Volume 1

Capítulo 16: Investigação

 

Minutos após o fim da transmissão do programa, as autoridades chegaram ao estúdio da emissora.

Enquanto o corpo do dono era ensacado e levado em uma maca, o detetive Tomás e um colega seu interrogaram Frederico.

Houve nada de novo em seu testemunho — nada que a gente já não soubesse. Porém, se teve algo de interessante no diálogo entre eles, foi a admiração e o respeito que demonstraram para com nosso protagonista.

Não somente a polícia, mas também os funcionários da emissora que conversaram com Frederico antes deles chegarem.

Pelo visto, bater de frente com aquele que todos temiam, provocá-lo e, no fim, sair ileso acabou elevando sua moral, kikiki.

Seja como for, ao terminarem o interrogatório, Tomás e seu colega se dirigiram para Agostinho, que estava em um canto mais remoto do local do crime.

Quando Frederico achava que finalmente poderia respirar um pouco, porém, a equipe de cavalheiros veio até ele, furiosos.

Questionaram o porquê dele ter fornecido o seu nome para o Falso Mártir, sendo que nosso protagonista sabia como funcionava o poder do verdadeiro e que havia sido alertado antes para não fazer isso.

E ele, deixando de fora a verdade — que se deixou levar pela emoção e cometeu uma gafe — inventou uma desculpa. 

Argumentou que havia se lembrado de um comentário que o bispo tinha feito, a respeito da espécie do demônio que acompanhava o Falso Mártir, que era diferente do verdadeiro.

Mas a equipe rebateu, dizendo que mesmo assim ele não sabia como o poder desse demônio funcionava, e estranhou o fato dele ter conhecimento a respeito dessa fala de Agostinho, pois ele havia feito esse comentário uma única vez e foi durante um café da manhã onde Frederico não estava presente.

Um bate-boca se iniciou. Enquanto nosso protagonista tentava controlar as feras e contornar a situação, porém, de canto de olho viu o bispo.

Seu semblante estava triste, e parecia que ele estava recebendo uma bronca de Tomás e seu colega.

Logo, quando a dupla de policiais veio interrogar a equipe de cavalheiros, livrando nosso protagonista do sufoco, aproximou-se de Agostinho.

— Com licença, Vossa Excelência Reverendíssima, mas houve alguma coisa? — Frederico se sentou ao seu lado, em uma espécie de caixa ou baú, onde guardavam fios e equipamentos de filmagem.

— Hm? Ah, oi, Reverendíssimo Senhor Padre… — O bispo forçou-se a dar um sorriso. — Nada demais. É só que… o plano deu terrivelmente errado, sabe?

— Deu?! — espantou-se. — Quer dizer então que não conseguimos o número de telefone do Falso Mártir?!?!

— Não… isso nós pegamos. A polícia até levou aquela máquina que estávamos usando, para rastrear de onde veio aquela ligação. O problema mesmo é que… alguém morreu para que isso acontecesse…

Frederico olhou para o bispo e permaneceu em silêncio. Por um instante, não conseguiu deixar de ficar admirado que seu inimigo compartilhava da mesma sensação de derrota que ele tinha.

E, em um momento de fraqueza, consolou-o, dizendo que o plano não havia sido em vão e que sacrifícios eram necessários, se em nome de Deus.

Agostinho o agradeceu, mas discordou do ponto que Frederico trouxe — eram para todos estarem vivos, sem exceção. 

E, no fim, aquela breve chama de empatia pelo inimigo se extinguiu, fazendo-o se lembrar da realidade e da situação em que se encontrava. Tudo não passava de um jogo.

Logo, Frederico mudou de assunto: — Mas, então, Vossa Excelência Reverendíssima, tem uma coisa martelando a minha cabeça, que eu não consigo entender… Como sabia que o Falso Mártir não iria me matar?

— Hm? Ah, isso é simples. Havia pensado em duas hipóteses.

“Primeiro, se o Falso Mártir quisesse matá-lo, já o teria feito, sem nem precisar entrar ao vivo e se expor. 

