Hyouka Japonesa

Tradução: slag


Volume 1

Capitulo 6: Os Velhos Tempos do Glorioso Clube de Clássicos

ERA O FINAL DE JULHO E AS FÉRIAS de verão haviam começado. Hoje, eu estava indo de bicicleta para o Colégio Kami, como de costume. Levava cerca de 20 minutos para chegar lá a pé da minha casa, mas eu não tinha ideia de quanto tempo demoraria de bicicleta. Parei para comprar uma lata de café em uma máquina enquanto descansava. Em seguida, segui pela margem do rio e virei no hospital antes de chegar em frente ao Colégio Kami. E foi lá que fiquei surpreso.

As férias de verão já deveriam ter começado. No entanto, os campos esportivos estavam cheios de equipamentos e estudantes usando uniformes de verão. Eu podia ouvir música sendo tocada por vários instrumentos de sopro, guitarras e flautas de bambu. Embora o Bloco Especial estivesse um pouco distante daqui, pude perceber que havia vários estudantes lá também. Todos estavam se preparando para o Festival Kanya. O lado mais animado do Colégio Kami parecia ainda mais ativo, agora que as férias de verão haviam começado. Multidões de pessoas se movimentavam como formigas, como se dissessem: "Tudo bem, pessoal, o festival está chegando! Agora que as irritantes aulas acabaram, vamos dar o nosso melhor!"

Eu observava essas pessoas cheias de energia quando notei alguém correndo em minha direção. Era Fukube Satoshi, vestido casualmente com uma camisa de manga curta e bermuda, carregando uma pequena mochila esportiva nas costas.

— Ei — ele me chamou. — Desculpe, demorei muito?

Eu estava ouvindo alegremente o Clube "A Capella" praticando seu canto no pátio central e Satoshi me fez virar, com sua voz surpreendentemente alta. Pensei em virar minha bicicleta e ir para casa, mas então mudei de ideia e caminhei até ele, agindo como se estivesse prestes a chutá-lo.

— Eita, Houtarou! O que foi? Por que toda essa agressividade? — ele disse.

— Quem é você para falar? Você não tem vergonha? Não sabia que não se deve perturbar a paz? — Respondi.

Satoshi deu de ombros. Parecia que ele não tinha vergonha mesmo.

— Desculpe, cara. A reunião do Clube de Artesanato se prolongou um pouco — explicou.

— E sobre o que vocês estavam discutindo, afinal? — Perguntei.

— Nós vamos fazer um tapete no estilo Mandala Budista para o Festival Kanya. Tivemos alguns problemas, então tivemos uma reunião de emergência agora pouco. Bem, foi um trabalhão. E não só para mim, mas para Toogaito e para a escola inteira por causa do festival — respondeu Satoshi.

— Então, você trouxe suas anotações? — Perguntei a ele, de forma seca. Satoshi apenas me devolveu a pergunta.

— E quanto a você? Não é algo com que esteja acostumado. Você ainda não pensou em nada?

Fiquei um pouco envergonhado em responder.

— Bem, mais ou menos.

— Oh? Isso é raro. Normalmente, você tentaria inventar alguma desculpa e evitar a pergunta... De qualquer forma, vou pegar minha bicicleta. Espere um pouquinho — disse Satoshi, me deixando esperando enquanto ele trotava em direção ao estacionamento de bicicletas.

Por que eu estava esperando por Satoshi aqui fora, quando poderia estar dormindo como se não houvesse amanhã durante as minhas preciosas férias de verão? Para responder a isso, precisaríamos voltar uma semana atrás, no dia em que estávamos tão perto de descobrir a verdade sobre Sekitani Jun, que devia estar escrita no primeiro volume da antologia do clube "Hyouka", apenas para descobrir que esse volume específico estava faltando. Como não chegaríamos a lugar algum sem esse primeiro volume, eu não estava realmente empenhado em encontrar a resposta.

Eu sabia que seria inútil tentar convencer Chitanda, então propus uma solução. Se quiséssemos investigar o passado, apenas nós dois não seríamos suficientes. Afinal, como diz o ditado: Três é demais. Talvez fosse um pouco difícil para ela, mas disse a ela que teríamos uma chance melhor de resolver isso com a ajuda de Satoshi e Ibara.

E Chitanda concordou.

— Acho que não temos escolha — disse ela.

Mesmo que ela tenha me pedido para manter isso entre nós durante nossa conversa no Café Pineapple Sandwich, acabei deixando-a na mão. Não sei dizer se foi porque Chitanda finalmente entendeu que precisaria de toda a ajuda possível, ou porque já não achava isso tão importante, ou talvez nossa querida senhorita estivesse ficando louca. De qualquer forma, ela nos convocou para uma reunião de emergência na sala do clube no dia seguinte.

Lá, Chitanda repetiu o que ela havia me dito antes e concluiu.

— Estou muito curiosa sobre o que aconteceu com o meu tio há 33 anos atrás.

Ibara aceitou o desafio imediatamente.

— A ilustração da capa me deixou interessada. Se conseguirmos resolver isso e descobrir a história por trás disso, eu poderia até usar como material de publicação para o Clube de Estudos de Mangá! — disse Ibara. Satoshi continuou.

— O Conto Heroico Imaginário será resolvido pelos seus kouhai, 33 anos depois, né? Eu já estava pesquisando coisas dessa época.

Ele mostrou aprovação com ambas as mãos no alto. Embora eu não tivesse intenção de falar, já que não tinha poder de veto, decidi dizer algo, pois já estávamos nisso.

— Já que ainda estamos decidindo o que vamos escrever em nossa antologia, por que não usamos a história da Chitanda para nos ajudar a preencher algumas páginas... hum, quer dizer, escrevemos algo significativo sobre ela?

Minha proposta de conservação de energia, embora um pouco prospectiva, foi aceita por unanimidade. E assim, investigar o incidente do Clube de Clássicos do Colégio Kamiyama de 33 anos atrás se tornou a prioridade do Clube de Clássicos.

Satoshi montou em uma mountain bike. Como ele estava usando shorts, músculos robustos podiam ser vistos em suas pernas que não correspondiam à sua baixa estatura. Para um poliglota como ele, o único esporte em que eu sabia que ele estava interessado era o ciclismo.

A propósito, a minha bicicleta era o que você poderia chamar de uma bicicleta de família, então não havia muito o que se dizer.

Pedalamos ao longo do rio e nos afastamos da rua principal. Lentamente, a distância entre as casas foi substituída por um imenso arrozal. Parei sob a sombra de uma loja de tabaco para me esconder do sol, peguei uma toalha da minha bolsa para limpar o suor que estava pingando constantemente.

Ahh, que suor bom.

Era algo que eu nunca diria. Em vez disso, me perguntei por que as pessoas precisam se mover para alcançar seu destino.

A revolução da informação ainda não teve sucesso. Camarada, você deve seguir em frente!

— Satoshi, ainda não chegamos? — Perguntei.

Satoshi colocou seu lenço de volta no bolso.

— Não, estamos quase lá. Seguindo o seu ritmo, é claro — E então ele sorriu. — Você vai ficar surpreso quando vir a mansão deles. Os Chitandas são um dos maiores fazendeiros da Cidade Kamiyama.

Acho que estou ansioso por isso. Eu certamente gostaria de ouvir como eles fazem a limpeza de primavera em um lugar tão grande. Após limpar mais suor com a toalha, coloquei meu pé no pedal e continuei.

Assim que recomeçamos, Satoshi tomou a dianteira e me guiou. Após cruzar inúmeros semáforos, chegamos a uma longa estrada reta, onde pedalamos lado a lado. Há algum tempo, já não havia mais nada além de campos agrícolas em ambos os lados da estrada.

Quando Satoshi girou o pedal, ele começou a cantarolar de alegria. Sorrir era sua expressão padrão, embora ele parecesse particularmente satisfeito hoje. Decidi perguntar a ele.

— Satoshi.

— Sim?

— Você está feliz? — Satoshi virou para mim e respondeu alegremente.

