Hyouka Japonesa

Autor(a): Honobu Yonezawa


Volume 6

Capítulo 5: Mesmo tendo me dito que agora tenho asas, o que é que eu devo fazer?

A longa estação de chuvas havia terminado, e apenas uma única nuvem em forma de pétala flutuava no céu noturno, iluminada pela lua crescente. A brisa que entrava no quarto era quente, apesar da hora, e parecia anunciar a chegada do verão. Embora eu tivesse consciência das luzes da casa espalhadas à distância, continuei a pressionar as teclas do órgão, com os olhos fixos na partitura.

Decorei a progressão básica das notas que fluíam e comecei a murmurar a melodia lentamente. Senti-me um pouco envergonhada ao imaginar o quão longe esse meu "la-la-la" poderia ecoar em uma noite tão silenciosa, e minha voz se tornou suave.

Como se eu mesma estivesse me afogando no som, murmurei a mesma música incontáveis vezes. Por fim, fiquei quase satisfeita com a precisão do tom e respirei fundo, planejando adicionar a letra na próxima tentativa.

Nesse momento, uma voz me chamou do outro lado da porta de correr.

— Eru.

Era meu pai.

Era extremamente raro ele vir até meu quarto para me chamar. Talvez o órgão, ou quem sabe meu murmúrio, tivesse sido alto demais. Respondi timidamente.

— Sim?

— Venha ao quarto do santuário.

Como sempre, sua voz era séria, mas não parecia zangada. Senti-me aliviada, mas ainda mais intrigada com o mistério. O quarto do santuário era usado com frequência quando havia algo importante a discutir, mas eu não conseguia imaginar o que poderia ser.

— Já vou.

O som dos passos se afastou. Parecia que a prática de hoje havia terminado. Fechei a tampa do órgão e a janela.

De repente, ao sair do quarto, senti uma hesitação inexplicável. O que exatamente ele queria discutir? Sem motivo algum, um temor terrível me invadiu.

Talvez eu possa continuar apenas murmurando?

Até pensamentos assim passaram pela minha cabeça naquele instante.

É claro que não pude. Aproximando-me do momento da verdade, consegui de alguma forma reunir coragem. Sorri ao lembrar do meu pânico anterior e apaguei a luz do quarto. Do outro lado da janela, cujas cortinas permaneciam abertas, uma pequena nuvem flutuava em frente à lua.

*

 

Após os exames finais, aguardando apenas o início das férias de verão, todo o Colégio Kamiyama estava envolto por uma atmosfera de letargia; a sala de Geologia não era exceção. Mas, na verdade, não era como se essa atmosfera não fosse o normal desde o início. Tinha a sensação de que era a primeira vez em muito tempo que os quatro membros estavam reunidos na sala do clube ao mesmo tempo.

Cada um de nós sentou-se onde quis, em uma sala que poderia acomodar uma turma inteira. Ainda assim, não estávamos muito distantes uns dos outros. Todos tendíamos a nos sentar relativamente próximos ao centro.

Chitanda e eu estávamos silenciosamente lendo. Meu livro era sobre um ninja, uma princesa e seu filho ilegítimo; a história consistia inteiramente em uma sucessão rápida de acontecimentos importantes, completamente desprovida de sutilezas literárias, com cada capítulo mostrando alguém se metendo em algum tipo de enrascada. Não havia nada difícil nele — uma leitura realmente agradável. Para uma mente como a minha, desgastada por provas, era, sem dúvida, a escolha perfeita.

Não fazia ideia do que Chitanda estava lendo. Era um livro grande, cheio de fotos, então supus que pudesse ser algo como um guia de viagens, mas eu não conseguia ver direito de onde estava sentado, nem me esforcei para tanto. De qualquer forma, não parecia muito interessante, já que até a própria Chitanda olhava as páginas com um olhar vago.

Ibara e Satoshi rabiscavam sem parar em um caderno aberto e conversavam sobre sabe-se lá o quê… Mas, enquanto eu pausava entre os capítulos e os observava, parecia que Ibara liderava a discussão. Com uma caneta na mão e expressão concentrada, ela falou.

— É a mão. O problema tem que ser a mão.

Satoshi assentiu, como se concordasse plenamente.

— Entendi, a mão, é?

— Esse cara não consegue usar a mão direita… Na verdade, se eu desenhar isso como algo psicológico — que ele não quer usá-la, ao invés disso — poderia criar um bom prenúncio.

— Entendi, prenúncio, é?

Parecia que estavam elaborando o enredo de um mangá.

Desde que Ibara saiu do clube de pesquisa de mangá, ela não demonstrava qualquer inibição ao desenhar. Simplesmente, talvez porque Chitanda e eu já conhecêssemos suas criações, não havia motivo para constrangimento ou tentar esconder nada. Ou talvez, ao sair do clube, algo dentro dela tivesse mudado.

Desde o início, estava decidido que Chitanda herdaria os negócios da família. Com Ibara também resoluta em suas paixões, apenas Satoshi e eu ficávamos à mercê da indecisão patética. Que situação complicada.

…Não, nós dois éramos normais. Essas alunas, sem nenhuma incerteza quanto ao futuro — essas duas meninas, que só queriam aperfeiçoar suas habilidades amadas — eram as estranhas.

— Seria bom se eu fizesse alguém perguntar "O que aconteceu com sua mão?", mas ele está sozinho nessa cena. Olhar para a própria mão e depois soltar algum discurso autodepreciativo parece forçado demais… O que eu faço?

— Entendi, sozinho, é?

Enquanto ouvia com um sorriso enorme, Satoshi acrescentou apenas.

— O que você faz quando está sozinho?

— O que eu faço… hum…

Sem sequer reconhecê-lo, Ibara cruzou os braços e olhou para o teto. Finalmente, seus olhos brilharam e ela falou.

— Entendi! Bom trabalho, Fuku-chan, é isso! Nem precisei pensar muito. Por que tentei complicar tanto? Tudo o que preciso fazer é fazê-lo beber café. Ele tentará segurar o café com a mão direita, mas no próximo quadro faz com a esquerda. Sim, isso é natural, é o que vou fazer.

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas parecia que ela havia pensado em uma boa ideia. Ibara fez alguns traços largos no caderno e finalmente o fechou com um enfático.

— Certo!

— Você terminou a primeira etapa?

— Na maior parte. Ainda não posso começar a desenhar, mas com isso, consigo visualizar basicamente o produto final.

— Que bom.

Então Satoshi acrescentou.

— Desta vez, pelo menos me diga que tipo de história será.

Ou seja, ele vinha apenas comentando o monólogo dela sem saber que tipo de história era. Eu não sabia se deveria ficar desapontado com ele ou simplesmente impressionado.

Talvez aliviada depois de superar aquele obstáculo, Ibara falou com um pouco menos de entusiasmo do que antes.

— Falando em café, aconteceu uma coisa estranha comigo há um tempo.

— Ah, é mesmo?

— Eu fui a uma loja de materiais de arte em Kiryuu, mas...

— Kiryuu? Por que você foi tão longe assim?!

Embora Satoshi tivesse sido quem interrompeu a história, eu entendia a reação dele. Kiryuu ficava na parte mais ao norte da cidade e, mesmo de carro, levava até vinte minutos para chegar a partir do Colégio Kamiyama. Da casa de Ibara, poderia levar até uma hora, no pior dos casos. Certamente deveria haver pelo menos uma loja de materiais de arte mais próxima. Com uma expressão um tanto irritada, ela respondeu.

— É, acontece que... tem um tipo antigo de tone que só encontro naquela loja. Não uso muito, mas comprei por precaução.

— Hã, entendi.

O que diabos é tone? Suponho que seja algo usado para desenhar mangá. Eu já não estava muito interessado em escutar a conversa, então decidi voltar ao meu livro — até perceber que meu relógio de pulso marcava quase cinco horas. Se começasse um novo capítulo agora, sem dúvida não o terminaria antes do fechamento dos portões da escola. Resolvi deixar para depois, quando chegasse em casa.

Talvez notando meus movimentos, Ibara virou-se para mim.

— Oreki, escuta isso também.

— Já estou escutando.

— Ah, é? Então... depois que terminei as compras, fiquei com muita sede e decidi ir a um café ali perto, já que as provas tinham acabado e tal. Diziam que o café de lá era ótimo, então pedi um. Mas tinha um gosto esquisito. Até hoje não sei por quê.

— Imagino você tomando café num café de verdade. Está igualzinho ao Houtarou.

Satoshi conteve uma risada. Ibara inflou as bochechas, contrariada.

— Foi pesquisa, só pesquisa! Ei, eu consegui pensar em algo bom por causa disso, não foi?

— Eu sei, eu sei. Então? Por que o gosto estava estranho?

Embora fosse praticamente uma obrigação para Satoshi, eu já tinha ido a cafés algumas vezes. Não a ponto de apreciar as diferenças sutis entre tipos de café, mas conseguia distinguir um bom de um ruim. Ainda assim, não fazia ideia de como seria um café com gosto "esquisito".

Ibara abanou a mão diante do rosto.

— Ah, por "gosto esquisito" eu estava falando do açúcar.

Eu ficava cada vez mais confuso. Açúcar é doce, isso não muda. Satoshi também parecia confuso, mas acabou sorrindo.

— Já sei. Era azedo, né?

— Fuku-chan, você está tirando sarro de mim, não está?

— Só um pouquinho.

Ibara lançou um olhar fulminante para o sorriso despreocupado dele, mas suspirou em seguida.

— Não era isso. Era doce.

— Então não estava normal? — Satoshi e eu respondemos ao mesmo tempo, sem querer. Ibara bateu o punho na mesa com um baque.

— Estamos discutindo isso agora justamente porque eu estou dizendo que não estava!

Sim, senhora.

Ela nos lançou um olhar intimidador, como para garantir que nossas bocas ficassem bem fechadas, e continuou.

— Não era apenas doce, era extremamente doce. Nunca provei nada parecido, exceto aqueles cafés enlatados açucarados demais. Fiquei realmente surpresa.

— Você não colocou açúcar demais? — Perguntei. Então, como se pedisse desculpas pela falta de informações, ela assentiu bruscamente.

— Vamos ver. Desde o começo: pedi um combo de café com bolo. O bolo era de limão e, na minha opinião, nem era tão doce. Perguntaram se eu queria leite e açúcar e eu disse que sim. O café já veio com o leite misturado e, no pires, tinham colocado dois cubos de açúcar. Dei um gole, achei normal, coloquei mais um cubo... e, bem... virou praticamente água com açúcar.

Satoshi balançou a cabeça devagar.

— Então era cubo de açúcar, né... Se tivessem trazido um potinho com açúcar e uma colher, eu até entenderia você exagerar sem querer.

— Pois é, por um único cubo ter deixado tão doce assim, achei muito estranho. Tenho pensado nisso desde então, mas não havia nada fora do comum além disso.

Satoshi cruzou os braços e inclinou a cabeça.

— Hmm, açúcar doce demais, hein...

— Não é? Estranho, né?

— É estranho, mas não quer dizer que não exista uma explicação.

Ibara se inclinou para a frente.

— Sério?

Satoshi assentiu com seriedade.

— Existem adoçantes que são centenas — não, milhares — de vezes mais doces que o açúcar comum. Se você colocar a mesma quantidade que colocaria de açúcar, é claro que ficaria absurdamente doce.

— Hmph! — Ibara resmungou, insatisfeita, e continuou com expressão cautelosa: — Sim, estava muito doce, mas, como eu disse, não era intragável como aqueles cafés enlatados. E além disso, você já viu algum lugar servir adoçante em formato de cubo de açúcar?

— Não, nunca. Nem consigo imaginar que isso exista.

Então por que você mencionou isso?

— Talvez fosse algum tipo de açúcar mais forte. Por exemplo, feito com um processo diferente, ou vindo de outra origem.

Satoshi descruzou os braços e virou-se para Chitanda.

— Ei, Chitanda-san. Você tem alguma ideia?

— Hã? — Chitanda, que estava distraída lendo um livro, levantou a cabeça como se tivesse sido puxada de volta à realidade pela pergunta de Satoshi. — Ah... sobre o quê?

Nossas vozes tinham sido bem altas durante a conversa, mas parecia que nada havia chegado aos ouvidos dela. Com um largo sorriso, Satoshi explicou.

— A Mayaka estava contando que foi a um café e aconteceu isso e aquilo, e que trouxeram cubos de açúcar para ela. A gente estava pensando se não havia algo especial neles que os tornasse mais doces que o normal. Você não sabe bastante sobre diferentes tipos de comida?

— Ah, era isso.

Chitanda fechou o livro nas mãos e sorriu, mas senti um desconforto súbito em sua expressão. Desde o início, ela era uma pessoa reservada. Não sorria abertamente, não se irritava, nem falava de forma brusca. E, ainda assim, mesmo descartando tudo isso, o sorriso dela naquele instante parecia rígido, quase artificial.

Ela respondeu em voz suave.

— Infelizmente, não tenho certeza. Nós não cultivamos cana-de-açúcar nem beterraba.

— Entendi. Achei que você talvez tivesse produzido em algum momento.

Imediatamente, ela baixou os olhos, levemente.

— Não sei. Me desculpe.

— Beleza. Foi mal, foi mal. Desculpa perguntar uma coisa tão estranha. Mas ainda fico me perguntando o que havia de especial nesse açúcar doce. É surpreendentemente difícil resolver esse mistério. Fiquei até curioso.

— Sim, eu me pergunto.

A julgar pela forma como ela respondeu, já que não conseguiu entrar na conversa, parecia que estava pensando em outra coisa, afinal.

Ibara me encarava como se quisesse dizer algo. Se eu tivesse que adivinhar, provavelmente era algo como: "A Chi-chan não está um pouco estranha? Você sabe de alguma coisa?" Eu balancei a cabeça, acrescentando um "Não faço ideia".

Nossa conversa não dita criou um silêncio constrangedor durante a pausa na discussão. Como se tentasse salvar a conversa, Satoshi se virou para me encarar e fez uma pergunta.

— O que você acha, Houtarou? Você acha que era um tipo especial de açúcar, afinal?

