Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 5.1: Humano

“Humanos”.

 Há mais de quatro bilhões de anos atrás nasceu a Terra, teoricamente contendo os pais de nossa espécie, evoluindo a partir de pequenos animais, nem animais, mas seres microscópicos.

 Circunstâncias foram mudando através das eras, fomentando características que acabaram sendo passadas geração após geração, até culminar no ápice de nossa espécie, que é o que somos hoje.

 Isso pode ser apenas uma teoria.

 Para algumas crenças, características físicas podem não ser passadas através gerações, mas mais importante que isso, não é de se negar que há sim o legado da inteligência.

 Porque somos capazes de aprender muito mais rapidamente que as demais espécies, adquirimos todo o conhecimento partilhado entre nossos antepassados durante toda a existência de nossa raça em apenas uma infância.

 O ser humano demorou até pouco mais de cem anos atrás para inventar a luz. Hoje nada mais se faz sem ela.

 Por carregar o conhecimento gerado em todas as gerações fomos capazes de dominar todas as formas de vida existentes na terra. Fomos capazes de expandir nosso uso de recursos de modo a preocupar-nos se há sustentabilidade. Fomos capazes de perfurar a camada protetora da terra que nos abriga. Fomos capazes de sair da terra e encontrar vida em outros lugares. Quando descobrimos a Arena fomos capazes de esconder um planeta inteiro com material refletor para evitar sua revelação.

 Como se vê, por causa do conhecimento o potencial evolutivo do ser humano é infinito.

 Porque não temos asas não suprimos esta falta com veículos? Porque não respiramos na água como os peixes não suprimos esta deficiência com o conhecimento?

 E por que seria diferente com a indarra? Com o ductu? As finesses? O sano? O eretismo? O anti-ductu? O sigilo?

 À falta de todas essas coisas, o ser humano inventou uma resposta: a aquisição artificial por meio de aparelhos. É claro que isso tudo é desconhecido à sociedade, pois se viesse à tona, revelaria também a existência do sobrenatural, de modo que não saia contando nada disso por aí.

 Através de inserções diretas nos ossos durante o desenvolvimento conseguimos a indarra, através de estímulos cerebrais ativamos nossa capacidade de desenvolver finesses. Soldados que abandonam seu crescimento natural e passam por árduo treinamento sob vigilância do governo aprimorando suas habilidades de interesse de forma natural e artificial podem adquirir todas estas características.

 Ou pelo menos até certo ponto.

 A estes seres paranormais artificiais é concedido o título de “humanos alterados”.

 Eu fui voluntário no programa beta de alteração humana de Sproustown.

 Eu estava me preparando para o alistamento militar. Queria fazer algo pela justiça. Eu perdi o amor de minha vida, Betty, com dezesseis anos de idade em um desastre. Nada mais fazia sentido para mim na época então me voluntariei.

 Não sei onde estava com a cabeça.

 Passei nove longos anos em um processo de modificação que mais parecia uma câmara de tortura. As injeções aplicadas direto no osso eram dadas e quando a anestesia acabava a dor vinha toda em conjunta de forma insuportável.

 Quando a dor chegava tínhamos que ir para o treino físico. Afinal um ser paranormal que não sabe lutar não serve para grande coisa. A ideia era aprender a suprimir a dor e aprender a lutar ao mesmo tempo.

 Só tenho lembranças tenebrosas daquele lugar. Cada dia passava como se fosse um mês de sofrimento. Achava que nunca ia acabar. Lembro de ter pensado em desistir da vida diversas vezes.

 E agora que passou, tenho pouca lembrança do que aconteceu lá. Só há um ou outro fato que me resta que me volta à cabeça de vez em quando. Porém lembro bastante do treinamento repetido, e com base em minhas vagas memórias resolvi apresentar os humanos alterados, raça à qual pertenço, como a terceira das dez raças classificadas como perigosas pelo DCAE. Até mesmo para juntamente apresentar as sete características básicas do mundo paranormal: a indarra, o ductu, o anti-ductu, o sigilo, o sano, o eretismo e a finesse.

