Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 17: Chamas da Justiça.

 A noite caía sobre Flammendorf, pintando o céu de tons alaranjados e violetas. No entanto, a serenidade foi abruptamente interrompida pelo estrondo de metal e o barulho de cortes de espada. Hexoth, cortando tudo em seu caminho, avançava impiedosamente em direção à casa principal.

 Seus cortes rápidos ecoavam pelas ruas desertas enquanto destruía tudo em seu caminho. Guardas corajosos tentavam resistir com seus disparos e cortes flamejantes, mas a força esmagadora de Hexoth era avassaladora. As chamas dos elfos dançavam ao seu redor, iluminando seu sorriso sádico.

— Venham com tudo, elfos de fogo! Hahaha! — ria ele, enquanto reunia os guardas ao seu redor.

 Após alguns segundos, Hexoth estava cercado por centenas de elfos, com espadas e arcos flamejantes apontados em sua direção. Quanto mais ele se aproximava do centro da aldeia, o número de guardas aumentava, além de se tornarem mais fortes.

— Se tem algo que a gente não pode reclamar, é das linhas de defesa de vocês — disse Hexoth, analisando sua situação caótica.

— Renda-se, assassino desordeiro! Você está cercado! — diziam e repetiam os guardas, observando atentamente os movimentos do lorde.

— Haha… Me render? Não numa luta tão incrível! — A aura de Hexoth explodiu para fora do corpo, arremessando diversos guardas para longe e fazendo alguns deles se curvarem. — Maldição Desperta, Henklaus!

 Em uma fração de segundo, todo um esquadrão de elfo foi desintegrado pelo corte de Hexoth, com poucos que saíam intactos e logo fugiam da luta. As roupas de Hexoth mudaram completamente, adornadas por vestes brancas resplandecentes. Empunhando com graciosidade uma espada magnífica dividida por preto e branco com uma guarda dividida pelas cores.

— Agora… Venham com tudo!

 Enquanto o caos se desenrolava, Hayakaz agilmente se esgueirava pelas sombras da vila, sorrateiramente avançando na direção da casa principal sem ser percebido.

 “Espero que essa distração dure o suficiente”, pensou ele, enquanto desviara de caminhos com a presença de guardas.

 Sua presença era ironicamente imperceptível, vindo do lorde mais impulsivo de todos os três. Ele esquivava-se habilmente dos confrontos, seus olhos perscrutando a escuridão em busca de qualquer sinal de guardas remanescentes.

 Em poucos segundos, ele estava diante do casarão. Alguns guardas ainda se mantinham na entrada, confiantes na capacidade de seus aliados no portão.

 “Espero que isso dê certo…”, pensou ele, liberando levemente sua mana. Seus cabelos passaram do branco para um verde florescente, igualmente aos seus olhos.

Onirospectro!

 Ao se transformar, uma névoa verde começou a exalar de seu corpo, se espalhando na direção dos guardas.

— Cof, cof. Que que é isso?! — falou um dos guardas, logo antes de cair no sono, seguido pelos outros ao seu redor.

Buenos Sueños… — Hayakaz rapidamente se esgueirou pelos guardas caídos e adentrou a casa principal.

 A casa estava silenciosa como um túmulo, mas Hayakaz sabia que por trás das paredes elegantemente decoradas poderiam se esconder segredos obscuros. Sua missão o levou a um alçapão misterioso, trancado por um círculo mágico desconhecido. Com destreza, ele desenrolou um pergaminhos com encantamentos antigos, rompendo a barreira mágica que guardava o caminho.

— Bem como Hexoth disse… — falou ele, lembrando de uma conversa que teve com Hexoth enquanto se preparavam para a noite.

 Ao descer pela escada íngreme que se revelou sob o alçapão, Hayakaz se viu diante de uma masmorra sinistra. O cheiro de mofo e a frieza do ar revelavam anos de abandono. No entanto, suas suspeitas se confirmaram quando avistou elfos enjaulados como aves raras, a maioria já em decomposição.

— “Resplandecente aldeia” uma pinóia! — Aos poucos, Hayakaz abria as jaulas e soltava os elfos acorrentados.

