Vol 2
Capítulo 4: O Cerco ao Balcão Ifflole
Na manhã seguinte, no Balcão Iffole antes do horário de atendimento.
Alina e Laila percorriam o local limpando as janelas e os bancos da área dos hóspedes, que estava silenciosa sem a presença de seus chefes ou colegas mais antigos. Este era o destino dos subalternos: limpar o local de trabalho no início da manhã.
"Tudo bem, é hora de mais um dia de trabalho duro! Tudo pelo Festival Centenário!"
"Você está mesmo animada com isso, Alina."
Um sorriso significativo surgiu no rosto de Laila ao notar a energia incomum de Alina.
"É um alívio ver você tão alegre, em vários sentidos!"
"Heh. Claro que estou alegre. Porque eu vou curtir o Festival Centenário este ano, com certeza."
Agora Alina tinha um objetivo para trabalhar: participar do Festival Centenário. Fechando os olhos com força, ela imaginou a cena maravilhosa que aconteceria em alguns dias. Ela se imaginou circulando ao fundo dos sons agitados do festival, visitando barraquinhas de todos os tipos, comendo até ficar cheia de comidas deliciosas, comprando itens incomuns de todas as partes da terra, bebendo uma boa bebida e curtindo até meia-noite. Só de imaginar, uma força sem fim brotava dentro dela. Como o Festival Centenário era maravilhoso...
"Você não acha que tem vindo mais pessoas para missões ultimamente, Alina?"
Alina ficou tensa quando o comentário casual de Laila a arrancou de seu devaneio sobre o Festival Centenário.
"As coisas estão calmas como de costume, mas acho que diria que os clientes são lentos, porém consistentes? É meio estranho, já que ainda nem é a época do Bônus Especial do Festival Centenário, você não acha?" Laila inclinou a cabeça com um olhar perplexo.
"...É, você tem razão," Alina murmurou indistintamente ao seu lado.
Alina também havia percebido claramente essa coisa que Laila estava questionando. Na verdade, não apenas percebido — como Alina era encarregada de totalizar o número diário de missões no Balcão Iffole, ela tinha os números concretos para confirmar que realmente havia mais missões sendo realizadas agora do que na mesma época do ano passado.
"Será por que isso?" Laila ponderou em voz alta.
Mas Alina optou por não responder e fez-se de desentendida.
Isso porque ela sabia que a causa daquela pequena anomalia era, em última análise, ela mesma.
Mas, apesar dos esforços de Alina para fingir ignorância, Laila adivinhou a resposta certa. "Será que é por causa daquela missão secreta que encontraram há um mês..."
"...É... talvez..."
Aventureiros assumiam uma variedade de missões, desde favores pessoais até a limpeza de masmorras. Essas missões eram coletadas pela Guilda dos Aventureiros e postas em exibição, sem exceção.
Missões secretas eram algo completamente diferente — missões das quais até mesmo a Guilda dos Aventureiros não tinha conhecimento.
Essas missões eram há muito tempo assunto de lenda urbana, e os aventureiros haviam embelezado seu apelo ao longo dos anos, sugerindo que aceitar uma poderia revelar masmorras ocultas ou dar acesso a relíquias especiais.
Ainda assim, as missões secretas eram, em última análise, nada mais que rumores — ou pelo menos eram, até um mês atrás.
"Mas pensar que uma missão secreta estava escondida dentro de uma relíquia! Não é incrível?!" Laila deixou de lado suas dúvidas, seus olhos brilhando com uma curiosidade descarada.
"Quem será que a encontrou? Relíquias são feitas das substâncias mais duras que existem, não são? Você teria que ser insanamente forte para destruir uma!"
"Acho que sim, é... Quem será que fez isso?" Alina respondeu brevemente, desviando o olhar, um pouco suando frio.
Ela havia feito isso.
Um mês atrás, Alina destruiu uma relíquia por acidente e acabou encontrando a missão secreta escondida dentro. E exatamente como as lendas diziam, uma masmorra oculta chamada Torre Branca havia aparecido.
Aparentemente, a Espada de Prata havia sido quem assumiu a Torre Branca e a limpou completamente, quase perdendo a vida no processo. Mas a verdade era que Alina havia estado profundamente envolvida naquela expedição.
De qualquer forma, agora era de conhecimento público que as missões secretas eram reais e que elas realmente levavam a masmorras ocultas.
