Volume 5
Epílogo: Você deveria ser capaz de estender seu alcance a qualquer lugar
19,1 km; 0,9 km restantes
Amarrei firmemente meus cadarços. A dor na minha perna direita começava a diminuir. Eu já tinha feito tudo o que precisava durante a Copa Hoshigaya. A linha de chegada já não estava muito longe, mas não sentia vontade de correr. Caminhei meio sem rumo em direção à entrada vazia do santuário. A estrada seguia em linha reta numa leve descida.
Passei por baixo do enorme torii da entrada dos fundos e entrei nos terrenos do santuário. Era um caminho direto até o fim, então presumi que Ōhinata não se perderia. Embora ainda me preocupasse, me forcei a não olhar para trás para confirmar. Fechei os olhos levemente e os abri novamente, quando notei uma bicicleta de montanha familiar estacionada ao lado da estrada. Olhando ao redor, vi Satoshi encostado numa lanterna próxima, braços cruzados.
Antes que eu pudesse abrir a boca, ele falou.
— Ei. Como eu posso dizer isso... as paredes têm ouvidos, sabe? O vice-presidente do Comitê Geral ouviu dizer que dois estudantes saíram do percurso e decidiu vir aqui caçá-los pessoalmente.
Então alguém nos viu? E não só isso, ainda avisaram educadamente o comitê.
— Impressionante você ter adivinhado esse lugar.
— Claro, considerando que o beco pelo qual disseram que eles passaram era exatamente o caminho que eu mesmo te falei, Houtarou.
Era mesmo? Eu não lembrava muito bem. Acho que não procurei essa rua pessoalmente, então devia ser isso.
— Isso vai ficar chato, então? — Satoshi deu de ombros.
— Eu vim aqui para resolver isso pessoalmente, não foi? — disse ele.
— Contanto que você não seja um policial.
— Então serei um agente de receita. Ou você quer que eu te repreenda devidamente?
Ele falou sério, sem graça, e logo fez outra pergunta, sem esperar resposta.
— E aí, como foi? — Depois de relembrar tudo e ouvir várias histórias ao longo de 20 quilômetros, qual era minha conclusão?
— Ela não vai entrar.
— Entendo.
Satoshi parecia esperar por isso, mas suspirou levemente.
— Que pena — disse. Ele então me avaliou por trás. — Parece que você sabe pelo menos o motivo dela não entrar.
— Por que diz isso?
— Se não soubesse, Houtarou, não haveria razão para você falar com ela pessoalmente. Se não se importar, pode me contar?
Mas eu não pude concordar. Não podia contar a ele o motivo da Ōhinata, nem a verdade sobre porque ela denunciou Chitanda e a temia a ponto de evitá-la. Mesmo sendo Satoshi Fukube, me senti dividido. Talvez percebendo minha hesitação, Satoshi começou a andar à minha frente.
— Não vou te obrigar a falar. De qualquer forma, vamos andando. Se você não passar logo a linha de chegada, eu nunca vou conseguir sair daqui.
Fiquei ao lado dele enquanto ele empurrava sua bicicleta de montanha pela estrada de pedra, como tínhamos feito pouco depois de sair dos terrenos do Colégio Kamiyama.
Como prometido, Satoshi não insistiu no assunto. Talvez por isso eu não consegui ficar em silêncio sobre tudo sem deixar escapar ao menos uma pequena coisa.
— O problema não tinha nada a ver conosco.
O que Ōhinata temia vinha do passado dela, e a amiga dela estudava em outra escola. O problema com essa "amiga" dela não tinha ligação nenhuma com o Colégio Kamiyama.
— Eu já tinha suspeitado... — disse Satoshi. — Tinha essa sensação. Sou mais compreensivo que você, mas mesmo se ignorássemos tudo durante essa Copa Hoshigaya, duvido que as coisas voltassem a ser como antes. Se não tem a ver com a escola, não há o que fazer.
Pensando bem, Satoshi me disse algo logo depois da corrida começar: "Não carregue tudo sozinho. Você não é responsável por nada."
— Como você sabia? — Ele relaxou os ombros, ainda segurando habilmente o guidão da bicicleta.
— Sem motivo real. Só pensei que nada realmente acontece com ninguém dentro do campus logo que entram na escola. Além disso, continuávamos vendo a Ōhinata fora da escola também.
Ele olhou para frente e continuou.