— Claro que estou. Eu gosto de ciclismo. Olhe para esse céu azul! E as nuvens brancas! Não importa o quão entediante eles pareçam, a alegria de olhar para eles enquanto pedalo em velocidade máxima é como… — Interrompi rapidamente a tentativa de piada de Satoshi.

— Pensei que sua vida escolar fosse, no máximo, mediana.

De repente, parecendo chateado, Satoshi respondeu.

— Ah... você está falando daquela coisa cor-de-rosa. Que ótima memória você tem, especialmente quando falamos sobre isso há três meses — Satoshi diminuiu um pouco e olhou para frente enquanto dizia. — Sabe, basicamente, eu acho que minha vida escolar é bem cor-de-rosa.

— Não, é mais como um rosa choque. 

— Hahaha, isso também é bom. Se for o caso, então a sua é cinza. 

— Você já me disse isso.

Como minha voz dificilmente se levantava, Satoshi parou de assobiar alegremente.

— Já? Não leve para o lado errado, eu não quis te insultar quando disse que a cor da sua vida escolar é cinza.

...

— Por exemplo, se minha vida é rosa choque, então ninguém pode pintá-la de rosa. Eu não deixaria.

Eu ridicularizei sua cara sorridente imediatamente.

— Sério? Eu achei que ela já tinha sido pintada.

— Claro que não foi — Satoshi respondeu com firmeza e continuou. — Ela não foi, Houtarou. Eu já estou ocupado com a Comissão Geral do Conselho Estudantil e com o Clube de Artesanato. Você achou que eu ia dizer isso? Você só pode estar brincando comigo. Se estou ajudando a organizar o cronograma do Festival Kanya ou costurando o tapete de Mandala, eu tenho que aproveitar cada momento. Caso contrário, quem iria querer sacrificar um alegre passeio de bicicleta nos domingos ou durante as férias de verão apenas para ir à escola?

— Eles não iriam?

— Existem ocasiões em que alguém tem que emprestar suas habilidades e presença pelo bem da sociedade em geral. Mas mesmo assim, você não é do tipo que se moveria uma polegada, certo? Para uma pessoa com a vida cinzenta como você, se alguém disser que "todo mundo é cor-de-rosa", você vai balançar sua mão e dizer "não conte comigo".

Após dizer tudo isso de uma vez, ele se acalmou um pouco e continuou.

— Se eu realmente quisesse te ofender, eu te chamaria de sem cor.

Satoshi ficou em silêncio após dizer isso. Eu refleti sobre sua resposta, enquanto minha pele queimava sob o sol.

...

E fiz uma careta.

— Sabe, eu não estou dizendo que eu quero ser como você ou algo assim.

— Não, não foi isso que eu quis dizer.

Satoshi levantou a voz e gargalhou. E então ele disse.

— Veja, Houtarou, chegamos na residência dos Chitanda!

Conforme sua descrição, a — mansão —  dos Chitanda foi construída no meio de um vasto arrozal. Era um bangalô no estilo japonês, cercado por uma cerca viva. O som da água corrente sugeriu a presença de um lago no jardim, que estava cercado por pinheiros bem aparados. Em frente ao grande portão aberto, havia pessoas aspergindo água ritualmente.

— Que tal? Impressionante, não? — Dizia Satoshi, enquanto inflava o peito, embora eu não fosse um especialista em arquitetura japonesa ou jardinagem japonesa. Ainda que eu não tivesse ideia de quão impressionante era aquela propriedade, senti uma sensação de elegância e dignidade.

Enquanto estávamos maravilhados com a propriedade, dei uma olhada no meu relógio. Estávamos em cima da hora... não, parecia que estávamos um pouco atrasados.

— Vamos, as garotas estão nos esperando.

— Ah, sim... a propósito, Houtarou...

— O que foi?

— Não deveríamos esperar alguns empregados virem nos receber?

Decidi ignorá-lo. Fui até a varanda da frente e toquei a campainha.

— Já vai~.

Após esperar um pouco, a porta foi aberta por ninguém menos que Chitanda. Seu resfriado de verão parecia estar curado, já que ela estava falando com sua voz normal novamente. Deixou seu longo cabelo fluir sob seus ombros sem prendê-lo e estava vestida com um vestido verde claro.

— Desculpe por te fazer esperar.

Pude ouvir Satoshi estalar a língua, como se estivesse desapontado por nenhum empregado ter ido nos receber. 

Após tirarmos nossos tênis na entrada de concreto, Chitanda nos guiou por um corredor de madeira.

— Onde vocês deixaram as bicicletas?

— Onde podemos estacioná-las?

— Em qualquer lugar está bom.

Então por que você perguntou? 

Em pouco tempo, fomos levados a um par de portas de correr de papel, e uma brisa fresca escapou ao abri-las. Como o teto era alto, o quarto estava agradavelmente fresco. O quarto tinha... 15 metros quadrados. Isso é enorme.

— Vocês estão atrasados.

Ibara já chegou. Parece que ela teve algo para fazer na escola antes de vir para cá, já que estava usando seu uniforme escolar. Havia uma mesa marrom com um forte reflexo, e várias folhas de papel estavam em cima dela, provavelmente as notas da Ibara. Ela estava bem animada com isso.

— Por favor, sentem onde quiserem.

Fui para o lugar oposto ao da Ibara, como me foi proposto. Como Chitanda ficaria com o assento do anfitrião, Satoshi ocupou o assento restante. Era raro ver alguém sentado em uma alcova tradicional japonesa enquanto carregava uma mochila. Satoshi abriu a mochila e tirou várias folhas de papel. Eu também abri minha bolsa e peguei minhas anotações. Ibara parecia estar muito preparada, brincando com sua caneta, enquanto Chitanda colocava uma pilha de papéis em cima da mesa.

— Então — Chitanda começou. — Vamos começar nossa reunião investigativa.

Nós nos curvamos e aceitamos os cumprimentos de Chitanda. Naturalmente, ela presidia a reunião, sendo a Presidente do Clube.

— Vamos confirmar o motivo dessa reunião. Tudo começou com uma lembrança minha. Quando descobrimos o ensaio de antologia "Hyouka", percebi que estava relacionado ao que aconteceu com o Clube de Clássicos, há 33 anos. O propósito dessa reunião é especular sobre o que aconteceu naquela época. Além disso, qualquer fato confirmado será usado como material para o ensaio de antologia do Clube de Clássicos deste ano.

Ibara, que estava principalmente interessada no design da ilustração da capa, não parecia discordar da proclamação de Chitanda. Talvez, ela tenha percebido que havia algo relacionado ao incidente, ou Chitanda já havia informado a ela sobre isso.

— Durante a semana passada, coletamos todo tipo de material para esta pesquisa e, posteriormente, devemos relatar o que encontramos e especular sobre o incidente de 33 anos atrás. Em seguida, reuniremos nossas descobertas e chegaremos a uma conclusão o mais precisa e aceitável possível.

Espere um momento. Era esse o propósito da reunião? Lembro-me de Chitanda apenas nos dizendo para trazer qualquer material que pudéssemos encontrar. Não me recordo de nada sobre chegar a uma conclusão... Mas como Satoshi e Ibara não pareciam surpresos, talvez eu não estivesse prestando atenção. Droga, vou ter que me adaptar, mas meu estômago ainda estava ruim.

Sem ter uma agenda consigo, Chitanda olhou para cada um de nós e explicou suavemente.

— Vamos relatar nossas descobertas em turnos, seguidos por perguntas dos outros membros, estabelecer uma hipótese e revisá-la. Fazer perguntas durante o relatório é proibido... isso evita que nos percamos em nossas palavras. Então, vamos ouvir o primeiro relatório.

Ela realmente era uma boa presidente. Talvez ela tivesse talento para esse tipo de coisa.

Não, ela me disse que era o tipo de pessoa que buscava entender o sistema como um todo, então não era surpresa que fosse tão bem versada em regras para presidir reuniões.

— Podemos ouvir o primeiro relatório...?