Ouvindo a conversa, um pensamento realmente passou pela minha mente em determinado momento. Não via necessidade de mencioná-lo, enquanto não me perguntassem, mas agora que fui, também não via razão para ficar calado.

— Não acho que seja tão difícil quanto vocês estão fazendo parecer — respondi.

— Espere, sério? — Satoshi parecia surpreso.

Por outro lado, os olhos de Ibara se iluminaram.

— Como assim? Você não estava prestando atenção? Eu não vi nada além de um cubo de açúcar normal.

— Então provavelmente era apenas um cubo de açúcar normal.

— Será que meu paladar estava mesmo enganado?

— Achei que você estava dizendo que não era isso — cocei a cabeça. — Não mencionou antes… o que aconteceu com o café que o garçom trouxe para você?

Satoshi respondeu imediatamente.

— Ela disse que o pires tinha dois cubos de açúcar.

— Certo, mas não estou falando dos cubos de açúcar.

Ibara e Satoshi ficaram em silêncio, com expressões confusas. Olhei de soslaio para Chitanda e, embora parecesse que ela estava prestando atenção, ela ficou olhando no vazio, como se não tivesse ideia de que eu tinha acabado de fazer uma pergunta.

— Ibara. Quando você pediu o café, o que o atendente perguntou?

— Já te disse. Perguntaram se eu queria leite e açúcar.

— Foi isso mesmo que disseram, palavra por palavra?

Ibara olhou para baixo, como se tentasse recordar, e finalmente balançou a cabeça.

— Não me lembro muito bem.

— Talvez tenha soado um pouco duro quando perguntei, desculpe. É natural esquecer algo assim. Só pensei que talvez eles tenham perguntado: "Quer que adicionemos leite e açúcar?" — Ela assentiu.

— Mas eu já tinha tomado um gole e então adicionei o cubo de açúcar porque achei muito amargo. Não deveria ter sido assim se o açúcar já estivesse no café desde o começo.

— É o que se pensa. A propósito, o que você fez depois de colocar o cubo de açúcar?

— Bebi.

— Não, quero dizer antes disso.

— Eu comi o bolo de limão, mas…

— Não estou falando disso.

Chitanda, que até então apenas ouvia, começou a falar timidamente.

— Humm… Talvez o que Oreki-san está falando seja o fato de você ter mexido.

Ao ouvir isso, Satoshi falou imediatamente.

— Ah, é isso! — Ele se virou para Ibara e continuou animado. — Isso mesmo. O café que a Mayaka bebeu já tinha açúcar desde o começo, mas o problema era que ele tinha afundado no fundo, então você não sentiu a doçura. Depois que você misturou o cubo de açúcar por cima…

Ibara também exclamou, percebendo a conclusão.

—Entendi. Era como se tivesse a força de dois cubos de açúcar misturados de uma vez.

— Sim, isso parece bem provável. Deve ser isso.

Depois de dizer isso, Satoshi assentiu satisfeito e então se virou para me sorrir.

— Tenho que dizer, você é um verdadeiro detetive de poltrona, hein?

Não é como se eu tivesse descoberto algo genial… Provavelmente pode ser apenas um lapso de memória da pessoa envolvida — Ibara.

Mas Ibara, por outro lado, respondeu hesitante.

— É… acho que faz sentido, mas… minha memória está confusa; sinto que não posso afirmar com 100% de certeza que essa é a resposta. Acho que talvez eu deva conferir mais uma vez para ter certeza.

Considerando que o café ficava ao lado da loja de materiais de arte que ela frequentava, ela provavelmente teria a chance de ir lá novamente no futuro. De qualquer forma, não havia mais nada que pudéssemos fazer com as informações que tínhamos.

Achando que já era hora de ir para casa, comecei a guardar meu livro de bolso.

Nesse momento, Satoshi surgiu de repente.

— Então vamos lá para confirmar.

Enquanto eu desejava boa sorte a eles em sua viagem…

— Temos que começar a trabalhar na antologia, afinal — continuou ele.

— É verdade. Você tem um ponto aí.

— Certo?

Para nos prepararmos para o eventual festival cultural, certamente não precisávamos viajar até fora da cidade; ficar na escola seria suficiente. Ao mesmo tempo, no entanto, uma ida a um café para desvendar o mistério do açúcar exageradamente doce não seria uma má ideia.

Eu me contive.

Tudo o que disse foi.

— Se sairmos agora, vai ficar tarde demais.

O relógio na parede marcava 17h40.

— Isso é um bom ponto. Então amanhã — ele pausou — na verdade, estarei ocupado. Tenho assuntos do conselho estudantil.

Amanhã seria a cerimônia de encerramento do semestre. Sendo membro do conselho geral, Satoshi provavelmente tinha coisas a fazer.

— E depois de amanhã funcionaria?

Não que eu me importasse, mas trabalhar na preparação no primeiro dia das férias de verão seria bem diligente da nossa parte. Ibara também não parecia ter objeções. Justo quando pensei que estava tudo certo, Chitanda falou em voz baixa, quase sussurrando.

— Desculpe. Estarei ocupada nesse dia.

O rosto de Ibara mudou de repente.

— Ah, é verdade. Esqueci.

Nem Satoshi nem eu dissemos nada, mas de repente uma atmosfera tensa e impenetrável tomou conta da sala. Ibara nos olhou e continuou.

— A Chi-chan vai se apresentar no festival de coral — disse ela.

— Então era isso. Acho que nesse dia não dá.

Satoshi assentiu, aparentemente convencido, mas eu fiquei confuso. Essa escola tinha eventos sendo organizados freneticamente, começando pelo festival cultural, mas eu nunca tinha ouvido falar do festival de coral.

— Eles fazem algo assim durante as férias de verão? É no ginásio?

Recebi dois olhares frios em resposta.

— Claro que não.

— É um evento promovido pela cidade.

Então não era uma atividade escolar. Faz sentido; por mais que eu evitasse me envolver com a energia desta escola, não havia como eu participar sem nem sequer saber que o evento existia.

Que alívio.

— Chama-se Festival de Coral Ejima, em homenagem a Sandou Ejima, um famoso compositor da cidade de Kamiyama. Eles fazem todos os anos por esta época. Grupos de coral vêm não só de Kamiyama, mas também de cidades vizinhas. Cantam todo tipo de peça coral, não apenas as escritas por Sandou.

— Nunca ouvi falar dele antes.

Esse tipo de assunto era especialidade de Satoshi e somente dele. Ele parecia consciente disso, e seu ego se inflava de acordo.

— Ele escrevia canções infantis na revista infantil da era Taisho, Vela Vermelha. Escreveu junto com Hakushuu Kitahara, Yaso Saijou e Ujou Noguchi. Juntos, foram chamados de os quatro reis celestiais das canções infantis.

Esse último título, "reis", era inegavelmente invenção de Satoshi.

— Fui convidada pela Chi-chan para participar, então cheguei a ir a um ensaio; mas agora quero me dedicar ao meu mangá... — comentou Ibara, em tom um tanto apologético. Enquanto falava comigo, provavelmente parte do comentário também se dirigia a Chitanda, embora esta não tenha respondido. Talvez nem tivesse percebido que Ibara estava falando sobre ela.

O Clube de Clássicos era, claro, apenas uma das muitas atividades do Colégio Kamiyama, e fora das coisas que os colegas e alunos do mesmo ano faziam naturalmente entre si, não havia mais nada que nos conectasse. Eu não sabia de tudo que acontecia fora da escola, nem sequer achava importante saber. Por isso, a ideia de Chitanda e Ibara se apresentarem juntas em um coral foi apenas uma leve surpresa.

Satoshi descansou as mãos atrás da cabeça.

— Bom, então decidiremos outro dia quando nos encontraremos. Podemos conversar pelo telefone.

Embora tenha mencionado isso com naturalidade, ele basicamente estava dizendo que cuidaria disso sozinho. Ele realmente era do tipo de pessoa que assumia mais trabalho do que qualquer outro e fazia tudo sem alarde; eu realmente o respeitava por isso.

— Sim, tudo bem — respondeu Chitanda.

Com a resposta dela, parecia que pelo menos as atividades de hoje haviam terminado. Os dias eram longos nesse ponto do verão; mesmo estando perto das 18h, ainda não havia sinal do céu noturno. Guardei meu romance na bolsa e me levantei.

— Bem, então vou indo.

— Ah, certo. Até mais.

Não tinha intenção de bisbilhotar, mas, ao sair da sala de aula, dei uma olhada rápida no livro que Chitanda estava lendo. Talvez fosse só minha impressão, mas parecia algo como um guia de carreiras.

*

 

No primeiro dia das férias de verão, preparei macarrão gelado.

Talvez por causa das nuvens ameaçadoras que haviam se espalhado pelo céu durante toda a tarde, como se fossem desabar a qualquer momento, fazia um pouco de frio perto da hora do almoço — embora o verão estivesse apenas começando. Não era exatamente o dia ideal para comer macarrão gelado, mas não havia como mudar o cardápio: o macarrão vencia hoje.

Misturei uma quantidade aproximada de vinagre, molho de soja, açúcar, óleo de gergelim e mirin para improvisar um molho rápido, e então cozinhei e enxaguei o macarrão. Os acompanhamentos que escolhi foram tomate, presunto e uma omelete fininha que eu havia esquecido no fogão e acabou queimando um pouco.

Cortei o tomate em pedaços, o presunto e o ovo em tiras finas. Nem liguei para a apresentação; escorri o macarrão, coloquei-o no prato e simplesmente joguei os acompanhamentos por cima. Por fim, despejei rapidamente o molho e dei o toque final: uma pitada de mostarda na borda do prato.

Levei o prato da cozinha para a sala, preparei os hashis e o chá de cevada; com isso, os preparativos estavam completos. Enquanto me preparava para comer, pegando os hashis, o telefone começou a tocar.

Ignorei teimosamente, mas ele continuava a tocar. Olhei para o relógio na parede: já eram 14h30. O sol da tarde havia finalmente aparecido, e aproveitei para estender a roupa; devia ter levado mais tempo do que eu imaginava. Não se podia dizer que o chamador fosse insensato. Voltei os olhos para o macarrão gelado à minha frente — talvez devesse me sentir grato por ter escolhido um prato que não estragaria. Levantei-me, um pouco trêmulo, e alcancei o telefone.

— Alô — respondi, com uma voz que não podia ser culpada por soar irritada.

— Olá, meu nome é Ibara. O Oreki-san está em casa?

Apesar de querer dizer que ele não estava, a voz dela parecia tensa, então não consegui brincar.

— Ibara?

— Ah, Oreki. Graças a Deus. Que voz profunda foi aquela agora há pouco?

— Eu estava prestes a almoçar.

— Entendi, desculpe por isso. Nesse caso, não se preocupe com—

O fato de ela ter ligado definitivamente significava que algo tinha acontecido. Não tive escolha senão deixar o macarrão gelado esperando um pouco mais.

— Não se preocupe. O que houve?

— É que...

Pude sentir hesitação do outro lado da linha. Finalmente, ela perguntou.

— Você sabe de algum lugar que a Chi-chan possa ter ido?

Troquei o telefone de mão.

— Por que está me perguntando?

A resposta dela veio com um tom ríspido.

— Liguei para todo mundo que pensei. Você é o último.

— Entendi.

Queria perguntar o que tinha acontecido, mas percebi que ela estava encurralada. A explicação teria que esperar.

— Meu primeiro palpite seria a escola.

— Certo.

— Depois, a biblioteca da cidade. Tem o lugar ao lado da Escola Kaburaya Middle — como é mesmo? — o café que fomos com Ohinata. Também tem o Pineapple Sand, mas mudou de lugar.

Continuei oferecendo nomes à medida que lembrava de lugares que Chitanda poderia ir. No final, no entanto, meu melhor palpite era a biblioteca. Até eu sabia que a chance dela ir sozinha a um café era pequena.

— Entendi, obrigada. Não pensei na biblioteca. O Fuku-chan está cuidando de assuntos do comitê geral na escola, então pedi para ele dar uma olhada, mas ele disse que os sapatos dela não estão lá.

— Entendi... Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, lembrando da nossa conversa anterior — O festival de coral não era hoje? Chitanda não apareceu?

— Não, ela não apareceu.

Então é por isso que ela estava com tanta pressa.

— Ela sobe ao palco às 18h, então ainda temos tempo, mas não conseguimos encontrá-la em lugar nenhum.

Depois que ouvi ela dizer "18:00", de alguma forma senti minhas forças me abandonarem.

— Ela não poderia simplesmente ter dormido um pouco mais?

— Ela não é como você.

— Claro, já me atrasei algumas vezes, mas nunca ultrapassei o horário do meu despertador. Enfim, isso não vem ao caso. Não quer dizer que você só precisa adiar um pouco os preparativos?

Ela respondeu com irritação clara na voz.

— Não é isso. Uma senhora disse que ela foi de ônibus com a Chi-chan desde Jinde, onde mora, até o centro cultural.

Acho que o festival de coral estava sendo realizado no centro cultural da cidade. Eu poderia ir de bicicleta da minha casa em uns 10 minutos.

— Então ela desapareceu depois de chegar ao centro cultural? Considerando que você está me ligando, quer dizer que vocês já procuraram pelo prédio.

— Muitas vezes. Não há sinal dela.

Troquei de mão mais uma vez.

— Devo me preocupar?

— Não sei. Tenho a sensação de que ela vai chegar a tempo, mas o líder do coral acabou ficando preocupado e me pediu para ligar para pessoas que a conhecem.

— Pode ser meio tarde para perguntar isso, mas por que você está aí, afinal?

— Já te contei que participei de um dos ensaios? Achei que poderia ajudar só por um dia.

Ah, então era isso.

— Entendi. Bem, de qualquer forma, ela não apareceu aqui.

Eu disse isso como brincadeira, esperando acalmar um pouco a Ibara, que parecia tensa, mas ela respondeu friamente.

— Eu não achei que ela tivesse ido à sua casa.

— É mesmo.

— Bem, obrigada de qualquer jeito. Vou desligar agora.

— Tá.

