Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 1

Capítulo 25: Um salto de auto insurgência

O gigante rosnou, selvagem e impetuoso, ao ver Garrik cercado pelas bolas de fogo. Sem hesitar, deu um salto poderoso em direção ao alvo. Sua enorme mão se preparava para esmagá-lo enquanto ele flutuava.

— Não, Garrik! — gritou Maya, os olhos arregalados. — Se ele acertar esse soco...

— Maya, faz alguma coisa! — retrucou Cara de Prancha, apreensivo.

O punho do gigante se aproximava rapidamente. Por um instante, parecia que o ataque seria certeiro.

Mas então, algo inesperado aconteceu.

— Beth! — gritou Garrik, arregalando os olhos.

A corrente animada, rápida como um relâmpago, enroscou-se no tornozelo do gigante. A criatura tentou continuar sua investida, mas foi bruscamente interrompida. Perdeu o equilíbrio e tropeçou.

Com um movimento certeiro, Garrik lançou as bolas de fogo. Elas cortaram o ar e explodiram uma a uma no corpo do gigante. As deflagrações ecoaram pela planície, e o monstro foi envolto em chamas.

— Agora acabou — murmurou Garrik, observando a criatura ser consumida pelo fogo.

O gigante soltou um grito de dor. Sua carne já carbonizava. Cambaleou para trás, e a neve ao redor, prenúncio da tempestade vindoura, derreteu sob o calor das explosões. Lentamente, seu corpo tombou, imóvel.

A nevasca começou a se dissipar, enquanto as chamas iluminavam os rostos exaustos de Cara de Prancha e Maya. Garrik pousou ao lado deles.

— Estão bem? — perguntou ele, agora com a voz mais suave.

Cara de Prancha, ofegante e coberto de ferimentos, soltou um sorriso cansado.

— Agora estamos, amigo... Agora estamos.

— Nós conseguimos! — gritou Kilian, com a voz ofegante.

— Boa, cambada de sem-vergonhas. Agora são quatro! — disse Cara de Prancha.

O anão limpou o sangue da testa, caminhando até Nariz de Batata.

— É... conseguimos — disse Garrik, a voz carregada de alívio.

— A parte mais difícil está feita — respondeu Maya, apertando-o com força.

De longe, Kilian acenou mais uma vez, e eles responderam com um sorriso.

Mas, de repente, o olho fechado do gigante se abriu. Em um movimento rápido, ele agarrou Beth Louca, que jazia no chão. A corrente se ergueu e avançou contra Garrik e Maya com força brutal.

Kilian sentiu o coração parar.

A corrente cortava o ar como uma chicotada gigantesca, prestes a esmagar seus amigos.

— Não! — gritou, o desespero vibrando em sua voz.

Uma batida surda tomou sua cabeça. Uma energia rosada, como fumaça, envolveu seu corpo.

— Se eu usar magia agora... posso morrer! — murmurou, tenso. — Mas não tenho escolha...

A corrente descia veloz.

— Preciso tentar!

Kilian flexionou as pernas. A magia rasgava seu corpo por dentro. Com um grito, saltou.

O chão explodiu em pedaços de gelo e terra. Envolto por uma aura brilhante, Kilian avançou numa velocidade aterradora. O ar vibrava ao redor dele.

Garrik e Maya olharam para cima, atordoados.

A corrente descia como um açoite do destino.

Kilian disparava como uma flecha de luz rosada. Seu grito rompeu o vento gélido.

A dor se intensificava. Fendas se abriam por sua pele, e delas escapavam sangue e luz. Seu corpo prestes a explodir.

— Não posso parar! — sussurrou.

O calor se espalhava pelas veias como fogo líquido. As mãos tremiam.

— Vai aguentar! — rugiu, mais para si mesmo do que para qualquer outro.

A poucos metros de distância, seus dedos alcançaram as roupas de Garrik e Maya.

Com a última força que possuía, empurrou-os.

A corrente caiu logo depois, esmagando o solo com um estrondo. A neve voou como uma onda, e um sulco profundo se abriu na terra.

Kilian despencou na neve. O corpo exausto já não respondia. Sangue escorria por seu rosto, mas ele sorriu.

— Consegui... — murmurou, antes que a dor o derrubasse e a escuridão o tomasse por completo.

***

Kilian despertou devagar, os sentidos retornando de forma confusa. O frio e o vento cortante foram as primeiras sensações que o atingiram.

Estava deitado sobre uma cama improvisada, coberto por dois cobertores pesados que mal conseguiam manter o calor. Piscou, tentando ajustar os olhos ao ambiente. O céu, carregado de nuvens escuras, deixava escapar um leve brilho azul do entardecer, iluminando a planície nevada.

À sua frente, uma fogueira crepitava, lançando sombras nas paredes da semi-gruta. Era uma formação natural, sem teto, que oferecia certa proteção contra o vento. O calor das chamas trouxe alívio imediato, e ele suspirou.

