Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 88: O Soar do Mal, Anathema

— Kotatsu... Está cada vez pior...

Kotatsu é o lugar de casas comuns para os moradores e alguns nobres, a sujeira e o rastro de destruição e morte estão mais concentrados, indicando que, quanto mais próximo do castelo, mais afetado e amaldiçoado está o reino.

Essa área está tomada pelo silêncio e está mais escura, por não haver muito foco de luz por perto. Taikuri usa um encantamento e cria três esferas luminosas que rodeiam cada um dos três.

— Vejam! Cuidado.

Alguns moradores amaldiçoados estão parados em pé, como em um transe, os corpos estão contorcidos e com feridas e sangue à mostra.

— Que horror é esse?

— Já que você não quer atacá-los, vamos passar em silêncio.

Eles andam normalmente entre os amaldiçoados, que ficam parados, olhando o vazio; alguns fazem sons, barulhos de ossos quebrando ou estalando as juntas, gerando muito desconforto em Winton que nunca tinha imaginado algo do tipo.

— Vocês não se espantam?

— Na biblioteca de Pronuntio, nós vimos através de magia alguns massacres parecidos, já vimos coisas horríveis assim antes... Não deixe que isso o distraia... Taikuri?

— Já estou vendo.

Taikuri está usando a sua esfera luminosa para visualizar e analisar os amaldiçoados no caminho.

— Eles estão conectados com o poder do reino, e estão “dormindo”... Parece ser um Anathema.

— Se for isso, a situação é pior do que podemos imaginar.

— Do que vocês dois estão falando? O que é Anathema?

— É um grupo de mestres de maldição que usam magias macabras, no lugar de usar elementos naturais comuns como a maioria. Eles usam sangue, ossos e carne de seres vivos, especialmente de humanos... Essa magia é o “Soar do Mal”, lemos isso, mas tinha sido usado em um pequeno grupo, mas nunca vimos em um reino desse porte.

Os amaldiçoados no caminho começam a despertar, ficando agitados.

— Vamos mais rápido.

Alguns correm na direção deles, e Romanze os espanta com feixes de luz e fogo, sempre focando em não causar grandes danos. Em um ataque rápido, Romanze é jogado contra um muro, assustando Winton e Taikuri.

— O que foi isso?

Uma armadura feita de várias escamas de prata e bronze, de cinco metros de altura surgiu como se tivesse sido teleportada, essa armadura mostra que não tem nada além de poder dentro dela controlando-a.

A armadura é humanoide com características de um crocodilo, tendo cabeça, patas, presas, garras e um rabo de metal e bem detalhado com as características do animal. Após o golpe, uma voz distorcida sai do elmo do crocodilo:

— Vocês vão sangrar e sofrer, antes de implorar para morrer!

Taikuri vê que Romanze está bem e se preocupa em defender Winton.

Solidum Nummum!

Pedras, destroços, pó e areia se unem, formando três soldados humanoides para atacar o crocodilo, nesse tempo Taikuri identifica seu inimigo.

— É o Krokodeilos, um dos antigos quatro líderes de Sodam.

— Ele não morreu?

— Sim, mas suas cinzas foram usadas para formar um patrono poderoso para alguns mestres de maldição.

Krokodeilos tem uma aura estranha que o protege de encantamentos e algumas magias, suas garras e rabo são usados para destruir um a um dos soldados, que se reconstituem em seguida pelo poder do conjurador. Taikuri ataca com magia de longe para tentar distraí-lo e feri-lo.

Exorkizein!

Um feixe de luz branca é criado nas mãos de Taikuri e sai em direção ao Krokodeilos, ferindo-o e causando dor.

— Ele me feriu? Humano! Você tem minha atenção e deixarei que morra rápido.

Krokodeilos corre, atropelando e destruindo os três soldados, fazendo com que eles não voltem. No caminho ele ainda atinge alguns moradores amaldiçoados matando-os na hora. Ele usa alguns corpos para lançar em Winton e em Taikuri, que se defende com magia e conjura também outro encantamento.

Invisibilia!

— Usando magia para ocultar seus truques? Humano?

Krokodeilos pega Taikuri pelo tronco e o ergue.

— Você não conseguirá fazer nada que eu não saiba.

Taikuri usa magia para amenizar o dano do esmagamento que Krokodeilos está fazendo com a mão e diz:

— Eu sei... Esse encanto não foi para ocultar o meu poder!

Atrás deles é ouvido Romanze falar alto em um tom bravo.

Magnum Crepitus!

