Livro 10
Capítulo 1599: Su Dao
— O mundo é uma pousada para todos os seres vivos… O tempo é um hóspede das eras… A diferença entre a vida e a morte é como ser despertado de um sonho!
A cidade de Su saiu do inverno em junho e entrou na primavera. As folhas de salgueiro que voavam pelo céu pareciam querer levar a passagem do tempo com elas.
As folhas de salgueiro encheram o céu como neve; era uma cena muito bonita. Pareciam neve no verão à deriva no céu. Se o vento fosse ainda mais forte, elas tremulariam mais e pareceriam não ter raízes. Embora bonitas, elas também emitiam um toque de tristeza.
Pareciam andarilhos sem lar. Elas só podiam se mover com o vento, sem saber para onde iriam. Talvez caíssem no rio e se tornassem parte da água, ou caíssem no chão e se misturassem ao pó. Elas seriam então levadas pelo vento poderoso.
Seu destino era o vento, e ventos diferentes deram-lhes vidas diferentes.
Havia um pedaço de salgueiro que era branco e coberto de flores que flutuavam suavemente no ar, pousou na palma da mão de um jovem de branco que estava num pequeno barco.
O jovem segurava uma jarra de vinho na mão esquerda e bebeu um gole de vinho enquanto recitava um poema altivo. Sua voz não era alta, mas transmitia uma sensação de lazer, como se ele fosse perseguir o fim do mundo.
Atrás do jovem estava um homem de meia-idade vestindo roupas de servo, tinha uma expressão amarga, e cada vez que o jovem tomava um gole, o coração do homem de meia-idade doía um pouco mais.
— Uma jarra de vinho custa sete moedas de prata. Caro, realmente muito caro! Beber um gole é quase como engolir meia moeda de prata…
A folha de salgueiro que pousou na mão do jovem parou por um momento, mas parecia não chegar ao seu ponto final. Pareceu lançar um leve suspiro ao voar das mãos do jovem, voou para longe com um toque de loucura, como se soubesse para onde estava destinada a ir e avançou incansavelmente em direção ao seu objetivo.
Havia uma floresta de flores de pessegueiro na margem do rio. À medida que as folhas do salgueiro se afastavam, flores de pessegueiro caíam no rio, fazendo ecoar ondulações.
— Os salgueiros dançam com o vento, as leves flores de pessegueiro fluem com o rio — Wang Lin bebeu o vinho em sua mão e sua risada ecoou.
Além do barqueiro e dessas duas pessoas, havia três lindas mulheres. Uma tocava cítara e duas cantavam e dançavam. O barco flutuou ao longo do rio, através da ponte de pedra e vagarosamente até longe.
— Da Fu, traga o vinho! — Wang Lin se virou e olhou para o homem de meia-idade enquanto ria.
Da Fu tinha uma expressão amarga e continuou a suspirar, pegou uma jarra de vinho e, contra a vontade, entregou a Wang Lin, começou a falar como se fosse chorar — Meu jovem, realmente não sobrou dinheiro… Estamos alugando este barco, mas também comprando vinho. Essas três meninas que nos acompanham custam muito também, a diária é simplesmente muito alta… Que tal… Que tal irmos para a praia e encontrar uma pousada barata para economizar algum dinheiro?
— Qual é a pressa? A pessoa que estou esperando ainda não chegou — Wang Lin balançou a cabeça e sorriu, pegou a jarra e bebeu enquanto se sentava, ouviu a bela mulher tocando as cordas da cítara. O som da cítara era suave e alegre, mas não passou pela cabeça de Wang Lin.
— Jovem Senhor, tirei toda a prata que escondi. Você, você… Droga, esse velho contava. Se continuarmos gastando assim, daqui a sete dias vamos acabar como mendigos!
— Já faz mais de um mês, um mês. Quem diabos você está esperando e por que eles não viriam? O coração de Da Fu doeu enquanto ele reclamava amargamente com Wang Lin.
Como se ele parecesse muito engraçado, a mulher que estava dando um tempo na dança riu.
Os olhos de Da Fu se arregalaram e ele olhou para a mulher. Depois de resmungar um pouco, ele mesmo pegou uma jarra de vinho e deu um grande gole.
— Preciso beber mais, este é um bom vinho. Um bocado custa meia prata…
— A música da cítara ainda não está certa — Wang Lin encostou-se na lateral do barco e balançou a cabeça suavemente. Depois de muito tempo, ele parecia ter bebido demais, se levantou e caminhou ao lado da mulher que tocava cítara, colocou a mão na cítara e o rosto da bela mulher ficou vermelho quando ela retirou as mãos.
— Eu me lembro de uma música. Não sei o nome, mas ouvi em meu sonho. Deve ser tocada assim… — Wang Lin disse enquanto fechava os olhos e sua mão começava a tocar a cítara.
No início era muito cru e o som quebrado não era uma música. No entanto, conforme Wang Lin se concentrava em tocar, a música gradualmente se tornou mais coerente.
Uma tristeza indizível veio da música da cítara e voou em todas as direções.