— Acima de tudo, somos estudantes. Não podemos estender nosso alcance além da escola. Não havia nada que pudéssemos fazer desde o começo, Houtarou.
Será que era mesmo assim? Na verdade, o que Satoshi dizia era verdade. No colégio, Kaburaya era tudo que víamos. Agora que estamos no ensino médio, não conseguimos fazer nada além de Kamiyama.
Mas será que era realmente assim? Se levássemos a vida escolar direitinho, acabaríamos o segundo ano e iríamos além do Colégio Kamiyama. Se continuássemos por mais seis anos, finalmente deixaríamos a escola de vez. Se ficássemos pensando que não podíamos estender nosso alcance além da escola durante todo esse tempo, acabaríamos jogados num deserto desconhecido, confusos, enquanto o sol começasse a se pôr.
Ele provavelmente estava errado.
Assim como Chitanda já havia feito vários negócios na sociedade, assim como minha irmã já viajava pelo mundo, você deveria ser capaz de estender seu alcance a qualquer lugar. A única coisa que impede isso é se você quer ou não.
Como alguém que economiza energia, eu não tinha essa vontade, claro. Mas naquele momento, a menor faísca dela já estava sedimentada no fundo do meu coração.
Chitanda me disse que se Ōhinata estava realmente sofrendo, ela queria que eu a ajudasse. Eu disse que ajudaria. Mas no fim, não fiz nada.
Eu podia dar várias desculpas. A maior delas era que, depois de esclarecer o mal-entendido entre elas, o resto era problema da Ōhinata; ir além disso seria só me intrometer.
Mas e se quando eu disse "Eu não devo me meter, é só me intrometer," na verdade eu estivesse pensando "Falar dessas coisas é chato, não quero me envolver"? Em vez de ser uma questão do que eu podia fazer, eu estava simplesmente jogando os sentimentos dela pra escanteio e a abandonando?
…Eu estava tão incrivelmente cansado. Meus pensamentos não se organizavam. Sem responder a Satoshi, que tentava me consolar, acabei perguntando algo que simplesmente estava rondando minha cabeça naquele momento.
(N/SLAG: "Sonoko" e "anoko" significam "aquela pessoa", mas também soam como possíveis nomes femininos.)
— Satoshi. Você já ouviu falar no nome "Sonoko Sōda"?
Acabei murmurando isso muito baixinho, no entanto.
— O quê?
— Não, é nada.
Por mais que Ōhinata temesse que o problema com sua "amiga" viesse à tona, eu sentia que devia ter existido um incidente inicial, um momento que a fez começar a duvidar de Chitanda. Por exemplo, um momento em que ela acidentalmente mencionou o nome daquela amiga.
Pensando assim, só me veio à mente uma ocasião em que Chitanda claramente disse um nome na frente de Ōhinata: foi quando ela falou de "Sōda" ao contar que tinha encontrado meu endereço numa antiga antologia da turma. Será que Ōhinata não começou a temer Chitanda desde o momento em que ela disse que era conhecida da Sōda?
Sem aquele primeiro nome, "Sonoko", talvez ela tivesse pensado que era só mais uma família ambígua com o mesmo sobrenome. Quando falei com ela antes, Ōhinata mencionou a "amiga" usando "sonoko" só uma vez, corrigindo rapidamente para "anoko" depois. Será que o som parecido com o nome da amiga dela teria despertado o medo desde então?
Era só um palpite, sem nada concreto, então eu teria que confirmar isso com Chitanda. Mas, se eu não tivesse coragem para tentar ajudar Ōhinata, talvez nem tivesse o direito de perguntar em primeiro lugar.
Enquanto nos aproximávamos da borda do portão do santuário, sob o enorme tori, Satoshi montou na sua bike novamente.
— A partir daqui, é o evento oficial da escola. Corre direito.
Assenti e o vi partir pedalando. Então comecei a andar devagar, aumentando a velocidade aos poucos, voltando ao percurso da Copa Hoshigaya. Provavelmente todos os segundos anos já estavam na linha de chegada, pois só conseguia ver os primeiros anos na minha frente e atrás. Olhei para cima e vi o Hospital Rengō branco. Além dele, eu devia começar a avistar o colégio Kamiyama.
Virei para trás com uma rajada de vento, mas olhando para o grupo de primeiros anos sofrendo, não encontrei aquele rosto bronzeado e sorridente. Quanto à distância em que ela estava, ninguém poderia mais estimar.
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