Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 10: A Dor da Facada.

Seu maldito! Como você tá vivo?! — Hexoth rapidamente colocou sua katana rente ao pescoço de Dartanham.

— Acha mesmo que isso seria o suficiente pra me matar?

— Então deixa que eu mato! — falou Garrik, carregando seu ataque.

 Antes de Garrik disparar, Dartanham apontou para seu lado direito, onde estava Hayakaz. Seu corpo não possuía nenhum corte ou contusão, estava intacto.

— O que você…? — Garrik abaixou lentamente suas armas.

— Não está… cof cof… óbvio?

 “Ele podia ter usado sua mana para se defender, talvez saísse sem nenhum ferimento… Por que ele curou o Hayakaz?”, pensou Garrik, enquanto desfazia suas armas.

 Hexoth rapidamente guardou sua espada, pegou Hayakaz e se afastou de Dartanham.

— Hayakaz! Você tá bem?! Acorda, Hayakaz! — Hexoth dava tapinhas leves no rosto de Hayakaz, tentando fazê-lo abrir os olhos.

— Onde… eu to? — falou Hayakaz, com a voz rouca.

— Ufa. Você tá bem. Calma, tenta descansar. Garrik…!

— Eu já entendi! Guardas! — disse Garrik, fazendo surgir oito monstros com armaduras de guardas. — Levem Dartanham para a prisão, eu vou ajudar na escolta.

— Obrigado… Eu vou levar o Hayakaz pra enfermaria. — Hexoth se levantou e carregou Hayakaz em direção ao castelo, indo em direção da enfermaria.

 Após colocar Hayakaz em uma das camas, uma nuvem de energia rosa começou a se formar, logo revelando Rameel.

— Quem é você?! — Hexoth rapidamente sacou sua katana e entrou em guarda.

— Ei, ei! Calma aí, rapaz! — disse Rameel, levantando suas mãos para o alto.

— Calma… Ele é um conhecido meu, Hexoth. Ele tá do nosso lado — falou Hayakaz, tentando se mover.

— Um conhecido seu? Como assim?

— O nome dele é Rameel. Eu conheci ele quando estávamos procurando a Sanarion, sabe? Lá em… Como era mesmo o nome daquela cidade?

— Vocês estavam em Airobolg — falou Rameel, com um tom alegre em sua voz.

— Enfim, eu conheci ele lá… Espera!

— Eu já estou parado — disse Rameel, levantando novamente as mãos.

— Você disse que ia… ajudar a gente se o Dartanham se revoltasse! Por quê você… não fez nada?!

 Ao ouvir a pergunta de Hayakaz, Rameel abaixou suas mãos até a cintura e desceu levemente a cabeça.

— De alguma forma, o Dartanham sabia que eu apareceria se ele fizesse algo, então ele colocou uma espécie de barreira quando levou vocês para a dimensão de bolso…

— Merda! Ele sabia até isso?! — Hayakaz tenta descontar sua frustração socando a parede ao seu lado.

— Não esqueçam que eu também estou aqui! E me expliquem direito essa história! — disse Hexoth, agora de braços cruzados e batendo a ponta do pé.

— Ah, foi mal. É uma longa história… — Conforme Hayakaz ia contando a Hexoth sobre o ocorrido no templo e a conversa que teve com Rameel na floresta, Hexoth pedia pausas periódicas para assimilar toda a situação. Toda vez que Hayakaz parecia que ia contar sobre o que Rameel sabia do passado de Hexoth, Rameel fazia alguns gestos para que ele pulasse a parte em questão.

— Ok! Isso é muita informação. Mas o que eu quero saber é se você está ou não do nosso lado! — Hexoth olhou para Rameel, sua mão lentamente se aproximava de sua katana.

— E um macaco quer banana? É claro que eu estou do lado de vocês. Haha! — Rameel colocou os braços atrás do pescoço e se encostou na parede.

— Ótimo, um problema a menos. Agora podemos focar no problema principal: O que faremos com Dartanham? — disse Hexoth, olhando para Hayakaz.

— Você acha que a gente devia… matá-lo?