A linha caiu. Coloquei o telefone no gancho e voltei para o meu macarrão frio.

Ele tinha uma grande vantagem que o soba normal não tinha: eu não me queimaria. Poderia comê-lo na velocidade que quisesse.

*

 

O Centro Cultural da Cidade de Kamiyama era um prédio de quatro andares coberto por telhas vermelhas que pareciam tijolos; era dividido em duas áreas, um salão grande e um pequeno, ambos com uma impressão imponente. Não sabia quantas pessoas cada um comportava, mas olhando para o painel de informações, o grande tinha cerca de 1.200 pessoas e o menor, 400. Um painel escrito "Festival de Corais Ejima" estava no átrio de mármore negro além da entrada, com um bom número de pessoas circulando.

O festival de coral aparentemente começara às 14:00. O fato de ainda faltar quatro horas para a apresentação da Chitanda mostrava o enorme número de grupos de coral que participavam. Ou talvez houvesse um segmento à tarde e outro à noite. De qualquer forma, não havia nada escrito no painel que me desse a resposta.

Fui ao balcão de informações e comecei a falar com a atendente, vestida com um uniforme azul claro.

— Hum...

A atendente era uma mulher que, mesmo vendo que eu era estudante, manteve sua atitude alegre e educada.

— Sim, como posso ajudá-lo?

Naquele momento, tive uma realização terrível: eu não sabia o nome do grupo de coral da Chitanda. Pensei que, se fosse à sala de espera do grupo, poderia encontrar a Ibara, mas sem essa informação, não tinha como perguntar.

— Hum...

A atitude alegre da atendente se transformou em confusão.

— Ah, desculpe.

Pensei por um segundo em como formular minha pergunta.

Ah! Acho que não havia motivo para preocupação.

— Você poderia me dizer onde fica a sala de espera do grupo que se apresenta às 18:00?

A atendente sorriu brilhantemente e começou a procurar nos arquivos que tinha em mãos.

— Às 18:00 é o Kamiyama Mixed Chorus. A sala deles é a A7, no segundo andar.

Como eu esperava, era um nome bem direto. Agradeci e fui para o segundo andar.

Encontrei rapidamente meu destino: a sala de espera A7. Pelas portas das salas vizinhas, o espaço interno devia ter cerca de 20 metros quadrados. A porta era off-white, quase cinza, de metal. Nela, presa com um pedaço de fita adesiva, havia uma folha de papel com a inscrição "Kamiyama Mixed Chorus". O metal parecia que iria soar como um gong se fosse batido, então simplesmente abri a porta.

A pessoa dentro me olhou como se tivesse levado um tapa no rosto. Era a Ibara. Quando percebeu que era eu, seus olhos se arregalaram de surpresa.

— Oi.

Levantei a mão ao entrar. Ao fazer isso, meu pé tropeçou em um suporte de guarda-chuvas próximo à porta. Parecia instável e, mesmo sem aplicar muita força, ele tombou. O guarda-chuva rolou pelo carpete.

— Ops.

— Que diabos você está fazendo?!

Deveria ser algo como "os reforços corajosos chegaram", mas comecei com um passo desastroso. Uma senhora sentada em uma cadeira dobrável disse.

— Oh, céus.

Ela foi se levantar; acho que era o guarda-chuva dela.

— Desculpe. — pedi, enquanto recolocava o suporte e o guarda-chuva. Minhas mãos ficaram molhadas, então peguei o lenço do bolso e as sequei.

— Não, quem deve pedir desculpas sou eu.

A senhora disse apenas isso e se sentou novamente. Vestia um casaco preto e saia preta, como traje de luto, e a forma como se mantinha ereta deixava uma forte impressão.

A sala de espera A7 era exatamente do tamanho que imaginei do corredor, mas surpreendentemente vazia, dando uma sensação deserta. Além de cerca de dez cadeiras dobráveis, havia apenas uma mesa encostada na parede que dava para o corredor, segurando pertences pessoais; sobre ela, uma fileira de bolsas.

Nas outras paredes, mais cadeiras dobráveis empilhadas. Talvez por sua apresentação ainda estar longe, apenas a Ibara e a senhora estavam na sala. Ibara se levantou e veio até mim. Como se me perdoasse pelo incidente do guarda-chuva, a primeira coisa que disse foi.

— Você veio. Obrigada.

Embora já tivéssemos discutido isso por telefone, só conseguia pensar em quão intrometido eu estava. Quem sou eu para me enfiar em problemas alheios? E ainda assim, achei que seria frio demais continuar comendo meu macarrão frio sabendo que algo tão preocupante estava acontecendo tão perto. Então decidi vir. Dito isso, ser agradecido dessa forma me deixou meio constrangido. Por algum motivo, desviei o olhar da Ibara e olhei ao redor da sala.

— Parece que a Chitanda ainda está desaparecida.

— É. Ela também não tem celular...

— Ela deveria ter chegado a que horas? — olhei rapidamente para o relógio. Eram quase 15:30.

— Às 13:00.

— Bem cedo, não?

— Os representantes do grupo de coral precisavam subir ao palco quando o concerto começou às 14:00. A Chi-chan deveria ir.

— Teve um evento de abertura, certo? Então a apresentação real dela é às 18:00. Os outros membros chegaram?

— Todos os que vinham à tarde chegaram a tempo — estão ouvindo os outros grupos. Os que participam à noite devem chegar por volta das 17:00.

Se fosse assim, mesmo que a Chitanda não chegasse às 17:00, não haveria grandes problemas para o grupo como um todo. Isso trouxe um certo alívio, mas o fato de ela desaparecer repentinamente após chegar ao centro sem avisar não era um problema pequeno.

Eu estava um pouco em dúvida se deveria falar o que pensava, mas considerando que a Ibara parecia quase desesperadamente ansiosa, tive que perguntar.

— Vocês realmente precisam da Chitanda?

— O quê?

— Em um coral, muitas pessoas cantam, certo? Claro que não é o ideal, mas faltar apenas uma pessoa não deveria ser um problema real, certo?

Ibara balançou a cabeça.

— Não funciona.

— Por quê? Os pais dela vêm ou algo assim?

— Eles podem vir, mas não é isso... A Chi-chan tem um solo.

Meu Deus. Olhei para o teto.

Não fazia ideia de que tipo de música eles cantavam, mas quem canta o solo é a estrela. O fato de ela estar ausente não era brincadeira. Enquanto a Ibara provavelmente estava genuinamente preocupada com o bem-estar da Chitanda, o resto do grupo provavelmente estava ansioso, pensando que talvez nem pudessem subir ao palco.

Para dissipar o clima negativo, tentei fazer uma pergunta.

— Que outras informações você tem sobre o paradeiro dela?

Ibara tirou um pequeno caderno que parecia caber na palma da mão. Ela folheou as páginas enquanto respondia.

— Juumonji-san me disse que ela não foi à casa dela. Além da escola, ela mencionou o Parque do Castelo e a Livraria Kobundo. Irisu-senpai citou uma loja de roupas chamada Houki-ya e o Santuário Arekusu.

Cocei a cabeça.

— Não conheço a Houki-ya, mas os outros lugares são bem distantes. Se ela veio de ônibus, provavelmente teria que andar bastante. Todos esses lugares dariam um tempo enorme a pé.

— Acho que ela conseguiria, se realmente quisesse, mas não consigo imaginar por que faria isso.

— A estação de trem fica a uma distância que dá para ir a pé, então você está dizendo que ela poderia ter pegado outro ônibus no terminal em frente à estação, né?

— Mas será que ela faria isso?

Não conseguia imaginar que isso acontecesse... se fosse uma situação normal, claro. Havia uma questão fundamental em tudo isso.

— Ei, a Chitanda foi a algum lugar por conta própria? Ou, odeio dizer isso, você acha que ela se envolveu em algum tipo de incidente?

— Não me pergunte algo tão horrível… — A voz dela estava terrivelmente fraca. — Não há como eu responder isso. Não tenho como saber.

Era de se esperar. Continuei coçando a cabeça.

O trinco da porta girou com um barulho metálico, e a porta se abriu logo em seguida. Ibara e eu nos viramos para a entrada, mas quem estava lá não era a Chitanda; em vez disso, uma mulher que parecia ter uns quarenta anos entrou. Ela vestia uma jaqueta bege e, no cabelo, tinha um enfeite brilhante feito de uma pedra preciosa, ou talvez de um vidro bem trabalhado. Provavelmente era membro do grupo de coral.

— Danbayashi-san — chamou Ibara.

A mulher chamada Danbayashi usava uma expressão rígida enquanto caminhava até nós e fez sua pergunta.

— Então? Ela está aqui?

— Não.

— Entendi. Isso não é bom.

As sobrancelhas dela se franziram enquanto murmurava isso, e então continuou falando com Ibara como se de repente tivesse notado minha presença.

— E este é...?

— Ah, este é o Oreki-kun. Estamos no mesmo clube. Ele veio ajudar a procurar.

Ela me chamar de "Oreki-kun" não me deixou nem um pouco mais confortável. Ao pensar nisso, Ibara virou a cabeça para me olhar.

— Posso assumir que é para isso que você veio, certo?

Mesmo sendo início das férias de verão, não tinha vindo aqui para passear, como seria de se esperar. Ao assentar com a cabeça, Danbayashi-san me fez uma pergunta do nada.

— Você saberia de alguma coisa?

Confuso, respondi.

— Não, no momento, não.

Ela suspirou profundamente, quase como se fizesse de propósito.

— Entendo...

A expressão e a voz dela voltaram a transparecer irritação enquanto continuava.

— Eu percebi que a pressão estava afetando ela, mas pensar que ela nem apareceria hoje... Juro, é inacreditável.

— E se ela só estiver organizando seus pensamentos?

— Se fosse isso, ela deveria ter avisado alguém. Por mais nervosa que estivesse, desaparecer sem avisar ninguém é simplesmente irresponsável.

Considerando que a apresentação era às 18:00, achei que talvez ela estivesse exagerando um pouco, mas, ao mesmo tempo, era natural ficar preocupada quando a solista desaparece.

No entanto, não podia concordar totalmente com a teoria de que Chitanda havia desaparecido por causa da pressão. Não é que eu achasse que ela não ficasse nervosa; sempre que precisava falar na rádio do campus, paralisava de medo. Ainda assim, conseguia cumprir o que precisava ser feito. Por isso, especialmente nessa situação, era difícil imaginar que ela não fosse capaz de lidar com a pressão. Se, de fato, não estava ali por decisão própria, a razão provavelmente não tinha relação com a responsabilidade de cantar o solo.

— Acho que, no fim das contas, deveríamos tentar ligar para a casa dela.

Danbayashi-san murmurava para si mesma, com a mão sobre os lábios. Naquele momento, a senhora idosa sentada em uma cadeira dobrável próxima começou a falar.

— Não precisa se preocupar; acredito que ela vai chegar a tempo.

— Entendo o que você quer dizer, Yokote-san, mas não consigo deixar de me sentir ansiosa com isso.

Embora Danbayashi-san claramente estivesse perdendo a paciência, a mulher chamada Yokote nunca perdeu seu tom gentil.

— Muitas coisas acontecem com os jovens — muitas coisas boas. Você deveria dar mais uma hora sem puni-la.

— De novo com isso... Você não disse a mesma coisa antes?

— Bem, acho que disse.

Yokote-san permaneceu completamente calma, e talvez envergonhada com sua própria aparência aflita, Danbayashi-san desviou o olhar.

— É verdade, ainda temos algum tempo. Certo. Esperaremos mais um pouco.

Ela então deixou a sala de espera imediatamente após dizer isso, sem nem olhar para Ibara ou para mim. Ao ouvir a porta bater firmemente, fiz uma pergunta, ainda um pouco surpreso.

— Então, quem era aquela?

— Danbayashi-san. Ela é a... como posso dizer? A gerente do grupo de coral?

— Ou seja, a líder?

— Não exatamente a parte principal, nem a chefe do grupo. Hum, ela dirige o grupo.

Acho que entendi a essência. Às vezes, você encontra pessoas assim.

— Ela mencionou algo sobre "antes". Ela é sempre assim? — Ibara franziu a testa e respondeu.

— Sim, sempre.

Olhei para Yokote-san. Se todos os outros membros tinham ido para o salão, então suponho que ela tinha algum motivo para ficar ali, sentada sozinha em sua cadeira dobrável. Um outro pensamento me ocorreu, então decidi perguntar.

— Ei, Ibara, você disse que havia uma senhora que foi de ônibus com a Chitanda desde Jinde, certo? Era ela?

— Isso mesmo: Yokote-san.

Exatamente como eu pensava. Embora não pudesse ter certeza, já que Jinde é um distrito grande, havia uma forte possibilidade de que Yokote-san morasse perto da Chitanda; elas talvez se conhecessem antes do festival. O fato de ela ter defendido Chitanda para Danbayashi-san reforçava ainda mais essa teoria.

Talvez incapaz de ficar parada, Ibara começou a se virar.

— Vou dar mais uma olhada pelo prédio.

— Eu vou ficar um pouco aqui.

— Obrigada.

Ela saiu apressada, deixando apenas nós dois — Yokote-san e eu — sozinhos na sala.

Como Chitanda havia desaparecido logo após chegar ao centro cultural, a mulher ao meu lado provavelmente foi a última pessoa a vê-la. Procurar Chitanda a pé estava bem, mas onde estávamos não havia como sequer imaginar para onde ela poderia ter ido. Decidi, então, aprender o máximo que pudesse com Yokote-san.

— Hum, com licença — comecei.

Ela colocou as mãos no colo e inclinou ligeiramente a cabeça, curiosa.

— Sim?

— Ouvi dizer que você foi de ônibus até aqui junto com a Chitanda...-san. Estou tentando ter ideias para encontrá-la; você se importaria de me contar algo que tenha notado?

— Oh, você é...

Sem responder à minha pergunta, ela olhou para meu rosto e de repente sorriu.

— Achei que te reconhecia! Você era o jovem que segurou o guarda-chuva da filha da Chitanda no Festival Living Doll deste ano. Você fez um trabalho esplêndido!

