Juiz Rúbeo Brasileira

Autor(a): W.Braga


Juiz Rúbeo

Capitulo 1: O INESPERADO

Um ser misterioso e intrigante folheava um antigo grimório, absorvendo as palavras escritas sobre o território de Iriarnes, localizado no continente de Eldoria.

A cada página virada, ele estudava a geografia do lugar, seus olhos se fixando nos mapas espalhados sobre a mesa, de madeira escura e rústica.

Com um olhar profundo, quase mágico, ele conseguia “ver” a terra que o grimório descrevia.

Era como se estivesse lá, caminhando pelas densas florestas, atravessando as amplas planícies e vales. Colossais montanhas e abismos profundos faziam parte daquela vasta e selvagem geografia.

Era óbvio que ele precisava conhecer cada detalhe daquele território para sua missão, aquilo era essencial.

Enquanto lia, absorvia tudo com atenção. Sabia que Iriarnes não era apenas uma terra de beleza natural; era também um lugar de mistérios antigos e perigos mortais.

Lá, as Masmorras Místicas: ocultavam segredos que envolvia Criaturas Celestiais e seres do Submundo dos Tempos Antigos.

Ao virar mais uma página, ele se deparou com informações sobre a capital, Sophianes, sob o governo de Elmers de Andoras, escolhido pelo rei Darnets na cidadela real de Mifia.

O que ele procurava estava bem ali, e não conseguiu evitar um sorriso de satisfação.

Enquanto isso, em uma modesta e aconchegante residência, uma família se preparava para partir.

Era o início de uma jornada que, mais tarde, seria registrada nos pergaminhos e nas páginas da história do Mundo Místico.

— Vamos, Niria! Se não sairmos agora, vamos nos atrasar! — disse Pietros, o marido, com a voz firme.

Niria, uma feiticeira de Quinto Nível, já em plena ascensão para os Níveis Nove e Dez, apenas acenou com a cabeça, sem se apressar.

Ao lado dela, Pietros, um guerreiro de Sexto Nível, mas com potencial para alcançar o Décimo Segundo, ajustava suas vestimentas formais.

Eles tinham três filhos, cada um com um futuro promissor pela frente.

O mais velho, Narion, com treze ciclos de vida, já era reconhecido como um herói em formação.

Sua irmã, Pietras, com dez ciclos de vida, quando teve sua revelação de classe e começou a treinar como Maga.

Ambos estudavam suas habilidades em locais específicos, sob a orientação dos Clãs dos Heróis e das Magas.

A família estava prestes a embarcar em algo grandioso e o destino deles logo se cruzaria com os mistérios de Eldoria.

O mais novo, com apenas sete ciclo de vida, estava ansioso, esperando a mãe para que, finalmente, toda a família pudesse sair em direção ao templo.

Ali, o pequeno passaria pela Avaliação Mística, um rito importante para definir sua classe.

— Pronto, vamos! — disse Niria, sorrindo, enquanto chamava seu marido.

Pietros, com a cara fechada, não parecia tão animado.

Ele sabia que, se houvesse qualquer tipo de atraso no templo, a avaliação teria que ser remarcada, o que poderia levar meses.

O tempo estava contra eles.

Com pressa, saíram de sua casa, um sobrado charmoso, feito de pedras e madeira rústica.

Em frente, uma carruagem simples, mas robusta, os esperava.

Não eram da nobreza, mas a vida de aventureiros e instrutores de Clãs os sustentava bem.

Eles ganhavam dinheiro realizando missões compatíveis com seu nível ou, muitas vezes, oferecendo treinamento a jovens aprendizes em formação.

— Vamos logo! — Pietros disse já se aproximando da carruagem. Antes de entrar, ele deu uma última instrução ao guia:

— O mais rápido possível para o Templo das Revelações Divinas.

— Sim, senhor! Pode deixar! — respondeu o guia, acenando enquanto se acomodava na frente da carruagem.

Pietros entrou, fechou a porta atrás de si e, com um movimento ágil, o guia esticou as rédeas e deu o comando para os dois cavalos, fortes e saudáveis, começarem a andar.

A carruagem se moveu rapidamente pela estrada.

O templo não estava tão longe, mas o fluxo de famílias que também estavam indo para lá fazia com que as ruas ficassem movimentadas.

E, como sempre, as avaliações místicas aconteciam por ordem de chegada.

O que deixava Pietros ainda mais nervoso.