 Já falei das três primeiras. A indarra é a força elevada que as raças perigosas têm. Os zumbis, os aliens, e a maioria delas a têm naturalmente. Mas como eu disse, nos humanos alterados ela é conseguida a partir de injeção de fluído anabolizante nos ossos durante o desenvolvimento. Anteriormente se fazia nos músculos, que era um processo menos cruciante, mas os experimentos foram falhos. Apesar de conseguirem mais força física, a longo prazo os alterados tinham seus membros quebrados com muita facilidade por estes não sustentarem o peso de seus músculos durante o uso da indarra. Esta competência só foi adquirida há cerca de trinta anos atrás pelos seres humanos, e mesmo assim em relativa menor escala se comparada a dos demais seres paranormais.

 Não sei como eles fazem o processo do ductu. Eu lembro que eu tinha que passar por experimentos semanais onde havia uma sala toda forrada com um material isolante, colocava um visor e um aparelho nos ouvidos e depois eles acionavam um aparelho barulhento e algo acontecia dentro de minha mente. Não sentia exatamente dor, mas era como se recebesse muita informação ao mesmo tempo. Minha cabeça começava a doer e eu apagava. Mesmo assim, o experimento se dava por bem-sucedido. Não entendia a avaliação.

 Só sei que com o passar do tempo fui sentindo mais e mais o perigo iminente de seres paranormais. Quanto mais fortes, mais medo eu sinto. Não é exatamente medo. É uma sensação de receio, um nervosismo, uma tensão. Eu senti só um pouco aquele dia quando estava à procura de Sprohic porque ele não era lá muita coisa. Já quando chego perto do Joey ou da Lowe meu organismo já o aciona e com maior intensidade.

 Com o próprio Joey deve ser parecido. Lembra como ele sentiu nossa presença antes de entrarmos na sala de treino de tiro, sendo que ele estava com tampões de ouvido?

 O anti-ductu deve ter sido obtido durante os mesmos excêntricos experimentos semanais do programa beta de treinamento. Diversas raças manipulam o anti-ductu de maneira diferente. Alguns não podem controlar nada do medo que sentem, outros podem liberá-lo quando quiserem, outros apenas o acionam quando o organismo permite, outros não só o liberam como são capazes de direcioná-lo para uma pessoa específica, mantendo-o escondido de outra.

 A falta de habilidade de manuseio do anti-ductu não exatamente indica que o ser paranormal em questão é mais fraco. O Joey não sabe controlar o seu, por exemplo. Eu me coloco mais ou menos no meio termo. Posso espalhar anti-ductu de modo a fazer o medo esvair assim que eu quiser, mas não consigo direcioná-lo a apenas uma só pessoa. Nunca treinei esta habilidade. É apenas natural para mim ligá-la ou desligá-la. É comparável à habilidade de enrolar a língua ou mexer as orelhas. Alguns podem, outros simplesmente não.

 Muito mais difícil é manipular o ductu ao invés do anti-ductu.

 O nome da característica proveniente da maestria com o ductu é o sigilo, presente em apenas algumas das dez raças, e mesmo assim, não em todos os espécimes. Esta técnica foi inventada por um serial killer há cerca de quarenta anos atrás no norte do país. Digamos que assim como um ser talentoso consegue direcionar anti-ductu para um ser vivo em específico, ele direcionava o ductu, isto é, inferia medo não em uma área a seu redor, mas em direção específica. Qual a vantagem disso? Ora, esconder-se de outro ser paranormal. Se não se quer ser percebido, apenas direciona-se o ductu para outra parte. O anti-ductu de quem quer que seja não será acionado, e sua presença não será revelada. Por isso o manuseio intencional de ductu é chamado sigilo, pois é perfeito para manter sigilo de sua presença.

 Até onde eu sei ninguém do DCAE sabe o sigilo. E creio que seres humanos alterados nem têm como aprendê-lo com tecnologia. Nunca ouvi falar de nenhum caso.

 A finesse é a capacidade de aprendizado em pouco tempo. Baseada em cognição cerebral, no método como o usuário do cérebro tenta aprender diversas perícias de modo que seja útil principalmente na luta ou outra atividade policial (no caso dos humanos alterados pelo programa policial de treinamento). Para sua aquisição tínhamos que ir à câmara de atividade cerebral, onde colocavam uma máquina na nossa cabeça que fazia impulsos em nosso sistema nervoso. Apesar de funcionar dizem que esta prática tem consequências desastrosas a longo prazo, por isso mesmo que fosse realizada em soldados voluntários, era realizada com frequência ponderada.