Tentou se mover, mas uma dor atravessou seu corpo, obrigando-o a parar. Cada músculo protestava, lembrando-o do sacrifício. O cheiro de uma sopa densa invadiu o ar, vindo de uma panela ao lado do fogo.

— Então acordou — disse uma voz calma.

Kilian virou a cabeça com esforço e encontrou o olhar de Garrik, sentado ao seu lado. O rosto do mago, iluminado pelas chamas, exibia um sorriso cansado, mas aliviado.

— Onde... onde estamos? — murmurou Kilian, com a voz rouca.

— No mesmo lugar — respondeu Garrik, ajeitando os cobertores ao redor do garoto.

Kilian tentou dizer algo, mas não encontrou forças.

— Esta gruta fui eu quem conjurou. Podia ter feito uma casa... mas depois das bolas, fiquei sem energia mágica pra isso — comentou, com um meio sorriso.

Kilian olhou ao redor. A semi-gruta oferecia alguma proteção contra os elementos, e a fogueira no centro emanava um calor reconfortante. O vento soprava do lado oposto. Podia-se dizer que, por ora, estavam a salvo.

— E os outros? — perguntou Kilian, ainda com dificuldade para mover o pescoço.

Garrik apontou para o lado. Maya estava deitada, adormecida, o corpo ainda rígido de tensão.

— Viu ali? Ela ficou desesperada tentando salvar você. Usou tudo que tinha — disse Garrik, agora com um tom mais sério.

Kilian ouviu em silêncio, o rosto inclinado.

— Nunca vi ela assim — continuou Garrik, balançando a cabeça. — Entrou em pânico, como se a vida dela dependesse da sua.

Kilian olhou para Maya mais uma vez, incrédulo com o que ouvia.

— Entendo... deve ter sido por causa do que eu fiz.

— Quem sabe... — murmurou Garrik. — Mas uma coisa é certa: ela não descansou até ter certeza de que você estava fora de perigo.

Kilian fez um esforço para mover o braço em direção à cabeça, mas parou ao sentir a dor.

— Maya... nunca imaginei te ver assim. — Ele a observava naquela forma vulnerável, tão diferente da figura firme e, por vezes, hostil que costumava ser.

— Nariz de Batata está preparando a comida — disse Garrik, apontando para o panelão próximo à fogueira. — E o Cara de Prancha está lá do outro lado. — Ele gesticulou para cima.

Kilian levantou os olhos e, ao ver o braço caído para dentro da gruta, percebeu que o corpo do gigante de gelo estava logo acima deles.

— Ele está extraindo o Purgeno — disse Garrik, com um leve tom de satisfação. — De qualquer forma, a gente ia vencer, mas graças a você conseguimos sair vivos dessa.

Kilian olhou para ele, com confusão e curiosidade misturadas no olhar.

— O que aconteceu comigo? — perguntou, ainda com a voz fraca.

Garrik balançou a cabeça, o olhar intrigado.

— Eu é que queria saber. Nunca imaginei que você fosse capaz de usar magia.

Kilian fechou os olhos por um momento e depois os abriu, sacudindo a cabeça como se tentasse afastar algum pensamento.

— Nunca tinha feito antes... Bem, na verdade, sim. A Maya disse que eu tava meio que contaminado com Etherdoorium.

— Entendo — assentiu Garrik, lentamente. — Mas mesmo assim, isso não significa que saberia como usá-la. Magia é complexa, não se aprende só por ter energia fluindo no corpo.

Kilian lançou um olhar breve para Maya antes de voltar-se novamente para Garrik.

— Ela me ensinou como funciona.

— Com a bolinha de cerveja?

— É. O que tem?

— Ah... então ela só deu uma breve explicação sobre as escolas de magia.

— E como você sabia?

— Quem você acha que ensinou ela? — disse Garrik, sentando-se mais perto. — Magos iniciantes levam um bom tempo para compreender as escolas, especialmente transmutação. Essa envolve um equilíbrio delicado com as leis que regem a natureza.

Kilian respirou fundo. A dor se espalhava pelo corpo como um aviso persistente.

— Eu não sei... mas naquela hora, só queria saltar com toda minha força e tirar vocês dali.

Garrik, lembrando-se do momento crítico, sorriu.

— Ainda não te agradeci por isso. Você salvou minha vida, Kilian. Bom trabalho!

Kilian esboçou um sorriso cansado e estendeu a mão para Garrik.

— A Maya disse que, quando a contaminação com Etherdoorium acabar, eu não vou mais conseguir usar magia. Que é necessário muito treino e estudo.

— Eu discordo. Isso é falácia. Treinar é bom, mas o que vale de verdade é a experiência em combate — disse Garrik com um sorriso.

— Você acha mesmo?

— Absolutamente — assentiu Garrik. — Quanto à magia que você usou... Nem a Maya conseguiu realizar uma manifestação arcana tão grande.