Desde que a notícia se espalhou, os aventureiros começaram a recuperar todas as relíquias que conseguiam colocar as mãos na tentativa de encontrar mais missões secretas. Todos estavam procurando pelas "relíquias especiais" onde se dizia que as masmorras ocultas estavam escondidas. Isso explicava o leve aumento no número de missões que as pessoas estavam pegando ultimamente.
"Mas, tipo, a guilda tem avisado repetidamente a todos sobre procurar por missões secretas sem a devida cautela, porque masmorras ocultas são tão perigosas...", Alina apontou. "Todos aqueles aventureiros têm desejo de morte ou o quê? Até a Espada de Prata quase foi pro saco limpando uma masmorra oculta."
"Ah, mas isso não os impede de procurar. Se você encontrar uma missão secreta, pode conseguir a relíquia especial na masmorra oculta! Então, basicamente, isso significa tesouro, certo?"
"..."
Relíquias eram o legado de alta tecnologia dos antigos, cuja próspera sociedade Helcaciana foi aniquilada em uma única noite.
Agora que eles se foram, é quase impossível fazer qualquer coisa tão avançada quanto as relíquias — o que explica por que essa tecnologia perdida alcança um preço tão alto. Para aventureiros, elas eram tesouros de valor incomparável.
"E um tesouro especial, ainda por cima...! Essas relíquias devem ser algo incrível, se nem podem ser comparadas com tesouros de ouro e prata!"
"É, talvez. Sei lá."
"Você parece completamente alheia, Alina."
"Bom, eu não estou interessada."
Apesar de sua declaração, Alina sabia muito bem o que eram essas relíquias especiais.
Tesouro de ouro e prata? A relíquia que eles encontraram não era nada disso.
Ela tinha a forma de um humano, possuía emoções e inteligência, era capaz de falar, lutava com uma lança, tinha um corpo incrivelmente resistente e empunhava múltiplas habilidades Dia, rindo enquanto matava pessoas — além disso, ele havia interrompido o horário extra de Alina. A relíquia, chamada de deus sombrio, tinha sido um incômodo incrível. Era isso que a relíquia especial realmente era.
O deus sombrio que dormia na masmorra oculta havia sido revivido ao devorar as almas das pessoas. Ele havia sido um inimigo tão temível; quase matou Jade — o tanque mais forte da guilda — como se não fosse nada. Pior ainda, ele não era o único; o deus sombrio havia dito que havia mais adormecidos nesta terra, tornando isso mais do que apenas um pequeno aborrecimento.
Embora Alina de alguma forma tenha conseguido derrotar aquela coisa com sua habilidade Dia um mês atrás, francamente falando, tinha sido pior do que horário extra. Seria horrível se aventureiros ignorantes encontrassem uma masmorra oculta e acordassem o deus sombrio que dormia dentro dela.
No entanto, as informações sobre a verdadeira natureza dessas relíquias especiais foram completamente ocultadas do público por preocupação de que isso causaria confusão. O mestre da guilda — Glen Garia — também havia dito a Alina para não contar uma palavra sobre os deuses sombrios a ninguém.
"M-mais importante! Hora de mais um dia difícil de trabalho!" Torcendo seu pano, Alina mudou de assunto. "Nossa luta para participar do Festival Centenário começa agora...!"
"Isso me lembra, eu perdi a chance de perguntar ontem, mas..." Laila parou de limpar, e mal virou-se para Alina com ar questionante e já curvou os lábios em um sorriso malicioso. "Se você está tão decidida a ir ao Festival Centenário, isso deve significar — você tem um namorado!"
"Um namorado?" Alina piscou, surpresa. Ela não estava esperando essa acusação.
Laila aproximou-se dela, olhos curvados em crescentes caprichosos enquanto cutucava Alina com o cotovelo. "Aiii, qual é, Alina, você não precisa fazer-se de desentendida. O Festival Centenário é um encontro super, duper, ultra clássico!"
"O quê?"
"Hã?"
"Eu não sabia disso."
"Mas dizem que as pessoas que saem em um encontro durante o Festival Centenário ficarão juntas por cem anos, não dizem? É por isso que alguns casais até vêm de aldeias remotas para o festival."
"Hãããh." Desde que chegou a Iffole, Alina sempre fez hora extra no dia do Festival Centenário, então não havia como ela saber disso. Independentemente disso, ela não estava nem um pouco interessada nessa informação, então dispensou a história de Laila. Assim que Alina voltou a limpar, Laila agarrou-a pelo ombro e puxou-a de volta.