Durante o trajeto, a família passou por várias outras carruagens, algumas mais luxuosas, outras mais simples, além de famílias a cavalo ou até mesmo a pé.

Era impossível não ver a grande expectativa no rosto de todos os pais que também levavam seus filhos para a avaliação.

O semblante de Pietros estava tenso, visivelmente preocupado.

— Meu amor fique calmo. Vamos chegar a tempo para que nosso filho passe pela Revelação Divina. — disse Niria com um sorriso suave, tentando tranquilizá-lo.

Ele olhou para ela, ainda com um semblante de aflição.

— Eu sei que estamos dentro do horário, mas minha preocupação não é com o tempo, Niria... –– ele falou inquieto.

Ela franziu o cenho, tentando entender o que o estava perturbando.

Então, a lembrança veio à mente.

Seu filho caçula, no teste preliminar que fizera aos três ciclos de vida, não conseguiu ser classificado.

Nenhuma classe foi atribuída a ele, o que gerou uma enorme apreensão.

— Você está com medo que... — Niria começou a dizer, mas não terminou a frase.

— Exato! — Pietros interrompeu, com um suspiro. — Se ele não for classificado hoje, eu não sei o que vamos fazer. Não podemos arriscar mais um ano de incertezas.

O silêncio tomou conta da carruagem por um momento, mas Niria se manteve firme.

Ela sabia que o filho tinha um grande potencial, algo fora do comum. Mas o que poderia ser?

— Vai dar tudo certo, eu tenho certeza! — disse Niria com um sorriso cheio de confiança, terminando de organizar seus pensamentos.

Pietros a olhou e, ao ver a determinação nos olhos dela, sentiu a preocupação começar a diminuir.

A confiança de Niria tinha esse efeito nele.

Enquanto isso, as crianças, do banco de trás da carruagem, se distraíam observando pela janela.

Narion e Pietras estavam encantados com a movimentação das outras famílias, rindo e brincando, quase sem se preocupar com a tensão que os rodeava.

Eles estavam mais interessados em ver tantas outras crianças sendo levadas por seus pais, todos indo para o mesmo lugar, o Templo das Revelações Divinas.

Quando a carruagem finalmente parou em frente ao templo, Pietros foi o primeiro a descer.

Seus olhos notavelmente se fixaram na enorme quantidade de carruagens, carroças e até algumas famílias a cavalo.

Tudo estava lotado de crianças da mesma idade do seu filho caçula, todas se dirigindo para o mesmo destino: serem avaliadas por uma junta de conselheiros dos clãs.

— Vamos com calma, pessoal. — disse Pietros, dando uma última olhada na carruagem antes de ajudar Niria a descer.

Ele foi o primeiro, seguido pelas crianças, que estavam empolgadas com o tamanho do templo.

O último a sair foi o filho caçula, que caminhou de mãos dadas com a mãe. Ele olhou para todos os lados, os olhos brilhando de curiosidade.

Pietros tinha dado uma instrução ao guia para esperar em um local determinado, de onde eles se encontrariam mais tarde para o retorno.

A carruagem seguiu seu caminho, desaparecendo pela estrada enquanto a família se aproximava da imensa escadaria de mármore que levava ao interior do templo.

O Templo das Revelações Divinas, com sua arquitetura colossal e magnífica, parecia brilhar sob o sol, impondo-se como um monumento à grandeza e à importância do ritual.

Suas paredes de pedra, cobertas por símbolos misteriosos e reluzentes, faziam com que qualquer um, mesmo os mais experientes, parassem para admirar a imponência do lugar.

Era um cenário que só aumentava a ansiedade de todos.

Pietros olhou para o templo, respirou fundo e se virou para os filhos.

— Vamos, meu pequeno, está na hora de mostrar seu destino.

Niria sorriu ao ver a empolgação nos olhos do seu filho caçula, mas não deixou de sentir uma ponta de preocupação por ele.

O que ele iria descobrir sobre si mesmo?

Juntos, todos subiram as escadas do templo, cada imerso em seus próprios pensamentos, mas unidos por um único objetivo: a revelação do futuro.

Mesmo que a família já tivesse estado ali outras duas vezes, sempre se sentiam impressionados com a beleza do Templo das Revelações Divinas.

Sua estrutura imponente, tanto por fora quanto por dentro, era sempre capaz de despertar um senso de admiração.

As paredes de mármore pareciam brilhar com uma luz própria, e os vitrais coloridos projetavam imagens quase místicas no interior, criando uma atmosfera única de reverência e expectativa.