Kilian piscou, surpreso.

— Sério? Mas a Maya é incrível com magia.

— Sim, mas você ainda pode ser mais — disse Garrik, fazendo uma pausa e olhando para Kilian. — E sobre não conseguir usar mais magias depois do Etherdoorium, eu acredito que você já cruzou esse limite.

Kilian balançou a cabeça, confuso.

— O que isso significa?

— Significa que você já usou magia uma vez, e isso é um gatilho sem volta — explicou Garrik. — Uma vez que se consegue fazer, é muito difícil não conseguir outra vez.

— E o Cara de Prancha? — Kilian desviou o olhar. — Você mencionou que ele já estava extraindo o Purgeno. Como isso funciona?

Garrik se ajeitou na posição, tentando ficar mais confortável.

— Já ouviu falar sobre como esses condutores são feitos?

— Não, nunca.

— Para fabricar um Purgeno, assim como Albastrógeno e Zig Resil, é necessário seguir uma receita específica enquanto se extraem certas substâncias do corpo do ser vivo. Cada criatura produz um pouco de cada condutor em partes específicas do corpo.

Kilian olhou para cima, onde Cara de Prancha trabalhava com cuidado.

— Isso parece interessante. Queria aprender. Será que ele me ensina?

Garrik soltou uma risada curta, mas logo ficou sério.

— Melhor não. Ele fica irritado se alguém chega perto enquanto está no meio do processo.

Kilian ficou em silêncio por um momento, observou o fogo e deu de ombros.

— Então tá, né...

Sem esperar resposta, virou-se de lado e puxou as mantas sobre si. O som do vento preenchia o espaço, enquanto a exaustão o puxava de volta para o sono, tão rápido a ponto de deixar a conversa para trás.

Mais tarde, já noite adentro, uma voz áspera o despertou.

— Levanta essa carcaça mole aí, vamos comer — disse Nariz de Batata, com a voz firme.

Kilian piscou várias vezes até se adaptar à escuridão. Tentou se mexer, mas os músculos protestaram. Com esforço, conseguiu se sentar.

Nariz de Batata, Garrik e Maya estavam reunidos em torno da fogueira. O calor trazia uma sensação de segurança.

A sopa quente aliviava seu corpo cansado. Cada colherada era um conforto. Maya, ao seu lado, mantinha os olhos desviados, mas sua postura tensa revelava o desconforto.

— Nariz de Batata, você faz uma sopa como ninguém — comentou Garrik, dando um tapinha no ombro do amigo.

Nariz de Batata bufou, com um sorriso no canto do bigode.

— Só porque o Cara de Prancha é um frouxo, não quer dizer que eu não saiba aceitar elogios.

Todos riram, acompanhando o anão.

— Você foi um idiota por usar magia assim — disse Maya, voltando-se para Kilian. A voz saía dura, apesar da preocupação evidente. — Podia ter morrido.

Kilian sorriu, um pouco envergonhado.

— Desculpa. Só pensei em salvar vocês.

Maya suspirou. Suas mãos machucadas tremiam levemente.

— Só... não faça isso de novo — murmurou, desviando o olhar. As bochechas coradas denunciavam o que não dizia.

— E o Cara de Prancha? Ele não vai vir? — perguntou Kilian, olhando ao redor.

— Não até terminar a extração — respondeu Nariz de Batata. — Leva a noite toda. O corpo precisa estar num certo estágio da morte pra se extrair o condutor. Se fizer antes ou depois, perde tudo.

— Entendi...

Kilian assentiu em silêncio, o peso da conversa ainda em sua mente. Quando todos terminaram a sopa, o grupo começou a se ajeitar para dormir. Kilian, porém, permaneceu acordado, diante do fogo. A luz dançava nos rostos de seus companheiros adormecidos.

Depois de um tempo, levantou-se com cuidado e vestiu as roupas de pele. A neve rangia sob seus pés enquanto subia a elevação. O vento frio cortava sua pele, mas ele seguia, determinado.

No topo, avistou o corpo gigantesco do gigante de gelo. Cara de Prancha estava ao lado, com uma faca grande nas mãos, cortando algumas partes do corpo imenso. Cantarolava uma canção zombeteira.

— Nariz de Batata, seu bafo fede mais que um barril de peixe podre! — riu sozinho, enquanto drenava o sangue do gigante com um funil e um filtro.

Kilian observava, fascinado, até pisar sem querer num pedaço de gelo. O estalo fez Cara de Prancha parar na hora, ainda com a faca na mão. Ele rosnou, irritado:

— Quem está aí? — perguntou, a voz carregada de desconfiança. — É você, Garrik? Já disse que não gosto de humano enchendo o saco enquanto estou trabalhando.

Sem resposta, ele estreitou ainda mais os olhos.

— Nariz de Batata, se for você, vai tomar no seu...

— Sou eu, Kilian — respondeu o garoto, saindo das sombras.

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