 Ele logo percebeu que sua mana estava enfraquecida, indicando que aqueles eram tijolos e metal de anulação.

 Determinado a concluir sua missão, Hayakaz adentrou mais fundo, encontrando corredores sombrios e celas abandonadas. A esperança parecia escassa até que, ao dobrar um corredor, ele se deparou com uma figura conhecida: Garrik, agora em um estado deplorável, com ferimentos por todo o corpo e correntes presas a sua carne..

— Garrik! — gritou Hayakaz golpeando as grades da cela, na esperança de quebrá-las.

— Cui… dado… — disse Garrik com dificuldade.

 No mesmo segundo, Hayakaz saltou para o lado, por pouco não sendo atingido por uma flecha, agora cravada no metal das grades.

— Eu realmente achei você familiar quando o vi na reunião com os governantes, mas como não tinha provas, não pude fazer nada. — Sebastian, com sua presença imponente, bloqueou o caminho de Hayakaz. Seus olhos frios faiscavam com determinação.

— O elfo da catedral…

— Como já fomos apresentados, me chame de Sebastian… — falou ele, empunhando novamente seu arco flamejante na direção de Hayakaz. — Flammender Bolgen.

— Sai da minha frente. É o último aviso… — Os olhos de Hayakaz se encheram de ódio e sangue, como uma besta selvagem observando sua presa.

— Você não vai libertá-lo — disse Sebastian, sua voz ecoando nas paredes de pedra. — Ele pode ser meu irmão, mas regras são regras. Ele deve pagar por seus crimes.

— Eu avisei… — Hayakaz não vacilou, seus dedos ágeis já se moviam em direção aos pergaminhos, os arremessando e executando feitiços sem ter que conjurá-los.

 Logo, a masmorra inteira se encheu de luzes, as chamas de Sebastian colidiram rapidamente com os encantamentos de Hayakaz, gerando pequenas explosões. Ao verem o começo do combate, os prisioneiros bateram em retirada, deixando apenas Garrik para trás. Hayakaz estava determinado a salvar Garrik, custe o que custasse.

 Não demorou muito para que os pergaminhos de Hayakaz acabassem, o forçando em um combate físico, e ao perceber isso, ele logo transformou seus punhos em garras de lagarto.

Garras de Lagarto! — falou ele, saltando em Sebastian e o forçando contra as paredes enquanto destruía as flechas flamejantes com a couraça de lagarto.

 Vendo que suas flechas não conseguiriam parar Hayakaz, Sebastian acelerou seus disparos, — Feuerregen — impedindo Hayakaz de bloquear todos e destruindo parte da prisão ao redor.

 “Droga, esses tijolos são um porre!”, pensou Hayakaz, recuado pelos ataques de Sebastian.

— Qual seu motivo para proteger esse criminoso? — perguntou Sebastian. — Por que perder sua vida com isso?

— Meu motivo? Eu não preciso de motivos! Eu quero salvar ele, e é isso.

— Você sabe que está indo contra as regras de Flammendorf, não sabe?

— Regras? Que se danem as regras! Eu sou livre pra fazer o que quiser!

 As palavras de Hayakaz atingiram Sebastian como uma martelada, o fazendo cessar seus ataques por alguns segundos, quase sendo golpeado por Hayakaz.

— Sem regras, o mundo seria um caos. Você não passa de um tolo. — Sebastian levantou seu arco e canalizou uma enorme flecha apontada para Hayakaz. Ela era tão grande e tão quente que era capaz de derreter as paredes e o chão ao redor. — Hölle!

 O campo de batalha estava mergulhado na tensão, os elfos, orgulhosos e ferozes, enfrentavam Hexoth com tudo que tinham. Seus movimentos eram fluidos, sua destreza na luta tornava a dança da batalha uma arte. Um a um, os soldados elfos tentavam desafiar Hexoth, mas suas habilidades excepcionais provavam ser uma barreira intransponível.

 Hexoth, sorridente com um desafio a altura, desviava de ataques com uma agilidade sobrenatural e retaliava com golpes precisos. O brilho branco que o cobria era como a presença de um anjo, antecipando a derrota iminente dos elfos. A confiança deles vacilava à medida que Hexoth avançava impiedosamente.