As duas mulheres que descansavam no barco ficaram atordoadas e olharam para Wang Lin. A tristeza na música era muito leve, mas podia atingir a alma. Quem ouviu, não pôde deixar de se assustar.
Não se sabia há quanto tempo Wang Lin sentou-se diante da cítara e começou a tocar. A mulher que tocava cítara sentou-se ao lado dele. Havia um esplendor indizível brilhando em seus lindos olhos enquanto ela parecia perdida na música da cítara.
Até mesmo Da Fu ficou surpreso quando ele se sentou lá, bebeu goles de vinho um após o outro, esqueceu a dor no coração e começou a olhar para o pulso direito.
Li Muwan havia tocado essa música de cítara. E uma música diferente que continha o mesmo charme veio da mulher cega na Terra do Espírito Demônio.
Nesse momento, as lágrimas lentamente escorreram dos olhos fechados de Wang Lin. Suas lágrimas caíram na cítara; pareciam se fundir com a música e se espalhar com a melodia.
Ele teria o mesmo sonho todas as noites, via muito, mas sem clareza. Algumas pessoas ainda estavam desfocadas. Embora fossem pessoas vagas, aquele sentimento de tristeza era muito forte.
Sob a música da cítara, o barco navegou pelo rio e passou por muitas pontes até o anoitecer.
Wang Lin esperou mais de um mês, mas a pessoa de seu sonho que deveria ter aparecido ainda não apareceu.
Enquanto o barco flutuava sob uma ponte de pedra, duas pessoas apareceram sem saber na ponte de pedra e ouviram a música triste de cítara.
Essas duas pessoas eram velhos com cabelos brancos. Um deles vestia uma túnica verde. Embora ele estivesse apenas parado ali, ele estava ereto como um pinheiro.
Sua expressão transmitia uma sensação de idade e seus olhos revelavam sabedoria. Mesmo parado ali, ele exalava a aura de um grande estudioso.
Ele era Su Dao.
Su Dao revelou um olhar emocionado enquanto olhava para o barco flutuando, viu Wang Lin tocando a cítara e disse calmamente — Que música triste, essa música não é algo que uma pessoa comum possa tocar… A tristeza revela uma tristeza que só poderia aparecer depois de passar por incontáveis anos. A imagem daquela pessoa triste ainda permanece em seu coração. Su San, esse velho não fez essa viagem em vão.
O velho atrás de Su Dao também soltou um suspiro. Se Wang Lin visse essa pessoa, ele o reconheceria como o velho que o viu escrever sua prova até o final.
— O aluno não esperava que ele pudesse tocar cítara. Quando vi sua prova, achei que essa criança não era comum. Quando o conheci, vi essa criança no barco, então pensei em trazê-lo aqui para vê-lo, Senhor. — O velho curvou-se respeitosamente.
O barco foi se afastando e a música da cítara foi desaparecendo aos poucos. Neste momento, Su Dao sorriu, deu alguns passos descendo a ponte e gritou para o barco abaixo.
— Jovem, diga a este velho, o que acha que é Carma? — As mãos de Wang Lin pararam e a música da cítara parou, abriu os olhos e olhou para trás confuso. De sua posição, ele só podia ver o velho e não o segundo velho do outro lado da ponte.
Nesse momento, a noite chegou e a lua brilhante pairou no céu. A figura do velho estava um pouco borrada e até a ponte parecia escondida sob o luar.
Até o olhar de Wang Lin parecia embaçado, olhou para o velho, para a ponte e para a nebulosidade ao redor quando começou a murmurar — Carma…
Não deveria ser assim… Se fosse a reversão do tempo, se fosse uma reencarnação, se fosse um sonho, então deveria ter me encontrado no meu sonho… Mas por que conheci esse velho… Por que é assim…
Wang Lin esperou por mais de um mês, esperou por aquela cena que o fez acordar confuso e passar o dia bebendo vinho. Nesse sonho, ele viu o outro ele no sonho aparecer na ponte na cidade de Su.
No entanto, em vez de encontrar seu eu dos sonhos, ele conheceu este velho.
“Isso não pode ser explicado… Eu sei sobre a Seita Refinação da Alma. Posso até vagamente adivinhar que a pessoa que aparecerá na Seita Refinação da Alma daqui a centenas de anos será o eu do meu sonho… Eu ganhei a iluminação em tudo isso, mas não o vi aqui…” Os olhos de Wang Lin estavam marejados com confusão, não entendeu, até ele mesmo ficou embaçado.
Enquanto Wang Lin continuava confuso, o barco flutuava cada vez mais para longe.
Quando o velho viu que Wang Lin não respondeu, sorriu e gritou novamente.
— Jovem, diga a este velho, o que você acha que é Carma?
— Carma… sou a Causa Cármica, sou o Efeito Cármico… — A voz de Wang Lin chegou lentamente e desapareceu gradualmente com o barco.
Su Dao sorriu enquanto olhava para o barco que desapareceu, se virou e olhou para o aluno atrás dele.
Qual é o nome dele?
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