Sim, isso realmente aconteceu. Considerando que ela era residente de Jinde, fazia sentido que tivesse visto o festival. Bem, o fato de ela reconhecer meu rosto só jogava a meu favor.

— Muito obrigado. Então? Como Chitanda-san estava se comportando?

Enquanto eu respondia rapidamente, Yokote-san começou a pensar com um "vamos ver...". Finalmente, começou a falar, pouco a pouco.

— Eu estava sozinha na estação de ônibus de Jinde. Chitanda-san deixou a jovem no carro e depois abriu a janela para nos desejar boa sorte.

"Chitanda-san" devia se referir à mãe ou ao pai da Chitanda. Por enquanto, não importava qual dos dois.

— A jovem e eu então nos cumprimentamos. Depois disso, ficamos debaixo de nossos guarda-chuvas esperando o ônibus chegar.

Algo que chamou minha atenção foi o fato de Chitanda ter sido levada até a parada de ônibus. Ela não poderia ter ido até o centro cultural desse jeito? Bem, uma resposta simples seria que a viagem até a parada de ônibus foi mais curta do que até o centro cultural, e quem quer que fosse o "Chitanda-san" mencionado devia ter assuntos mais urgentes.

Se eu pretendia procurá-la, ainda havia algo essencial que não havia perguntado.

— Você se lembra do que Chitanda...-san estava vestindo?

Mais uma vez, Yokote-san murmurou.

— Vamos ver...

— Ela estava com o figurino do palco, então vestia uma camisa branca com saia preta. Os sapatos também eram pretos e as meias brancas. Tinha ainda a bolsa creme — ah, e o guarda-chuva era de um vermelho marcante. Uma escolha incomum, achei.

Se aquele era o traje do palco, então eu não tinha ideia do que acontecia com a jaqueta bege que Danbayashi-san usava antes. Provavelmente ela a trocou antes de subir ao palco.

De qualquer forma, além das coisas que carregava, Chitanda estava totalmente em tons monocromáticos. Procurá-la dentro do centro cultural seria difícil, mas parecia que ela se destacaria se estivesse do lado de fora.

— Então vocês duas foram de ônibus juntas?

— Isso mesmo — só nós duas.

— Qual ônibus foi?

— O das 13:00 em ponto.

— E chegou aqui a que horas?

— Por volta das 13:30.

Chitanda devia ter chegado ao centro por volta das 13:30, então pegou o ônibus no tempo certo para não se atrasar. Qualquer horário anterior teria provavelmente invadido seu horário de almoço, e não havia razão para chegar antes; admiro a eficiência dela.

— Chitanda também desceu na parada do centro cultural, certo?

— Sim.

Yokote-san assentiu e depois acrescentou.

— Nós duas viemos para esta sala de espera juntas, mas antes que eu percebesse, ela tinha sumido.

Embora a pessoa que acompanhava Yokote-san tivesse desaparecido bem diante de seus olhos, ela parecia simplesmente estar esperando em paz o retorno de Chitanda. Fico me perguntando de onde vem essa força de espírito, de não demonstrar nenhuma agitação numa situação tão estranha.

— Você tem alguma ideia de para onde a Chitanda pode ter ido?

Ao ouvir essa última pergunta, Yokote-san devolveu um sorriso sereno.

— Tenho certeza de que ela só saiu para tomar um ar e acalmar os nervos. Não há motivo para preocupação.

*

 

Ao sair da sala de espera, ouvi uma certa comoção vinda do saguão de entrada. Era a área logo antes do corredor, para onde Ibara tinha ido verificar mais uma vez. Embora eu tivesse vindo procurar em todos os cantos do prédio, já não havia muito tempo. Talvez tivesse acontecido alguma coisa, e ela precisara sair. Ibara me viu parado em frente à sala de espera e franziu um pouco as sobrancelhas.

— Você ainda está aqui?

Sem me dar tempo para responder, continuou.

— Mas até que é perfeito. O Fuku-chan acabou de ligar dizendo que está saindo da escola e perguntou se tinha algo em que poderia ajudar. Eu disse que ia perguntar a você e depois dar uma resposta.

Esse era um pedido bem-vindo. Satoshi era uma pessoa sensata, então eu poderia confiar a ele a tarefa de buscar informações.

— Vejamos...

Já havíamos falado antes sobre a biblioteca e os Jardins do Castelo, então uma opção seria pedir que ele verificasse esses dois lugares. Mas, falando francamente, parecia uma aposta com pouquíssimas chances de sucesso. Olhei para o meu relógio de pulso: faltava pouco para as quatro. Logo o tempo começaria a apertar. Não podia me dar ao luxo de gastar essa mobilidade preciosa com algo tão incerto.

Havia algo me incomodando no fundo da mente. Ainda não conseguia organizar esse pensamento em frases claras, mas, em vez de mandar ele correr por Kamiyama numa aposta frágil como papel, continuar nessa linha talvez rendesse resultados.

— Peça para ele ir à estação.

— À Estação Kamiyama?! — A voz de Ibara estava quase histérica. — E o que eu digo para ele fazer lá?

Na verdade, nada. Não estava planejando mandar ele viajar.

— Não é bem à estação. Quero que ele vá ao terminal de ônibus que fica ligado a ela. Que pegue um mapa de rotas e a tabela de horários e traga para cá.

Ibara abriu a boca como se fosse dizer algo. Sem dúvida queria saber o motivo, mas seu rosto enrijeceu, como se tivesse repensado, e ela conteve a pergunta.

— Um mapa de rotas e a tabela de horários. Entendi. — Ela assentiu. — E como ele vai entregar?

— Vou esperar na entrada. Lá é cheio de gente, mas deve dar certo.

— Certo.

Enquanto dizia isso, tirou o celular. Satoshi atendeu depois de alguns segundos, e Ibara então transmitiu meu pedido pelo telefone.

Quando a ligação terminou, ela voltou a falar comigo, ainda com o celular na mão:

— Ele disse que chega em 15 minutos.

Mesmo saindo direto da escola, provavelmente levaria mais que isso, e ele não viria direto. Ainda passaria na estação para mim; não havia como chegar a tempo. Talvez ele só quisesse mostrar o quanto ia se apressar, mas eu me sentiria péssimo se acabasse sofrendo um acidente por minha causa.

— Manda uma mensagem pedindo para ele não ser imprudente no caminho.

— É, boa ideia.

— E você, o que vai fazer agora?

— Eu estava só pela metade quando voltei, então vou terminar de procurar no prédio. Se ainda não a encontrar, estou pensando em olhar também no parque próximo. Não se preocupe comigo; faça o que precisa fazer.

Eu não tinha outra escolha. Afinal, não tinha celular, então não conseguiria coordenar meus esforços com os dela

— Entendido. Até mais, então.

Desci para o primeiro andar, deixando Ibara digitando a mensagem.

Embora o Festival de Corais Ejima tivesse começado às 14:00, o saguão de entrada ainda estava lotado. Como havia inúmeros grupos participando, talvez o lugar estivesse enchendo com pessoas que chegavam apenas na hora certa para assistir aos amigos se apresentarem. Imagino que isso significava que novas pessoas estavam chegando constantemente, não é?

Enquanto eu estava parado no centro do piso de mármore negro do saguão de entrada, olhei ao redor só para confirmar se Chitanda não estava ali.

Ela supostamente estava vestindo uma camisa branca e uma saia preta. Havia muitas pessoas cujas roupas correspondiam a essa descrição, mas nenhuma delas sequer lembrava Chitanda. Bem, suponho que, se ela estivesse aqui, voltaria sozinha para a sala de espera, sem que eu precisasse me preocupar.

Eu não tinha notado antes, mas havia alguns folhetos do Festival Coral de Ejima empilhados no balcão de informações. Peguei um para passar o tempo enquanto esperava por Satoshi. Fui até a entrada e me coloquei no ponto mais visível em frente à grande placa com os dizeres "Festival Coral de Ejima", e então abri o folheto.

O folheto era de cor creme e impresso em papel brilhante. O horário de início do Festival Coral de Ejima estava claramente indicado: 14h, mas nada dizia sobre o horário de término. Talvez fosse assim para que pudessem prolongar ou encurtar caso surgissem imprevistos; talvez houvesse algum outro motivo. Passei a pensar que isso tornaria difícil para os convidados planejarem o jantar.

O texto que apresentava os grupos corais participantes era muito pequeno. A maior parte da página era dedicada às letras das obras de Sandou Ejima. Eu não conhecia Sandou Ejima até que Satoshi o mencionou pela primeira vez, mas parece que ele viveu há bastante tempo. Todas as palavras pareciam arcaicas. O folheto indicava qual grupo apresentaria cada peça, então procurei aquela que seria executada pelo grupo de Chitanda, o Kamiyama Mixed Chorus.

— Aqui está.

Era uma peça intitulada "Lua sobre a Liberdade".

Fico imaginando se ninguém avisou que ela soava como aquela famosa composição de Rentarou Taki. Por tédio, decidi ler a letra.

Lua sobre a Liberação

Que voz tão bela tem o pássaro enjaulado!

Embora eu contemple a virtude da liberdade,

Uma figura deste mundo efêmero jamais alcançará a eternidade.

Ah, rezo mais uma vez. Eu também anseio viver nos céus sem limites.

Eu te liberto, ó pássaro enjaulado.

Quão gracioso é o peixe no aquário!

Embora eu contemple a virtude da liberdade,

Uma figura deste mundo efêmero jamais alcançará a eternidade.

Ah, rezo mais uma vez. Eu também anseio

Morrer nos mares sem limites.

Eu te liberto, ó peixe aprisionado.

— Não sei se entendi.

Infelizmente, não tinha nenhum traço de sensibilidade poética. Independentemente da minha opinião sobre a obra, eu devia ao menos ter em mente o tipo de música que eles iriam cantar. Parecia que eles apresentariam mais uma peça, mas não consegui encontrar nada sobre ela, exceto o nome, mas isso não importava; era uma música pop famosa—tão famosa que até eu conhecia. Tinha algo a ver com todos vivendo em harmonia, ou algo assim.

Enrolei o folheto em um tubo na mão direita e comecei a bater contra a palma da mão esquerda. Produzindo um ritmo constante e oco, meu olhar vagava distraidamente em direção à pequena área em frente à entrada.

Pelo que pude ver através das portas de vidro, as nuvens haviam praticamente desaparecido; um sol intenso brilhava lá de cima. Uma senhora idosa, carregando um guarda-sol, entrou enxugando o suor e de repente sorriu. Perguntei-me o que teria causado aquilo, mas logo percebi: ela devia estar eufórica com uma súbita brisa do ar-condicionado. Pelo que eu conseguia perceber, o ar-condicionado na entrada não devia ser muito eficaz; ele precisava percorrer todo o caminho desde o terceiro andar até ali. Mesmo daqui, a maior parte da sala parecia intocada. Bem, ao menos era melhor do que estar lá fora.

— Hm?

De repente, notei algo interessante sobre aquela senhora.

Ela usava uma saia preta, camisa branca e carregava uma pequena bolsa de ombro sobre a jaqueta azul escura. Como suas roupas correspondiam às de Chitanda, imaginei que aquela mulher não fosse uma convidada; provavelmente era membro do grupo coral. Não tinha certeza, mas senti uma curiosidade estranha.

Saia, camisa, jaqueta, bolsa de ombro, guarda-sol. Ar-condicionado e sorriso.

— Ah.

Isso mesmo.

— Um guarda-sol.

Na entrada do centro cultural, havia vários suportes para guarda-sóis alinhados. Também havia suportes próximos à parede do hall de entrada — provavelmente porque o espaço da entrada sozinho não seria suficiente para guardar os guarda-sóis de 1.600 pessoas. No entanto, a senhora continuava segurando o seu enquanto subia as escadas.

De repente, tive uma realização e fui até o balcão de informações. Atrás dele estava a mesma atendente simpática de antes.

— Está procurando algo? — Perguntou ela.

— Pode ser uma pergunta estranha.

— Claro, ajudarei no que puder.

Não importa como se olhasse, eu era claramente apenas um estudante do ensino médio; não havia necessidade de tanta educação. Que trabalho difícil, pensei.

— Os integrantes do coral não podem usar os suportes de guarda-sol na entrada?

Achei que era uma pergunta estranha, mas a atendente respondeu sem hesitar.

— Isso mesmo. Para deixar o máximo de espaço possível para os convidados, pedimos que eles utilizem os suportes disponíveis nas salas de espera.

— Ah, muito obrigado.

— Claro. Se tiver mais alguma dúvida, por favor, sinta-se à vontade para perguntar.

Após ouvir aquela resposta impecavelmente educada, senti-me culpado por algum motivo estranho e me afastei do balcão. Com essa informação, agora entendia por que a senhora mais cedo não deixara o guarda-sol nos suportes da entrada.

...

Com isso, fiquei um pouco mais perto de descobrir para onde Chitanda tinha ido. Pelo menos, não estava ali...

Voltei em direção à placa "Festival Coral de Ejima" e decidi refletir mais um pouco sobre a situação. Mas, no caminho, uma voz chamou, interrompendo meu retorno.

— Não vou te mandar olhar para cima, mas você pelo menos poderia olhar para frente, Houtarou!

No lugar onde eu estivera há pouco, estava Satoshi, completamente encharcado de suor.

— Ei.

Ao dizer isso, olhei para o relógio. Marcava 16h14. Tinham se passado exatamente quinze minutos desde que ele conversara com Ibara. Nós até o tínhamos avisado para não ser imprudente.

— Isso foi rápido.

— Foi? Enfim, aqui está o que você pediu.

O horário dos ônibus e o mapa das linhas estavam impressos em papel brilhante, dobrados nas mãos dele.

— Desculpe por te fazer fazer isso por mim.

— Sem problema, foi algo simples.

Então sua expressão ficou séria.

— Soube da situação pela Mayaka. Ela disse que Chitanda desapareceu?

— Parece que sim.

— Ela não estava na escola. Pelo menos os sapatos dela não estavam na entrada. Mesmo assim, isso é realmente preocupante.

— Uh huh.

Foi uma resposta meio desinteressada; eu estava concentrado em ler o horário.