— Ele tentou nos matar. Se deixarmos ele solto, ele vai tentar de novo.

— Eu sei, mas matá-lo não parece ser a solução…

— Se não fizermos isso, ele vai tentar outras vezes, e não podemos adicionar alguém com o poder dele na nossa lista de inimigos.

— Você tem razão, mas…

— Eu também não acho que essa seja a decisão correta. — De repente Garrik entra pela porta.

 De repente, todos ficaram em silêncio, nenhum deles esperava que Garrik invadisse a sala e a conversa, e muito menos que ele concordasse em manter Dartanham vivo.

— Você também acha que é uma boa ideia não matar o Dartanham? — disse Hexoth, arregalando os olhos e franzindo as sobrancelhas.

— Exatamente. — Garrik puxou uma das cadeiras e se sentou perto da cama. — Pelo que eu entendi da história, ele sabe mais sobre nós do que nós mesmos, então se mantermos ele vivo podemos obter informações úteis.

— Mas e se ele tentar nos matar novamente? — falou Hexoth.

— Se ele tentar nos matar, não teremos outra escolha senão lutar contra ele, mas nós podemos impedir que isso aconteça.

— Impedir? E como você planeja que façamos isso?

— Quando estávamos na prisão de Earthbring, a nossa mana era constantemente drenada pelos tijolos nas paredes…

— Então se fizermos uma cela com esses tijolos…

— Ele ficará muito mais fraco, talvez nem consiga quebrar as paredes e sair da cela.

— Mas e se aquilo não for o suficiente para enfraquecer ele? — Hexoth puxou uma das cadeiras e se sentou.

— Se esse for o caso, precisaremos aumentar a quantidade de tijolos ao redor das paredes, então vamos precisar de muitos desses tijolos.

— Você sabe onde conseguir esses tijolos?

— Ah, eu consigo pra vocês. — Rameel então levantou a mão, tentando chamar a atenção dos lordes.

— Você consegue arranjar mais desses tijolos? — perguntou Hexoth.

— Sim! Eu consigo fabricar eles com uma certa facilidade. Fora que eu tô de papo pro ar, então quero algo pra me distrair. Aliás, você tem outra preocupação no momento. Não é, Hexoth?

— O que? — De repente, Hexoth estremeceu ao se lembrar de seu objetivo inicial: Invadir a catedral de Airobolg. — Merda, como nós vamos chegar lá agora? O Dartanham claramente não vai nos ajudar! — Hexoth então apoiou os cotovelos na mesa e levou as mãos ao rosto, passando-as por toda a cabeça até chegar na nuca.

— Droga, é verdade! A gente esqueceu completamente! — Hayakaz arregala os olhos e tapa o rosto com uma das mãos. — O que a gente faz agora?

— Bom, se vocês apenas precisam ir até a catedral, eu posso ajudar. — Rameel levanta novamente o braço, sinalizando para eles olharem para a sua direção.

— Ué! Você sabe usar a fenda dimensional? — Hayakaz olha para Rameel com a testa franzida.

— Algo parecido, mas é história pra outra hora. Por hora vamos para a frente do castelo, eu vou levá-los até Airobolg, e também vou conseguir os tijolos de anulação que vocês precisam.

— “História para outra hora” coisa nenhuma! Explique isso direito! — Garrik segurou Rameel pelo braço e lhe direcionou um olhar fuzilante.

— Vocês têm preocupações maiores agora, e não precisam se preocupar, eu não sou seu inimigo… — Rameel devolveu o olhar à Garrik.

— Era isso que Dartanham dizia, e agora ele está na nossa tão hospitaleira prisão… por traição! — Garrik começou a apertar o braço de Rameel

— Se vocês não correrem, ela vai ser executada… — Rameel virou os olhos na direção de Hexoth.

 Hexoth então arregalou os olhos, seus pensamentos estavam em conflito. Queria ficar, mas precisava ir salvá-la.

— Ele tá certo, Garrik! Se não formos agora, tudo isso vai ter sido em vão. — Após alguns segundos parado, Hexoth levemente colocou a mão no ombro de Garrik.

