Volume 1 – Arco 1
Capítulo 3: Demônio Interno
O caos correu solto por toda a cidade, Wagyu seguiu sua perseguição a Kurumi e Chifuyu, entretanto algo tirou sua atenção, olhando para o lado, viu uma quantidade enorme de pessoas. O som de água no chão começou, ficando cada vez mais alto, sendo a baba daquele monstro, arfou faminto para aqueles humanos, e partiu na tal direção.
A situação trouxe um olhar furioso em Toji, ele cerrava os dentes encarando Wagyu. “Bicho inútil, desse jeito eles vão fugir.”
— Segura firme! — Kurumi saltava entre os prédios com Chifuyu em seus braços.
“Merda! Eu preciso acabar com esse cara e esse bicho, eu não sei como ele tá fazendo isso, mas... Parece muito com o daquele loiro babaca.”
“Esse cara também deve ser um assassino... Mas afinal, oque são essas merdas?!”
Sua mente estaria lotada desses pensamentos, quando ele acabava por se encontrar diante de Wagyu.
— Carneeeee! — berrava o monstro, o estômago dele roncava e de sua boca a baba não cessava.
Com aquela visão, Kurumi se preparou pra ir embora, porém um som chamou atiçou seus Instintos, em puro reflexo ele se moveu pro lado, desviando de uma bala.
Os os olhos do garoto olharam na direção do tiro, vendo ninguém menos que Toji.
Ambos não piscavam apenas seguiam se encarando, Kurumi estaria cerrando seus punhos.
— Por que tá fazendo isso, Toji-san?! — Chifuyu indagou.
— Por que? — Ele respondia, cético. — Garota tola, deixe-me me apresentar de uma forma mais formal... Número 4.290 dos Assassinos de Aluguel, "Mestre das Carnes"!
Sua feição era sádica, um enorme sorriso que transbordava sua psicopatia e confiança.
— Eu sabia! — afirmou o garoto.
— Assassino de aluguel? Mas por que quer matar a gente?! —ela indagou, confusa.
— Eu fui contratado. Eu sou especializado em assassinatos culinários, pessoas que querem derrubar algum restaurante por algum motivo, me contratam, porém... — Ele se acalmava um pouco, com alguns restaurantes vindo em sua memória. — Eu acho que não vale a pena destruir um restaurante com comida boa, então eu sempre faço uma avaliação, caso o gosto da comida seja bom, eu faço uma vista grossa, porém aqueles com comida nojenta... Devem ser totalmente eliminados!
Sem dar muito tempo, a pegajosa língua de Wagyu, foi contra os dois, forçando Kurumi a voltar a saltar pra longe.
— Mas quem contrataria um assassino de aluguel pra vocês? — questionou ele.
— O nosso restaurante é bem famoso. — falou Chifuyu, começando a tentar entender a situação. — Quando meu pai abriu, vários outros foram fechados por não conseguirem competir, umas semanas atrás uns outros 3 restaurantes fecharam, algum deles deve ter feito isso! — Ela falava, com tudo ficando mais claro em sua mente.
— Bando de arrombados! — Ele falou, esboçando uma feição brava. — Se eles não conseguem competir a culpa é deles!
Ele seguiu com aquela feição, logo ele soltou Chifuyu, e foi correndo de encontro a Wagyu e Toji, enquanto sua mente se enchia de memórias.
— Ei, cozinheiro de merda! — ele gritou, atiçando-o.
— Cozinhar é coisa de mulher!
— Homens não devem cozinhar, eles devem só comprar a carne!
— Você gosta de cozinhar Kuni?! Hahahaha, que mulherzinha!
Aquilo bateu em sua mente, com as risadas voltando a ecoar sem parar, ele se sentia perdido entre elas.
"Esse tempo todo... Eu estive ao máximo tentando evitar isso, eu reprimi isso, e por que? Só porque os outros me disseram que era errado...?"
— Não! Eu não gosto de cozinhar é só que... Eu queria dizer que eu gosto de ajudar a senhora!
"Chifuyu..."
— As pessoas nunca sabem de nada, elas só dizem oque elas acham estar certo! Todos dizem que eu deveria desistir da culinária, só que eu gosto muito! Então mesmo que eu falhe várias e várias vezes, eu vou seguir tentando, porque eu amo muito isso! Você deveria só fazer o mesmo!
— Fazer oque eu gosto... Sem ligar pros outros?
Kurumi se remoeu nesses pensamentos, pela primeira vez na sua vida, aquelas risadas pararam, tudo em seu ser concordava no que deveria fazer.
— Eu fiz o prato!! — Ele berrava aquilo, portava um olhar confiante, libertando aquele cadeado a tanto tempo trancado.
Aquilo causava uma surpresa em Toji e Chifuyu, com ela ficando pasma.
— Kurumi-kun?...
— Oque disse? — indagou Toji.
— Tá com merda no ouvido?! — questionou. — Eu cozinhei! Eu fiz a receita! Quer punir alguém? Que seja eu!