— Chitanda-san acabou indo para algum lugar nesta cidade e não está com celular. Quer dizer, claro, eu sei de um ou dois lugares que ela poderia ir, mas não há tempo de checar tudo um por um. Houtarou, a situação desta vez está um pouco grande demais, e eu sinto como se tivesse as mãos amarradas.

Eu não tinha informações suficientes para examinar completamente o horário que ele trouxera. Como esperado, o número de ônibus que passava por Jinde era pequeno, e parecia haver apenas um às 13h. Assenti uma vez e então dobrei o horário novamente. Satoshi enxugou o suor que escorria pelo rosto e continuou.

— Sinto muito mesmo, mas tenho algo que preciso resolver, então vou ter que sair em breve. Mas vamos lá: estamos falando da Chitanda. Não acho que haja motivo para se preocupar… Certo, Houtarou? Espera, você acabou de descobrir algo sobre onde ela pode estar?

— Algo assim.

Ao dizer isso, os olhos de Satoshi se arregalaram. Acho que ele não esperava que eu dissesse isso.

— O quê—espera, o quê?! Você realmente sabe onde ela está agora?

— Não estaria dizendo a verdade se dissesse que sei exatamente… mas tenho algo em mente. Pelo menos tenho uma pista.

Se eu estiver certo, porém, o verdadeiro problema será o que fazer depois de encontrá-la.

Olhei para o relógio. Faltava 1 hora e 40 minutos para sua apresentação solo.

O que Satoshi disse tinha fundamento.

Procurar a desaparecida Chitanda em cada canto de Kamiyama exigiria mais de uma semana. Como uma busca exaustiva não adiantaria, era necessário adotar um método eficiente, que minimizasse tempo e esforço. Um método provavelmente mais simples do que Satoshi imaginava.

E ainda assim…

— Então, o que você vai fazer?

Ele perguntou diretamente, tornando difícil responder. Não diria que sou do tipo que se importa com a opinião alheia, mas se eu dissesse com confiança algo como "É isso que devemos fazer" antes de ter certeza, até eu ficaria um pouco constrangido se o plano não desse certo.

— Bem, ainda não tenho certeza…

Respondi com uma tentativa fraca de esquivar da pergunta e tentei mudar de assunto com uma pergunta minha, que já queria fazer.

— A propósito, Sandou Ejima era realmente tão famoso — ao ponto de ser chamado de um dos Quatro Reis Celestiais ou algo assim?

Tenho certeza de que Satoshi percebeu que eu estava tentando desviar a conversa de Chitanda, mas ele respondeu como se não se importasse.

— Acho que exagerei um pouco, mas mesmo levando em conta meu amor pelas culturas locais, o fato de Hakushuu, Ujou e outros serem incomparáveis ainda é verdade, na minha opinião.

— Então você está dizendo que chamar de exagero… é um exagero em si?

Satoshi deu de ombros silenciosamente. Abri o folheto que peguei anteriormente na recepção.

— Parece que Chitanda vai cantar essa música "Lua sobre a Liberdade".

— É mesmo?

Satoshi lançou um rápido olhar às letras, assentindo com uma expressão estranhamente satisfeita.

— Isso mesmo. Não sei muito sobre o assunto, mas isso é Sandou Ejima clássico.

— Ah é? Por que é "clássico" Ejima?

— Se eu tivesse que descrever, diria que é excessivamente moralista.

Entendi, moralista. Sem perceber, balancei a cabeça vigorosamente. Era realmente reconfortante ter uma palavra perfeita para descrever o que senti ao ler aquilo pela primeira vez.

— Coisas como piedade filial, diligência, honestidade — suas obras sempre exaltavam esses valores com devoção. O próprio homem era originalmente monge, e li em um livro que sua vida fraternal pode ter sido a fonte dessa moralização. Talvez seja por isso que ele era tão importante, pelo menos para quem conhecia seu trabalho.

— E agora até temos um festival com o nome dele.

Ele sorriu de volta, com um toque de cinismo na expressão.

— Corais geralmente têm apresentações periódicas. É apenas o tipo de grupo que eles são. Se vão organizar um evento, podem muito bem dar um nome chamativo. Entendo de onde eles vêm nesse aspecto.

Não podia me identificar pessoalmente, mas se imaginasse que fosse Satoshi, entenderia completamente. Satoshi olhou para o relógio, franzindo levemente as sobrancelhas.

— Tenho que ir agora. Sério… me enrolei com algo realmente irritante.

Ele realmente queria me ajudar, apesar dos compromissos. Eu podia perceber isso claramente.

— Não se preocupe. Então, o que você precisa fazer?

— O negócio é—

Parecia que ele não tinha muito tempo, mas inclinou-se para se queixar mesmo assim. Acho que queria realmente se aliviar e desabafar.

— Meu primo e a esposa dele vão aparecer. O sobrinho é um verdadeiro problema.

— O filho do seu primo também é seu sobrinho?

— É algo como "primo de segundo grau", mas eu só chamo de sobrinho. Ele gosta muito de shogi, então vai ficar me enchendo para jogar com ele.

Nunca teria imaginado que Satoshi não soubesse jogar shogi, especialmente considerando que ele sempre tentava tudo. Ah, espera, isso não é verdade. Ele era realmente bom em shogi, se me lembro bem. Uma vez, durante uma viagem de estudo no ensino médio, ele jogou contra um colega que sempre se gabava de ter ficado em terceiro em um torneio da cidade — e venceu.

— Então qual é o problema de jogar com ele?

— Ele chora sempre que eu ganho e não quer parar de jogar até que ele vença. Às vezes, até pula o jantar.

— Isso é bem irritante.

Satoshi balançou a cabeça.

— Isso não me incomoda muito. Tudo que eu preciso fazer é deixá-lo ganhar.

Eu conhecia Satoshi desde o ensino médio. Sabia da parte dele que faria qualquer coisa para vencer; exploraria brechas nas regras ou deixaria o jogo se arrastar, contanto que levasse à vitória. Mas também conhecia a parte dele que ia contra suas próprias crenças, abandonando qualquer traço da própria personalidade num piscar de olhos.

— Então qual é o problema?

— Se eu não digo "desisto", ele me chama de covarde e começa a gritar feito louco.

No shogi, você perde se ficar em uma situação em que seu rei será capturado não importa o que faça, mas pode desistir antes disso. Até onde sei, dizer "desisto" é a forma mais comum de declarar rendição.

— Como estou jogando só para agradá-lo, deixo ele me dar xeque-mate; mas ele não aceita um simples "você venceu" ou "me ganhou". Quer dizer, é xeque-mate, então não há muito o que dizer.

— Você realmente odeia dizer "desisto" tanto assim?

O rosto de Satoshi mudou para uma expressão um tanto dolorida.

— Não consigo evitar de pensar: "Que tal você me fazer dizer isso realmente me derrotando com sua própria habilidade?" Eu sou péssimo em dizer coisas em que não acredito. Honestamente, é só um problema de escolha de palavras, e até ele tem um ponto, mas — não sei. Acho que só significa que ainda sou imaturo.

Essa não era a conversa que deveríamos ter enquanto o tempo restante se esvaía a cada momento, mas não pude deixar de esboçar um sorriso amargo.

— Entendo completamente. Eu estive no casamento de um parente recentemente, e eu—

Era um casamento ao estilo cristão. Entrei na igreja usando meu uniforme escolar de colarinho rígido e ouvi o sermão do reverendo—

Hmm…

De repente, senti como se algo estivesse na ponta da língua. Não conseguia colocar em palavras, mas quando estava prestes a identificar, o pensamento veio e se perdeu, como uma onda que o leva de volta ao mar. O que era aquilo, eu me pergunto? O que tinha um jogo de shogi e uma cerimônia de casamento para trazer algo tão vívido à minha mente?

— É por isso que eu preciso ir, Houtarou.

A voz dele me trouxe de volta à realidade.

— Hm? Ah, certo.

— Estou pedindo para você encontrar Chitanda. Sinto muito não poder ajudar nesse momento.

— Tudo bem.

Enquanto ainda recolhia meus pensamentos, acrescentei de improviso.

— Deixe o resto comigo.

Os olhos de Satoshi se arregalaram e ele esboçou um pequeno sorriso.

— Entendi. Vou deixar com você — quer dizer, no fim das contas, o único que provavelmente conseguiria encontrar a Chitanda escondida seria você mesmo.

*

 

Voltei para a sala A7, no segundo andar, mas Ibara não estava à vista. Suponho que ela estivesse procurando na área ao redor, como disse que faria.

Uma cadeira dobrável estava no centro da sala de cerca de 20 metros quadrados, e Yokote-san era a única sentada. Danbayashi-san também estava lá — perto da janela — e quase certamente estava me lançando um olhar fulminante quando entrei. Mas assim que a olhei, seus ombros relaxaram, como se estivesse desapontada.

— Achei que você fosse a garota.

Inclinei um pouco a cabeça, metade em cumprimento, metade em desculpa por não ser Chitanda, mas Danbayashi-san nem me lançou outro olhar; virou-se imediatamente para começar a discutir com Yokote-san.

— Então, Yokote-san. Já se passou uma hora. Vamos ligar para a casa dela agora. Pode ser que ela não consiga chegar a tempo, mas se nem vamos considerar fazer outra pessoa cantar o solo, então não temos outra opção.

Desde antes, o tom de Danbayashi-san parecia carregar toda sorte de animosidade dirigida à "juventude de hoje". Se retirasse todas essas emoções negativas, seus olhos revirados a fariam parecer genuinamente um peixe. Era compreensível, no entanto, dado que ela estava lidando com uma limitação de tempo.

Como de costume, Yokote-san permaneceu calma e respondeu.

— Entendo, mas tenho certeza de que ela vai chegar a qualquer momento. Que tal darmos mais uma hora?

— De novo com isso — olha, não é hora de ficar tão relaxada. Escute, Yokote-san, vou ligar para ela agora, então estou pedindo o número da família dela.

Entendi. Não compreendia por que ela tentava obter a aprovação de Yokote-san para contatar Chitanda, mas parecia que não sabia o número. O sobrenome Chitanda não era exatamente comum, então não parecia difícil encontrá-lo na lista telefônica, porém— espera um segundo. Se Danbayashi-san estava atrás do número de telefone dela, isso significava que eu também estaria na mira, não era?

Enquanto pensava nisso e estava prestes a me virar, já era tarde demais. Danbayashi-san se virou para me encarar e começou a andar rapidamente em minha direção, a testa franzida em uma expressão aterrorizante.

— Você! Você é colega de classe daquela garota, certo?

Por enquanto, eu apenas a corrigi.

— Eu não sou colega dela. Estou em outra turma.

— Que importa?!

— Bem, hum…

Suponho que, de fato, ninguém se importava.

— Então você deve saber o número de telefone da Chitanda-san, certo?!

Agora, eu estava em apuros. Claro que tinha os números de cada uma delas, já que poderíamos precisar nos comunicar sobre o clube, mas, como era de se esperar, eu não os tinha decorado. Não tinha nada a esconder, então falei a verdade.

— Tenho os números, mas teria que voltar para casa para pegá-los.

— Você não tem celular?

— Não.

Danbayashi-san respondeu com uma voz estridente.

— Você só pode estar brincando!

Mas eu não estava. Devia dizer algo antes que ela ficasse muito irritada, no entanto. Não tinha tempo para debater, então coloquei minha melhor expressão séria; podia fazer uma bem convincente se me esforçasse.

— Bem, eu sei onde a Chitanda está: ela está com dor de estômago de tanto nervosismo, então está descansando.

O queixo de Danbayashi-san caiu. Eu esperava que ela ficasse surpresa ao receber uma notícia sobre a Chitanda, especialmente porque veio do nada.

— Ela vai chegar mesmo que você pare de procurá-la, mas eu entendo: você está nervosa de que ela não chegue a tempo. Não se preocupe, eu vou buscá-la agora mesmo.

Pensando logicamente, minha história sobre ter contato com ela — ainda mais sem ter um celular — era, na melhor das hipóteses, improvável, mas Danbayashi-san não parecia duvidar. Na verdade, parecia aliviada; sua expressão severa derreteu quase instantaneamente. Ela respondeu de forma estranhamente seca.

— Ah, entendi. Então, deixo por sua conta.

E se virou para sair da sala de espera. Talvez estivesse envergonhada por perceber o quão agitada tinha ficado poucos minutos atrás.

Embora eu apreciasse que ela fosse embora sem discutir, ainda havia algo que eu queria perguntar antes de sair. Chamei-a quando ela pegava a maçaneta da porta.

— Hum…

— Hã? — Assustada, ela se virou para me encarar com expressão surpresa .— Está falando comigo? Ainda tem mais?

— Bem, não é muito importante, mas…

Enquanto falava, puxei o folheto que havia recebido no balcão de informações e apontei para a letra da música que Chitanda estava cantando, "Lua sobre a Liberação".

— Qual parte a Chitanda vai cantar?

A testa de Danbayashi-san se franziu mais uma vez.

— Hã? Por que você quer saber algo assim?

Suponho que ela me diria se eu pedisse de maneira casual, mas, em vez disso, ergueu suas defesas e respondeu com uma pergunta.

— Bem, veja… — falei devagar para conseguir uma boa desculpa. — Quero tirar uma foto dela enquanto canta seu solo para o registro do nosso clube. Preciso acertar o momento exato. Ia perguntar à própria Chitanda, mas parece que não vou ter a chance.

Será que isso soou forçado demais?

— Ah, é por isso? Hum, tudo bem.

Parece que ela acreditou. O dedo de Danbayashi-san começou a se mover sobre a letra da música.

— Hum… aqui mesmo.

Ah, rezo mais uma vez. Eu também anseio viver nos céus sem limites.

— Essa parte é cantada com o peito, então tem um som cheio e parece emocional. Mas talvez fosse melhor se você gravasse um vídeo.

Enquanto dizia isso, ela começou a me observar atentamente. Claro, eu não tinha nada como uma DSLR ou filmadora comigo. Sua expressão começou a se endurecer; devia estar desconfiada, então rapidamente tomei a iniciativa.