— Chi-chan, quem vai apresentar o primeiro relatório mesmo?

— Hmm, quem deveria ser?

... E aí ela solta algo estranho assim. Fico me perguntando se ela é fácil de decifrar ou se sua organização se limita apenas às ações. Falei com a Chitanda, que estava meio atrapalhada.

— Tanto faz quem seja. Que tal começar você?

Normalmente, é a presidente quem começa a falar, não é? Não é como se Chitanda não fosse relatar nada. E já que ela decidiu a forma como vamos relatar, ela pode começar para que as coisas fluam sem problemas. Ela concordou e disse.

— Ah, você está certo. Tudo bem, então... vamos relatar um por um, em sentido horário, começando por mim.

Ela começou distribuindo suas anotações enquanto falava.

Uma rápida olhada me disse que aquilo era a fonte de sua investigação, o prefácio do "Hyouka: Volume 2". Entendo, então ela está começando desde o início, né? Embora isso não parecesse seu estilo habitual. Li novamente o parágrafo, que já havia visto.

Prefácio 

E assim, temos outro Festival Cultural este ano. Já faz um ano desde que o Senpai Sekitani nos deixou. Durante esse ano, Senpai se tornou uma lenda, um herói. E, como resultado, os cinco dias do Festival Cultural começarão como de costume. No entanto, enquanto a lenda se espalhava, eu refletia profundamente: Será que daqui a dez anos, as pessoas ainda se lembrarão do guerreiro silencioso e do herói gentil?

Tudo o que o Senpai deixou para trás foi esta antologia "Hyouka", para a qual ele forneceu o título. Como um sacrifício do conflito, mesmo o sorriso do Senpai desapareceria ao longo do tempo, levado para a eternidade.

Não, talvez seja melhor se não nos lembrarmos disso. Afinal, essa não era para ser uma história heroica. Quando a subjetividade é removida, essa história se tornará um clássico que transcende todas as perspectivas históricas. Chegará o dia em que nossas histórias se tornarão um clássico para alguém no futuro?

13 de Outubro de 1968, Kooriyama Youko.

Após limpar a garganta, Chitanda começou a explicar.

— Isso foi retirado do ensaio de antologia "Hyouka". Para determinar quais tipos de artigos o "Hyouka" publicava anualmente, seria necessário ler esse prefácio e descobrir que tipo de tópicos ele abordava. Infelizmente, tendo isso em mente, esse parágrafo era a única menção ao incidente de 33 anos atrás. Talvez haja mais informações em outros lugares, mas não temos o primeiro volume... De qualquer forma, resumi os principais pontos desse prefácio nessas anotações aqui.

Ela então distribuiu cópias da segunda página.

O Senpai partiu. (De onde?)

O Senpai se tornou um herói há 33 anos e se tornou uma lenda no ano seguinte.

O Senpai era um "guerreiro silencioso" e um "herói gentil".

O Senpai nomeou essa antologia de "Hyouka".

Um conflito ocorreu e sacrifícios foram feitos (Senpai = sacrifício?)

— Uau.

Isso foi realmente curto e direto ao ponto. Não pude deixar de suspirar maravilhado, mas pensando bem, embora Chitanda fosse a personificação da curiosidade em si, ela também era uma estudante dedicada. Se ela não soubesse como resumir as coisas, não conseguiria notas tão altas.

Após verificar se todos haviam lido suas anotações, Chitanda prosseguiu com sua explicação.

— Primeiro de tudo, esse "Senpai", ou seja, meu tio, deixou o Colégio Kamiyama. Ele estudou até a 8ª série. Espero que todos estejam acompanhando. Embora esta seja a primeira vez que menciono que Sekitani Jun deixou a escola, não é surpreendente, considerando a frase de abertura do prefácio: "...desde que Sekitani-senpai nos deixou".

No entanto, Chitanda provavelmente não sabe o motivo pelo qual seu tio deixou a escola. Na verdade, tenho certeza de que ela não sabe, pois teria mencionado se soubesse. Durante nossa visita ao Café, ela mencionou que as famílias Sekitani e Chitanda se tornaram estranhas.

— Em segundo lugar, o prefácio enfatiza a passagem do tempo. O terceiro ponto é interessante; embora mencione o "Senpai" como gentil e silencioso, ele também é descrito como um "guerreiro" e um "herói". Pelo que ele estava lutando? O quinto ponto afirma que o "Senpai" se envolveu em algum conflito, tornou-se um herói e foi sacrificado por isso. Quanto ao quarto ponto... embora eu tenha curiosidade sobre ele, por enquanto ele não é relevante para o problema atual. Isso conclui a minha pesquisa. Alguém tem alguma pergunta?

Como nada parecia fora do comum, não tinha muitas perguntas para fazer. Embora seja normal para nosso excêntrico Satoshi levantar a mão durante as aulas, em uma reunião como essa, onde há poucas pessoas e todos se conhecem, ele não viu motivo para fazê-lo. Então foi Ibara quem começou a fazer perguntas imediatamente.

— Hmm, e quanto a essa frase "Já que esse não era para ser um conto heroico", por que não considerá-la?

Satoshi já sabia a resposta, mas, mesmo assim, guardou suas palavras e olhou para mim, mostrando sua boa educação ao não interromper Chitanda enquanto ela respondia. Chitanda prontamente respondeu.

— Essa frase é apenas a visão pessoal de alguém sobre a situação. Pessoas diferentes podem ter diferentes interpretações do que significa um conto heroico.

Após esperar que Chitanda terminasse sua explicação, Satoshi acrescentou.

— Isso provavelmente significa que não foi tão romântico quanto um conto heroico, mas algo mais como uma batalha suja. Então acho que não é apenas uma visão pessoal.

Ibara pareceu convencida, de alguma forma. Não houve mais perguntas.

— Agora, vou começar minha hipótese.

Chitanda não soava nem confiante, nem insegura — apenas estava sendo ela mesma. Ela não segurava nenhum tipo de anotação enquanto começava.

— Meu tio parece ter se envolvido em algum tipo de conflito, e depois disso, ele largou a escola. Não tenho certeza absoluta, mas acho que esse conflito foi o que o levou a abandonar os estudos. Há mais um ponto a considerar além dos cinco que mencionei: a frase de abertura "Já faz um ano desde então".

— Em outras palavras, meu tio largou a escola um ano antes do Festival Kanya, ou seja, durante o festival anterior. Ah, e ouvi de uma amiga minha, que estuda na Escola Comercial Kamiyama, que houve um incidente no Festival Cultural deles no ano passado.

Satoshi comentou alegremente.

— A Revolta do Festival Cultural, acho que era assim que chamavam. Barracas foram ameaçadas e o dinheiro das vendas sumiu.

Chitanda assentiu.

— Existe um ditado que diz que, enquanto houver um sistema, existirão entidades que vão contra ele. Seja o Festival Cultural, o Festival Esportivo ou a Cerimônia de Graduação, sempre há quem se oponha a esses chamados "eventos anuais". Mais uma coisa, por favor, deem uma olhada na página 24 do Manual do Estudante da Kami High.

Apesar do pedido dela, ninguém conseguiu pegar o manual. E isso era de se esperar — quem realmente anda com esse tipo de coisa o tempo todo?

— Aconteceu algo?

— Infelizmente deixamos os manuais em casa. Então, o que estava escrito lá?

— Será que vocês não carregam o manual com vocês o tempo todo? Ah, deixa pra lá. Hm, aqui está o que está escrito: "Comportamento violento é estritamente proibido". Então, essa é a minha teoria.

Sem mudar o tom de voz, Chitanda continuou.

— Houve um distúrbio infeliz durante o Festival Kanya daquele ano, e pode ser que meu tio tenha reagido com força física. Embora ele possa ter se tornado um herói, teve que arcar com a responsabilidade por recorrer à violência. O resultado trágico disso foi que seus veteranos escreveram uma espécie de homenagem pela sua saída.

— Hmm — dissemos Satoshi e eu ao mesmo tempo.

