Volume
Capítulo 24: Castelo Maldito.
No fim do dia, Rameel estava parado diante do portão principal do castelo, como se esperasse algo acontecer, quando de repente uma enorme fenda se ergueu diante dele.
O sol se punha no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados enquanto os lordes retornavam ao castelo após dois dias intensivos de treino espartano. Cada um deles ostentava cicatrizes como troféus de batalhas travadas durante seu treino, o qual poderia causar pesadelos em pessoas despreparadas. A jornada para dominar a guerra interna tinha sido árdua, mas a transformação era evidente nos semblantes marcados daqueles guerreiros.
Ao adentrarem os portões do castelo, os residentes, de servos a guerreiros, se reuniram em uma multidão silenciosa para saudar seus senhores. Uma reverência coletiva tomou conta do ambiente, não apenas em respeito à hierarquia, mas em reconhecimento ao poder recém-adquirido que emanava dos lordes, como uma aura devastadora que os circulava.
Hayakaz, com seu típico sorriso e determinação nos olhos, dirigiu-se a Rameel, seu companheiro de batalhas. — Rameel, pronto pra nossa luta? Quero testar a força do meu poder — propôs ele, desafiando-o com um brilho nos olhos que denunciava a sede por desafios.
— Bora, só vem comigo — respondeu Rameel, o guiando para uma área aberta com marcações no chão.
Ao adentrarem a arena e assumirem suas posições de combate, Rameel sentiu um arrepio percorrer sua espinha, questionando internamente sua decisão de aceitar o desafio proposto por Hayakaz. A atmosfera carregava a tensão de uma batalha iminente, e Rameel percebeu que estava prestes a enfrentar um oponente formidável.
A agilidade de Hayakaz foi notavelmente rápida e desconcertante. Antes que Rameel pudesse compreender totalmente a situação, Hayakaz desapareceu de sua visão com uma velocidade surpreendente. O combate começou com uma sequência vertiginosa de golpes, como se cada movimento do adversário fosse coreografado com maestria. A fluidez entre os golpes criava uma dança mortal, tornando-os precisos e imprevisíveis.
Hayakaz, como um raio, acertou uma imensa sequência de golpes, pressionando Rameel de maneira impecável. A destreza do guerreiro era notória, seus movimentos pareciam uma extensão natural de seu corpo. A arena ressoava com o som dos impactos, cada golpe levando Rameel a lutar para manter sua postura.
A habilidade de Hayakaz não se limitava apenas à força bruta; havia uma estratégia astuta por trás de cada movimento. Rameel, apesar de suas habilidades como oniromante, se viu gradualmente superado pela destreza e agressividade de seu oponente. Cada investida era calculada, cada defesa meticulosamente executada.
Rapidamente, Rameel se encontrou no chão, dominado pela perícia de Hayakaz. O adversário havia antecipado seus movimentos, tornando-o vulnerável a uma sequência precisa de golpes. A imobilização era inevitável, e a vitória de Hayakaz naquele momento parecia uma conclusão inevitável.
— Hehe! E aí? O que achou? — disse Hayakaz, com um sorriso escancarado.
— O treino realmente deu em algo, cê tá mais forte — respondeu Rameel, com o rosto no chão.
A multidão na arena observava em silêncio, absorvendo a maestria do combate que se desenrolava diante deles. O ar estava impregnado com a energia intensa da competição, enquanto Hayakaz demonstrava não apenas sua força física, mas também sua habilidade estratégica, deixando uma impressão duradoura na memória de todos os presentes.
— Parece que o jogo virou, não é mesmo? — continuou ele.
— Argh! Já pode me soltar, tá? — Rameel bateu sua mão no chão três vezes, declarando desistência.
Hayakaz então voltou para junto dos outros lordes, extremamente animado com sua evolução.
Os lordes, com a determinação renovada e os corações forjados pela disciplina do treino espartano, dirigiram-se aos salões do castelo para trocar seus equipamentos. As roupas e armaduras que antes brilhavam com a luz do sol poente agora estavam completamente cobertas de lama e poeira das batalhas que eles já enfrentaram. Cada peça de metal contava uma história, uma narrativa visual da jornada que haviam enfrentado.
Enquanto ajustavam suas vestimentas, Rameel aproximou-se com Arthur ao seu lado, coberto por sua tradicional armadura dourada. Seus olhos transmitiam a seriedade da missão que estava por vir. — Hayakaz, Hexoth, Garrik — disse Rameel com uma voz firme — Arthur e eu vamos com vocês. Precisamos ir com todas as nossas forças se quisermos vencer a Sanarion e o Adão…
Os três lordes olharam uns para os outros, compreendendo a importância da união diante das ameaças que se avizinhavam. Hexoth, com um sorriso confiante, assentiu. — Quanto mais, melhor, não é? Fora que essa é a parte do Arthur no acordo, lembra?
Hayakaz e Garrik concordaram com a cabeça, enquanto escolhiam seus equipamentos. Ao fim, os três escolheram roupas iguais às que sempre usavam, causando uma sensação de nostalgia no local.