“Portanto ele não o eliminaria ou por causa do código de conduta do verdadeiro, coisa que havia mencionado anteriormente, ou para que o Reverendíssimo Senhor Padre servisse de símbolo. Usaria o confronto entre os dois para humilhá-lo em público e provar um ponto.

“Segundo, caso Vossa Reverência seja o verdadeiro Mártir e estivesse em conluio com o falso, ele obviamente não o mataria.”

— Hmpf. — Frederico soltou um leve sorriso de zombaria, que facilmente poderia ser interpretado como inocente, e pensou: “Droga, mesmo depois de tudo que eu fiz, esse bispo de quinta categoria continua pensando assim!!!”

Papo foi, papo veio, e no fim, quando todo o interrogatório acabou, os dois se reuniram com a equipe de cavalheiros e a dupla de investigadores.

Trocaram ideias, trocaram informações, e discutiram sobre o fato de que o Falso Mártir tinha um objetivo e que este foi cumprido após conversar com Frederico. O que poderia ser isso?

Logo, Tomás e seu colega se despediram, afirmando que entrariam em contato com Agostinho e sua equipe, para mantê-los informados sobre a progressão da investigação. E cada grupo seguiu o seu caminho.

 

***

 

Dias se passaram até Agostinho de fato receber alguma atualização sobre o caso.

Em uma manhã qualquer, reuniu todos para falar a respeito da conversa que teve com o detetive Tomás. Porém, antes de começar, foi interrompido por um dos cavalheiros.

— Queira me desculpar, Excelentíssimo Senhor, mas está tudo bem falar isso na frente de certas… pessoas? — Ele claramente falava de Frederico, que estava sentado à mesa junto com eles, mas em um canto mais isolado dos demais.

— Com certeza, e mais para frente os senhores entenderão por quê.

A equipe se entreolhou, confusa, mas permaneceu quieta, para ouvir o que o bispo tinha para dizer.

A princípio, por causa do resultado da apreensão do telefone do dono da emissora, a polícia tinha uma localização aproximada de onde a ligação do Falso Mártir foi feita. 

A área era grande demais para ser investigada, porém, graças às gravações da conversa entre Frederico e ele, foi possível ouvir alguns barulhos e ruídos por trás daquela voz misteriosa, que por processo de eliminação deram o local exato onde aquele ser enigmático estava.

No fim, apesar do Falso Mártir não ter vazado informação enquanto discutia com Frederico, tal ação acabou não sendo inútil… kikiki.

— Ah, mas isso é ótimo! — exaltou um dos cavalheiros. — E onde seria o covil de nosso alvo?

— Em um prostíbulo.

— Um… prostíbulo…? — disse um outro membro da equipe, enojado e em um tom decepcionado.

— Sim. O motivo de eu estar compartilhando essa informação com os senhores é porque a polícia chegou a ir a essa localização, conversaram com alguns funcionários, com alguns clientes, mas no fim não conseguiram nada, nenhuma prova forte o suficiente para abrir um inquérito de investigação, que impedisse o funcionamento do estabelecimento.

Toda a equipe ficou cabisbaixa, com uma expressão de derrota no rosto. Frederico fechou o punho com força. Estava prestes a se levantar e verbalizar a sua indignação, quando um cavalheiro fez isso por ele.

— Quer dizer que tudo que fizemos foi em vão!?!?

— Acalme-se, Dimitri, que eu ainda não acabei. Já vou chegar lá.

O Bispo gesticulou para que o membro em questão voltasse a se sentar, e ele se controlou e fez o que lhe foi pedido. Agostinho soltou um suspiro e continuou:

— Mesmo deixando claro que não queria mais ver a gente se arriscando e fazendo outra estupidez como aquela que resultou na morte de alguém… o detetive Tomás disse que não via outra alternativa, que não gostaria de jogar essa chance que ganhou, fora, e pediu que investigássemos por conta própria o prostíbulo. Ele tinha uma breve esperança de que nós o informaríamos caso achássemos pistas que a polícia não viu e, principalmente, caso conversássemos com pessoas que eles não conversaram.

Estranhando essa última citação, Frederico perguntou: — Como quem, exatamente?