 Neste sentido, humanos alterados têm uma desvantagem com as finesses em relação às outras raças. Eu aprendo as coisas mais rapidamente depois que saí do programa beta, mas dificilmente aprenderia a falar um novo idioma em apenas três dias, assim como um zumbi que acaba de acordar do túmulo sem memória alguma de sua vida humana.

 O sano é uma habilidade essencial para qualquer um que planeje engajar em lutas contra seres paranormais, como a polícia ou os próprios criminosos. Basicamente é o processo de regeneração acelerado.

 Não sei do que foi que os aliens evoluíram ou de que tipo de bicho eles pegam suas características quando resolvem nascer, mas Deus me livre... Eles têm regeneração. Lembre que eu disse que para matar um alien deve-se separar sua cabeça e tórax de seu corpo e deixar por mais de dezoito horas? Se não o fizer ele pode vir a se regenerar completamente. É claro, desmembrado ele não criará novos membros, mas regenera-se o suficiente para que possa continuar vivendo mesmo que não lhe seja oferecido tratamento médico e que o deixe sangrando violentamente.

 Já o zumbi tem uma propriedade diferente: como eu disse, ele deve ser morto com uma ferida letal. Se não o fizer, nada acontece. Ele pode sofrer diversos danos, perder sangue, ter os ossos quebrados, e os membros que conseguir mexer continuará mexendo. Enquanto não for ferido fatalmente continuará de pé. O zumbi não se regenera, mas não cai enquanto não morrer, fazendo jus ao nome da raça em referência à crença popular. É uma biologia diferente, mas essas propriedades são referidas como sano, ou a habilidade de superar graves ferimentos em pouco tempo através de um método, qualquer que seja.

 Lembra que existia há pouco tempo uma pesquisa em células-tronco, que inclusive foi barrada por alguns governos por problemas de política. Então... Descobriu-se que pode-se usar a aplicação periódica de células tronco no corpo humano para acelerar sua regeneração. Acelera-se todos os sistemas vitais: circulatório, endócrino, sensorial... E com isso também a regeneração da pele. Da carne. Dos ossos.

 A desvantagem é que as células devem ser aplicadas de forma periódica enquanto a regeneração acontece, e o organismo fica viciado. É aplicado através de drogas poderosas então não tem como superar o vício.

 Estas drogas vêm em comprimidos chamados SPP.

 Como todas as drogas, o SPP tem efeito nocivo no organismo: se você tomar as drogas enquanto o corpo não precisa de regeneração, as células a mais podem causar complicações no funcionamento normal do corpo.

 Parece loucura, mas a saída que a tecnologia encontrou foi viciar o corpo e sempre precisar de regeneração. Em outras palavras, antes de tomar nossa dose diária dos remédios, se não estivermos gravemente feridos, fazemos nós mesmos automutilação para canalizar as células excedentes!

 Não precisamos das células, mas isso é feito apenas para sustentar o vício. Justificamos a necessidade delas nos ferindo gravemente de propósito.

 Este foi o único meio encontrado para combater as demais raças em sano equiparável. Graças ao SPP podemos facilmente recuperar-nos de lesões corporais que durariam meses, bem como aguentar variados ferimentos sem ter a consciência perdida. Ambas características são essenciais no trabalho de um investigador do DCAE.

 O que nos leva à última característica básica de um ser paranormal: o eretismo. O eretismo nada mais é que a habilidade de suportar a dor. Sua manifestação em um zumbi é altíssima e intrínseca da espécie. Lembre que Sprohic levou um tiro e estava de pé e sorrindo antes de ser capturado.

 Um alien também tem um grau elevado de eretismo, se levar em consideração que ele não desmaia se for radicalmente mutilado, suportando a dor até o sano estancar os ferimentos por conta própria, o que não leva mais do que dois ou três dias, e estamos falando de desmembração.

 A primeira tentativa de reproduzir o eretismo artificialmente era através de drogas fortes. Sorte que não peguei esta fase no programa beta. Os experimentos falharam miseravelmente: não se pode lutar efetivamente estando com a consciência alterada.

 A alternativa restante foi deixar o sano cuidar do eretismo por conta própria. Já que não vamos perder a consciência a menos que os ferimentos sejam realmente muito graves, aprendemos durante o treino a simplesmente suportar a dor.