— Acredito que nós cinco devemos ser muito mais que o suficiente para lidar com aqueles dois. Isso irá acabar tão rapidamente quanto começar.
Com os equipamentos trocados e as energias recuperadas, os cinco partiram para a entrada do castelo, atravessando a fenda que Rameel abrira. Eles sabiam que esta poderia ser a última que atravessariam esse portal. O crepúsculo havia dado lugar à noite, mas a lua iluminava o local adiante. A cidade de Mizuhara aguardava, envolta em sombras e mistérios.
Enquanto viajavam pela fenda, Rameel os chamou a atenção e disse: — Tomem cuidado… o Dios de La Maquina apenas engana seu corpo, a mana toma o lugar da sua carne e ossos, então se ela acabar… — Ele parou por um segundo, pensando em como colocar em palavras.
— Nós morreremos, é isso? — disse Hexoth, com um sorriso no rosto.
— Sim… meu lorde…
— Então nós podemos usar pelo menos uma Maldição Desperta. Deve bastar!
Rameel pensou em contrariá-lo, mas desistiu ao ver que Hayakaz e Garrik portavam o mesmo sorriso determinado que Hexoth.
Ao saírem da fenda, os quatro chegaram diante de um imponente castelo que se assemelhava surpreendentemente ao deles. Uma aura de tensão pairava no ar quando se depararam com Sanarion para em cima de uma casa enterrada próxima ao castelo.
Sua aparência estava alterada pelas marcas do combate com Hexoth, o que indicava o preço pago por confiar sua vida a Adão. Seus membros decepados foram substituídos por alternativas de metal, a tornando em uma máquina de guerra.
— Sana… — Antes que Garrik pudesse articular uma saudação, Sanarion lançou-se na batalha.
— Matar! Matar! Matar! Se vocês morrerem, tudo se resolve! — Sua expressão, uma mistura de fúria e desespero, denunciava a influência do mal que a dominava. Arthur, instintivamente, se pôs na vanguarda do grupo e afastou os lordes de Sanarion.
— Continuem! — exclamou Arthur, brandindo sua espada. — Eu cuidarei dela. Sigam pelo castelo. É meu dever puni-la com o peso de suas escolhas.
Os lordes hesitaram por um momento, preocupados com a segurança de seu companheiro. No entanto, a confiança nos olhos de Arthur transmitia a certeza de que ele era a melhor barreira entre eles e o perigo imediato.
Garrik, indo em direção a entrada do castelo, utilizava suas habilidades para criar barreiras de água e desviar os feitiços de Sanarion. Seu arco, imbuído de poder hidromágico, disparava flechas precisas que perfuravam o ar, afastando Sanarion.
— Asas de Águia! — Hayakaz concentrou-se em seu poder mágico. Com um gesto de mãos, ele se transformou em uma majestosa mistura de humano e falcão, suas penas brilhando com uma luz mágica. Voou em direção ao castelo, agarrando os outros três e os carregando junto.
Os quatro então avançaram pelos corredores do castelo, enfrentando desafios e obstáculos. O ar estava impregnado de uma energia maligna que os alertava para a presença de algo terrível à espreita. As sombras dançavam nas paredes quebradiças e mórbidas, testemunhas silenciosas de eventos passados e presentes.
Enquanto seguiam adiante, uma sensação de urgência crescente os impelia. A verdade sobre a conexão entre Adão e eles ficava cada vez mais necessária, e a busca por respostas tornava-se ainda mais premente.
— Desta vez, não permitirei que caias neste caminho, minha velha amiga… — Enquanto isso, Arthur enfrentava Sanarion com coragem, sua espada cortando o ar em um esforço para libertar a amiga de seu sofrimento incessante.
— Você fala demais pra alguém que também não conseguiu proteger ninguém! Você é uma falha! Igual a mim! — praguejou ela em resposta.
Ao término de suas palavras, os dois colidiram seus ataques, o tilintar da espada colidindo com as garras recém invocadas do El Tigre davam um novo início ao combate e à resolução tão necessária.
Ao descerem pelos corredores sombrios, os lordes se depararam com uma visão desconcertante: um enorme laboratório que se estendia diante deles. Imensas engrenagens giravam ruidosamente ao redor de um imenso maquinário, enquanto tubos de ensaio do tamanho de pessoas serpenteavam pelo ambiente. O local era iluminado por uma luz espectral, revelando uma miríade de equipamentos científicos e alquímicos.
O forte cheiro de amônia impregnava o ar, um sinal claro de que estavam diante de um perigo iminente. O odor pungente provocava desconforto, alertando os lordes para a natureza tóxica do ambiente. Hexoth, ao perceber a mudança em sua voz devido ao nariz tapado, expressou sua perplexidade.
— Que raios de lugar é esse? — indagou Hexoth, tentando se ajustar ao ambiente carregado de substâncias químicas.