— A dona do estabelecimento.

— Hm? Com todo respeito, mas essa não deveria ser a primeira pessoa com quem eles deveriam falar?

— Sim, porém os documentos que a polícia tem dela não possuem foto, só nome e outras informações. E parece que os funcionários e os clientes não sabem exatamente quem ela é, sempre faziam declarações diferentes. A essa altura, Tomás não sabe se as documentações que possui são verdadeiras ou não e, por isso, a considera a principal suspeita de ser o Mártir. O falso, no caso.

Frederico soltou um sorriso otimista, agora tinha uma direção a seguir. — Entendo. Não sei quanto aos demais cavalheiros, mas, como disse antes e venho repetindo, estou à disposição para ajudar na investigação de captura a tudo que envolva o Mártir.

— Agradecido, Reverendíssimo Senhor Padre. É por coisas assim que eu gostaria de anunciar que Vossa Reverência agora é um membro oficial da nossa equipe de investigação.

Os cavalheiros, que antes ainda estavam cabisbaixos, levantaram os rostos em indignação e protestaram contra a decisão do bispo. 

Como Frederico poderia participar do corpo de uma investigação onde ele era o principal suspeito?, era o que diziam. Mas Agostinho debateu todos:

— O Reverendíssimo Senhor Padre pode até ser isso, mas uma coisa que não sou é ingrato. Reconheço seus esforços, mas não percebem que só chegamos onde chegamos graças a Vossa Reverência? Vejam! Mesmo agora, depois de tudo que aconteceu, depois de todos os perigos que enfrentou, o Reverendo Padre deu a cara à tapa mais uma vez e, antes dos senhores sequer se pronunciarem, ofereceu ajuda. Então, ainda duvidam da minha escolha?

A equipe se entreolhou, mas permaneceu em silêncio. A indignação se esvaiu, abrindo espaço para uma clara frustração em seus semblantes. Percebendo o clima tenso que se formou, Frederico se pronunciou, em uma falsa humildade:

— Fico lisonjeado pela defesa, Vossa Excelência Reverendíssima, mas eu só aceitei mais rápido que os demais. Não há mérito nisso. Além do mais, não precisa me incluir oficialmente no grupo, se isso acabar causando alguma intriga ou…

— Não, está tudo bem — interrompeu Alonso. Levantou-se, dirigiu-se a Agostinho e disse: — Em nome de todos, peço desculpas ao Excelentíssimo Senhor. Nossas intenções não eram as de contrariar as vossas ordens, estávamos apenas surpresos e um tanto preocupados, só isso. Mas se essa é a vontade de nosso líder, assim será. Quanto ao pedido de seu amigo, creio que também esteja falando por todos quando digo que aceito ele.

O religioso se curvou com respeito, e os demais fizeram o mesmo. Agostinho parecia animado, o gesto devia ter melhorado o seu humor.

— Muito bem então. Mais à tarde, levarei vocês até o local da investigação. Dispensados.

 

***

 

As horas passaram voando, e quando o horário marcado chegou, uma van branca apareceu em frente ao portão da igreja.

Agostinho, Frederico e sua equipe entraram nela e seguiram até uma região bonita — cheio de verde, segurança, lazer e ascensão econômica —, próxima do centro da cidade.

A princípio, todos os passageiros estranharam. Está certo isso? Como pode um prostíbulo ficar no melhor bairro para se morar na cidade?! E por que, em uma cidade de interior, nunca ouviu-se alguém falar de um lugar desses aqui?, era o que diziam.

Mas a resposta de todas as suas perguntas veio assim que estacionaram em frente a um feio casebre de dois andares, escondido em meio a tanta beleza. 

Era a visão do inferno no próprio paraíso — nas perspectivas deles, claro. O casebre parecia abandonado, e havia ninguém para recepcionar os clientes na entrada. Se não soubessem, jamais imaginariam que ali funcionava um estabelecimento, pois nem placa ou alguma indicação tinha.

Agostinho engoliu em seco e desceu da van, acompanhado de Frederico e sua equipe. Pediu desculpas de antemão ao motorista e perguntou se não teria como ele esperar pelos demais, pois o caminho até o prostíbulo — como puderam perceber — era difícil, quase inacessível de veículo.