— Um fedelho... Imundo e mal vestido como você? — disse Toji, com um sorriso e começou a rir com tudo aquilo. — Hahahaha! Não é atoa que estava tão nojenta! Você realmente se acha um chefe?
— Eu não sei, mas eu sei de uma coisa, eu com certeza... Adoro cozinhar! — Ele afirmava tais palavras que lhe eram tão libertadoras. — E você... Pessoas como você me dão nojo!
— Hmm?
— Aquele prato... Era uma refeição feita com amor, o verdadeiro valor de uma refeição está nos sentimentos! —Ele afirmava, com uma feição levemente fria. — Você não consegue sentir eles e invés disso, prefere criticar os outros e desperdiçar comida?! Seu paladar é um lixo e ainda assim se chama de Avaliador?!
Tais palavras acertavam Toji em cheio, como um soco, ele se remoeu cerrando os dentes e com a veia saltando, ele apenas berrava, exalando todos os sentimentos.
— Cale-se! — Ele gritava, já com uma feição totalmente furiosa. — Seu moleque desprovido de bom gosto! Não tem nada que eu odeie mais do que carne ruim! Wagyu! Pode devorar esse moleque!
Wagyu correu até ele e moveu sua língua enroscando Kurumi, o garoto lutava para se soltar, sem sucesso, e logo ele era mandado para o estômago de Wagyu.
— Kurumi-kun! — Chifuyu gritou, caindo no chão em lágrimas.
No interior de Wagyu, Kurumi se debatia para se soltar. “ Merda, então é assim que eu vou morrer?! No estômago de um Demônio bola de carne de um avaliador de comida?!”
Wagyu seguia correndo pelo lado de fora, enquanto seu estomago iria o espremendo.
“Bom, pelo menos eu fico feliz já que eu pude pelo menos afirmar ser um cozinheiro... Espero que na próxima vida eu possa ter uma chance, pois isso definitivamente é oque eu quero, é oque eu sou... Eu não ligo pro que acharem de mim... Não mais!”
Tais pensamentos encheram sua mente, seu corpo começou a vibrar e ele sentia uma estranha sensação, que percorria todo seu corpo, como um formigamento.
— Ainda não está cheio? — indagou Toji, com uma feição de tédio. — Vamos acabar com isso. — Ele afirmava quando abria sua mão como se segurasse algo.
— Contrato! Contratooo!
— Hmmm... — Nisso Toji relutou, seus olhos dilataram um pouco após aquela fala, ele então suspirou.
— Muito bem, vá logo, coma até ficar cheio, aproveite e tire o gosto horrível daquele moleque sujo da sua boca. — Num tom arrogante, ele diria aquilo, com suas pálpebras fechadas.
De repente, ele abria seus olhos, e sua visão foi de encontro a um leve corte que teria em Wagyu. “Hmm? Quando foi isso?”
Os olhos de Toji, por um segundo dilataram, seu corpo por puro instinto se moveu para trás. Uma lâmina surgiu daquele corte e no segundo seguinte, Wagyu teria sido cortado ao meio, um corte totalmente perfeito.
— Mas que merda! — diria Kurumi, estava com uma feição raivosa.
Os olhos de Toji dilatavam, vendo que nas mãos de Kurumi teria uma faca de cozinha.
“Um fardo? Ele conseguiu um Fardo?! Grrrr, não importa! Essa sua faquinha não irá fazer nada! Wagyu!”
Os pedaços de carne de Wagyu se juntaram novamente, se reformando, e se lançando de encontro para com Kurumi. O jovem permaneceu quieto, apenas dando um olhar de relance para aquela abominação, um olhar assassino e psicótico.
Um simples som de cortes seria ouvido, e Wagyu atravessava o corpo de Kurumi, segundos depois se desfez totalmente em milhares de cubos, fatiados de forma precisa e perfeita.
— O-Oque?! Wagyu! — ele balbuciou, com um suor escorrendo de seu rosto, e iria olhando a figura amedrontadora de Kurumi. — S-seu... Seu demônio!
Várias balas foram disparadas contra Kurumi, a fumaça da pistola e aquele som seguiu sem parar, Toji se tremeu bastante, sua mão, mal parava quieta e Kurumi apenas seguiu reto, não mudou sua rota, e seus olhos seguiram da mesma forma, a mesma sede de sangue, um olhar que causou um arrepio na espinha de Toji.
Ele sentia um arrepio estranho, enquanto o garoto agora estaria com as mãos vazias. Sua faca se encontrava ao lado de Toji. Os olhos do homem ficavam exaltados, ele arfava e ficava vidrado chão, com a imagem de seu braço decepado.
— UAAHHHH! — Toji berrava, imerso numa dor, caia de joelhos no chão.
Seu grito foi encerrado de forma forçada, Kurumi teria voltado para perto dele, agora segurando sua língua, enquanto sua outra mão, segurava sua faca.
Toji sentia um arrepio, seu corpo não parava de tremer por um segundo, com até lagrimas, seu corpo tremia de forma surreal.