Krokodeilos se vira para defender do golpe, e Taikuri volta a usar sua magia.

Exorkizein!

As duas magias envolvem o corpo de Krokodeilos, enfraquecendo-o e destruindo parte da armadura, a aura que o protegia desaparece, e a conexão com seu mestre é afetada.

— Miseráveis... Como... Humanos...

Taikuri se solta e usa magia para voltar ao chão sem danos. Krokodeilos cambaleia, recua um pouco e ordena:

— Servos de Edo, ataquem!

Aparecem mais moradores amaldiçoados e atacam os três. Romanze usa magia para melhorar a locomoção e com isso correm em direção ao castelo; no caminho Krokodeilos surge novamente e, com uma investida, separa os três.

— Mor...ram!

Taikuri vê uma grande carruagem em bom estado e a encanta, depois de alguns movimentos de mão e ao destruir uma pequena pedra de energia.

Autósmobilis!

A carruagem se envolve em energia, criando alguns feixes de luz e eletricidade, ela se desmonta e se reconstrói, formando um golem de madeira e metal, além de ficar fortificado por causa do feitiço.

Esse golem de quatro metros de altura detém m Krokodeilos por algum tempo, dando oportunidade para que eles se unam novamente e sigam para o castelo.

Anathema... Invisibilia... Maledicere...

Taikuri conjura uma energia que toma o corpo deles, Romanze se preocupa e lhe relembra:

— Se usar isso, você ficará fraco.

— Preciso fazer isso! Pois os outros guardiões podem ter sido convocados também, você viu que um só já é difícil, e ainda precisamos defender Winton.

Sem entender sobre o que eles estão falando, Winton questiona:

— Qual o plano? O que esse poder faz?

Taikuri já demostra fraqueza, e Romanze responde, com tom bravo e preocupado.

— Ele ocultou nosso poder e nos amaldiçoou falsamente, assim todos nos veem como um deles.

— Isso é bom!

— Um pouco, pois eles também podem atacar os seus, e Taikuri ficará instável e fraco por um bom tempo.

— Desculpem por isso, vocês dois estão se esforçando muito, mas garanto que é por uma causa boa...

— Sabemos... Vamos logo e resolver isso o quanto antes.

Os três avistam o castelo ao longe e seguem furtivos entre as casas até chegar ao destino. Ainda no caminho, eles param um pouco para comer, Romanze usa magia para achar uma casa vazia e com alimento saudável.

Taikuri consegue descansar um pouco, e Winton, se tranquilizar, na medida do possível com toda a situação; logo eles voltam a seguir o caminho.

— Vamos, estamos quase lá.

Perto de algumas casas, dá para ouvir pessoas conversando ou lutando contra amaldiçoados. Winton fica esperançoso e comenta:

— Olhem! Tem outros que não estão sobre a maldição, é um bom sinal.

— Sim, mas não podemos ficar no reino ajudando um a um.

— Você tem razão, vamos para o castelo e ver o que podemos fazer.

De algumas janelas, saem amaldiçoados, atacando-os tentando mordê-los, arranhá-los ou só agarrá-los de desespero. Dá para ver a fúria nesses seres, que parecem estar com fome e sem consciência de suas ações. Taikuri ameaça matar alguns, mas Winton lhe lembra.

— Não! Por favor, não os machuquem!

— Nossa segurança vem em primeiro lugar!

Romanze concorda com Taikuri, mas segue o desejo de Winton. Ele usa magia novamente para afastar seus agressores e para fugir.

— A magia de Taikuri não ia deixar a gente oculto?

— Sim, mas como estamos perto do castelo, esse efeito não deve nos ajudar muito.

Depois de um tempo, eles chegam ao destino, na frente do castelo eles veem uma multidão andando lentamente para um lado e para o outro, sem rumo; são amaldiçoados em transe, babando sangue e com restos mortais em suas mãos ou roupas.

O chão está todo manchado de sangue e a falta de corpos mostra que todos os mortos foram comidos pelos amaldiçoados restantes. Novamente Winton tem vontade de vomitar.

— Que horror... Por que alguém faria isso?

Taikuri e Romanze olham com tristeza e logo acusam:

—Anathema... Guiados pela vontade do futrespurco, porcos...

— Eles têm que ser parados o quanto antes... Vocês conseguem passar por essa multidão?

— Sim, mas se formos atacados, precisaremos revidar, senão, morreremos.

Winton fica relutante e concorda com a posição deles, depois de ouvir uma explosão vinda de dentro de um dos cômodos do castelo.

— O rei deve estar em perigo. Vamos!