O funcionário da diocese, responsável pelo transporte do bispo e de seus cavalheiros, assentiu, dizendo que estava tudo bem, e todo o grupo enfim pôde seguir até a entrada do local.

Antes de adentrarem, porém, o líder da equipe lembrou todos do objetivo deles naquele lugar e os instruiu:

— A partir daqui, iremos nos separar. Seria um ótimo começo tentar encontrar a dona do prostíbulo, mas quero que cada um foque na obtenção de pistas a respeito do paradeiro do Falso Mártir. Devemos ser rápidos, pois lugares como esse são ambientes hostis e densos, com um clima pesado, repleto de demônios da espécie Luxuria, que parecem sugar nossas energias.

Com semblantes determinados, mas mãos tremendo, a equipe assentiu, e então cada um seguiu seu rumo.

Frederico foi o último a entrar. Quando botou os pés para dentro, um cheiro de álcool, suor, mijo e outras substâncias não identificadas invadiram suas narinas.

Por incrível que parecesse, o interior do prostíbulo conseguia ser pior que seu exterior. Som estourado de alguma música sertaneja genérica, luzes piscando como em uma balada, mesas e cadeiras de plástico espalhados pelo salão principal, um bando de cliente velho bebendo cerveja barata e, nossa!, as “funcionárias” e “funcionários” do local…

Aff… não sou de julgar aparências humanas e, sinceramente, até gostaria de copiar o estilo daquelas ficções onde os prostíbulos são retratados como um lugar onde tem mulheres e homens maravilhosos de lindos, mas simplesmente não dava!

As meretrizes pareciam ter algo em torno de 35 e 55 anos, eram “ok” de beleza, tinham todo tipo de corpo — menos voluptuosos e esbeltos — e careciam de características marcantes, como seios fartos e bumbuns volumosos. E os garotos de programa pareciam usuários de droga de tão magros e feios…

E essa gente toda, funcionários e clientes, cantavam, dançavam, trepavam e se divertiam, em uma felicidade distorcida, momentânea e macabra.

Argh. Nunca visitei o segundo círculo do inferno, Luxúria, mas essa deveria ser a imagem que a retratava bem.

Frederico, porém, diferente dos demais membros da sua equipe, estava nem um pouco preocupado com o alerta de Agostinho.

E por que estaria? Ele já tinha um pacto com um demônio de outra espécie mesmo, kikiki. Sem contar o nojo que ele sentia pelo local onde estava. 

Lamentava pelo rumo que a vida de cada pecador tomou, enquanto conversava com alguns deles. Nosso protagonista estava determinado em encontrar o Falso Mártir antes dos demais membros da sua nova equipe. Gostaria de falar com ele coisas que os outros não poderiam ficar sabendo…

— Será que é ele…?

Hm? Como era de se esperar, havia demônios da espécie Luxuria ao redor do padre. Entretanto não se aproximavam nem interagiam com ele.

Quando o viam, conforme Frederico mudava de área, apenas tremiam e cochichavam entre si coisas do tipo: 

— É ele... 

— É ele mesmo! 

— É ele com quem não podemos nos envolver…

Nosso protagonista parecia uma celebridade sendo reconhecida em público. Bom, muito bom… isso significava que a história que estou escrevendo havia ficado famosa no inferno, kikiki.

Mas… “É ele com quem não podemos nos envolver”? Devia ser o medo que sentiam de mexer com o personagem que o Rei Demônio gostava, só podia ser.

De qualquer forma, Frederico não obteve êxito em conseguir pistas do paradeiro da dona do prostíbulo ou de provas que ligassem o local com o Falso Mártir.

No fim, cansado, ele se aproximou de um balcão de bebidas — que ficava no térreo. Sentou-se em um banco de boteco próximo, e logo uma bartender veio atendê-lo.

— O que vai ser hoje, padre?

Por trás de um belo cabelo loiro chanel, ela curiosamente usava um terno folgado, uma máscara de proteção, daquelas usadas em hospitais, e… óculos escuros — a feiura dentro daquele estabelecimento era cegante, mas não era para tanto!