— Venham! Me enfrentem com tudo! Hahaha! — dizia ele, enquanto lutava com cinco espadachins ao mesmo tempo.

 A diferença de números era discrepante, apenas um guerreiro contra centenas de elfos, mas isso não era um problema para Hexoth, que pressionava multidões apenas com sua espada.

 Então, no auge da batalha, o ancião da aldeia elfa surgiu, uma figura imponente e sábia. Seus olhos centenários analisaram Hexoth com desconfiança, e sua voz ecoou como o sussurro das árvores antigas.

— O que está fazendo? Não tínhamos um acordo?

 Ao verem a presença do ancião, os soldados se afastaram do campo de batalha, antecipando algo imenso.

— Sinto te dizer, mas parece que seu amável líder da guarda roubou algo muito importante para nós, e viemos buscar! — Hexoth abaixou sua espada, observando o elfo diante dele.

— Acalme-se! Não podemos resolver isso sem o uso da violência? Nos diga o que foi roubado e tomaremos todas as medidas necessárias.

— Eu queria enfrentar mais esses soldados, mas resolver de maneira pacífica parece o mais prático mesmo.

— Então? Conte-me o que houve. — Aos poucos, o ancião se aproximava cautelosamente de Hexoth.

— Sebastian sequestrou um aliado nosso! E coincidentemente ele não está aqui agora… — Hexoth cerrou os olhos, se dando conta da conspiração que se formara fora da visão do ancião.

— Entendo… Isso é um grande problema…

 O ancião se aproximou de Hexoth, e rapidamente o golpeou com um punho flamejante, quase perfurando seu peito. Ele avançou, revelando habilidades físicas que desafiavam a idade.

Flammenkämpfer! — Os braços do ancião logo se cobriram completamente em chamas, incendiando o corpo de Hexoth ao atingi-lo

 O combate físico entre Hexoth e o ancião era uma dança unilateral. Cada movimento de Hexoth, antes fluido e implacável, agora encontrava resistência nas chamas. O ancião, com golpes incandescentes e precisos e uma agilidade surpreendente, pressionava Hexoth a um estado de exaustão. O guerreiro, mesmo envolto em sua magia, começou a mostrar sinais de desgaste e queimaduras sob a pressão do confronto, sua regeneração já não era suficiente.

— Maldito! Você não queria resolver sem violência?! — falou Hexoth, bloqueando os socos do ancião com sua lâmina.

— Não existe “sem violência” para aqueles que colaboram com o elfo amaldiçoado…

— Amaldiçoado?

— Garrik carrega muitos crimes em suas costas. Ele deve pagar por eles, isso é justiça!

 Os dois então chocaram seus ataques, recomeçando seu combate. No entanto, enquanto as chamas tomavam o campo de batalha, uma explosão violenta sacudiu o solo. Uma brecha se abriu no subsolo, revelando uma enorme cratera. De dentro da fenda, dois guerreiros emergiram lutando: Hayakaz, exalando sua aura oniromântica e feral, e Sebastian, disparando uma chuva de flechas flamejantes.

 A chegada inesperada dos dois perturbou o equilíbrio precário da batalha. Hayakaz, com seus movimentos rápidos e sorrateiros, rapidamente foi para o lado de Hexoth, enquanto Sebastian parou ao lado do ancião.

— O senhor está bem, ancião Crimsembell?

— Não se preocupe, meu jovem. Eu estou em ótima forma ultimamente.

— Crimsembell?! Você é o Crimsembell?! — Hayakaz se pôs em uma postura defensiva ao descobrir que seu inimigo era um elfo milenar.

— Oh! Vocês me conhecem… então não preciso me conter contra vocês.

 A reviravolta repentina no campo de batalha criou um caos inesperado. Resultando em um combate ainda mais destrutivo entre os dois lordes e a dupla de elfos flamejantes. Os punhos flamejantes de Crimsembell podiam facilmente atravessar as defesas de Hayakaz, e as flechas de Sebastian obrigavam os dois a se mexerem constantemente.

— Rendam-se e reduziremos suas penas — propôs Sebastian.

