordeu seu pescoço.
Ela ansiava muito por esse momento, uma fome gravada no fundo da sua alma. Seus instintos monstruosos nunca conseguiriam imaginar tamanho gosto e poder que viria do sangue de um cara acima da média — ao ver dela.
Era um agridoce que dava uma dor de cabeça satisfatória. Era picante ao ponto do nariz de Vaia quase sangrar. Ela estava de olhos fechados, mas realmente queria gritar de tanta felicidade.
— Esquisito… — Cálix se voltou para o navio novamente — mas, romântico, eu diria.
Talyra queria dar um soco em Cálix naquele momento. Mas teve de se conter para ajudar Lâmina, que caiu no chão. O ar frio que exalava de seu corpo foi lentamente se desfazendo no vento da tempestade.
— Acho… que peguei um pouco mais do que deveria… Me desculpa…
A carta de missão, guardada na cintura de Vaia, brilhou em um clarão azul, antes de se apagar por completo.
…!
— Ela… está racional?
— Talyra, está com aquele seu livrinho? Veja se tem alguma magia para tratar o sangue do ruivinho aí — disse Cálix — Minha bênção já está pronta. Já foi difícil pedir para o meu Deus me dar uma pistola… Imagina abençoar alguém com Aura de demônio…
O ferimento da perna decepada de Vaia explodiu, gerando uma nova em folha instantaneamente. Ela pegou o salto-alto do outro pé e jogou para trás.
Vaia passou o braço no rosto, tirando a maquiagem borrada. Seus olhos estavam vermelhos, com uma íris preta como o fundo de um abismo. Os raios vermelhos e negros que se espalhavam pelo convés anteriormente, agora iam do corpo esbelto da jovem até as águas do abismo revolto.
Ela andou lentamente pelo oceano até desaparecer em um clarão vermelho que foi em direção ao navio.
Zaltan chegou aos aposentos do navio de Heinrich, sendo guiado pelo som dos choros incessantes da bebê. Ele sacou a adaga vermelha de dentro de seu casaco branco manchado de sangue e começou sua busca.
Ele sabia que tinha raiva da bebê, mas não conseguia dizer o porquê. Era extremamente similar ao ódio que sentia por Jasmyne, mesmo que um pouco menos racional.
Estava muito confuso atualmente, pois não entendia como poderia se esquecer dos maus tratos que levou de Jasmyne desde sua infância. Ninguém esqueceria os traumas assim…
O rei suspeitava que fosse isso, mas não conseguia se controlar, era como um impulso sombrio dado por alguma fonte na qual não conseguia discernir mesmo que fosse a coisa que mais quisesse fazer.
Os choros e gritos da bebê ficaram mais altos, mais altos… Até que Zaltan se virou para um barril com a tampa aberta, jogado no chão.
Sua mente até entrou em devaneios por um instante, como se tivesse atrasado a própria busca para adiar o inevitável.
Olhou dentro e não conseguiu acreditar…
Cabelos roxos e rosados como um céu noturno estrelado, uma pele clara como a neve e olhos vermelhos enormes. Não gostaria de admitir, mas aquela figurinha o lembrava de Alessa… “Que droga…” pensou
— Me pergunto onde será que vai doer menos… — disse Zaltan segurando a bebê, enrolada nos panos. Pareceu se acalmar na presença dele, mas ainda fungava e suspirava.
Zaltan não viu Alessa morrendo, mas agora, teria que matar uma criança com as próprias mãos, era inevitável… O mesmo fechou os olhos e o rosto todo. Sentia nojo de si, mas era uma etapa necessária. Poderia comandar seu reino em paz, ao lado de indivíduos tão poderosos quanto ele…
A adaga se aproximou da cabeça da criança. Zaltan virou a cabeça por completa durante o ato.
Nhac!
Zaltan olhou de volta para a bebê. E não conseguia acreditar nos seus olhos.
— ELA ESTÁ COMENDO A ADAGA?!!
O rei ficou boquiaberto enquanto a criança pegava a arma de suas mãos e comia como se fosse uma barra de chocolate. Pedaço por pedaço. Até que não restou nada na mão dele.