 Por isso faziam-nos ficar ativos após a injeção regular do fluído anabolizante. Era a pior das dores, e fomos acostumados a conviver com ela, de modo que quando sofremos ferimentos hoje, após todos aqueles longos anos de treino, fazemos pouco caso.

 Veja bem, não é que passamos a não sentir dor. Apenas aprendemos a suportá-la. É um treinamento com resultado que varia de agente para agente, mas ainda assim é considerado uma forma de eretismo. Que inveja do zumbi que comprovadamente não sente dor alguma em nenhum ferimento não letal.

 Mas se for comparar a inteligência com a nossa, creio que não preferiria ser zumbi. Ele pode ter elevado aprendizado, mas nunca vi nenhum zumbi aplicar o aprendizado de forma eficiente.

 O que é mais interessante de tudo isso é que o governo não pensou em alterar a consciência artificialmente de modo a fazer os soldados obedecerem às ordens cegamente. É claro, tanto melhor para mim. Mas olhando na perspectiva deles, se isto é um processo tão confidencial, eles poderiam ter feito um exército incondicionalmente obediente, teriam ganhado muito mais dessa forma. Creio que alguém politicamente correto deve ter pressionado as grandes cabeças para que assim não fosse.

 O que acontece é que apesar de tudo, ainda não perdemos a humanidade, o livre arbítrio. E por isso a principal característica humana ainda permanece: a malícia. E é por isso que não posso confiar cegamente em humanos alterados... Ou sequer humanos.

 Em outras palavras, em parte é por isso que não confio em Richard Galloway... E principalmente não em Cole Chapman.

 Era uma sexta feira e estávamos no Ivory Beans em Glen Meadow. Eu tomava uma deliciosa xícara de panna e Joey um expresso regular. Estava de frente para uma mesa onde Crane se encontrava a sós com seu namorado atual: Richard Galloway. Um rapaz xaveco de pele suspeitamente avermelhada, que tratava as pessoas com uma amabilidade dissimulada. Crane me disse que ele era um homem direito, mas ela conheceu-o através do Chapman, então mesmo que eu saiba que ela não mentiria para mim, ainda assim não sei até onde isso é verdade.

 Galloway vivia procurando emprego nas mais diversas áreas e não obtia sucesso de maneira alguma havia mais de meses, o que agravava ainda mais meu cisma sobre ele. Joey me pegou encarando-o do outro lado da mesa com uma expressão carrancuda. Fez deliberadamente um barulho alto durante o gole de café, o que me fez sair de meus pensamentos.

 — Tenente? Vai procurar briga agora?

 — Hunf... Eu estava pensando em outra coisa.

 — Só achei que fosse meio antiético ficar encarando o seu inimigo sem interrupção em público, até mesmo porque não viemos aqui com a Emma, mas acabamos encontrando os dois por acaso no café.

 — Galloway não é meu inimigo.

 — Hummmm...

 Ele deu mais um gole em seu expresso. Eu já estava quase terminando meu panna, então procurei minha carteira de cigarros no bolso.

 — É uma coincidência e meia. — Disse ele. — Engraçado Emma não ter nos visto ainda.

 — Deixe eles. Vamos ver a Crane a tarde toda, depois do horário do intervalo.

 — Galloway já olhou para cá. Mas ele não deve ter dito nada para ela. — Joey olhou disfarçadamente na direção deles. Estava claramente fazendo troça de mim, trazendo o assunto mais e mais à tona.

 — Hunf.

 Tentei mudar de assunto:

 — Sarah disse que vai fazer uma mini-conferência. Todos os investigadores devem estar presentes após o almoço.

 — Ah é? Sobre o que? O alien ou o zumbi?

 — O alien. Não penso que vamos conseguir nada do zumbi. Ele já passou para a jurisdição de Silverbay.

 Galloway levantou-se e dirigiu-se ao banheiro. Acendi meu cigarro e virei minha cadeira de modo conveniente, em direção contrária a do vento. Crane encontrava-se aparentemente apreensiva em sua mesa, tamborilando incessantemente. Joey estava casualmente olhando as costas de Galloway enquanto este desaparecia de vista. Juro que não estávamos observando o casal. O assunto já tinha se esvaído, mas mesmo assim naquele momento Crane levantou-se decididamente e veio em nossa direção.