Eles seguiram pelo longo corredor central, observando as outras famílias que, assim como eles, estavam ali para que seus filhos passassem pela avaliação.

As diferentes expressões nas faces dos pais variavam, mas uma coisa era comum entre todos: a calma. Ninguém parecia estar com pressa.

Era um rito importante, e todos sabiam que, independentemente do tempo que levasse, ali o futuro de seus filhos seria revelado.

Enquanto caminhavam, encontraram alguns conhecidos.

O casal era bem respeitado na cidade de Zelanes, e muitos deles tinham ouvido falar de suas aventuras.

Alguns até pararam para cumprimentá-los, trazendo seus filhos para o teste, assim como Niria e Pietros faziam.

Era claro que a reputação deles era conhecida entre a sociedade local e aos redores e inclusive entre certos nobres da redondeza, principalmente após os grandes feitos do casal.

Pietros, por exemplo, ainda era lembrado com gratidão por um feito heroico: ele e Niria haviam salvado o filho de um conde de Zelanes.

 A família real seguia uma viagem quando foram atacados por poderosas criaturas malignas durante a noite.

Era um grupo de Beligerantes: guerreiros de elite, que havia sido chamado para proteger o conde, incluindo uma Guerreira Élfica, um Mago e um Gládio, todos especialistas no combate contra seres místicos e sombrios.

Naquele ataque, Niria e Pietros se juntaram ao grupo, destruindo as criaturas e resgatando o filho do conde com grande destreza.

Esse feito os deixou ainda mais conhecidos e respeitados, não só por sua coragem, mas também pelo coração generoso que sempre demonstraram em suas ações.

Enquanto eles seguiam adante: Niria olhou para Pietros, que estava novamente com o semblante tenso.

Ele sempre ficava assim quando falavam de suas conquistas passadas, mas a preocupação que ele tinha com o filho mais novo, que agora se preparava para sua própria avaliação, ainda pesava mais que qualquer lembrança de glórias passadas.

— Vai dar tudo certo, Pietros. — Niria murmurou como se soubesse exatamente o que ele estava pensando.

Pietros assentiu, mas seus olhos não deixaram de brilhar com a preocupação. Afinal, a avaliação do filho caçula era algo diferente de qualquer outro feito que eles tivessem conquistado.

Eles se aproximaram da área onde as crianças se reuniam para começar o teste.

O templo estava cheio de vida, com o som dos passos reverberando pelas paredes sagradas, e os conselheiros dos clãs já se preparavam para iniciar o processo de avaliação.

O filho caçula, com os olhos grandes e curiosos, apertava a mão da mãe.

Era a primeira vez que ele se via no centro de toda aquela expectativa.

Seus irmãos mais velhos, que já haviam sido classificados ciclos atrás, agora estavam ali para dar apoio.

A tensão de Pietros, no entanto, era palpável. Mas Niria manteve sua calma.

— Vai dar certo, meu amor. Ele tem algo especial. — disse Niria, com a certeza de quem acreditava no potencial do filho.

E assim, o momento crucial se aproximava.

Paralelamente, havia outro corredor por onde as famílias estavam voltando já das Revelações Divinas.

Algumas estavam extremamente felizes com a classe e o clã que seus filhos ou filhas haviam sido designados.

Mas outras famílias, principalmente aquelas ligadas à nobreza, próximas à realeza do reino ou aos regentes das cidadelas, exibiam rostos mais sombrios.

Não eram todos que aceitavam com facilidade os destinos que a Revelação Divina havia revelado.

A jovem criança, com seu olhar curioso, percebeu a tristeza nas faces de algumas das outras crianças, mesmo à distância.

O peso das expectativas que não haviam sido correspondidas estava claro em seus semblantes.

Sua mãe, ao perceber a expressão pensativa do filho, olhou para ele e perguntou, suavemente:

— O que foi meu filho?

Ele, com a voz tremula e triste, respondeu:

— Por que aquelas crianças estão tristes e chorando, mamãe?

Niria olhou para ele com ternura e, com um sorriso suave e harmonioso, respondeu:

— Elas estão tristes porque seus pais não compreendem o dom maravilhoso que receberam da Revelação Divina. Cada classe é única e especial, meu amor. O que importa não é o que os outros esperam, mas o que você será capaz de fazer com o dom que receber.

O sorriso de Niria era tão acolhedor que, com suas palavras e presença, conseguiu afastar a tristeza dos pensamentos do filho.

Ela continuou, apertando sua mão carinhosamente:

— E não importa qual dom você receberá, sempre terá o nosso amor. Sempre.