Dito pela Elite d’O Círculo, aquela adaga se tratava de um objeto místico de extrema concentração de poder. Tanto que Nira nem conseguia segurar, apenas Zaltan, por ser um item de sua missão.
O homem de voz grossa na carta d’O Círculo não estava mentindo: essa bebê é muito especial.
O rei estava desacreditado, soltando a criança em cima dos barris. Ela arrotou no momento em que caiu.
Acompanhado do choque, Zaltan sentiu uma Aura forte se aproximando rapidamente do navio. Sua leitura não conseguia acompanhar a velocidade para desviar.
“Humano? Monstro? Vampiro? Demônio?”
— T-Tudo?! O quê?!
Ele nem conseguiu reagir.
Os jovens só viram o navio tremer ao longe enquanto as faíscas vermelhas explodiam até os céus. Um vulto branco passou por todos eles, acompanhado de um rastro de sangue.
— Vaia! Você vai destruir o navio inteiro! — gritou Talyra
“Ela ficou forte desse jeito… Só com o sangue do Lâmina?!”
Já Cálix parecia mais entusiasmado:
— Acaba com ele, Vaia! Uhu!
A maga estava com Lâmina solto em seus braços, ela pegou o livro de magias de seu pai, e o folheou. Procurou com a maior precisão que conseguia, mas não achou nenhuma magia sobre transfusão de sangue.
O líquido vermelho jorrava das marcas das presas de Vaia e o corpo do espadachim ficava cada vez mais quente. Lâmina suou pela primeira vez.
— Lily, como ele tá? — Cálix se agachou, colocando a pistola no bolso — Conseguiu alguma coisa?
— Claro que não! Como eu poderia prever que a Vaia iria simplesmente…?
Cálix pareceu ficar um pouco nervoso. Engoliu em seco e deu uma risada nervosa enquanto puxava a própria gola.
— E-Ei… Lâmina, vai realmente deixar uma mordidinha te matar? Fácil desse jeito…?
— Que droga… — resmungou Talyra — Eu não consigo salvar ele, e a única que poderia…
Ela olhou para o barco. Vaia descia lentamente, enquanto Zaltan, do outro lado do campo de batalha, mal conseguia se levantar.
— Raios, Cálix! Você é um clérigo! Não consegue fazer anda a respeito? Estancar o sangramento, sei lá!
— Vê se dá pra usar o cachecol dele!
Talyra puxou o cachecol cinza completamente enrolado no pescoço de Lâmina e enrolou em torno da ferida, ele ficou rapidamente ensanguentado.
— Por favor… — A maga choramingou com suas mãos vermelhas recebendo os pingos da tempestade.
Se Lâmina morresse ali junto de Zaltan, o que impedira Vaia de perder o controle novamente e matar todos? Ninguém sabia como o cérebro daquela maluca funcionava mesmo…
As mãos de Talyra tremiam e ela não conseguia segurar as lágrimas no seu rosto. Ele prometeu que ia proteger todos eles, não é?
…
Até que o sangue no cachecol congelou lentamente. Cada gota de sangue esfriava e se esmigalhar no ar.
Talyra sentia a pulsação voltando com mais intensidade. Ela tirou os braços do ferimento dele para evitar receber queimaduras de frio. Puxou o livro de magias e tocou com a varinha na própria cabeça, aplicando a magia de proteção térmica.
— Ah! Ele está vivo! — triunfou Talyra, abraçando o amigo em um suspiro de alívio
— Que susto que você me deu, Lâmina… Lâmina?
O rosto do espadachim estava sério, parecia decepcionado. Mas não expressava dores nem sequelas da mordida.
Lâmina suspirou:
— Eu confiei nela…
— Bom saber, campeão, mas agora nós temos problemas maiores! Temos que finalizar o loirinho aquático antes que ele acabe com todos nós!
Lâmina se levantou grunhindo e pegou sua espada:
— Não sei que truques na manga ele ainda pode ter… Talyra, se agasalhe… Eu vou com tudo agora!