— Não, isso está descartado — acrescentei rapidamente.

— Desculpe, Chitanda — disse Ibara, virando-se para nós e questionando o que estávamos pensando.

— A teoria está errada? Por favor, me diga o motivo — disse Chitanda calmamente, olhando para mim com seriedade. Eu simplesmente dei de ombros e respondi.

— Você mencionou que pessoas se opõem ao sistema e causaram tumulto no Festival Cultural. Mas para isso, as barracas precisariam ter grandes lucros nas vendas para atrair alguém que queira roubá-los. Aliás, você se lembra do que eu disse quando você sugeriu que publicássemos uma antologia?

Chitanda inclinou a cabeça lentamente, pensando.

— Você disse que seria um trabalho muito cansativo.

— Não, não é isso. Outra coisa — insisti.

— Outra coisa? Hmm... você também mencionou alternativas para publicar, como...

Finalmente, ela estava chegando ao ponto. Ela juntou as palmas das mãos em frente ao peito e continuou.

— Fazer uma tenda de exibição, e eu disse...

— Você disse que as tendas de exibição são tradicionalmente proibidas. Eu me lembro bem disso. Se for o caso, então não haveria lugar para ganhar dinheiro no Festival Kanya. Você acha que as pessoas encontrariam algo valioso para roubar em um evento assim?

Chitanda inclinou a cabeça intimamente, como se não estivesse convencida com o argumento, e disse.

— Mas há uma possibilidade.

— Qual?

— Embora não haja valor monetário, acredito que possa haver valor em outras áreas.

Ugh. ...bem, ela tem um ponto. Se ela colocar desse jeito, não há nada que eu possa dizer. Satoshi gargalhou.

— Você está desesperado, Houtarou. Você não pode convencer a Chitanda-san assim.

— É mesmo? E o que você tem?

— Algo que eu sei que pelo menos não vai ser recusado.

Então Satoshi fingiu limpar sua garganta e começou.

"Enquanto houver um sistema, haverá entidades que irão contra ele"; essa é uma maneira interessante de colocar isso, Chitanda-san. Essa é a verdade mais provável. Mas, a forma de resistência também depende do clima da época. Embora seja verdade que ocorrem incidentes durante alguns Festivais Culturais, na maioria das vezes, os agressores estão agindo por algum ganho material. Mas isso não quer dizer que não haja distúrbios em que o objetivo não seja algo material. Você tem que lembrar que isso foi há 33 anos atrás, então sugerir que ganho material foi o motivo do distúrbio é quase impossível.

A tendência do momento? Um estilo de resistência?

O que ele está tentando dizer? Eu sinto que ele está guardando algo na sua manga. O mesmo aconteceu com Ibara e Chitanda, que estavam parecendo perplexas.

— Do que você está falando? — Ibara induziu Satoshi a continuar quando ele estava assumindo um ar de importância enquanto não dizia nada. Ele assentiu e disse, satisfeito.

— Você provavelmente não vai pegar se eu disser 33 anos atrás, mas e se eu usar o termo "anos 60"?

Satoshi parecia bem triunfante. Normalmente, eu não iria desperdiçar tanta energia apenas para competir com ele em quem adquiriu mais conhecimento, mas é muito deprimente vê-lo tão bem-humorado enquanto fica se gabando. Infelizmente, eu não era muito familiar com história.

— E agora, Mayaka? Você tem alguma ideia agora? — Ibara provavelmente não fazia nem ideia. Ela fez uma pose de "desisto" enquanto juntava seus punhos.

— Desculpe Fuku-chan. Eu não consigo pensar em nada.

— Sério? E que tal o Prédio da Dieta Nacional em Tokyo? ...Ainda querem mais pistas? Cartazes e demonstração ajudam um pouco? ...Eu estou falando do movimento estudantil.

— Hã?

Nós ficamos desnorteados. Embora eu estivesse pensando em que tipo de brincadeira ele estava puxando, Satoshi não parecia estar nem um pouco depressivo. Então eu brinquei um pouco.

— Satoshi, por que de repente nós começamos a ter uma palestra de História Japonesa Moderna? Se você queria fazer um quiz conosco, nós poderíamos fazer isso depois que lidarmos com esse problema.

Ainda assim, Satoshi manteve uma expressão séria e disse.

— Bem, eu estou lidando com o problema. Ouçam, de acordo com a teoria da Chitanda-san, o tipo de violência no campus que ela mencionou era bem comum durante os anos 60. Era um tempo onde conflitos existiam em abundância para os movimentos pró-estabelecimento ou anti-estabelecimento, então talvez alguém tenha usado isso de exemplo e imitou suas ações. Isso não foi um simples boom.

— Não fale como se você tivesse presenciado isso.

— Como eu disse, eu estive pesquisando esse período há algum tempo.

Satoshi me lançou o seu comum e aparentemente invencível sorriso.

Hmm, mesmo sem a breve aula do Satoshi de História Moderna, eu meio que entendi. Não era incomum acontecer algum tipo de incidente durante o Festival Cultural de 33 anos atrás. Embora eu não tenha como descobrir se isso é verdade sem algum tipo de habilidade investigativa (não que eu me importe), mas deixando as brincadeiras do Satoshi de lado, tal teoria não é impossível.

— Hmm, entendo... É verdade que eu não levei em consideração os eventos contemporâneos...

Chitanda parecia estar abalada por ter sido atacada por Satoshi em seus pontos fracos. Sua teoria estava agora como uma vela no vento. Dito isso, Ibara disse entusiasmadamente, em apoio a Chitanda.

— Chi-chan, me desculpe.

— Se desculpar pelo quê?

— Eu tenho medo que a sua teoria seja derrubada após eu reportar o que eu encontrei. Eu sou a próxima, então se possível, eu gostaria de continuar de onde você parou...

Para ser honesto, eu estava um pouco irritado. Por que você Ibara, por que você teve que falar desnecessariamente? Ainda assim, Chitanda sorriu gentilmente e disse.

— Não, afinal a minha teoria estava imprópria após fazermos a revisão.

Uma atitude respeitável.

— De qualquer jeito, eu devo retirar a minha hipótese por enquanto. Agora, vamos ouvir a Ibara-san, todos concordam?

Ninguém discordou. Foi uma decisão sensata ter a Chitanda como a nossa Presidente.

Como a Chitanda descartou sua própria teoria, agora era a vez da Ibara insistir que tal teoria estava correta. Sendo uma pessoa prudente, Ibara iria provavelmente falar de uma forma fácil de se entender.

— Bem então, por favor comece, Ibara-san.

As cópias que Ibara nos entregou, como eu posso dizer, elas estavam escritas em um estilo completamente diferente do que seria fácil de se compreender. A fonte e a tipografia pareciam presunçosas, enquanto as palavras eram complicadas de se ler, com sua falta de curvas. Na folha B5, estavam escritas as seguintes palavras:

Em outras palavras, nós, as Massas, somos capazes de continuar com a nossa independência e atividades Anti-Burocracia sem obstruções. Embora isso não significasse sucumbir à violência.

Apesar da Grande Contenda que ocorreu Junho passado, graças ao presidente do Clube de Clássicos, Sekitani Jun, e sua ajuda heroica ao nosso pragmatismo audacioso, a visão dos Poderes Constituídos os fazendo de bobo, assim como seus cálculos saindo pela culatra, permanecem nas nossas memórias.

— Essa era uma das antigas antologias do Clube de Estudos de Manga. É intitulada de "Saudações e União: Volume 1", embora eles tenham publicado apenas 2 volumes. Assim como o livro da Chi-chan, esse também foi publicado 32 anos atrás. Eu estava pensando que se "Hyouka" fez uma menção a aquele incidente, então eu poderia encontrar algo sobre isso fazendo uma pesquisa na biblioteca. Como esperado, não existem muitos clubes que perduram por mais de 30 ou 40 anos. No começo, eu achei que não seria possível que o Clube de Estudos de Mangas tivesse existido a tanto tempo, mas aconteceu de eu apenas esbarrar com isso... incrível, não?