A prioridade deles é só passar sem ferir ninguém, eles seguem pouco a pouco e aumentando sua velocidade de movimento.

A magia de Taikuri ajuda contra alguns que os ignoram, outros estão lentos, e os únicos que tentam atacá-los são derrubados por uma força invisível criada por Romanze. No portão eles encontram uma barreira mágica.

— O castelo está protegido.

— Pelos Tensho?

— Não, pelo inimigo.

— Então precisamos ajudar, dá para destruir?

Winton se lembra do anel e sugere.

— Usem o anel que Úrsula me deu. Ele nos ajudou e pode nos ajudar agora.

— Não! Ele está com você para a sua proteção, nossa missão, independentemente de qualquer coisa, é mantê-lo a salvo.

Taikuri se posiciona à frente do portão e destrói a proteção dela.

Exorkizein!

A luz branca esbarra na proteção e a destrói facilmente.

— Essa barreira já foi atacada antes, então ainda tem gente lutando lá dentro.

Romanze abre o portão, através de um impulso invisível, e lá dentro eles veem amaldiçoados em um estado mais crítico e elevado, um estágio sem volta, esses seres estão em carne viva e com uma crosta óssea envolvendo partes do corpo, como uma armadura de osso espinhoso e gosmento, as presas são iguais de animais selvagens e eles andam curvados.

Dentro do salão principal, estão alguns guerreiros de Tensho, lutando contra essas criaturas que saem de uma passagem secreta do subterrâneo.

— Vamos ajudá-los.

Por ver que o local está muito escuro, Taikuri providencia luz para todos, ele fala com calma e fazendo gesto de agradecimento para os céus.

— “A luz do Criador está em cada um de nós”.

As luminárias acendem uma luz pura, produzindo uma luminosidade intensa e forte para os amaldiçoados, prejudicando sua visão e sua precisão para os ataques. O número de guerreiros é baixa, e todos estão cansados e feridos. Os guerreiros identificam Winton e agradecem.

— Finalmente, aliados!

Romanze se aproxima para ajudá-los e conjura.

Citius, Altius, Fortius!

Todos são beneficiados com mais força, agilidade e resistência. Romanze usa magia gélida para ferir alguns amaldiçoados, debilitá-los e abrir caminho, assim, ele deixa Winton e Taikuri em segurança atrás dos guerreiros, melhorando a formação deles. Taikuri analisa os guerreiros e questiona:

— Onde estão os mágicos do reino?

— Foram todos mortos pelo demônio!

Taikuri fala com Romanze e Winton:

— Ele atacou primeiro os que podem desfazer seu poder.

Winton não vê nenhum nobre e questiona sobre o rei.

— Tokei Tensho, onde está?

— Nosso rei está ferido no andar acima, se vocês têm poder, por favor, ajudem-no.

Um grupo maior de amaldiçoados entra no salão, forçando todos a recuar para um lugar menor. Taikuri atrai as três esferas luminosas para perto dele, se concentra e as joga para o grande salão.

— Com o toque no mago, eu proclamo... Anarkhos!

As esferas se fundem, geram um grande clarão e produzem uma pequena explosão, logo uma energia se expande e afeta a mente de todos os amaldiçoados, fazendo com que percam a noção de hierarquia ou comando.

Rapidamente eles começam a atacar qualquer um a sua frente, ferindo uns aos outros e comendo de suas carnes. Taikuri quase desmaia por ter usado muito de sua energia, mas Romanze o segura.

— Para de abusar! Quer morrer?

— Não... Tenho você para me defender...

— Sem romantismo em horas assim.

Eles sobem em busca do rei e o encontram com alguns conselheiros. Winton se aproxima e conversa com o rei enquanto Romanze cuida de Taikuri em um canto do salão real.

— Tome a poção.

— Não, melhor guardar... Guardar para uma situação...

— Essa é uma situação de risco! Não pense em me deixar sozinho num lugar como esse.

Romanze insiste e faz Taikuri tomar uma poção que restaurará boa parte de seu poder. O efeito é rápido, em poucos segundos ele sente energia e começa a pensar melhor em um plano.

— Precisamos achar o cristal corrompido e ver se tem como desfazer tudo isso.

— Winton deve estar pegando alguma informação importante, vamos nos juntar a ele.

Eles se aproximam, reverenciam o rei e têm autorização. Tokei está muito ferido, alguns de seus conselheiros estão com ele, e guerreiros de elite vigiam janelas e portas.

Taikuri pega na mão do rei e invoca.

Cit-Bolon-Tum...



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