"Ei, eieieieiei, espera aí, por favor. Se você não vai para um encontro, então com quem você está planejando ir?"
"Hã? Eu vou sozinha."
"Sozinha?!?!"
"Qual é o problema?"
"M-mas o Festival Centenário vai estar cheio de casais...! Vai ter gente flertando e se beijando por todo lugar! E você vai simplesmente entrar lá? Você tem desejo de morte?!"
"Não é como se o Festival Centenário fosse só para casais. O que há de errado em curtir sozinha?"
"V... você é tão forte...!"
Laila arregalou os olhos como se tivesse levado um soco, e então desabou no chão.
"Então isso é... o destino de uma mestra em hora extra...?!"
"Ei."
"Hrng... Eu gostaria de ir com você, mas infelizmente, eu tenho um encontro com meu alguém especial..."
"Entendo."
"Está curiosa sobre ele?! Você deve estar, certo?! Você deve querer saber com quem sua junior vai sair!"
"Não realmente—"
"Tee-hee. Bem, não fique muito chocada quando eu contar, Alina." Laila a interrompeu, então inflou o peito e declarou confiantemente: "É o grande Carrasco!"
Houve um som fraco de escorregão quando Alina pisou em um pano e caiu dramaticamente de cara no chão. "Gack! E-eu bati em algum lugar estranho."
"Nossa, você não precisa ficar tão surpresa!"
"Como eu não ficaria?!"
O Carrasco era o apelido de um aventureiro misterioso que de repente se tornou o assunto da cidade.
Eles ganharam esse nome por aparecerem em masmorras onde outros aventureiros estavam empacados e esmagarem sozinhos o chefe do andar.
O Carrasco usava um sobretudo que escondia sua aparência da cabeça aos pés, então ninguém jamais averiguou sua identidade. Eles também possuíam uma habilidade desconhecida que lhes permitia invocar um martelo de guerra, que usavam para espancar seus inimigos até reduzi-los a uma polpa. Essa última qualidade os tornou uma lenda urbana entre os aventureiros.
Não — era mais preciso dizer que eles *haviam sido* uma lenda urbana.
Um mês atrás, Jade da Espada de Prata testemunhou que o Carrasco realmente existia. Isso não era exatamente uma surpresa — o Carrasco havia aparecido em Iffole pouco antes disso e derrotado um monstro descontrolado com sua força imensa. Além disso, eles também haviam derrotado o chefe de uma masmorra oculta e salvo a Espada de Prata quando todos estavam à beira da aniquilação.
Sim. O Carrasco era, na verdade, a Alina.
Dois anos atrás, Alina manifestou abruptamente uma habilidade Dia após ficar exausta de tanto horário extra, e então saiu por aí derrotando os chefes que estavam atrasando as coisas... Mas, antes que ela percebesse, suas façanhas deram origem a uma série de rumores.
Um encontro com o Carrasco...? Não pode ser... Alguém está enganando ela?!
Era verdade que Laila podia ser um pouco ignorante sobre as coisas do mundo e que ela era particularmente apaixonada por esse misterioso Carrasco. Se algum cara dissesse a Laila que ele era o Carrasco, Alina podia facilmente vê-la acreditando nele.
Alina começou a suar frio. Ela tinha que agir com delicadeza.
Laila sorriu ousadamente para ela. "Heh-heh-heh... Eu entendo o que você está tentando dizer. Você acha que não tem como eu ter um encontro com o Carrasco, mas eu posso totalmente fazer isso acontecer. Com isso!" ela disse, revelando entusiasticamente uma boneca do tamanho de sua palma.
A boneca tinha uma cabeça grande que estava completamente escondida em um casaco. Embora seu rosto estivesse oculto pelo capuz, ela tinha um martelo prateado incrivelmente detalhado nas costas.
Ao perceber que a situação era muito menos problemática do que ela havia imaginado, Alina piscou para Laila em surpresa. "Isso é... uma boneca do Carrasco...?"
"O que você acha?! Eu tenho trabalhado nela à noite! Agora posso ter o encontro dos meus sonhos indo ao festival com minha boneca do Carrasco!"
"...Tem algum feitiço nessa coisa que vai fazer ela virar humana ou algo assim?"