 — Deus do céu! Você é um babaca, sabia disso?

  Direcionava-se a mim. Eu era seu superior, mas estávamos em horário de intervalo. Ela emendou:

 — Já lhe disse que você não tem o direito de opinar sobre com quem eu me encontro fora do DCAE. E agora o que você faz? Está começando a espreitar! Você não tem mais o que fazer?

 Fumava meu cigarro sem olhá-la diretamente. De relance, observei que Joey casualmente me encarava manhosamente.

 — Você não tem nada a ver com isso! — Ela continuou.

 — O Ivory Beans é o melhor local para o intervalo. Apenas isso, Crane. O que a faz estrondar desta maneira? É aquela época do mês?

 Ela me encarou por um instante, mas sem responder voltou a sua mesa. Galloway já estava voltando.

 — Como eu disse... Que coincidência, não? — Disse Joey.

 Não respondi.

 — Mesmo que seja o tenente quem escolheu o local e a hora...

 Exalei fumaça de minha garganta.

 — Ah. Eu me enganei... Ela tinha percebido afinal de contas!

 — Aonde quer chegar, Joey?

 — Só estou ruminando, só isso. — Ele ajeitou sua postura na cadeira e pôs-se a terminar o café — Por que você odeia tanto ele, afinal?

 — Eu não confio nele.

 — Parece um pai cuidando da filha de quinze anos.

 — Tenho razões. Não vou implicar com cada lance amoroso dos meus funcionários. Apenas não gosto que haja casos entre eles, assim como não gosto que haja casos com pessoas suspeitas, que estão acostumadas a passar a polícia para trás. Faz perder a credibilidade do departamento.

 — Hummm... E que razões seriam essas, tenente?

 — Ele é amigo do Chapman...

Joey me encarou desdenhosamente, batendo a xícara no tampo da mesa.

 — Sério, Henry? Até nisso você vai implicar com o Cole?

 — O Chapman não é confiável. Aquela carcaça solícita é uma fachada.

 — Não tem nada com o Cole, tenente.

 — Você não sabe nada sobre ele.

 Joey ia responder, mas apenas abriu a boca e em seguida fechou. Eu expus uma consideração:

 — Não se pode confiar nos agentes novos dessa maneira, Joey. Lembre que a polícia é corrupta. Qualquer agente que tenha muito envolvimento com os demais departamentos, ou o que é pior, com um partido político, deve ser contemplado com cautela.

 — Você confia na Lowe.

 — É diferente. Ewalyn... Lowe trabalhou junto com Sarah durante o período que ela esteve fora. Os contatos de Sarah são confiáveis.

 — Ewalyn? Ele ia dizer Ewalyn? Hummm...

 Cocei minha costeleta.

 — Eu me confundi, apenas isso. E o que tem de mais? Eu te chamo de Joey e não Meyers o tempo todo.

 — Você chama a Emma de Crane desde que ela começou a trabalhar na central. Lowe está no DCAE há o que? Dois dias? O que é isso, tenente? Será que enxergo uma atitude tendenciosa? Poderia ser por causa do corpo dela?

 — Eu sou casado, Joey.

 — Bem que eu percebi que o tenente estava um tanto diferente ontem à tarde... Mais prestativo...

 Aquele papo estava já me enrubescendo. Precisei de outro cigarro.

 — Joey... O único que sai por aí se envolvendo com toda a mulher nova que vê pela frente é você. Inclusive deveria parar com isso.

 — O que posso fazer? As garotas me adoram...

Ele proferia aquele tipo de sentença sem a menor reserva.

 — Já sei! — Disse ele decisivamente — Já que o tenente está amarrado, vou ver se Lowe cai na minha rede. Uma ruiva não é nada mal.

 Me olhou de soslaio novamente com aquela mesma careta manhosa. Estava esperando uma resposta minha?

 — Nada de engajamento entre os agentes. — Repliquei, resoluto.

 Joey apenas deixou sair um microsorriso, sem mudar de feição.

 Naquele momento recebi uma mensagem no meu celular. Era Sarah.

 — A capitã está nos apressando. Temos que ir para a central.

 — Crane vai estar lá... Isso vai ficar um tanto embaraçoso... Você devia pedir desculpas para ela, tenente.

 — Desculpas por quê? Eu não fiz nada.



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