Eu não sei se o fato dela ter descoberto essa antologia era incrível ou se essa antologia em si era incrível. "Saudações e União" ...esse era o tipo de título que eles usavam antigamente? Isso, de alguma forma, soa suspeito. E o estilo de prosa que eles usavam! Isso parece mais como algo que o Clube de Clássicos deveria usar.

Por outro lado, agora estava claro o motivo da teoria da Chitanda ter sido derrubada. Simplificando, o Festival Cultural do Colégio Kamiyama acontece todo mês de Outubro, mas essa passagem menciona que o incidente ocorreu em Junho. Entendo, então esse foi o motivo pelo qual a teoria foi rejeitada.

Ibara tirou uma agenda de anotações do bolso de seu uniforme e continuou.

Ibara tirou um caderno de anotações estilo universitário do bolso do uniforme e continuou.

— Desculpa, eu não escrevi nenhum resumo como a Chi-chan fez, então vou só falar em voz alta mesmo. Primeiro: "nós, as Massas" foi acusado de ser anti-establishment. Aconteceu um tal de conteva em junho do ano anterior. Eles foram ajudados por Sekitani Jun e recorreram a um certo tipo de pragmatismo por causa disso. Isso acabou causando problemas para os Poderosos. O resto do texto pode até ser interessante, mas não parece ter mais nada realmente relevante sobre o incidente.

Eu não tinha objeções ao que ela disse, mas... o que diabos é um conteva?

Revirei meu vocabulário mental em busca de alguma pista, mas não encontrei nada. Também, não que meu vocabulário fosse grande coisa pra começo de conversa.

Enquanto eu estava ocupado me perguntando o que conteva significa, Chitanda continuou com a reunião;

— Acabou o seu relatório?

— Sim.

— E então, alguma pergunta?

Eu instantaneamente perguntei.

— O que significa conteva?

Satoshi então me perguntou, logo depois disso.

— O que é um conteva, afinal?

Por que logo você? Eu pensei que você deveria saber. Ele então, pegou a minha cópia de Saudações e União e apontou a palavra para mim.

— Ela disse isso, "contenda".

Então ele sabe o que isso significa. Sem olhar para a cópia que eu tinha, ele continuou sem demora.

— Isso deve ser lido como "conteNDA", como em "armaram uma contenda", um grande conflito.

Ainda assim, Satoshi não parecia estar me ensinando nada. Enquanto me olhava, ele soava mais como se estivesse me criticando arduamente por errar a pronúncia daquela palavra, e eu também percebi que ele estava me usando como um meio de corrigir a Ibara. Apesar dele ser habilidoso ou não em fazer isso, Satoshi consegue ser bem atencioso. Embora eu não tivesse a intenção de encorajá-lo, eu ainda persisti.

— Bem, embora eu tenha apenas 15 anos de esforço em vocabulário, eu nunca tinha visto tal palavra ser usada antes.

— É claro. Normalmente as palavras "conflito" e "discussão" seriam usadas, apesar de parecer que "contenda" era uma palavra muito popular antigamente. Nós ainda vemos tais palavras sendo usadas atualmente, mas em sua maioria, por Yakuzas.

Entendo, agora que ele mencionou isso... palavras como "exaurido" para representar "alguém que está fatigado". Se usadas, soam antigas e elegantes, ainda que não muito.

Satoshi então limpou sua garganta de forma barulhenta e adicionou.

— Mas essa antologia, isso se parece mais com uma imitação.

Ibara reagiu na hora, com uma voz irritada.

— O que você quis dizer com "imitação"?

Uma vez que questionado assim, Satoshi deu um gemido baixinho. Ele normalmente era confiante com seus blefes, mas era raro vê-lo assim tão encrencado, enquanto respondia de mansinho.

— Não, eu não estou dizendo que o seu material é falso. É claro que não é! Hmm, como eu posso dizer? Basicamente, o autor dessa passagem não tomou parte em nenhuma ação que seja. Ele é do tipo que veria alguém espetacular no jogo de algum esporte do colégio e escreveria sobre o quão impressionante aquela pessoa era, e foi assim que isso foi escrito. Mas isso não é falso, isso é...

— Então, o que foi aquilo? — Eu perguntei.

— Ah, nada. Apenas a minha imaginação. Me desculpe por isso. Chitanda-san, podemos continuar?

A presidente assentiu e todos concordaram.

— E agora, há mais alguma pergunta?

Parecia que ninguém tinha mais nada para perguntar. Quando ela estava prestes a enunciar a sua teoria, Ibara pareceu levemente nervosa, enquanto procurava freneticamente por suas anotações.

— Hmm, certo, aqui está a minha hipótese. Embora isso deva rejeitar a teoria da Chi-chan, vocês vão conseguir entender tudo na primeira vez que ouvirem.

Todos nós permanecemos em silêncio, já que estávamos de acordo. Já que junho e outubro estavam mesmo muito distantes.

— Então, o autor mencionou como o Pragmatismo fez os planos dos Poderes Constituídos saírem pela culatra. O resultado foi a expulsão do Presidente do Clube de Clássicos, como mencionado em "Hyouka". Agora, o que foi essa ação pragmática que foi feita que justificou a sua expulsão? ...a minha visão aqui é a mesma que a da Chi-cha. Em outras palavras, violência. Se isso foi recente, então talvez tenha envolvido alguma coisa como a quebra dos vidros, mas Fuku-chan provavelmente deve ter algo para dizer sobre isso. As vítimas deviam ser os Poderes Constituídos. Já que o anti-establishment… bem, isso é algo que eu ouço frequentemente, eram contra o governo. Então, algo assim. O resto é simples, o Presidente do Clube de Clássicos os liderou e eles confrontaram os professores, e então...

Ela balançou seu punho levemente e imitou um soco.

— Pow, bateu neles. Embora nós não saibamos se eles foram atacados ou não, eles provavelmente fizeram algo similar. É claro, não é como se eles quisessem fazer isso. O primeiro parágrafo que eu destaquei é importante. Basicamente o que isso quer enfatizar é a independência deles. Por alguma razão, 33 anos atrás, essa independência foi ameaçada, e para defendê-la, o Presidente do Clube de Clássicos não teve escolha a não ser resistir com violência.

Ibara terminou, fechando sua agenda e olhando para todos os presentes.

— Hmm... Isso me soa frustrante.

A presidente, que era esperado que digerisse o que ela havia ouvido, disse seus pensamentos em voz alta. Eu assenti e concordei.

— Frustrante? Por quê? — Perguntou Ibara.

— Ibara-san, o seu ponto principal gira em torno de como os professores ameaçaram o modo de viver dos estudantes, e que isso os levou a resistir a tal ameaça com violência, certo? — respondeu Chitanda.

Ibara pensou um pouco, antes de responder.

— É, isso mesmo.

— No entanto, como eu poderia dizer… embora eu tenha entendido algumas partes, no geral, eu quase não entendi.

Embora eu tenha entendido algo do que você está dizendo, no geral, eu quase não entendi o que você quis dizer. Mas mesmo assim, isso não foi completamente incompreensível. Ela está, basicamente, dizendo que a teoria da Ibara não era muito persuasiva. Eu fiz uma adição à resposta da Chitanda.

— A sua teoria é um pouco abstrata. Além disso, você poderia simplesmente ter digitalizado a passagem.

— Você está certo. Na verdade, é algo assim, mas… — Embora ela tenha admitido, Ibara não recuou completamente. — Espere, você quer dizer que há uma contradição?

Parece que ela quer defender a sua teoria mais do que a Chitanda queria. Infelizmente, eu notei uma contradição.

— Sim.

Eu disse com uma postura ereta. Isso não tinha nada a ver com a atmosfera tensa de contradizer uma pessoa, é só que meu pé estava ficando dormente, isso é tudo.