— Muito obrigado. Vou informar a Ibara.

Claro que Ibara também não tinha câmera, mas Danbayashi-san não podia saber disso com certeza.

— Hum… boa ideia. Bem, então, vou voltar ao salão e dizer a todos que a encontramos. O resto deixo com você.

Depois que Danbayashi-san saiu e a porta bateu pesadamente atrás dela, só restávamos eu e Yokote-san. Como éramos apenas duas pessoas em uma sala feita para dez, o espaço vazio ao meu redor parecia terrivelmente estranho e desconfortável.

Yokote-san estava profundamente sentada na cadeira dobrável, com as mãos apoiadas no colo. Não havia se mexido nem um centímetro na hora que passei com Satoshi; estava tão imóvel que comecei a me perguntar se suas raízes realmente haviam se fixado na cadeira de metal.

Neste momento, no entanto, seus olhos calmos e gentis estavam fixos em mim, como se silenciosamente exigissem saber o que estava acontecendo.

Aproximei-me e fiquei diante daquele olhar, inclinando a cabeça respeitosamente.

— Ainda não me apresentei. Meu nome é Oreki Houtarou. Estou no mesmo ano que Chitanda-san e também no mesmo clube.

Yokote-san desviou o olhar por um instante, mas rapidamente formou um sorriso quase imperceptível ao abaixar a cabeça em resposta.

— Muito prazer. Meu nome é Atsuko Yokote. Perdoe-me por não me levantar para cumprimentá-lo; meus joelhos não são mais como antes.

— Claro, está tudo bem.

— Obrigada.

Foi uma troca educada, mas, no fim, nossas palavras calorosas eram apenas cortesia temporária. Os olhos de Yokote-san se estreitaram e sua voz endureceu levemente, quase assumindo um tom acusatório.

— Oreki-san. Você mencionou que sabe onde está a filha da Chitanda, não é? Isso era realmente verdade?

Respondi sem hesitar.

— Não, era mentira.

Ela abriu a boca e fechou de novo, como se estivesse sem palavras. Me encarou fixamente e finalmente murmurou.

— Mentira…

— Precisava que Danbayashi-san fosse embora, então menti para ela.

— Oh? Por que faria algo assim?

Embora estivesse claramente perplexa com o fato de eu ter mentido, parecia que não me repreendia por isso. Muito provavelmente porque não tinha coragem de me criticar por ter mentido.

— Fiz isso porque há algo que gostaria de lhe perguntar, Yokote-san.

— A mim? O que seria?

Olhei rapidamente para o relógio de pulso e vi que já passava das 4h20; restava pouco tempo. Não era hora de rodeios. Além disso, meu lema era: "se tenho que fazer, faço rápido." Eu precisava ir direto ao ponto.

— A senhora disse que pegou o ônibus com Chitanda até o centro cultural e veio com ela para esta sala, certo?

— Sim, está correto.

Acusar alguém sempre exige uma boa dose de coragem. Eu não tinha muita, no entanto continuei, evitando encará-la.

— Está mentindo.

A expressão de Yokote congelou. O que Satoshi dissera tinha fundamento: não adiantava usar força bruta para procurar Chitanda. Eu precisava de outro método e, claro, o mais simples seria perguntar diretamente a quem sabia.

Sem dúvida, Yokote-san havia mentido sobre a chegada de Chitanda. Ela sabia de algo, e arrancar isso dela seria muito mais rápido do que procurar em cada café e livraria da cidade de Kamiyama.

Suas mãos se enrijeceram, como se cedessem à tensão nervosa, apoiadas sobre o colo. Nossa conversa poderia ser curta se ela simplesmente admitisse a verdade, mas isso era, provavelmente, apenas um desejo meu. Afinal, eu não havia feito nada para conquistar sua confiança.

Como esperado, ela começou a fingir ignorância.

— Do que está falando?

Abandonei a pequena esperança de encerrar aquilo rapidamente e tentei provocá-la mais uma vez.

— Quero resolver isso o quanto antes, então poderia retirar sua declaração de que veio de ônibus com Chitanda?

— Mas isso é a verdade. Como pode dizer algo assim? Não acha que está sendo um pouco rude?

Minhas emoções começaram a vacilar diante dessa resistência direta. Negociação e persuasão nunca foram meus pontos fortes. Se tivesse oportunidade, teria empurrado tudo para Satoshi ou para a própria Chitanda e voltado à minha vida escolar tranquila. Mas, no fim, eu era o único ali. E, além disso, estava contra o tempo. Cerrei os punhos e reuni o máximo de coragem que consegui.

— Perdão. Corro o risco de me repetir, mas é basicamente impossível que a senhora tenha vindo com Chitanda para esta sala.

— Explique o motivo.

— Claro. A lógica é bastante simples.

Apontei para a porta na frente da sala de espera.

— Por causa daquilo.

— Da porta?

— Não. Refiro-me ao porta-guarda-chuvas, obviamente.

Ao lado da porta havia um porta-guarda-chuvas instável, do qual sobressaía apenas um guarda-chuva preto. Eu havia tropeçado nele quando entrei da última vez e o derrubara. Ao colocá-lo de volta, minha mão ficara molhada.

— Não choveu perto da minha casa, mas — já que o guarda-chuva estava molhado — só posso supor que choveu em Jinde.

— Creio que já disse isso.

— Sim, ouvi. E também ouvi que Chitanda tinha um guarda-chuva vermelho enquanto esperava o ônibus. Mas veja: o guarda-chuva dela não está aqui. O tempo esteve nublado desde a manhã nesta região, mas quando supostamente chegaram às 13h30, já havia aberto sol. Depois de ter vindo até aqui, é difícil imaginar que ela teria levado o guarda-chuva para outro lugar. Isso significa que Chitanda não veio aqui — e, portanto, não fui o único a mentir hoje.

Yokote-san levou a mão ao rosto.

— Como pode chegar a essa conclusão apenas porque o guarda-chuva dela não está aqui? Este não é o único porta-guarda-chuvas do prédio, sabia?

— É claro que também há alguns na entrada, no térreo. Mas os artistas foram expressamente orientados a usar os das salas de espera sempre que possível.

— Sempre que possível…

Não é como se fosse possível cumprir cada regra à risca; na verdade, conhecer todas já seria improvável. Eu, claro, estava ciente disso.

— Bem, se Chitanda tivesse vindo sozinha, seria perfeitamente possível que tivesse usado outro porta-guarda-chuvas por não saber da regra. Mas não foi esse o caso, foi? Tentei imaginar: um cenário em que a senhora e Chitanda chegaram juntas, mas apenas a senhora seguiu as regras enquanto Chitanda as ignorava. Isso parece impossível. É natural que pessoas em grupo ajam da mesma forma. Além disso, Chitanda é do tipo que conhece e segue todas as regras.

Yokote-san não respondeu, e a sensação de que ainda não me contaria o que realmente aconteceu persistia. Então, aliviei o tom e mudei de abordagem.

— Mesmo assim, não tenho provas suficientes para afirmar que Chitanda não esteve aqui. Se ela realmente tivesse vindo e depois decidido voltar para casa por algum motivo, poderia ter levado o guarda-chuva consigo e não retornar. É bem mais fácil encontrar provas de que alguém esteve em algum lugar do que de que não esteve.

— Suponho que sim.

Respirei fundo e a observei de canto de olho.

— Aliás, desde que chegou, a senhora tem estado nesta sala, certo?

De repente decidi mudar de assunto.

— Embora o resto do coral esteja no salão?

A testa de Yokote-san se franziu de desagrado.

— Não estou quebrando nenhuma regra.

— Claro que não. Mas algo tem me incomodado. Desde que cheguei, a senhora sempre disse algo estranho para Danbayashi-san quando ela mencionava a ausência da Chitanda: "Tenho certeza de que ela chegará a qualquer momento."

— Minha forma de falar soou estranha?

— Não. Não acho que a frase em si seja estranha.

— Então não vejo…

— No entanto, a senhora disse mais: "Ela chegará a qualquer momento, basta esperar uma hora." Por que uma hora? Por que não disse "um pouco mais" ou "um tempinho"? A senhora mencionou exatamente uma hora. Ouvi isso duas vezes, mas aparentemente disse o mesmo antes de eu chegar; a própria Danbayashi-san comentou algo do tipo. Em vez de 30 minutos ou 2 horas, por que escolheu justamente uma hora?

Considerei a possibilidade de ser apenas um modo de falar comum da Yokote-san, mas tinha outra teoria. Graças às informações fornecidas por Satoshi, pude ter plena confiança em minha hipótese. A "uma hora" que ela mencionava me fez perceber algo importante.

— A senhora estava se referindo ao ônibus.

Enquanto a expressão de Yokote-san não mudava, tive a impressão de que seus ombros se enrijeceram de repente.

Peguei o horário de ônibus que Satoshi havia conseguido para mim.

— Este é o horário dos ônibus. Para conseguir isso, meu amigo teve que pedalar até aqui como um maluco. Ainda bem que ele não se machucou. De acordo com este horário, há apenas alguns ônibus ligando Jinde ao centro cultural, e eles saem com uma hora de intervalo. É por isso que a senhora disse especificamente para esperar uma hora, não é?

Observei Yokote-san enquanto ela desviava o olhar. Eu estava certo.

— Ao dizer "espere uma hora", a senhora queria basicamente dizer "espere até o próximo ônibus chegar". Chitanda deve estar no próximo. Era isso que a senhora esperava ao acalmar a Danbayashi-san, que estava em pânico.

Ainda assim, três horas se passaram e Chitanda não apareceu. Impressionava-me a calma que Yokote-san mostrava externamente, mas ela provavelmente já começava a entrar em pânico por dentro.

Com base em nossa conversa até então, os possíveis lugares onde Chitanda poderia estar eram bastante limitados.

— Chitanda ainda está em Jinde, estou certo?

Essa frase foi o golpe decisivo. O olhar de Yokote-san começou a se desviar, transmitindo confusão e desconforto, mas ela finalmente respirou fundo.

— Está correto. A filha dos Chitanda nunca veio aqui. Eu estava mentindo o tempo todo.

Um sorriso gentil voltou ao seu rosto enquanto começava a falar.

— Exatamente como você mencionou, choveu em Jinde esta manhã — disse Yokote-san, continuando. — Eu dizia a verdade quando disse que a filha dos Chitanda e eu esperávamos sob nossos guarda-chuvas preto e vermelho. Também não menti ao dizer que pegamos o ônibus juntas. Havia quase ninguém nele, então nos sentamos próximas.

— Percebi enquanto esperávamos pelo ônibus que ela não parecia bem. Depois que entramos e olhei mais de perto, ficou ainda mais claro que o rosto dela estava pálido. Perguntei o que havia de errado, mas a pobre insistia em me assegurar que estava completamente bem. Então, de repente, enquanto eu desejava poder fazer algo por ela, ela apertou o botão para parar o ônibus.

Suprimi minha impaciência e permaneci em silêncio. Podia haver mais informações a serem obtidas, e eu achava que ouvir silenciosamente era o mínimo que podia fazer por alguém disposto a me contar sua história. Mais importante, porém, estava preocupado com a estranha aparência de Chitanda. Nunca a tinha visto tão pálida quanto ela descrevia.

— Chamei a criança quando ela estava prestes a descer do ônibus — parecia que ia dizer algo, mas em vez disso abaixou a cabeça e saiu apressada, sem falar uma palavra. Pensei em correr atrás dela, mas não queria me intrometer onde não devia, então fiquei no ônibus sem fazer nada.

Parecia que ela havia terminado a história, então fiz uma pergunta.

— Chitanda parecia doente?

Ela respondeu simplesmente.

— Será que ela estava…

Era uma pergunta boba. Se ela estivesse doente, mas não quisesse abrir mão do solo, poderia simplesmente ter ido ao centro cultural e explicado a situação a todos — ou talvez ter voltado para casa para se recuperar até pouco antes da apresentação. De qualquer forma, não precisaria descer do ônibus como se estivesse fugindo de algo.

A razão pela qual Chitanda desceu cedo — o motivo de seu rosto pálido — provavelmente não tinha nada a ver com sua saúde. Essa era minha hipótese, então decidi ir direto ao ponto.

— Em qual ponto Chitanda desceu? Sabe para onde ela foi depois disso?

Yokote-san me olhou friamente ao fazer a pergunta.

— O que fará se eu disser?

— Vou procurá-la, claro.

— Não adianta.

Ela se endireitou e falou com firmeza.

— Essa criança é herdeira do patrimônio Chitanda; ela conhece suas responsabilidades. Descer do ônibus foi apenas um momento de hesitação. Tenho absoluta confiança de que ela chegará a tempo. Seria melhor não fazer nada desnecessário e confiar em sua amiga.

Assenti.

— Sim, tenho certeza de que ela vai chegar a tempo também.

Yokote-san ficou sentada com uma expressão vazia, como se toda a ferocidade anterior tivesse desaparecido.

— Então por que disse que iria procurá-la?

Isso já estava claro desde o começo.

— Provavelmente é difícil para ela, afinal.

— Difícil para ela?

— Não consegue ver?

Eu não sabia quase nada sobre o assunto da sucessão, mas havia algo de que tinha certeza: o forte senso de responsabilidade de Chitanda. Se ela realmente desceu do ônibus e desapareceu, havia um motivo sério por trás disso. Não queria reduzir esse motivo a apenas um "momento de hesitação".

Claro, como Yokote-san mencionou, ela quase certamente apareceria antes de seu horário no palco. Mas sua chegada seria o resultado final do conflito — um conflito interno para reprimir e enterrar as razões de sua fuga, com o rosto pálido, completamente submissa ao seu senso de responsabilidade.

Para mim, parecia que ela queria fugir, mas precisava ir. Precisava ir. Isso não parece terrivelmente difícil para ela?

Sempre que me sinto encurralado, ver alguém vir me tirar da situação me deixa feliz. Nesse sentido, encontrá-la era mais necessário do que Yokote-san poderia imaginar.

Em vez de dizer tudo isso, resumi em uma frase curta.

— Quero dizer, é isso que amigos fazem.