Nosso protagonista, a princípio, estranhou. Porém, depois de pensar um pouco, achou inteligente sua escolha de roupa. 

Perfeita para evitar assédios e importunações de frequentadores do local, uma vez que não era sexualmente chamativa e escondia bastante seu rosto e corpo.

“Creio que a pior coisa que poderia acontecer com uma mulher que vem para estes lugares é ser confundida com uma prostituta…”, deduziu. E então, ainda em processo de dissipação de ideias, respondeu à bartender: — Apenas... água, por gentileza.

— Água... água... Desculpa, senhor, mas nós não temos isso.

— Como vocês não têm um líquido que é essencial para a vida?

— Porque ela é incolor, inodora, insípida e gratuita. Se não excita, se não é cara, se não força o cliente a pensar na ex e cometer besteira, então não é lucrativo. E, se não é lucrativo, então não nos interessa.

— Afff... — Frederico suspirou, deixando transparecer levemente em seu rosto o nojo e o quão desconfortável se sentia. — Credo...

— Mas toma. — A bartender pegou um copo, colocou água de torneira nele e a colocou na mesa, em frente a Frederico. — Pode tomar da torneira, se quiser.

— Agradecido. — Frederico pegou o copo e o bebia enquanto a mulher, com os cotovelos apoiados no balcão, e o queixo, nas mãos, observava-o.

— Hm… acho que te conheço de algum lugar… Pera! — Logo, de forma brusca, ergueu-se e colocou a mão na frente da máscara. — Você é o padre Frederico, daquele programa, né?!

Por um instante, nosso protagonista ficou surpreso. Não por ter sido reconhecido, mas por saber que alguém que frequentava um lugar daqueles assistia programas religiosos.

“Não… Ela deve ter ouvido falar de mim. Não me considero famoso. A fama é efêmera e passageira, uma porta de entrada às tentações e ao declínio do homem. Mas que momentaneamente me persegue. Droga!”

Frederico botou o copo de volta à mesa e assentiu em afirmação, dizendo que era ele mesmo.

— Nossa, ‘cê é um herói! A forma como bateu de frente com aquele assassino… Mas estou um pouco decepcionada. O que ‘cê ‘tá fazendo num lugar desses?

Seu ego foi alfinetado. — Ah, não me entenda mal, estou aqui hoje a serviço de Deus…

— Sei… Sob o mesmo serviço que os padres que vem para cá e levam um monte de prostitutas em um quarto, para pregar, se é que ‘cê me entende?  Não precisa usar o nome de Deus em vão. Basta falar a verdade; eu não direi a ninguém mesmo…

Irritado por não ter sua palavra acreditada e ser comparado a outros vermes que se diziam religiosos, Frederico fechou o punho e bateu no balcão. 

Quando percebeu o que fez, olhou para a bartender, que em sua superfície não parecia chocada — de tão acostumada a cenas assim, não reagiu, talvez? —, e recobrou a compostura.

— Não… Venho apenas investigar este local. Por acaso, a senhorita sabe quem é a dona daqui ou tem visto algo estranho nesses últimos dias?

— Sim.

Frederico ergueu a cabeça em animação. — É mesmo?! Por favor, poderia falar para mim o que seria?

— He — a mulher riu. Não me surpreenderia se por trás daquela máscara tivesse um sorriso de deboche... — Padre, aqui o que não falta é coisa estranha. Chega mais…

Logo, a mulher compartilhou fofocas dos bastidores com nosso protagonista. Infelizmente, não passava de podres sexuais que as prostitutas diziam para ela. Era cliente com fetiche estranho, era cliente que brochava na hora H… Frederico realmente não gostaria de ter ouvido aquilo — muito menos eu…

— Ugh... Está bom, está bom! Eu entendo… — interrompeu. — Não é isso que eu estou procurando, infelizmente. — Levantou-se, pronto para ir embora. — Me desculpe pelo meu comportamento anteriormen…

Antes que ele pudesse se retirar, porém, a bartender agarrou seu braço. — Não, não, eu quem peço desculpas! Não deveria ter te testado assim!