 Garrik e Hexoth se entreolharam por alguns segundos, até que Garrik soltou Rameel e disse:

— Façam o que quiserem. Eu vou ter uma séria conversa com você quando voltarmos de Airobolg, e não ouse fugir!

 Garrik se dirigiu até a porta do local e a fechou com força, Hexoth e Hayakaz foram para seus quartos, sem dizer nenhuma palavra, e começaram a arrumar seus equipamentos.

 Enquanto isso, a catedral estava cada vez mais movimentada, pessoas com mantos e cajados andavam de um lado ao outro, entre eles estava Klaus, segurando um prato com alguns pães. Ele se dirigia para uma cela de ferro no centro da catedral, onde repousava Kagura com seus braços, pernas e pescoço presos por correntes de aço, mas mesmo em uma situação deplorável ela se mantinha sentada com um sorriso em seu rosto.

— Aqui… Coma um pouco, pequena… — Klaus oferecia o pão para a garota, que estendeu a mão para pegá-los. — São recheados com carne, do jeito que você gosta. Coma com cal…

— Ora ora. Veja só, se não é o capitão da Cavalaria Santa, oferecendo comida para uma prisioneira. — Um nyancaller apareceu atrás de Klaus. Ele vestia uma armadura prateada com ornamentos de safira, seu pelo vermelho era raso e parecia cobrir apenas a sua cabeça. Um sorriso malicioso estava estampado em seu rosto.

— Deseja alguma coisa, Dante?

— Você não acha que faltou um honorífico nessa sua fala? E se não me engano, é proibido alimentar os prisioneiros. Não é verdade… Klaus?

 Klaus entregou o prato com os pães para Kagura e se levantou, ficando frente a frente com Dante, que agora parecia incrivelmente pequeno.

— Você está em posição de me cobrar honoríficos? Quando nem mesmo você, que ocupa uma posição tão baixa, não os utiliza?

— Hmph! Mas de qualquer forma, você não pode alimentar os prisioneiros, é contra as regras! — Dante aos poucos ia abaixando seu rosto.

— E quem vai me impedir disso? Você? — Klaus cruzou os braços, seu olhar se tornou como o de uma fera sedenta.

— Você quer começar uma luta bem aqui? — Dante segurou o cabo de sua espada, que estava embainhada em sua cintura, e começou a liberar mana ao seu redor. Seus olhos brilhavam em dourado, como os de uma pantera.

— Se você continuar causando problemas para a senhorita Kagura, pode ser até o rei, que eu vou te partir em milhares de pedaços! — Os olhos de Klaus começavam a brilhar conforme ele liberava mana.

 A mana que era liberada pelos dois começou a deixar o ar cada vez mais pesado, dificultando a respiração das pessoas que passavam pelo local. Foi então que dois homens surgiram perto deles.

— Podem ir parando, vocês dois! — disse Rick, um homem alto de corpo robusto, uma armadura branca que cobria todas as partes do corpo, deixando apenas seus olhos e boca à mostra. Ele portava uma enorme espada em suas costas.

— Vocês não conseguem passar um minuto sem brigarem? — perguntou Sebastian, um elfo de pele escura, cabelos loiros dourados, olhos cor de safira, uma armadura leve verde e um capuz marrom cobrindo seu pescoço.

— Diga para o seu amigo nyancaller para não se meter em meus assuntos, a menos que seja chamado! — Klaus parou de liberar mana no ar.

— Então diga para o Senhor Bondade parar de alimentar os prisioneiros, ainda mais uma condenada por magia nefas… — Antes que Dante pudesse terminar, Klaus o segurou pelo pescoço com uma de suas mãos e o ergueu no ar.

— Termine esta frase se tiver culhões, bastardo! — O ódio nos olhos de Klaus era visível a quilômetros de distância.

— Argh… Me… larga…

— Klaus, já chega. Você sabe que ele só fala asneiras. Coloque-o no chão. — O elfo se aproximou e colocou a mão no ombro de Klaus, balançando a cabeça em negação.