Ela me encarou em silêncio, como se estivesse tentando julgar quanto do que eu disse podia acreditar, mas não havia motivo para ficarmos tensos.

— Afinal, não é por isso que a senhora está esperando aqui? Para receber Chitanda quando ela voltar?

Yokote-san pareceu surpresa.

— A senhora quer encontrá-la aqui, nós queremos ir encontrá-la em Jinde — não acha que temos o mesmo objetivo? Que tal? Vai me dizer onde ela desceu?

— Quem é o "nós" que quer encontrá-la em Jinde?

Hm? Ah, sim.

— A Ibara está preocupada, afinal. Provavelmente seria melhor se ela viesse junto, ou até mesmo se encontrasse Chitanda sozinha. O único problema é que ela está procurando agora, então pode ser difícil contatá-la. Não há tempo, então nem sei se devo tentar. Acha que é má ideia?

— Não.

Por alguma razão, Yokote-san levou a mão à boca e pareceu um pouco feliz. Em seguida, voltou a colocá-la no colo e continuou com confiança.

— Entendo. Você tem razão. Eu também comecei a me sentir um pouco inquieta, mesmo sabendo que ela virá. Vou lhe contar o que sei.

Assenti.

— Aquela criança desceu no ponto de ônibus de Jinde Sul. Se você for para lá a partir daqui e seguir a rota do ônibus pelo lado direito da serra, deverá ver um armazém solitário, com paredes de reboco. Se ela estivesse procurando um lugar para se esconder, certamente seria lá.

Yokote-san disse que viu Chitanda ao descer do ônibus. O veículo provavelmente partiu logo depois disso.

Não fazia ideia de quão longe o armazém ficava da estrada principal, mas, se estava na encosta da montanha, era provável que fosse afastado. Ela provavelmente só teve tempo de ver para onde Chitanda começava a ir antes que o ônibus se afastasse. Mesmo tendo visto tão pouco, Yokote-san parecia não ter dúvidas. Eu, por outro lado, ainda guardava algumas.

— A senhora a viu entrar lá? — Yokote-san balançou a cabeça.

— Não vi. No entanto, sei que ela foi, mesmo sem ter presenciado.

Sua expressão suavizou-se, como se recordasse de um momento feliz do passado.

— Aquele armazém pertence à minha família, mas não o usamos mais. Quando era pequena, aquela criança costumava ir lá para se esconder dos outros.

Eu pensava que Yokote-san fosse apenas uma vizinha próxima, mas, se Chitanda usava aquele armazém como refúgio, então sua relação devia ser mais íntima do que isso.

— Yokote-san, a senhora é parente de Chitanda?

— Sou tia dela. Hoje deve haver algumas pessoas da família Chitanda por perto. Você não deve ir direto ao armazém, pois pode haver olhares curiosos. Primeiro, procure a casa cercada por sebes, ao lado do armazém. Haverá uma placa com o nome "Yokote". Depois de passar pela cerca, contorne pelos fundos do armazém. Não haverá ninguém em casa, mas, se alguém lhe perguntar o motivo de estar lá, diga que eu pedi para buscar algo que esqueci antes de sair.

— É só isso, então, por favor, vá depressa.

Ela ergueu a mão rapidamente e apontou para a porta de metal.

*

 

Jinde era uma região cercada por colinas suaves, situada a nordeste da cidade de Kamiyama. No papel, fazia parte da cidade em termos administrativos. Mas, na prática, as duas localidades estavam ligadas apenas por estradas estreitas de montanha, com suas residências totalmente separadas.

Distância emocional à parte, a distância real não era tão grande assim — o fato de Chitanda ir e voltar para a escola todos os dias era prova disso. Subir e descer aquelas estradas era cansativo, mas dava para percorrer o trajeto em menos de 30 minutos se pedalasse a toda velocidade. Olhei meu relógio: faltavam poucos minutos para às 16h30.

Não havia tempo a perder.

Assim que saí do centro cultural, imaginando que teria de ir de bicicleta, um ônibus parou bem diante de mim e a porta se abriu como se fosse um chofer vindo buscar uma celebridade. Fiquei completamente atônito. Como um cervo diante dos faróis, não consegui me mover por um instante. 

Não apenas a viagem seria certamente mais rápida do que ir de bicicleta, como eu não teria de procurar o ponto de ônibus ao chegar. Ainda assim, que sorte inacreditável a minha: um ônibus que só passava de hora em hora surgir justamente quando eu mais precisava.

Tinha de ser uma armadilha, certo?

Ah, e que armadilha seria! Talvez fosse na direção contrária. Se embarcasse nesse ônibus milagroso, acabaria sendo levado para o lado oposto, preso num beco sem saída. Que esperto eu era por pensar nisso com antecedência! Olhei discretamente para a placa que indicava o destino: "Indo para Jinde."

— Ah, certo. Vou subir.

Fora o momento inicial de choque, minha mente esteve correndo o tempo todo. Sem perceber, acabei dizendo isso em voz alta, bem quando o ônibus parecia prestes a partir. Corri até ele e entrei, sentando-me em um assento próximo e soltando um suspiro profundo. Nesse instante, ouvi um som como o de uma câmara de ar esvaziando, e a porta do ônibus se fechou.

— O ônibus vai partir.

Ele começou a se mover lentamente após o anúncio. Era o tipo de ônibus em que se pagava ao descer.

Eu queria procurar por Ibara rapidamente antes de seguir para Jinde, mas a chegada inesperada do ônibus forçou uma mudança de planos. "Não perca o ônibus!", dizia algum comentarista que eu havia visto na TV certa vez.

Depois de me acomodar, fiquei me perguntando se tinha dinheiro comigo. Tinha quase certeza de que trouxera a carteira. Revirei os bolsos e confirmei: tinha, de fato, uma única nota de mil ienes. Consegui evitar por pouco um futuro em que seria forçado a lavar pratos para compensar a falta de pagamento da passagem. No entanto, teria de adiar a compra do livro que queria. Amaldiçoei os céus, mas… bem, acho que é a vida.

Havia menos de dez pessoas no ônibus, incluindo eu. Depois de deixarmos o centro cultural, demoramos um pouco até chegar aos bairros mais antigos. Por causa das ruas estreitas, o tráfego não era intenso, mas estava sempre condenado a engarrafamentos. Olhando distraidamente pela janela, vi passar uma torrente de paisagens familiares: a confeitaria com deliciosos yomogi dango, a livraria cujas prateleiras superiores estavam vazias porque o dono idoso já não conseguia alcançá-las, a lavanderia que costumava vender tecidos de quimono quando eu era pequeno, a loja de conveniência que fechou a tabacaria…

O próximo ponto de ônibus foi anunciado pelos alto-falantes, e alguém apertou o botão para descer. Dois passageiros saíram, um entrou. O ponto seguinte também foi sinalizado. Eu estava prestes a olhar o relógio, mas forcei meus olhos para longe. Não importava quantas formas houvesse de chegar até Chitanda — eu já tinha escolhido o ônibus. Provavelmente só entraria em pânico se visse a hora, e isso não faria absolutamente nada para me levar mais rápido.

O ônibus finalmente deixou o bairro antigo. Passamos por um cruzamento com um posto de gasolina do tamanho de quatro aviões-tanque de um lado e uma lanchonete com drive-thru do outro. Ganhamos velocidade quando o ônibus entrou no desvio.

Apoiei o cotovelo no batente da janela e, enquanto olhava para fora, comecei a refletir mais sobre o caso.

No começo, Yokote-san havia se referido a Chitanda como "a filha dos Chitanda". Só depois passou a chamá-la de "aquela criança". Não posso afirmar com certeza, mas tive a impressão de que ela se esforçava para não dizer "aquela criança" diante de Danbayashi-san. Alguém poderia dizer que era apenas uma questão de boas maneiras, mas para mim parecia carregar algo mais complexo — algo que não podia ser dito casualmente a estranhos.

Yokote-san havia chamado Chitanda de "a filha dos Chitanda", "a sucessora do patrimônio Chitanda" e, só depois de tudo isso, revelou que era sua sobrinha. Não sei os detalhes — nem tenho certeza se deveria saber. Mas, quando pensei na Eru Chitanda que eu conhecia, a presidente do Clube de Clássicos do Colégio Kamiyama, envolvida e cercada por aquele título, não consegui conter as ondas de náusea que me atingiram. Nem mesmo sabia ao certo o que as causava.

Chitanda havia descido do ônibus.

Por quê?

Não havia nada em particular para eu fazer enquanto aguardava chegar ao destino, e aqueles mesmos pensamentos rodavam sem parar em minha mente.

Havia várias estradas de montanha que ligavam Jinde a Kamiyama, e a rota que o ônibus seguia era diferente da que eu costumava usar de bicicleta. No início, fiquei alarmado, achando que o ônibus começava a seguir na direção errada, mas logo percebi que era apenas outro caminho viável e afundei mais fundo no assento, esperando pacientemente.

O ônibus começou a se aproximar da região montanhosa. Passamos por uma série de colinas desmatadas, e as curvas começaram a me balançar bruscamente para a esquerda e para a direita. Com isso, meu corpo também se movia, e a sensação de enjoo trouxe de volta lembranças da viagem às fontes termais que Ibara havia organizado por essa época no ano anterior.

Não sei se é verdade, mas ouvi dizer que alguns casos de enjoo são puramente mentais. Então, enquanto subíamos a serra, inventei para mim mesmo uma canção chamada "Eu não tenho medo de enjoo de carro" e deixei que sua melodia me embalasse.

O ronco do motor, claramente forçado, começou a diminuir, e o ônibus entrou em um longo trecho reto depois das curvas. Paramos em um semáforo — algo que parecia não ver havia muito tempo — e uma voz feminina anunciou:

— Próxima parada: Jinde Sul. Próxima parada: Jinde Sul.

Apertei o botão para solicitar a parada. Assim que o sinal ficou verde e o ônibus voltou a se mover, começou a reduzir novamente, até parar. As portas se abriram, e, dessa vez, foi o próprio motorista que anunciou, em uma voz rouca e curiosamente ritmada.

— Chegamos a Jinde Sul.

Paguei a passagem e desci do ônibus. Meu primeiro gesto foi inspirar fundo. Pensei que estaria bem, mas percebi que tinha ficado um pouco enjoado, afinal, o ar fresco foi maravilhoso. Diziam que tinha chovido em Jinde, mas não vi nenhum vestígio de água na superfície da estrada. Bem, era julho — bastava o sol ter aparecido por um instante para secar rapidamente pequenas poças.

Ainda assim, olhando agora, o céu azul já havia se tornado um manto fechado de nuvens escuras. Havia sinais claros de que a chuva estava por vir. Isso não era bom. Eu não tinha guarda-chuva.

Examinei os arredores e notei que a estrada percorrida pelo ônibus havia sido construída em um aclive. À direita, o terreno subia; à esquerda, descia suavemente. Mais abaixo, viam-se campos cultivados de forma eficiente, aproveitando cada palmo de terra, exalando um verde intenso alimentado pelo calor do verão. As casas eram esparsas, pontuando a paisagem como figurantes em uma cena. Não conseguia avaliar bem a distância, mas mais adiante o relevo voltava a subir. Além daquelas colinas verdes, erguia-se a serra de Kamikakiuchi, ainda com resquícios de neve antiga.

— O armazém...

Murmurando, olhei em volta mais uma vez. Yokote-san havia dito que eu o veria à direita da estrada ao entrar em Jinde. Isso significava que ficava na encosta.

Logo o encontrei. No início fiquei ansioso, imaginando o que faria se houvesse vários armazéns, mas, após vasculhar a paisagem, vi apenas um — e não estava muito longe. Da minha posição, a metade inferior estava escondida por uma cerca de madeira, mas pude confirmar o telhado triangular, as paredes brancas de reboco e um par de portas duplas no segundo andar, provavelmente para ventilação e iluminação. Não parecia haver outros prédios por perto, e a visão daquele armazém solitário na encosta transmitia uma imagem quase surreal.

Atravessei a rua apressado e estava prestes a seguir direto para lá quando me lembrei do aviso de Yokote-san: eu deveria me aproximar sem chamar atenção. Fiquei um pouco irritado com o jeito como ela havia dito isso, mas não podia ignorar a instrução da mulher que me dissera onde Chitanda estava. Assim, comecei a procurar a tal casa com sebes.

Algumas dezenas de metros adiante, percebi uma residência que se encaixava na descrição. Erguida sobre uma fundação nivelada e com telhado de telhas, exibia um portão ao lado de uma grande árvore, visível através de uma abertura na cerca viva. Não se comparava à mansão dos Chitanda, mas ainda assim era uma casa imponente.

— É para lá que eu tenho que ir, então?

Mesmo tendo permissão para entrar, eu ainda me sentia nervoso. Talvez tudo fosse um ardil de Yokote-san, e, no instante em que passasse pelos portões, seria acusado de invasão de domicílio. Mas não acreditava realmente nisso.

Olhei o relógio: 16h50. Então a viagem havia levado cerca de vinte minutos. Suponho que a estimativa de Yokote-san — sair às 13h00 e chegar às 13h30 — fosse apenas um chute. O panfleto dizia que o próximo ônibus de volta ao centro cultural estava previsto para às 17h10.

— Então vai dar certo.

Faltavam vinte minutos para a chegada do próximo ônibus. Tudo o que eu precisava fazer era tirar Chitanda do armazém. Se ela não estivesse lá, bem… eu teria feito tudo o que podia. Ibara provavelmente não me culparia.

Senti algo frio bater na minha bochecha. Levei a mão ao rosto e percebi que estava molhado. Pequenas manchas escuras começaram a salpicar o asfalto. A chuva havia começado.

— Você só pode estar brincando comigo...

Não era raro que essas pancadas de fim de tarde se transformassem em tempestades pesadas. Eu tinha me esforçado ao máximo naquele dia, mas parecia que o céu não me concederia sequer um momento de alívio. Soltei um longo suspiro e corri até a casa com sebes.

*

 

Contornei o jardim dela e me coloquei em frente ao armazém.