— Simplificando, você mesma rejeitou a teoria da Chitanda de que, em vez do Festival Cultural em Outubro, o incidente aconteceu em Junho. No entanto, se nós acreditamos em ambos "Hyouka" e o "Saudações e União", então o incidente deveria ter acontecido em Junho, enquanto a expulsão deve ter ocorrido durante o Festival Cultural em Outubro. Mas a teoria da Chitanda não faz menção a isso. E você não achou estranho alguém esperar quatro meses para ser expulso após se envolver em um incidente violento?

Seria uma história diferente se o seu caso estivesse pendente durante esse tempo, eu adicionei em minha mente.

— Mas isso é... — Ibara retrucou, mesmo parecendo que ela havia entendido. — Pode ser que "Hyouka" interpretou isso errado. O "Saudações e União" claramente menciona o mês de Junho, enquanto "Hyouka" meramente diz "Já faz um ano". O incidente aconteceu em Junho, seguido pela expulsão no mesmo mês, enquanto o Festival Cultural em Outubro. Isso não soa tão sem sentido, soa?

Uma lacuna de quatro meses? Isso soa como uma das respostas forçadas da Ibara. Enquanto eu estava hesitando, Chitanda e Satoshi deram suas opiniões sobre a teoria, respectivamente.

— Eu acho que não podemos ignorar um intervalo de tempo tão grande.

— Eu também. Afinal, o "Festival Cultural" foi mencionado antes da sentença "Já faz um ano", então eu acho que a expulsão ocorreu em Outubro.

Enquanto meu silêncio concordava, os outros dois expressaram seus argumentos. Três contra um. Ibara fez uma cara descontente.

— Ughhh, vocês são tão exigentes com os detalhes.

Apesar dessa reação fofa não se encaixar exatamente em seu estilo, isso ajudou a aliviar um pouco o clima tenso. Satoshi tentou amaciar as coisas dizendo de forma casual.

— Mas pelo menos, a forma como você conduziu foi boa, eu acho.

Chitanda também quebrou seu olhar extremamente sério e sorriu em concordância.

— De fato. Revisões não precisam ser tão radicais.

Acho que eu também penso assim. Como posso dizer... era como olhar um mapa em meio a um labirinto coberto de névoa, ou sentir frustração porque algo não saiu como o planejado.

Se apenas "Hyouka" e "Saudações e União" fossem levados em conta, então a teoria da Ibara provavelmente não pareceria tão limitada.

Tudo o que restava agora eram os dados do Satoshi e eu encerrando tudo. E, se alguma contradição grave aparecesse, tudo o que eu precisava fazer era encontrar uma solução antes da minha vez chegar.

Parando para pensar nisso, afinal, onde estão as minhas anotações? Tudo que eu sabia era que nós deveríamos reunir as anotações, mas eu acabei nem lendo as minhas.

— Bem, isso encerra a minha vez, certo?

Chitanda assentiu. Seguindo o sentido do relógio, o próximo deveria ser o Satoshi. Assim que Chitanda sugeriu, Satoshi começou a distribuir suas notas. Ele então parou de repente e disse alegremente.

— Ah sim, eu esqueci de mencionar. Algumas das minhas anotações derrubam a hipótese da Mayaka.

As cópias que nós recebemos eram cópias do "Colégio Kami Mensal". Isso me lembra… Toogaito havia dito que eles estavam perto da sua 400ª edição. Se eles publicam em média dez edições por ano, então isso significa que eles estão aí pelos últimos 40 anos. Eu deveria ter imaginado que eles deveriam ter uma edição de 33 anos atrás... um dos artigos estava destacado, com um círculo em sua volta.

Apenas uma pequena seção da cópia era relevante para o que estávamos discutindo, mas isso era claramente o suficiente para desaprovar a teoria da Ibara. Essa era a base da confiança de Satoshi quando ele disse aquilo. Talvez ele estava tentando manter a consideração por quem estava falando... dando uma rápida olhada em Ibara, ela revelou um tipo de expressão que não era nem feliz nem triste. Isso era esperado, quando Satoshi começou seu discurso comentando sua teoria, e não a de Chitanda. Apesar dele estar apenas imitando a Ibara quando ele disse que as suas anotações derrubavam a hipótese anterior. Naturalmente, essa foi mais uma de suas brincadeiras casuais.

Após as confusões no Bloco de Propósitos Especiais na semana passada, que deixou uma mancha nos honrados e orgulhosos clubes relacionados à arte do Colégio Kamiyama, dois dos agressores foram suspensos, com outros cinco levando sérios avisos.

É claro, existe honra até mesmo entre os ladrões. O Clube de Filmagens disse que eles não vão apenas sentar e aceitar essa punição rigorosa, enquanto o Clube de Fotografia insistiu que eles estavam certos 100% do tempo. Embora esse papel não deva ir tão longe para proclamar isso.

O problema é que esse conflito foi resolvido com os punhos. Ignorando os esforços para resolver isso através do diálogo, certas pessoas de pensamento extremista decidiram pegar o caminho fácil e patético da violência.

Nós exigimos que os membros do terceiro ano do Clube de Filmagens se arrependam da sua falta de noção ao bater em Sachimura Yukiko-san (Novo Clube de Teatro, Classe 1-D), que estava agindo como mediador durante as negociações. Atualmente, quando isso está sendo publicado, Sachimura-san está hospitalizado.

Os lendários movimentos de dois anos atrás não precisaram recorrer a tal violência. Apesar de todos nós estarmos furiosos com o que aconteceu anteriormente, não podemos permitir que isso quebre a nossa solidariedade, e nós devemos perseverar com a nossa desobediência civil. Só então poderemos viver conscientes de que estamos vivendo de acordo com a nossa tradição e honra.

Satoshi começou a explicar com uma cara calma.

— Minhas descobertas vêm dessa edição do "Colégio Kami Mensal". Eu esbarrei nela enquanto ela estava hibernando nos arquivos da biblioteca, então eu decidi lê-la para matar o tempo, após a escola. No entanto, isso não faz menção direta ao incidente de 33 anos atrás, e isso é tudo que é dito sobre esse evento. Para ser honesto, eu acho que nós estamos apenas andando em círculos com essa peça aqui. Embora isso seja chamado de edição anterior, apenas metade disso está legível, já que isso foi pobremente preservado. Isso tem todo tipo de anotação escrita sobre ele com marcadores, assim não dá. Enfim, aqui estão os pontos principais.

O incidente não foi resolvido com violência. 

O incidente afetou a escola inteira. 

No meio do incidente, nós nos tornamos unidos. 

A desobediência civil foi observada durante o incidente.

— O primeiro e o último ponto talvez sejam contraditórios, mas eles estão relatando a mesma coisa. Já que o incidente não foi resolvido com violência, essa é a parte onde a teoria da Mayaka precisa ser corrigida. Os dois do meio são praticamente idênticos. Apesar de não ser completamente certo que o "nós" aqui represente a escola inteira, é seguro assumir que isso não tenha muita importância.

Sério...? Eu não estava completamente satisfeito com essa explicação. Como se estivesse sentindo isso, Satoshi adicionou.

— Colocando dessa forma. Se "nós" significa a escola inteira, então naturalmente, todo o corpo estudantil estava envolvido. Se isso não aconteceu, isso ainda significa que "nós" decidimos manter uma área segura de tudo o que estava em jogo. Estou certo?

Entendo.

— Isso encerra o meu relato. Alguma pergunta?

Um silêncio se seguiu. Chitanda perguntou de novo apenas por segurança.

— Alguém tem alguma pergunta? 

Ah sim. Enquanto pensava em algo, eu levantei a minha mão.

— Satoshi, esse "movimento lendário" mencionado aqui, ele é algo completamente diferente do incidente que nós estamos investigando? É um pouco estranho ler apenas essa cópia.

Eu estava apenas perguntando para confirmar algo. Como eu havia previsto, Satoshi balançou sua cabeça.

— Não sei. Não há evidência que diga se esse é o incidente que nós estamos procurando.

— Não sei, você diz...

Embora ele parecesse calmo, sua resposta foi imprudente. Apesar de sua lógica ser profunda e abundante, ele pode ser bem indiferente em como usá-la...