O mar sob os pés de Lâmina explodiu em gelo, a Aura fraca dele cresceu exponencialmente até atingir níveis superiores aos que estavam antes da luta.
— Brrr! O que deu nele? — disse Cálix enquanto esquentava as mãos, preparando uma bênção.
— Uma pessoa especial pediu para eu concluir minha missão, só isso…
Dentro do casaco de Lâmina, sua carta de missão d’O Círculo também piscou em azul, só para se apagar completamente no instante seguinte.
Zaltan recobrou o equilíbrio, cambaleava e cuspia sangue no chão. Um som de estalo ecoou pela chuva, quando ele ajusta sua mandíbula deslocada.
Mesmo com a tamanha força do golpe de Vaia, o rei parecia intacto. Parece que ele conseguiu realizar uma defesa perfeita antes de ser acertado, apesar de ter sofrido o ataque.
“Eu não vejo o brilho da carta vindo de Lâmina, nem da Vaia… o que está acontecendo?” pensou Cálix
Vaia chegou ao lado dos colegas. Não conseguiu conter a curiosidade de indagá-lo:
— Como você continua de pé…?
Talyra analisou a Aura de Zaltan com mais cuidado. Ela sentia outra presença moldando as cores azuladas do Rei.
— Alguma entidade poderosa está dando suporte para ele…
— Porra, que saco! — bufou Cálix. Ele sacou a pistola novamente — Anulação de misticismo é algo tão cobiçado assim?
“Assim como Jasmyne, a ‘entidade absoluta’ correspondente ao misticismo desse cara deve estar apoiando…” pensou o clérigo
— Ele usa muito as mãos para manipular a Aura… Não há engano, ele é um feiticeiro — concluiu Talyra
Cálix já completou a tese da maga com sua aposta:
— Então a Mãe Natureza tá dando poder pra ele? Fala sério…
As reclamações de Cálix foram cortadas por um tremor no chão. A Aura de Lâmina já havia congelado boa parte do ambiente onde estavam. Zaltan desfez o feitiço que mantinha o mar como uma espécie de “chão” onde era possível caminhar.
— Já vi que não vou conseguir matar a criança com tanta facilidade assim! — berrou Zaltan. Sua Aura crescia a cada palavra pronunciada.
Os ventos e a água do oceano formavam um redemoinho em torno do feiticeiro enquanto uma extensa fumaça azul brilhante se manifestou do corpo dele. A ideia de que entidades diferentes estavam manipulando o seu corpo e as suas memórias era horrível.
E o rei estava finalmente ficando instável. Muito rapidamente.
— Droga… — resmungou Talyra
— O que está acontecendo com ele? — perguntou Lâmina
— Ele recebeu um apoio direto da entidade da feitiçaria. Ele está funcionando quase que como um avatar dela. Em outras palavras…
— Estamos literalmente lutando contra o equivalente a um semi-deus — completou Cálix
Zaltan estalou os dedos — com a mão que ainda tinha todos. A chuva parou instantaneamente. O céu clareou e as águas do Abismo Revolto se acalmaram.
O antigo ambiente caótico que estavam lutando se tornou o mar sereno que abençoava os jovens e o navio com a luz dos três sóis.
A plataforma de gelo criada por Lâmina estava firme como um iceberg, todos conseguiam ficar de pé tranquilamente. Além de estarem protegidos do frio intenso à sua moda individual.
Em resposta, Cálix levou sua mão para o alto, de uma luz divina, outra pistola surge na mão livre.
— Meu Deus… Então tenho permissão para matar…?
…
— Então o amor no coração dele foi apagado?
Zaltan gritou de volta em uma voz distorcia, sua Aura se expandia a cada palavra:
— Amor? Patético! Onde ele esteve minha vida toda?!
“Não adianta mais conversar com ele…”
“Essa é a reta final! Ele atingiu o ápice de poder! Lâmina, Vaia e Cálix dependem de mim agora… mas será que eu consigo…?”
A tensão no coração de Talyra crescia muito, ela suava frio e nem conseguia respirar direito. Seria a hora de usar sua magia em potencial total?
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