Nesse momento, o filho, com seus cabelos negros e olhos da mesma cor, de pele clara, sorriu.

O sorriso era de uma alegria pura e sincera, como se o amor e o apoio incondicional dos pais tivessem dissipado toda a tristeza que poderia ter se instalado em seu coração.

— Vamos, temos que continuar ou seremos os últimos a sair do templo. –– disse Pietros, quebrando o silêncio com uma leve risada, tentando aliviar a tensão no ar.

Ele sabia que o tempo era precioso, e o caminho ainda não estava completamente percorrido. Todos se levantaram, caminhando em direção ao próximo estágio do rito.

À frente, o local onde as confirmações seriam feitas e onde as Revelações Divinas seriam anunciadas estava mais próximo.

O templo, com sua imensidão, possuíam vários salões destinados a esses testes, e o local indicado para o filho mais novo era diferente dos locais onde seus irmãos mais velhos haviam feito a avaliação.

A família seguiu para a parte norte do templo, um setor mais tranquilo, onde outras famílias também se dirigiam.

Cada passo aumentava a expectativa, mas também o nervosismo, especialmente de Pietros, que ainda carregava a preocupação de que o destino do filho caçula pudesse ser incerto, como havia sido o teste preliminar de quando ele tinha apenas três ciclos de vida.

À frente deles, um pouco afastada, caminhava outra família.

O casal seguia de mãos dadas, com uma menina pequena entre eles, também a caminho do mesmo local.

A criança parecia ansiosa, seus olhos observando o grande templo com uma mistura de admiração e receio.

Niria, ao perceber a cena, olhou rapidamente para o marido e sorriu. Como se estivesse tentando transmitir mais uma vez que tudo ficaria bem.

O que chamou a atenção do caçula, naquele momento, foi a linda vestimenta de uma menina que estava à frente dele.

O vestido da garota chegava até os pés, quase prateado, com bordas douradas e um laço delicado feito de uma rosa.

A criança não conseguiu ver o rosto da menina, pois ela usava um capuz da mesma cor do vestido, cobrindo-lhe a cabeça.

No entanto, a cor da roupa ficou gravada em sua memória, era algo tão marcante que ele não poderia esquecer.

A caminhada continuou até que chegaram a um portal que dava acesso a um imenso salão.

O teto estava ausente, e o céu claro e limpo acima parecia distante e distante, mas o vento gelado da manhã cortava o ar, fazendo com que todos sentissem um friozinho na pele.

Alguns braseiros estavam acesos por todo o salão, espalhando uma luz suave e calorosa para aquecer os presentes.

O cheiro do incenso preenchia o ambiente, proporcionando uma sensação de tranquilidade e paz.

Era como se o templo todo tivesse sido preparado para garantir que o momento fosse o mais sereno possível.

Ao fundo, ouviasse o som suave de instrumentos musicais, quase imperceptíveis, mas perfeitamente em harmonia com a cerimônia.

O som ajudava a equilibrar a energia no ambiente e a criar a atmosfera certa para aquele momento de grande importância.

Próximos aos enormes pilares de pedra que sustentavam o salão: estavam várias esculturas de deuses, cada uma representando um ser místico e poderoso.

Cada escultura segurava um objeto que simbolizava a afinidade e o tributo daquela divindade, e essas estátuas estavam ali para lembrar todos da grandeza daquilo que estavam prestes a presenciar.

A fila de famílias, com suas crianças e pais, já estava formada diante de um pequeno altar.

As crianças, com os olhos brilhando de ansiedade, estavam prestes a se submeter ao ritual que as definiria.

O procedimento era simples, mas com um grande peso: cada criança colocaria uma das mãos sobre uma gema octogonal cristalina, suspensa no ar, flutuando misticamente.

Era um artefato místico, divino, e a partir dele surgiria uma pedra preciosa que determinaria qual clã a criança seria associada.

A gema mostraria a cor e o aspecto da pedra que surgiria, e essa pedra indicaria a classe e os ensinamentos que a criança receberia.

Mesmo que fosse algo completamente diferente da classe de seus pais ou das gerações passadas, aquele era o destino dela, e todos sabiam que as revelações divinas não falhavam.

O mediador que era um sacerdote, que estava à frente da cerimônia, explicou isso, e ao seu redor estavam os representantes de cada clã, aguardando ansiosos.

A fila começou a se mover lentamente.

Pais e filhos subiam ao altar, e o ritual acontecia, um de cada vez.