— Então, a sua informação é bem inútil.

— Realmente, eu também acho.

— O que você quer dizer com "também acho"!?

Ibara nos interrompeu.

— Há uma evidência que sustenta isso.

— Sério?

— O incidente que nós estamos procurando causou um grande alvoroço, certo? Nós sabemos isso pelas antologias dos dois clubes. Esse incidente e o "movimento lendário" são eventos diferentes, já que, mesmo se eles fossem parecidos, um deles é claramente nomeado de "lendário", certo?

Satoshi bateu palmas.

— Ah, isso mesmo. Então esse é o motivo disso ser dito. Você é incrível, Mayaka.

Não, eu não acho que você não tenha pensado nisso antes. Entendo, o que Ibara diz faz sentido. Se nós não temos certeza se os dois são o mesmo, então vamos apenas assumir que eles são diferentes desde o início, desde que o pressuposto seja lógico como a Ibara fez. Aliás, eu não quero desperdiçar as minhas energias indo atrás de tanto problema apenas para olhar uma evidência. Eu balancei a minha mão para mostrar que eu havia aceito a explicação.

Mais nenhuma pergunta foi feita.

— Então, vamos ouvir a sua hipótese.

No entanto, Satoshi sorriu amargamente ao ser questionado.

— Hmm… hipótese, né?

— Tem algo de errado?

— Chitanda-san, eu não quero perturbar a ordem da reunião, mas eu não consegui montar uma teoria ou qualquer coisa do tipo. Embora eu tenha dito que nós faríamos as nossas próprias pesquisas, tudo o que eu achei foi essa antologia... o máximo que eu posso fazer é completar a teoria da Ibara. Afinal...

Eu sabia que o Satoshi ia acabar soltando um de seus lemas: "Bancos de dados não podem chegar a conclusões sozinhos". No fim, Satoshi não tinha feito nenhuma teoria. Acho que isso já era de se esperar, não que eu tivesse muitas expectativas nele.

Embora o problema agora estivesse comigo. Droga, agora eu me arrependo por não ter lido os meus materiais de pesquisa. Eu já tinha uma teoria em mente, então eu ignorei a agitação em meu coração e continuei com a reunião.

— Então, Oreki-san, você pode começar a qualquer momento — disse Chitanda.

Eu assenti e entreguei as cópias, enquanto dava uma rápida olhada em minhas próprias cópias. Assim como o material do Satoshi, minhas cópias em si não continham muitas informações relevantes ao incidente. Elas eram nada mais do que uma lista de fatos; essa foi a informação que eu pesquisei.

1967 - Eventos no Japão e no Mundo:

O Produto Interno Bruto do Japão excedeu 45 trilhões de ienes e se tornou a 3ª maior economia no mundo capitalista. Em 1968, é esperado que ele pule para o 2º lugar, ultrapassando a Alemanha Ocidental.

Um raio acertou um grupo de estudantes do Colégio Fukashi, da Cidade Matsumoto, Prefeitura de Nagano, enquanto eles estavam caminhando no Monte Nishiho, deixando 11 mortos.

Ativismo Estudantil na Universidade Waseda se agrava, com estudantes participando de greves severas.

Eventos no Colégio Kamiyama

Abril: Em um discurso do diretor Eida Tasuku: Nós não devemos nos permitir ser complacentes e nos tornamos uma escola atrasada. A nutrição do talento deve ser do que a escola se trata. O ensino secundário deve ser sobre nutrir talentos para se preparar para o Ensino Superior. Uma mudança em como a escola é administrada é estabelecida.

13 de Junho: O Comitê de Consideração do Festival Cultural — estabelecido após as aulas.

Julho: Tour de Observação na América. (Liderado por Manninbashi-sensei)

13 - 17 de Outubro: Festival Cultural.

31 de Outubro: Festival Esportivo.

15 - 18 de Novembro: Viagem de Campo do 2º ano - Takamatsu, Miyajima e Akiyoshidai.

2 de Dezembro: Em consideração aos recentes acidentes de trânsito, os estudantes foram reunidos, a fim de aumentar a conscientização sobre segurança no trânsito.

12 de Janeiro: O Armazém de Equipamentos Esportivos é parcialmente danificado devido a uma nevasca.

23 - 24 de Janeiro: Curso de Esqui do 1º ano.

— Houtarou, isso seria... — interrompeu Chitanda. Eu respondi com uma expressão azeda.

— Isso, registrado em "Colégio Kamiyama: Caminhando Juntos por 50 anos". Isso é como vocês podem ver...

Vendo a forma como os outros três haviam apresentado seus materiais, se eu fosse imitá-los, eu deveria sumarizar minhas descobertas.

...Mas dificilmente haveria algo para sumarizar.

Afinal, não é como se eu tivesse trazido esse material com muitas ideias na cabeça.

Olhando de outra forma, esse material simplesmente não tem muito significado para tudo isso.

Os próximos poucos momentos foram gastos comigo perdido, sem saber o que fazer a seguir. Já que esse era apenas um pedido de uma estudante do sexo feminino, assim como uma tarefa do clube, eu não conseguia ficar excitado por causa disso. É mais o meu estilo dizer "Desculpe pessoal, eu não consegui pensar em nada" e deixar que Chitanda e Ibara cuidassem do resto. 

Mas, mesmo essa opção era um pouco cinzenta demais para mim.

— Me desculpem. Antes de eu começar, eu preciso ir ao banheiro primeiro.

Chitanda não pôde evitar dar uma risadinha.

— Sim, é claro.

— Você está nervoso? — Satoshi disse como se tentasse me acalmar, mas eu não tinha a intenção de deixá-lo fazer isso. Chitanda se levantou e me mostrou o caminho. Enquanto eu a seguia, eu casualmente coloquei a minha cópia em meu bolso.

Eu comecei a pensar enquanto eu era levado ao enorme banheiro.

Quatro cópias de papel. Quatro materiais diferentes.

E então, o debate que deveria se seguir.

Qual é a resposta que os liga? O que aconteceu 33 anos atrás?

Eu me entreguei aos pensamentos...

E finalmente cheguei a uma conclusão.

*

 

— Desculpe, pessoal. Como eu estava pensando de uma forma diferente, eu não pude criar uma hipótese. Então, eu posso simplesmente pular direto para a parte da conclusão, já que eu sou o último a falar?

Ao ouvir a minha sugestão, Satoshi deu um sorriso malicioso.

— Houtarou, você pensou em algo?

— Pare de ler a minha mente... de qualquer forma, eu vou explicar daqui a pouco.

— Eu... — Chitanda pegou um pouco de ar antes de continuar. — Eu acho que isso será o bastante. Se há alguém que pode criar uma hipótese sem nenhuma contradição, esse alguém é você, Oreki-san.

...

Bem, eu não tenho certeza sobre isso.

— Vamos ouvir a sua teoria, Oreki-san.

— Vai, conta logo pra gente.

— Estou bastante ansiosa, afinal de contas já discutimos bastante sobre isso.

Eles já estão decidindo por conta própria... Embora eu não esteja exatamente sob pressão, é bem difícil falar com tanta gente me encarando. Bom, por onde eu começo? Pensei por um momento e disse.

— Certo, vou usar o bom e velho método dos 5W1H. Quando, onde, quem, por quê, como e o quê... Listei todos, certo?

Chitanda assentiu com a cabeça.

— Ótimo. De qualquer forma, primeiro, o "quando". Sabemos que aconteceu há 33 anos, mas não se sabe se foi em junho ou outubro. Se o "Saudações e União" estiver certo, então foi em junho. Mas, com base na descrição de "Hyouka", parece mais com outubro. No entanto, como ambas as fontes são bem confiáveis, eu diria que o incidente aconteceu em junho, enquanto a desistência do "Senpai" ocorreu em outubro.

Com uma expressão irritada, Ibara levantou as sobrancelhas, já que foi há pouco que eu apontei as contradições na teoria dela. Ignorei e continuei.