Não se podia dizer que a chuva fosse intensa como em uma tempestade de fim de tarde. No máximo, era um chuvisco; mesmo assim, toda a paisagem ao redor ficara enevoada. As beiradas do telhado do armazém não se projetavam muito. Não era uma proteção grande, mas consegui me manter seco por baixo, já que não havia vento.

Graças à cerca de madeira, mesmo parecendo um estudante perdido do ensino médio, não precisava me preocupar em ser visto. Agradeci por isso, mas, ao mesmo tempo, o design poderia atrair possíveis ladrões. Suponho que ela tenha mencionado que o armazém não era mais usado; provavelmente não se preocupavam muito.

A porta do armazém era grossa e revestida de reboco. Inicialmente pensei que também fosse à prova de fogo, mas, na realidade, era feita de madeira. Rebites — talvez do tamanho do punho de um bebê — estavam cravados na porta formando uma linha de cima a baixo, dando-lhe aparência extremamente robusta. Havia um buraco que indicava onde se poderia colocar um cadeado, mas a parte mais importante, a fechadura, estava ausente. Acho que não precisava de chave para entrar.

Comecei a murmurar para mim mesmo enquanto passava o dedo pelos rebites.

— Bem, e agora? O que devo fazer?

Primeiro, eu precisava confirmar que Chitanda estava realmente ali. Pensei em simplesmente bater. Nesse momento, parecia ouvir um som doce misturado à chuva caindo.

Encostei o ouvido na porta.

Ah... Ah... Ah...

Perguntei-me o que poderia ser, mas logo percebi: era aquecimento vocal. Para chegar a tempo de se apresentar no palco com o coral, ela estava treinando a voz ali. Ao perceber isso, inconscientemente comecei a bater os dedos contra a porta.

Os sons de dentro do armazém pararam imediatamente. Para quem estava lá dentro, meu toque provavelmente soou como algo saído de um filme de terror. Chamei para tranquilizá-la.

— Chitanda, você está aí?

Encostei o ouvido novamente na porta, mas não ouvi nada. Falei mais uma vez, mantendo o ouvido no mesmo lugar.

— Está aí?

Uma voz trêmula sussurrou.

— Oreki-san?

Ela estava ali. A presença de Chitanda era totalmente fruto da previsão de Yokote-san, e eu havia considerado bastante a possibilidade de ele estar errado, mas parecia que tudo tinha se confirmado.

Pude ouvir a voz de Chitanda. Embora a porta parecesse grossa, devia ser relativamente fina; a voz dela soava surpreendentemente próxima.

— Por que você está aqui?

Ela queria saber o motivo para eu vir ou como eu soube onde ela estava? Não fazia ideia, então respondi às duas perguntas.

— Ibara estava procurando por você, então vim ajudar. Graças ao conselho de Yokote-san, acabei aqui.

— Entendi...

Após uma breve pausa, ela continuou, com a voz sem força.

— Desculpe.

Não havia razão para ela se desculpar comigo, então fingi não ter ouvido.

— É difícil ouvir você. Posso abrir a porta?

Sua resposta soou como se viesse de muito longe.

— Sim.

— Não abrirei se você não quiser. Desculpe.

Yokote-san havia dito que aquele era um esconderijo secreto para Chitanda. Dada a situação, ela provavelmente me perdoaria se eu entrasse sem pedir, mas ainda assim me sentia constrangido. A chuva não era forte, e eu realmente não me importava em conversar assim, através da porta. Mas, enquanto refletia, Chitanda respondeu de repente, com a voz em pânico e atrapalhada.

— Não, não é nada disso! É só que... eu estou uma bagunça agora.

Seguiu-se um pequeno silêncio, e então Chitanda começou a falar em uma voz que parecia zombar de si mesma.

— Você deve estar cansado de mim, Oreki-san. Mesmo tendo responsabilidades, eu fugi assim. Tenho certeza de que causei muitos problemas para todos. Eu sou... a pior de todas.

Claro, eu achava isso estranho, mas nunca havia me cansado dela.

— Bem, você não chegou a tempo da reunião das 14h, mas tenho certeza de que planejava chegar antes das 18h. Quer dizer, você estava fazendo aquecimento vocal agora, afinal.

Ela disparou imediatamente uma pergunta.

— Você estava ouvindo?!

— Bem, só no final.

— Na verdade, mais do que ouvir, foi como se eu simplesmente tivesse acabado percebendo.

Por um tempo, só o som da chuva caindo chegava aos meus ouvidos. Tornou-se difícil ficar de pé de frente para a porta, sob as estreitas beiradas, então encostei as costas nela. Limpando a garganta, falei suavemente mais uma vez.

— E então? Você acha que consegue ir?

Ela respondeu com uma voz tímida.

— Você não vai simplesmente me mandar ir?

Chitanda não podia ver, mas meus ombros relaxaram.

— Se você não puder ir, eu não vou te forçar. Danbayashi-san estava toda nervosa procurando alguém para substituir você. Tenho certeza de que há um ou dois cantores que poderiam assumir seu lugar.

— Eu não conseguiria fazer algo assim.

Nunca a tinha ouvido soar tão frágil como naquele momento.

Um pequeno caracol havia subido na cerca de madeira à minha frente; quando teria chegado ali, me perguntei. Enquanto o observava se mover lentamente, comecei a falar.

— Mas você não consegue cantar, consegue?

Por um momento, não houve resposta. Finalmente, ouvi uma voz que parecia procurar algo cautelosamente.

— Oreki-san, você sabe de alguma coisa?

— Não, não realmente. Desculpe, disse algo que parecia que eu sabia. Eu não sei de nada.

Uma voz — agora um pouco mais animada — respondeu.

— Claro que não, deve haver algo errado comigo.

As lâminas da grama selvagem aos meus pés eram envolvidas pela chuva leve; curvavam-se levemente sob o peso da água. O caracol na cerca parecia tentar subir, mas não avançava nada.

— Eu não sei de tudo, mas sinto que posso entender um pouco.

Por que Chitanda havia descido do ônibus? 

Que expressão estaria em seu rosto, me perguntei. Ouvi sua voz responder, talvez soando como uma criança implorando para ouvir uma história.

— Por favor, me conte.

O que aconteceria se eu realmente contasse? Se eu estivesse certo sobre os sentimentos que ela guardava, conseguiria lhe dar ao menos um pouco de alívio? Não tinha garantia alguma de que estava certo. Era absurdo. Melhor permanecer em silêncio.

Não consegui ouvir nada do outro lado da porta. Ela devia estar esperando com a respiração contida.

Olhei para meu relógio; ainda havia um pouco de tempo antes da chegada do ônibus.

Senti que havia uma história folclórica que se encaixava nessa situação. Qual seria meu papel nela? O sábio? O forte? Talvez eu fosse o dançarino que abriu a porta com sua dança absurda. Tudo bem, suponho. Se a estrela do show quer, eu precisava contar tudo. Mesmo que fosse errado ou decepcionante, eu precisava dizer.

— Vamos ver... teria sido…

Respirei fundo e olhei para cima, através da chuva incessante, para o céu escuro.

— Que você foi avisada de que não precisava suceder os negócios da sua família?

Não ouvi nada além da chuva. Todos os meus sentidos foram invadidos pelo suave ruído branco, shhh.

— Há pouco tempo, Ibara mencionou uma história estranha. Era sobre uma xícara de café doce demais. Você estava distraída naquele dia — certamente não como de costume. No início, pensei que todos tivessem esses dias, mas então, ao sair, notei o livro que você estava lendo; aquela imagem não saiu da minha mente. Era um guia de carreira. Que faculdade fazer depois do ensino médio, que tipo de trabalho seguir, o que fazer da vida — era esse tipo de livro.

Embora eu devesse estar protegido da chuva, meus pés estavam um pouco molhados. Mas não estava frio; era uma chuva morna de verão.

— Estamos no segundo ano do ensino médio. Talvez seja natural estarmos lendo esse tipo de livro... mas achei um pouco estranho. Ibara e Satoshi podem estar pensando sobre o futuro, mas você é diferente. Na nossa primeira visita ao santuário do ano, em janeiro, e no festival das bonecas vivas, em abril, eu a vi agir como a sucessora definida da família Chitanda. Você escolheu seu caminho muito antes de nós — pelo menos deveria ter sido assim. Então por que a vi olhando para um guia de carreira?

Na época, imaginei descuidadamente que ela só estava lendo sobre uma carreira diferente que não seguiria. Mas, com os eventos de hoje, comecei a considerar uma possibilidade completamente diferente.

— Então veio o festival do coral de hoje. Ouvi da Ibara que você havia desaparecido. Sabia que devia haver uma razão para você fugir. Só depois que li a letra da música que você deveria cantar é que tive essa ideia.

Li a letra no panfleto no centro cultural, mas não sabia qual parte era o solo de Chitanda até conseguir perguntar a Danbayashi-san.

— Satoshi me disse algo: em suas obras, Sandou Ejima frequentemente elogiava demais os valores comuns de sua época sem se conter e, como resultado, suas obras se tornavam muito moralistas — ele nunca foi considerado de primeira classe.

Ah, rezo mais uma vez. Eu também anseio viver nos céus sem limites.

— Na sua parte, você cantava diretamente sobre a admiração sem igual pela liberdade.

Foi graças a Satoshi que consegui conectar a estranha sensação que tive lendo a letra com o desaparecimento de Chitanda. Ao jogar shogi com parentes, ele disse que, embora aceitasse perder um jogo, era o ato de dizer "eu perdi" que não lhe parecia certo.

— Tenho uma memória parecida. Fui a um casamento de um parente há muito tempo e acabei tendo que cantar um hino. Eu deveria estar bem em cantá-lo porque tudo era superficial — homenagear Jesus e exaltar Maria — mas simplesmente não consegui. Louvar algo em que não acredito — não seria isso prejudicar quem crê de verdade em Cristo?

Mentiras pesam no coração.

— Se a letra fosse sobre outra coisa, seria diferente. Mas, como você é agora, não acha impossível cantar uma música que exalte a liberdade?

Perguntei-me se Chitanda ainda estava ali, além da porta cravada. Ela não falou nada, e eu não conseguia ouvir nenhum som. Continuei, como se desse um monólogo.

— Até pouco tempo atrás, seu futuro — me perdoe por dizer isso — não era o que eu chamaria de "livre". Tenho certeza de que você tinha algum poder de decisão, mas uma coisa não mudaria: você sucederia a família Chitanda no fim. Se isso ainda fosse o caso, não vejo motivo para você ter dificuldades em cantar. Mas não só parece que seus ensaios correram normalmente, como você também não recusou a parte. Isso significa que suas circunstâncias mudaram desde então.

Provavelmente aconteceu no dia antes de Ibara nos contar a história do café doce demais.

— Se você se tornou incapaz de cantar nos últimos dias... não foi porque você se tornou livre?

Não ouvi nem uma confirmação nem uma negação.

— Você é alguém que podia fazer o que queria, mesmo sendo informada de que um dia herdaria os negócios da família. Você internalizou isso completamente como uma verdade imutável. Com isso em mente, o que aconteceria se de repente lhe dissessem que isso não era mais necessário? O que aconteceria se seus pais ou outra pessoa lhe dissessem que você não precisava se preocupar em ser a sucessora e que deveria viver sua própria vida?

Yokote-san havia mencionado que aquela garota era a sucessora da família Chitanda e que certamente viria porque compreendia suas responsabilidades; mas o que aconteceria se essa Chitanda já não se encaixasse mais nesse papel?

— Provavelmente você não teria a menor ideia do que fazer.

Eu era alguém cujos ombros não carregavam nenhum grande papel, e cuja dedicação declarada a uma vida de economia de energia lhe rendia dias vazios. Com isso em mente, eu não deveria ser capaz de entender de verdade nada do que Chitanda estava pensando. Não deveria ser capaz de entender absolutamente nada — e, ainda assim, cheguei a essa resposta. Era ridículo em muitos níveis.

— Diante de tantas pessoas, você conseguiria cantar uma música que anseia pela liberdade? "Claro que você recebeu um solo importante, então, em todas as circunstâncias, deveria cumprir seu papel. Vai acabar colocando seus colegas de coral em uma situação difícil. Deve deixar sua situação de lado e cantar, afinal, isso também faz parte da sua função. Não torne tudo isso apenas sobre você", imagino que todos esses soem como argumentos bastante racionais. Consigo ver alguém dizendo essas coisas.

Na realidade, era bem provável que alguém dissesse exatamente isso. Ibara não diria. Satoshi, com certeza, também não. Mas, mesmo assim, alguém diria.

— Mas eu... mesmo que minha dedução estivesse correta, eu não a culparia.

Afinal, eu não tinha esse direito.

Embora a estação das chuvas já tivesse passado, a garoa suave e silenciosa não mostrava sinais de enfraquecer ou de se intensificar. O caracol da cerca havia desaparecido. Teria ele, lenta mas seguramente, alcançado o topo? Ou teria caído na grama abaixo? Eu não havia visto.

Do outro lado da porta fechada, veio uma voz incrivelmente suave.

— Oreki-san.

— Estou ouvindo.

— Mesmo tendo me dito que agora posso viver livremente... Mesmo tendo me dito que posso escolher o que quero fazer da minha vida... Mesmo tendo me dito que a família Chitanda ficará bem de algum jeito, então não preciso me preocupar...

Sua voz, mudando como se descesse para a autodepreciação, murmurou mais uma coisa.

— Mesmo tendo me dito que agora tenho asas, o que é que eu devo fazer?

E, com isso, o armazém se tornou silencioso.

Ao pensar no fardo que Chitanda carregara até então, e no fardo que lhe disseram que não precisava mais carregar, senti de repente uma vontade imensa de socar algo com todas as minhas forças.

Quis quebrar, machucar minha própria mão até sangrar.

Olhei para meu relógio: 17h06. Em menos de quatro minutos, o ônibus para o centro cultural chegaria.

Eu já havia dito tudo o que precisava dizer e feito tudo o que podia fazer. O resto, por mais que doesse, cabia a Chitanda resolver.

Sem se tornar nem mais forte nem mais suave, a chuva continuava a cair.

No interior do armazém, nenhum som de canto podia ser ouvido.

 

Fim

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