Quando uma criança tocava o cristal místico, um brilho suave se irradiava da gema mística, e logo sua Gema Divina Mística era invocada, determinando seu futuro.

Cada revelação trazia surpresas, alegrias, e, em alguns casos, desapontamentos.

Muitos estavam ansiosos para ver o que o destino reservava para seus filhos.

Estava quase chegando a fez casal Pietros e Niria e de seu filho mais novo.

A tensão estava no ar, mas todos sabiam que a família tinha grandes feitos e conquistas, e a expectativa era alta.

No entanto, o que aconteceu logo antes de subirem ao altar foi algo que ninguém esperava.

Aquela menina, que havia chamado tanto a atenção do caçula de Pietros e Niria, subiu ao altar com seus pais.

Eles eram um mago e uma feiticeira de altíssimo nível, com gerações de poderosos ancestrais.

A menina colocou a mão na cristalina gema, esperando que o ritual seguisse como de costume.

Mas nada aconteceu. O cristal não brilhou. Não se formou nenhuma pedra preciosa.

Todos ficaram em silêncio.

O sacerdote olhou perplexo para os representantes dos clãs, e os outros também estavam visivelmente surpresos.

O que poderia ter dado errado? Como poderia acontecer de uma criança de pais tão poderosos não gerar uma gema?

Os pais da menina começaram a demonstrar sinais de preocupação e tristeza.

A mãe da criança, uma feiticeira de alto nível, olhava para o marido, tentando entender o que estava acontecendo. Mas a aflição tomou conta de ambos.

A menina, com os olhos cheios de lágrimas, começou a chorar. Ela tinha visto o que acontecia com outras crianças que não passavam no teste, especialmente com aquelas de famílias nobres ou de boas condições financeiras.

 Quando uma criança não recebia a gema, muitos olhavam com desprezo, com a impressão de que a criança era "menos" do que os outros.

E aquele peso estava nas costas da menina. Ela já sabia que, se não fosse classificada, as pessoas poderiam olhá-la com olhos de desaprovação, como se ela fosse uma falha. Isso a estava afetando profundamente.

O coração de Pietros se apertou ao ver a menina chorando, e ele olhou para sua esposa, Niria.

Ela, que sempre tinha uma visão tão clara sobre as coisas, apertou a mão de seu filho caçula, com a certeza de que o destino dele também estava prestes a ser revelado.

Mas, naquele momento, a cena triste da menina, que não sabia qual seria o seu futuro, parecia refletir um medo que todos ali compartilhavam: o medo de não ser o que todos esperavam.

Sem perceber, a menina colocou a outra mão sobre o cristal. Nesse momento, algo inesperado aconteceu.

O cristal começou a brilhar intensamente, irradiando uma cor forte e mesclada, como um reflexo de duas cores que se mesclavam: rosa e verde.

A gema que surgiu foi uma Kunzita, com seu formato oval e brilho deslumbrante. A pedra, rara e preciosa, tinha um poder especial: a cura.

Ela era conhecida por suas propriedades curativas, um presente divino incomum.

O efeito físico da revelação foi imediato.

O cabelo da menina, que antes era claro, quase loiro, agora parecia refletir as cores da gema: mechas de rosa e verde começaram a se entrelaçar, criando um efeito visual mágico, como se o próprio destino tivesse moldado sua aparência para refletir sua classe: era a marca de uma Feiticeira.

Os pais da menina, antes cheios de aflição, agora estavam radiantes de felicidade.

Eles sabiam que a classe dela seria de grande prestígio, e o brilho da Kunzita parecia confirmar isso.

A representante do Clã das Feiticeiras, que estava ao lado do altar, sorriu ao ver o resultado, satisfeita com a forma como tudo aconteceu.

A menina, agora com sua gema, estava sendo orientada a descer do altar, acompanhada por seus pais, que a guiavam com carinho.

Enquanto isso, o filho caçula de Pietros e Niria observava tudo atentamente.

Ele havia visto a transformação da menina, como o cabelo dela agora brilhava com a cor da gema, e isso o deixou encantado.

Mas o momento mais místico, para ele, foi quando a menina olhou para ele e sorriu.

O sorriso dela era como uma estrela recém-nascida, tão intenso e brilhante que fez o coração do garoto bater mais rápido.

Ele, por sua vez, não pôde deixar de sorrir de volta, com uma alegria genuína e pura. Era uma troca silenciosa, mas cheia de significado.