— Agora, o "onde". Não há problema em responder isso: no Colégio Kamiyama. "Quem"? Segundo o "Saudações e União" , sabemos que o personagem principal é Sekitani Jun, o presidente do Clube de Classicos. Mas permita-me estender isso um pouco: o personagem principal, na verdade, é todo o corpo estudantil. Sekitani é apenas um entre os muitos protagonistas.

Embora eu tivesse bastante certeza de que não havia cometido nenhum erro até ali, meus olhos às vezes desciam para as anotações enquanto eu falava. Até aqui, tudo bem. Agora vem a parte principal.

"Por quê". Se todos os estudantes estavam em revolta, o adversário natural seria o corpo docente. Citando as palavras da Ibara, a "independência deles estava sendo ameaçada".

— E a causa do incidente foi o próprio Festival Cultural.

Assim que apresentei minha conclusão, senti todos me olhando com olhos cheios de interrogações. Achei que fosse ter um ataque cardíaco a qualquer momento.

— Isso foi mencionado em algum lugar?

— Embora tenha sido mencionado que houve uma desistência durante o Festival Cultural, não diz exatamente o que o festival tem a ver com isso.

Balancei a cabeça.

— Não, tem tudo a ver. Minha conclusão vem de uma conversa que os alunos tiveram com os professores, o que resultou no Festival Cultural acontecendo em outubro como de costume.

Satoshi olhou para o "Colégio Kamiyama: Caminhando Juntos Há 50 Anos" e comentou.

— Você está falando dessa tal "Comissão de Avaliação do Festival Cultural", né? Mas por que acha que isso foi a causa do incidente? Mesmo sem essa comissão, eles ainda fariam o festival anual, não?

— Não, você está enganado. Já que eu tive o trabalho de copiar isso de "Caminhando Juntos Há 50 Anos", deem uma olhada mais de perto.

Além de Satoshi, Chitanda e Ibara também deram uma olhada, e então.

— Cada evento está marcado com um círculo ou quadrado!

— Entendi! Os quadrados indicam eventos regulares, enquanto os círculos marcam eventos específicos daquele ano!

— Você não está tão longe da verdade. Provavelmente encontrará eventos assim que não se encaixam bem com os demais ao longo dos anos.

Então troquei a cópia de "Colégio Kamiyama: Caminhando Juntos Há 50 Anos" pela de "Hyouka" e continuei.

— Por que houve um comitê de consideração para o Festival Cultural há 33 anos? Isso foi uma resposta às fortes exigências dos alunos em relação ao próprio evento. Mas por que os alunos exigiriam a criação de um comitê desses? A pista está em "Hyouka".

Peguei uma caneta esferográfica e sublinhei algumas linhas.

— Aqui: "Durante esse ano, o Senpai virou lenda e se tornou um herói. Como resultado, o Festival Cultural de cinco dias ocorrerá como de costume." Não acham algo estranho nessa frase?

Como ninguém disse nada, continuei.

— Sabíamos que o Festival Cultural aconteceria como sempre, então por que o autor destacaria algo tão trivial? Isso significa que nossa atenção não deve estar em "como de costume", mas sim nas palavras "cinco dias".

— Do que você está falando? Não entendi. Não consigo acompanhar o que está tentando dizer, Oreki. O que tem de mais nessas palavras?

— Estou dizendo que a conquista do Herói foi fazer com que o Festival Cultural continuasse com cinco dias de duração. Vamos voltar para o "Caminhando Juntos Há 50 Anos" e observar o discurso do diretor em abril. Se lermos literalmente, parece apenas uma mensagem incentivando os alunos a se concentrarem nos estudos.

Suspirei e continuei.

— No entanto, quero que leiam nas entrelinhas. O festival da nossa escola ocorre durante os dias de semana. Por cinco dias inteiros. Isso é especialmente longo se comparado com outras escolas. Por isso, o Festival Cultural se tornou um símbolo das atividades dos nossos clubes. E se o diretor estivesse insinuando que os alunos deveriam focar mais nos estudos e menos nas atividades dos clubes...? Isso significaria o encurtamento do Festival Cultural. Mas os alunos não aceitaram isso, e por isso ficaram "enfurecidos". Essa é a causa do incidente — o "porquê".

Notei que estava ficando com sede. Queria um copo de chá de cevada... Mas antes de terminar minha explicação, teria que me contentar com a própria saliva.

— Agora, o "como". "Graças ao apoio heroico do presidente do Clube de Classicos, Sekitani Jun", os alunos adotaram um "pragmatismo ousado". Por fim, o "o quê". Indignados com a decisão da escola, os alunos decidiram seguir uma política de "desobediência civil", sem recorrer à violência. O resultado foi que o Comitê de Consideração do Festival Cultural foi criado e o festival manteve sua duração de cinco dias. Em um sentido estrito, não houve violência envolvida que levasse a esse resultado.

Continuei.

— O mesmo não pode ser dito do contexto geral, no entanto. Não tenho certeza, mas grandes protestos não violentos envolvem coisas como... greves de fome, manifestações e faltas às aulas. Aposto que o Satoshi entende mais disso do que eu. No fim, devido à pressão crescente dos alunos, a escola foi forçada a voltar atrás em sua decisão de reduzir o Festival Cultural. Mas o preço foi que o "Herói" Sekitani Jun teve que deixar a escola.

Adicionei mais uma coisa.

— Quanto ao motivo da diferença de tempo entre o incidente e a saída dele, eu diria que, como Sekitani Jun foi uma figura central no movimento estudantil em junho, se ele saísse da escola naquele momento, causaria ainda mais alvoroço. Por isso, sua saída foi adiada até que a paixão dos alunos se acalmasse, após o Festival Cultural.

Respirei fundo ao terminar a explicação. Ufa. Sentia o calor do verão voltando. Isso encerra praticamente tudo.

Alguém bateu palmas de maneira indiferente. Era Satoshi.

— Uau, isso foi impressionante, Houtarou. Agora entendi.

Ibara começou a recolher suas anotações em silêncio. Apesar de parecer um pouco descontente, esse era só o jeito normal dela. E quanto à Chitanda… Como uma criança animada após ver uma apresentação de circo, nossa senhorita abriu a boca e disse.

— Foi maravilhoso, Oreki-san! Conseguiu chegar a essa conclusão com apenas os materiais que tínhamos aqui... Fico feliz por ter pedido sua ajuda!

Mesmo eu não conseguia evitar de me sentir bem ao ser elogiado. Estava ficando até envergonhado.

Parece que resolvemos o problema da Chitanda e ainda criamos material para nosso próprio artigo da antologia. Desde que conheci Chitanda no fim de abril, todas essas tarefas incômodas finalmente estavam chegando ao fim.

Como presidente, Chitanda precisava continuar seu papel e perguntou.

— Alguém tem mais alguma pergunta?

Como não houve nenhuma, Chitanda assentiu firmemente e concluiu.

— Então, publicaremos nossa antologia este ano com base nas conclusões de Oreki-san. Os detalhes discutiremos outro dia. Por agora, esta reunião está encerrada... Obrigada a todos pelo esforço.

Todos nos despedimos.

Chitanda me acompanhou até a entrada quando fui embora. Pelo seu sorriso, dava para ver o quanto ela estava satisfeita com o que havíamos feito naquele dia.

— Estou profundamente grata.

— Não fui só eu — respondi, calçando os sapatos.

Satoshi, que já tinha saído antes de mim, fazia sinal para que eu me apressasse. Como eu não conhecia bem o caminho, não tive outra escolha senão deixá-lo me guiar para fora.

— Bem, então nos vemos na escola.

— É... até mais...

Acenei com a mão, me despedindo da residência dos Chitanda.

Como eu já tinha ido embora, naturalmente, não fazia ideia do que Chitanda fez depois disso.
Após minha partida, ela permaneceu parada na entrada, com uma expressão como se tivesse acabado de perceber algo. Por isso, não sei o que ela sussurrou para si mesma naquele momento. Provavelmente foi algo....

— Mas... por que eu acabei chorando naquele dia?

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