— Já que seu paladar é tão ruim... Não precisa de língua. — Ele disse, num tom frio.
A língua de Toji saltou, sendo cortado fora por um único corte de Kurumi.
Os olhos e expressão dele eram árticos, suas mãos se encontravam no colarinho do homem, que chorava por misericórdia, quando seria jogado no chão, caindo perto de uma panela onde teria os restos da comida preparada por Chifuyu.
— Coma. — ordenou, mantendo a mesma postura fria.
— Hmm?
— Se não quiser morrer, coma logo! — Ele ordenava cerrando os dentes, podendo ver sua veia saltar. — Eu não ligo se tá sem língua, apenas engole se for preciso, mas coma essa comida! Eu não vou aceitar que um merda como você desperdice comida!
— diria não tirando os olhos dele, o homem apenas se tremia, hesitando. — Tem noção de quanto tempo eu passei sem comer nada?! Pra aí ver um puto que nem você jogar uma refeição fora só porque não tava tão gostosa?! Come tudo antes que eu fatie o seu peito! — Os sentimentos dele o guiaram para dizer tais palavras brutas, mostrando zero de remorso.
Toji chorou se tremendo e comeu a comida. Kurumi levava suas mãos até os bolsos dele, roubando sua carteira e via varias notas de dinheiro.
— Ohhh! 10 milhões de ienes! — disse ele, animado, com uma feição totalmente contrastante a sua anterior, agora com um sorriso puro e um brilho no olhar. — Cê tava podendo, em, seu fudido?! Considere o preço por eu não te matar!
Ele seguiu sorrindo, quando sua vista foi de encontro ao restaurante de Chifuyu, estava em pedaços. Aquela visão o fez suspirar, desapontado.
— Kurumi-kun! — Chifuyu chegou procurando-o, bem preocupada. — Ahh? Kurumi-kun, cadê você?! — A atenção da garota mudou, vendo no chão os 10 milhões, junto de um aviso no chão, feito em sangue.
"Obrigado pela comida"
Aquela visão fez Chifuyu relutar, ficou pensativa por uns instantes, quando logo seus lábios se formaram em um puro sorriso e lagrimas escorriam de seus olhos.
“Obrigada, Kurumi-kun!”
Num ponto diferente, Kurumi perambulava pelos arredores da cidade, estava realizando deslizes de sua faca contra o ar, e a olhando de cima abaixo.
— Ainda não entendi qual é a dessa faca, os cortes dela são incríveis. — Estava a olhando profundamente, cada centímetro dela. — Parece uma Yanagiba. Hmmm, alguns chefes dão nomes pras suas facas pra torná-las únicas, você vai ser... — Ele parou por alguns segundos, pensando, quando abriu os olhos sorriu e estendeu a faca. — Yanagiri!
— Yanagiri? Você poderia ser mais criativo. — Uma voz ao longe diria aquilo.
A feição calma dele se alterou, ele notava no reflexo de sua faca a face daquele homem, Shizan.
— Você despertou um fardo. Acho que isso já te qualifica para aquilo. — Ele colocou a mão no queixo, olhando o garoto de cima abaixo. — Como esperava de você!
— Pronto pra que? — questionou.
— Temos uma divida, lembra? — lembrava Shizan. — Já decidi, sua forma de pagamento, será trabalho braçal, vai trabalhar pra mim por um tempo.
— Até parece... — Sua postura se firmou, com ele ficando frio, segurando forte sua Yanagiri e a colocou contra o pescoço do loiro.
— Relaxa. Não faça nada que vai se arrepender. — Calmamente ele disse. — Não vou ser como seu antigo chefe, eu vou te dar um abrigo com seu próprio quarto, comida, e muito mais, considere isso como um trabalho de moradia, você vai gostar, até porque você não tem muita escolha. — O homem diria aquilo com um sorriso calmo, não retirando os olhos do garoto, mesmo com aquela faca.
Uma certa aura emanava dele, fazendo o jovem relutar. Por fim ele suspirou e sua faca simplesmente sumiu.
— Beleza...
— Ótima decisão! — Ele respondia com um sorriso. — Vamos! Aliás, eu vi o seu showzinho. Não imaginei que gostava de cozinhar, que irônico! — Ele falava dando leves risadas
Kurumi ouviu aquilo e então rosnava.
— Pode criticar se quiser, eu sou um cozinheiro!
— Não tô criticando, só pensando... Seu primeiro nome é Kuni, certo? Se você ler de trás pra frente, consegue ler carne, hahaha! — Ele riu de leve com a coincidência — Hmmm, é isso, a partir de hoje em irei te chamar de "Nikkun".— Nem fudendo! — respondia Kurumi, cerrando os dentes. — Não vou ser chamado assim!
— Eu pago um total de 5.000 ienes da sua dívida por esse apelido. — Ele respondia calmamente, agora silenciando o garoto.
Ambos seguiram andando lado a lado, para longe dali.