— Me render? Pra ficar igual aos elfos que vocês prenderam naquela masmorra? Nem por um caramba! — Hayakaz rapidamente avançou na direção de Sebastian, esquivando de Crimsembell. — Quimerificação!

 O corpo de Hayakaz mudou totalmente de forma, assumindo sua aparência de quimera. Movendo-se com uma agilidade sobrenatural, Hayakaz alcançou rapidamente Sebastian, cuja expressão mostrava surpresa diante da transformação impressionante. A primeira investida foi uma sequência fluida de socos, cada golpe executado com uma precisão milimétrica que revelava o domínio completo sobre sua nova forma.

 Em resposta, Sebastian, ciente da necessidade de distância, retrocedeu habilmente. A distância estratégica entre eles aumentou, permitindo a Sebastian avaliar a situação com calma. Percebendo que não poderia subestimar o desafio, ele concentrou sua energia interna, liberando sua mana em forma de chamas. O fogo mágico dançava em torno de Sebastian, criando um halo ardente que destacava sua determinação.

Para aqueles que desafiam a verdade, eu trago as chamas da punição. Para os criminosos que desafiam a justiça, minhas chamas não trazem o alento, mas sim a destruição… Maldição Desperta, Imperador Fênix! — 

 “Maldição Desperta?”, pensou Hayakaz, percebendo o erro de não ter derrotado Sebastian assim que pôde.

 As chamas ao redor de Sebastian explodiram, o elevando aos céus como uma estrela. Seu corpo foi submetido a uma metamorfose deslumbrante, semelhante à intensidade do sol prestes a nascer. Cada fibra de sua roupa se transformou em uma dança de chamas, como se as próprias chamas tecessem uma vestimenta ardente. Penas resplandecentes, banhadas em fogo etéreo, emergiram de seus ombros, cotovelos e joelhos, dando-lhe uma aparência majestosa e imponente.

 No lugar de punhos, agora repousavam garras afiadas, reminiscentes das garras imponentes de um falcão-imperador, conferindo-lhe um toque de predador implacável. Um enorme par de asas desdobrou-se majestosamente de suas costas, irradiando uma luminosidade que lembrava a chama dançante de uma fogueira noturna, enquanto as penas ardentes exalavam uma beleza feroz e indomável.

 Para coroar sua transformação, uma coroa de penas, incandescente como brasas, envolveu sua cabeça, elevando-o a uma figura régia entre as chamas. Os olhos de Hayakaz e Hexoth se iluminaram diante da majestosa presença de Sebastian.

— A justiça rege o mundo… — Antes que Sebastian pudesse terminar, Hayakaz o golpeou com suas garras de lobo, o forçando a cair ao chão.

 Ao atingir o chão, Sebastian se levantou, olhando para o ferimento causado por Hayakaz, que se fechou em questão de segundos, como a regeneração de uma fênix.

— Você realmente não se cansa de ser irritante, nyancaller? — Sebastian apontou seu arco, agora com a aparência de uma fênix, na direção de Hayakaz e canalizou uma enorme flecha. — Hölle!

 Ao disparar a flecha, o chão ao redor de Sebastian derreteu como magma, e o poderoso projétil subiu aos céus como uma enorme bola de fogo, se tornando uma enorme explosão que desapareceu com Hayakaz.

— Você nunca deve ir contra as regras, nyancaller. — disse Sebastian, se virando para Hexoth, que agora teria que enfrentar os dois ao mesmo tempo. — Seu julgamento começa agora, Orc.

 Não muito longe, Hayakaz se escondia em um buraco, seu corpo coberto de queimaduras o impossibilitava de andar perfeitamente.

— Argh! Merda, merda! Cadê?! — falou ele, enquanto procurava desesperadamente algo em seu kimono.

 Após alguns segundos, ele retirou um pergaminho de suas roupas e o ativou, regenerando instantaneamente seu corpo. — Uff… agora, cadê ele?

 Hayakaz sorrateiramente se esgueirou pelos destroços em busca de um caminho até a prisão subterrânea, e após alguns segundos, encontrou a cela de Garrik, que ainda estava em uma situação horrível.



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