— “Testado”? — Ele sentou-se novamente e olhou para as mãos dela em seu braço.

Ela as afastou e continuou: — Sim, a verdade é que… eu quero me converter e mudar de vida. Largar a vida que tenho e parar de fazer o que faço, sabe? 

“Eu era uma telespectadora assídua do seu programa de TV, e o seu método, a imagem sua que ‘cê passava para nós… gostaria de ver se tudo não passava de um personagem. Pois tinha planos de começar a frequentar a igreja que ‘cê ministra.

“E agora que sei que aquele era ‘cê de verdade, tudo bem eu saber qual é?”

Frederico ficou levemente surpreso. Perante aquela pecadora, um feixe de empatia surgiu em seu coração. Porém manteve-se cético. Afinal, quantos humanos diziam que queriam fazer algo, mas, no fim, não faziam?

Mesmo assim, decidiu ajudá-la — não importava o quanto pensasse, tinha nada a perder mesmo. 

Ela lhe deu um papel e caneta, e ele anotou o endereço de sua igreja nele, bem como o horário em que suas missas aconteciam.

— Aqui está.

— Muito obri…

— Com licença, poderia pegá-lo emprestado da senhorita? — um homem surgiu ao lado de Frederico, interrompendo a bartender. 

Era Agostinho. Ele carregava no ombro um religioso da sua equipe, claramente embriagado.

— A-ah, mas é claro. Acho que terminamos por aqui. Nos vemos na igreja, padre~

Sem jeito, nosso protagonista se despediu dela, ajudou o bispo a carregar o bêbado e se retirou com os dois, para um canto mais privado, onde pudessem conversar. 

Foi nesse instante que Frederico percebeu a palidez do bispo e perguntou o que havia acontecido.

— Desde o momento que pus os pés neste lugar, eu não tenho conseguido respirar direito. Tudo neste lugar é podre e tem um cheiro tão ruim que me dá ânsia de vômito. Sinto minhas energias indo embora… mas, se é pelo sucesso da investigação, eu consigo aguentar o quanto puder.

“Era isso que pensava, até que, em meio às minhas buscas, encontrei o cavalheiro em nossos ombros repleto de garrafas vazias de bebida alcoólica a sua volta. E virando algumas cheias goela abaixo, ainda por cima.

“Logo, percebi que o melhor a se fazer era bater em retirada, nem todo aguentaria por muito tempo igual eu. Então posso contar com a ajuda de Vossa Reverência para reunirmos o restante dos cavalheiros e sairmos daqui?”

Nosso protagonista assentiu, e juntos saíram à procura dos demais companheiros de equipe. 

Os membros foram se agrupando um a um e, quando o penúltimo se juntou, porém, um grito estridente vindo do primeiro andar soou por todo o estabelecimento e chamou a atenção de todos.

Diferente dos sons de prazer comuns dos quartos que ficavam lá em cima, esse era carregado de medo e terror.

Logo, quatro prostitutas e um garoto de programa saíram correndo de um desses cômodos, e Agostinho e sua equipe iam lá para tentar entender o que estava acontecendo.

— Talvez, essa seja uma pista! — foi o argumento utilizado por Frederico, que convenceu o bispo e os demais a abandonarem temporariamente o objetivo de reunião.

Após subirem um lance de escadas, chegaram no local. Porém tudo que encontraram foi uma cena horrenda. 

Em cima de uma cama de casal manchada de sangue, havia o cadáver nu do… último cavalheiro que faltava.

Todos esboçaram reações mistas de medo, dor e nojo ao notarem que as genitais dele haviam sido vítimas de uma assinatura registrada do… Falso Mártir!

Quando perceberam, ficaram pálidos. Em seus rostos, pavor estava estampado. Temiam que eles pudessem ser as próximas vítimas.

— E-ele está aqui! Corram!!!

Com o grito de um deles despertando-os de uma espécie de transe coletivo, Frederico, Agostinho e sua equipe fugiram de forma desordenada do prostíbulo. E nunca mais voltaram.


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