Após a revelação da menina, mais duas crianças se seguiram.

Cada uma, com sua gema, revelando classes e destinos distintos.

O ar estava carregado de expectativas, mas também de encantamento.

As revelações seguiam em um ritmo compassado, como se o próprio templo estivesse aguardando o próximo grande momento.

E então, chegou a vez do filho caçula de Pietros e Niria. A mãe, com uma expressão de carinho e confiança, olhou para ele e disse, com suavidade:

— Venha, meu filho. Agora é sua vez.

O coração do garoto batia mais forte.

Ele olhou para os pais, que estavam ali ao seu lado, e então se aproximou do altar.

Era o momento em que o destino de tantas crianças seria selado, e ele, embora estivesse nervoso, sentia que algo grandioso estava prestes a acontecer.

Com os olhos fixos na gema flutuante, o menino estendeu sua mão, sentindo uma onda de calor e energia que emanava do cristal.

Todos ao redor observavam atentamente.

O sacerdote estava pronto, os representantes dos clãs aguardavam com um silêncio respeitoso.

Quando a mão do garoto tocou a superfície da gema, um brilho diferente, único, começou a surgir. Não era tão forte quanto o das outras pedras, mas era intenso o suficiente para chamar a atenção de todos.

O cristal começou a se iluminar de forma vibrante, e, dessa vez, a cor que se formou não era uma simples mistura de tons, mas algo que parecia pulsar com poder.

Algo novo, algo que ninguém ali esperava.

A tensão estava no ar, e todos os olhos estavam voltados para a revelação.

Só que um fato que somente alguém de olhar detalhista percebeu.

Mesmo antes de a criança tocá-lo, o cristal já havia a começado a irradiar uma luz sobrenatural.

Com a mão ainda sobre o cristal. O brilho foi tão súbito e intenso que todos ao redor foram cegados por um momento, e muitos deram um passo para trás, surpresos.

Porém, pessoa detalhista, que estava afastada dos outros representantes dos clãs, observava com uma atenção especial, como se já soubesse o que estava por vir.

O cristal, com um poder que parecia sobrenatural, emitiu uma luz tão intensa que mal dava para distinguir os contornos da pedra.

Feixes de luz começaram a se elevar para o céu, como se o próprio templo fosse atingido por uma explosão de energia divina.

Aqueles que estavam nas redondezas do templo, e até mesmo mais longe, no centro da cidade, puderam ver o espetáculo de luzes no céu.

O brilho era tão forte que parecia iluminar toda a cidade, e logo começaram a surgir sussurros e murmúrios entre a população.

Algo extraordinário está acontecendo no templo!” diziam as vozes, enquanto as notícias se espalhavam rapidamente de boca em boca.

No templo, o brilho começou a diminuir lentamente.

Todos puderam abrir os olhos novamente, e o que viram foi impressionante.

Do cristal, uma pedra preciosa surgiu: um Rubi. Mas não era um rubi qualquer.

Sua cor Rúbeo, um tom profundo, intenso e vívido de vermelho, parecia pulsar com vida, como se o próprio cristal ainda estivesse vibrando com a energia que acabara de liberar.

Era uma visão hipnotizante, como se a pedra estivesse viva, e sua intensidade chamava a atenção de todos.

Foi então que, no meio da admiração, alguém gritou:

— OLHEM!

Todos seguiram o olhar da pessoa e, na direção indicada, um arrepio percorreu a espinha de todos.

Suspensa no ar, uma Haste Mística Dourada apareceu, brilhando como os primeiros raios de sol ao amanhecer.

Sua forma longa e imponente se projetava contra o fundo do templo, e na parte superior da haste, uma Balança Dourada flutuava: perfeitamente equilibrada, como um símbolo de justiça e equilíbrio.

O objeto era como algo que nunca haviam visto antes.

 Sua aparência, perfeitamente detalhada, refletia a de uma escultura de um dos deuses que estava perto dali.

Mas ninguém jamais imaginaria que algo assim fosse se manifestar ali, naquele momento.

 Beleza da Haste Mística e a harmonia do equilíbrio da Balança eram incomparáveis, e todos estavam boquiabertos com o que viam.

Os representantes dos Clãs, que estavam ali para orientar as crianças em suas revelações, trocavam olhares confusos.

Nenhum deles sabia o que estava acontecendo, ou como interpretar o que estavam vendo. Foi então que um homem enigmático, que se mantinha mais afastado dos outros, fez uma observação que deixou todos em silêncio.

— Ele é um Juiz...



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