Hayakaz, por sua vez, sentiu uma estranha sensação de familiaridade com o laboratório. Observando ao redor, tentou conectar os fragmentos de memória que surgiram em sua mente.
— Esse lugar... A gente já não esteve aqui? — murmurou Hayakaz, sua expressão revelando uma perplexidade misturada com uma vaga lembrança.
A curiosidade levou Hayakaz a tocar o vidro de um dos tubos de ensaio. No momento em que seus dedos entraram em contato com a superfície gelada, flashes de imagens invadiram sua mente, como lembranças antigas ressurgindo de um passado distante. Uma dor aguda penetrou em sua cabeça, fazendo-o recuar alguns passos.
— Que lombra é essa? — exclamou ele, massageando a têmpora em busca de alívio, enquanto tentava entender a origem dessas memórias fragmentadas.
— Hayakaz… Temos assuntos mais importantes agora! — gritou Garrik, apontando para uma horda de humanóides que se aproximava.
Foi então, ao adentrarem as entranhas do castelo, que os lordes se depararam com uma visão grotesca: diversos soldados quimera, seres híbridos resultantes da fusão de humanos e bestas. A semelhança com a magia de Hayakaz era inegável, mas essas criações distorcidas indicavam uma perversão além da simples transformação. Cada quimera era uma aberração, uma amalgama de carne e magia, ecoando as sombras que permeavam o castelo.
Os quatro lordes, Hayakaz, Garrik, Hexoth e Rameel, prontamente enfrentaram esses inimigos inusitados. A dança mortal que se seguiu foi uma exibição de suas habilidades únicas e aterrorizantes. Hayakaz, assumindo sua forma animal, rasgava os adversários com garras afiadas, sua ferocidade evidenciando a selvageria contida. Garrik, o manipulador das águas, não hesitava em empregar sua magia para atacar e destroçar as quimeras, envolvendo-as em torrentes aquáticas impiedosas.
Hexoth, hábil com sua espada, brandia-a com destreza, cortando o ar em movimentos precisos. Cada golpe era uma coreografia de habilidade e força, uma manifestação do treinamento espartano que agora se provava essencial diante dessas abominações. Enquanto isso, Rameel, o oniromante, destacava-se por manipular ilusões de maneira intrincada. Entretecendo realidade e fantasia, ele criava ilusões para desorientar e confundir os quimeras, jogando com a mente distorcida dessas criaturas.
A batalha era uma sinfonia caótica de habilidades, cores e sons, uma dança entre a vida e a perversão. Os lordes, em perfeita harmonia, enfrentavam as quimeras com uma determinação que ecoava através dos corredores sombrios do castelo. Cada passo adiante representava não apenas a luta contra criaturas distorcidas, mas também uma jornada em direção ao confronto inevitável com a fonte desse mal.
— Esses caras não acabam! — falou Rameel, golpeando um soldado, que logo foi substituído por outro.
— Vamos continuar descendo, esqueçam esses Hayakazes de massinha de modelar! — disse Hexoth, abrindo caminho entre a multidão de criaturas com sua espada.
Os outros três lordes, Hayakaz, Garrik e Rameel, rapidamente seguiram pelo caminho recém-feito por Hexoth. Ao avançarem pelos níveis do castelo, a atmosfera tornou-se cada vez mais densa. O som pulsante ecoava pelas paredes de pedra, como o batimento acelerado de um coração, intensificando a sensação de que algo imponente aguardava nas profundezas. Cada passo era um eco perturbador, uma prelúdio silencioso para o confronto iminente
Quando finalmente alcançaram as profundezas, depararam-se com Adão próximo a uma máquina gigantesca, que exalava uma aura sombria. A expressão do homem misterioso e agora vilão, revelava uma verdade sombria desde o início. Seus olhos faiscavam com uma malícia sinistra, e sua máscara, antes um símbolo de preocupação, agora reluzia com uma luz ameaçadora e mortal.
A máquina diante dele pulsava com uma energia obscura, e Adão, com um gesto teatral, ergueu os braços, conectando-se rapidamente ao maquinário. Uma armadura branca e metálica formou-se ao redor de seu corpo, revelando a fusão sinistra entre o traidor e a máquina. Sua voz ressoou, preenchendo o espaço com ameaças e arrogância.
— Vocês são tolos por acharem que podiam fazer algo. O fim deste mundo podre que vocês tanto defendem está mais perto do que nunca. O verdadeiro mundo nascerá das sombras do falso mundo que estamos diante! — proclamou Adão, sua voz ecoando com uma mistura de triunfo e fanatismo.
Os lordes, perplexos diante da fusão de Adão com a máquina, sentiram-se diante de uma força desconhecida e aterradora. Não sabiam a origem desse poder, mas compreendiam que era algo além de sua compreensão, uma ameaça que transcendia tudo que já haviam enfrentado. Era como se uma imensa parede de desafios e perigos tivesse surgido diante deles, exigindo coragem e determinação para enfrentar o inimigo que Adão se tornara.