"Hã? Claro que não. Uma boneca é uma boneca. Mas, por favor, dê uma boa olhada nela! Eu fiquei super apegada a todos os detalhes. Olha, você pode tirar o capuz! E eu dei a ele os traços super bonitos que imagino que ele tenha por baixo!" Laila bufou com entusiasmo, inclinando-se para Alina e puxando o capuz para tentar mostrar.
Mas Alina a conteve com um suspiro. "Sim, sim, ok, entendi. Já sei onde você quer chegar, então guarda essa coisa."
Ela realmente queria evitar falar sobre o Carrasco o máximo possível, mas Laila era totalmente devotada ao aventureiro misterioso, e ela vivia contando sobre sua paixão por "ele" em toda oportunidade. Uma vez que ela começava a falar, não parava mais. Tinha se tornado um incômodo lidar com isso ultimamente, então Alina a cortava antes que ela ficasse muito empolgada.
"..."
Laila guardou a boneca cabisbaixa; evidentemente, ela não tinha conseguido o que queria.

Vendo aquilo, Alina cerrou o punho. "Bom, sejam quais forem nossos motivos, há apenas uma coisa que temos que fazer para poder sair voando no dia do Festival Centenário e curtir as festividades!"
"É isso aí!" Tendo se recomposto, Laila também ergueu um punho. "Tenho um encontro emocionante com o Carrasco pela frente, então tenho que estar totalmente preparada para o Período de Bônus Especial do Festival Centenário..." De repente, a energia inicial de Laila diminuiu, e sua voz sumiu antes que ela pudesse terminar a frase.
"?" Alina a olhou, questionadora.
O queixo de Laila ficou pendurado, e o que ela queria dizer simplesmente não saía.
Em vez disso, seus lábios tremiam, e seu rosto ficou pálido. Ela ficou parada no lugar, congelada, seu olhar focado em um único ponto.
"O que foi?" Alina perguntou.
"A… Ali… Olha…"
Ela virou-se para onde Laila estava apontando e — E então ficou sem palavras.
"O qu… quêê?!"
Seus olhos estavam na entrada do Balcão Iffole. As portas giratórias de vidro tinham sido feitas usando uma relíquia. Isso por si só não era digno de nota, mas a visão que havia logo do lado de fora era.
Além daquelas portas de vidro, um número enorme de aventureiros já se amontoava em frente à entrada, seus olhos brilhando como bestas famintas enquanto esperavam pelo minuto em que as portas se abririam.
"Ei… o qu… O QUÊÊÊ?!"
Alina vacilou diante da cena, e se viu rangendo os dentes e balançando sobre os pés. Ela já tinha vivido avalanches de missões inúmeras vezes antes, mas nunca tinha visto uma tão anormal quanto esta. Sua cabeça virou por vontade própria para o relógio na parede.
O Balcão Iffole abriria em apenas alguns minutos. Assim que aquele breve tempo passasse, elas teriam que abrir as portas que continham aquele rebanho.
Alina engoliu seco.
Ela se sentiu como uma soldado no lado perdedor, cercada por forças inimigas.
"A-Alina... O que a gente faz...? O que a gente faz... com aquilo...?"
"O-o que a gente faz...? A gente só tem que abrir—"
As outras recepcionistas mais experientes, que haviam chegado ao escritório em algum momento, também sussurravam entre si sobre o espetáculo.
"Ah! As bandejas para documentos não processados...!"
Alina saiu do transe e colocou um grande número das bandejas de "não processados" que usavam durante os períodos de pico. Elas eram para jogar dentro os formulários de missão que os aventureiros preenchiam — as recepcionistas preenchiam as seções necessárias quando o balcão estava lotado e terminavam de processá-los depois do horário. Alina também colocou mais formulários de missão do que o usual nos balcões; ela havia entrado no modo "ocupado".
Enquanto isso, Laila destrancou timidamente as portas.
"S-sejam bem— *Oof*!"
Ela não conseguiu nem terminar sua saudação habitual antes de ser tragicamente soterrada pelas ondas de aventureiros que entravam. Alina viu aquela cena lamentável pelo canto do olho, mas não tinha tempo para salvar sua junior, porque...
"Estão abertas!"
"Sai da frente, eu sou o primeiro!"
"Cala a boca, não empurra! Para trás, caramba!"
... os aventureiros avançaram para o balcão de atendimento em conjunto, empurrando e se acotovelando com uma força tão brutal que o chão praticamente tremia, seus rugidos de raiva voando de um lado para o outro.
E então o inferno começou.
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