— Senhor Klaus, por favor, já chega… — Kagura se pôs próxima as grades e segurou Klaus pela roupa.

 Klaus olhou para Dante, sufocando em sua mão, e então olhou para Kagura, que estampava sua preocupação, e então fechou os olhos e respirou fundo.

— Se você ousar tentar ofender a senhorita Kagura novamente, eu não serei tão gentil quanto dessa vez! — Klaus soltou Dante, o derrubando no chão, e então voltou sua atenção a Kagura, que já havia terminado os pães. — Desculpe, não quis preocupá-la…

— Não tem problema, senhor Klaus, eu apenas não quero que o senhor acabe tendo problemas por minha causa… Faça apenas o necessário…

 Klaus então se levantou, respirou fundo e disse:

— Sebastian, Rick e Dante! Todos para suas posições, os preparativos devem começar em breve. Não temos muito tempo…

— Sim senhor! — disseram os três se movendo em direções opostas e subindo cada um em uma escadaria diferente.

— Eu vou ficar ao seu lado até o fim, pequena… — falou Klaus, olhando de canto de olho para Kagura.

 Após alguns minutos, os três lordes retornaram com as armaduras trocadas.

— Vamos logo! — Um olhar rígido prevalecia no rosto de Hexoth.

— Finalmente! Pensei que vocês tinham mudado de ideia. — Rameel estava sentado em uma das cadeiras e encostado na parede com os pés na mesa. — Tudo pronto?

— Sim, Rameel. Já podemos ir… — falou Hayakaz, tentando aliviar o clima pesado.

 Os três se dirigiram para o pátio do castelo, onde estava Garrik, e então Rameel começou a realizar o ritual. Durante todo o ritual, Garrik o observava atento, como um predador analisando a presa. Logo, uma fenda se abriu em frente aos três lordes, que se aproximaram dela.

— Pronto. É só vocês entrarem e estarão na porta da catedral — disse Rameel, apontando para a fenda.

— Por que não dentro da catedral? — Garrik olhou para Rameel com os olhos cerrados.

— A catedral tem algum tipo de barreira mágica, isso bloqueia as minhas fendas.

— Garrik! Deu! Vamos logo, não podemos perder tempo! — falou Hayakaz, empurrando Garrik para perto da fenda.

— Eu também não confio nesse cara, mas parece que não temos opção. — Hexoth colocou a mão nas costas do amigo e deu alguns tapinhas.

— Argh! Vocês são muito estressantes! — Garrik se aproximou ainda mais da fenda — Não se esqueça do que lhe falei, Rameel! — e então saltou na direção da fenda, desaparecendo dentro dela.

 Hexoth parou em frente a fenda e então as memórias do ocorrido na catedral lhe vieram à mente, as palavras de Klaus ressoavam com sua imagem.

 “Como ele ainda tá vivo? Faz tantos anos…”, pensou Hexoth com os olhos fechados. Quando de repente, várias mãos brancas começaram a sair do chão e segurá-lo.

— O que?!

 “Salve-a… você precisa salvá-la…”, dizia uma voz vinda de lugar nenhum.

 De repente, Hexoth acordou para a realidade com Hayakaz dando tapinhas em seu rosto.

— Cara? Tá tudo bem?

— Ah! Não se preocupe, eu estou bem, só estava perdido nos meus pensamentos. Enfim, vamos logo! — Hexoth então pulou na fenda, desaparecendo igual a Garrik.

— Bom, é isso… Boa sorte conseguindo os tijolos de anulação. — Hayakaz saltou na direção da fenda, e assim como os outros dois lordes, desapareceu em meio a ela.

 Ao ver os três lordes desaparecendo na fenda, Rameel andou na direção da prisão do castelo, e logo se deparou com o servo preso por correntes nas paredes.

— E então? Como estão as coisas lá fora, Rameel? — Dartanham levantou a cabeça, com um sorriso no rosto.

— Você não tem jeito. Eu disse que era uma má ideia.

— Eles foram para a catedral?

— Sim…

— E como vai o resto do plano?

— Por enquanto? Tudo indo perfeitamente como o planejado…



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