Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 18.2: O Dia Que eu Virei Stalker de Casal de Namorados

 Não me entenda mal: eu sei que mencionei que conseguir uma audiência com o Dragão requer bastante confiança mútua e que eu nunca tinha sequer falado com ele em pessoa antes de hoje, e não é como se agora eu tivesse ficado amiguinha dele de repente e ele me deixasse ir e sair da casa dele a qualquer hora como se fosse o Craig. Quando digo esconderijo, é porque o Dragão tem alguns esconderijos que ele deixa para a gente: eu, o Craig e o Sub Snow – ou era Sub outra coisa? – nos reunirmos e fazermos qualquer coisa que envolva as atividades do grupo. Em geral servem para guardar pacotes de Deluxes ou reféns que aparecem dependendo da situação. Não se trata do mesmo esconderijo de antes.

 E em um desses esconderijos adicionais existem computadores ligados a esses aparelhos que ele deixa com a gente, assim posso acompanhar o local do carro pela tela de lá, isto é... Se o adesivo não caísse no meio da rua durante o percurso...

 Para evitar que o adesivo caísse e que assim eu perdesse a localização da secretária, eu tentei chegar ao esconderijo rápido. Ele consistia apenas de uma casinha com três cômodos, que não tinha janela em uma área isolada de Little Quarry.

 Chegando lá chequei o local do adesivo acessando o satélite do computador.

 Para a minha felicidade, o adesivo tinha sim ficado bem colocado até o carro parar, o que me revelou o endereço da secretária: era em Cheawuld Garden. Já estava quase ficando escuro, então aproveitei para ir até lá. O que eu ia ter que fazer era observá-la e esperar até que se encontrasse com o meu alvo: Richard Galloway.

 Você deve estar se perguntando por que eu não busquei o nome dele no Goo*le e vi se ele tinha deixado o endereço em algum formulário eletrônico ou algo do tipo. Eu até poderia, mas a principal razão de Galloway ser o suspeito laranja do Verde é que ele é o namorado da secretária, então a graça é entender a relação entre ele e a secretária, e não só analisar o lado dele. Por isso seria bom ver a interação entre os dois de alguma forma.

 Óbvio que não me refiro a isto que você pensou...

 A casa da secretária era meio depressiva e claustrofóbica. Fria... Mofada... Escondida... Mal cuidada... O que ela é? Uma velha de sessenta anos? Quase achei que a Greta morava ali.

 Aquele dia era um sábado, o último dia de expediente do DCAE, então se ela tivesse uma vida normal ela encontraria com o namorado ou hoje ou no dia seguinte. Mesmo se eu não encontrasse Galloway lá hoje de qualquer modo seria uma boa ideia averiguar como é a vida cotidiana dela.

 Ela já estava dentro de casa, e eu sentia o seu ductu. Eu sabia que era dela porque tinha me familiarizado com a intensidade quando ela passou por mim lá no estacionamento. Mas acontece que além do dela tinha o de outra pessoa, o que era mau sinal. Seria do Galloway? Seria ele também paranormal?

 Subi na árvore cheia de folhas que tinha ali do lado da casa dela, para que pudesse observar sem ser notada. Você pensa: “ah, mas toda árvore é cheia de folhas” Não... Aquela ali era especialmente cheia. Dava para se esconder lá dentro. A casa dela era baixa, tinha uma escadinha de cimento que descia e ia para o interior da casa e outra calçada que ia para um quintal ou algo do tipo. O quintal dela não tinha nada, mas no terreno do lado tinha essa árvore grande. Eu me escondi e peguei meus binóculos e apontei-os para a janela lateral.

 Consegui perceber que quem estava na casa além da secretária era uma ruiva. Eu a reconheci como a mesma ruiva que eu tinha visto antes lá na cena do crime da casa dos velhos que morreram sem motivo. Lembra que eu tinha dito que vi uma ruiva e um homem corpulento que fumava um cigarro? Era a mesma.

 Elas estavam conversando na sala e depois sentaram no sofá, que estava de costas para a minha visão. Eu enxergava com os binóculos um molhado no espelho do banheiro, que ficava de frente para a janela (a porta estava aberta né, se a pessoa que usasse o banheiro fechasse a porta não se via nada, óbvio) e a luz refletia nesse pingo me dando uma visão parcial da sala, se eu combinasse a potência do aparelho com minha finesse. Mas o sofá ainda estava de costas para a minha visão parcial.

 Tive que ser mais ousada, saltei na área da residência da secretária e abri a janela um pouco mais do pouco que estava, e então saltei para o local original. A proposta era abrir espaço para que as bolhas de meu soprador entrassem na casa. O vento não ajudava muito, já que meio que soprava na direção contrária, mas era só usar a indarra na hora do sopro para forçar a direção.

 Assim eu consegui ter uma visão melhor do que as duas mulheres estavam fazendo. A secretária deitava-se sob os ombros da outra. Ela estava chorando por algum motivo? Depressão talvez? Ou ainda não tinha superado o trauma do ataque? Devia ser depressão ou algo do tipo, porque para ter uma casa daquelas...

 Pena que eu não conseguia escutar nada.

 Fiquei observando mais um pouco e quando fui sair senti ainda mais ductu. Era de duas pessoas. Quase que eles me perceberam, eu usei o sigilo no mesmo segundo e voltei para a minha árvore.

 Soprei as bolhas na direção do portão para ver quem estava chegando. Agora eram dois homens. Eram do DCAE também, porque eu reconheci o homem alto que fumava cigarro que estava junto com a ruiva da outra vez. E ele estava fumando um cigarro desta vez também.

 O garoto que estava com ele era do tipo bonitão. Não que eu tenha queda por humanos — cruz-credo — mas é a palavra que mais descreve melhor o jeito dele: arrumadinho, com corte de cabelo impecável, rosto de bebê e todas essas coisas que a sociedade humana se importa tanto.

 Parecia que ela ia demorar agora que chegaram novos amigos, e como as vozes iam começar a ficar todas misturadas e eu não ia conseguir entender nada eu achei melhor dar um tempo e voltar só depois. Do jeito que a coisa andava agora, ela nem ia se encontrar com o namorado agora e nem ia dar para eu observar qualquer coisa de importante no meio do movimento.

 Eu teria voltado no dia seguinte, mas já que era para ser stalker resolvi entrar ali de madrugada. Queria fazer um teste.

 Ela trancou a casa toda por dentro, estava difícil de entrar. Aquela janela lateral tinha aquelas guilhotinas de madeira que fechavam por trás do vidro, e a porta da frente era de vidro e de gradinhas, com uma dobradiça que dava para ver que era rangente de longe, assim ia ser muito difícil entrar sem que ela percebesse...

 Mas eu não estava ali para roubar nada, eu só queria confirmar uma coisa. Assim fui até o quintal, até a parte onde fica atrás do quarto dela, e acionei meu ductu, direcionado ao quarto. Acionei e logo em seguida usei o sigilo, em cerca de menos de meio segundo. Queria ver se ela percebia. Se ela percebesse ou eu sentiria o ductu dela ou eu ouviria alguma manifestação da parte dela, fosse se remexer na cama ou qualquer coisa do tipo.

 Esperei em silêncio...

 Não houve nada.

 Que coisa... Nem mesmo uma agente do DCAE consegue notar minha rápida transição de ductu para sigilo, o que faz sentido, considerando o tanto que eu treinei. E pensar que eu fui enganada por uma manobra parecida naquele prédio das bugigangas. Quem será que seria?

 Como eu ia saber?

 Ia ser difícil tirar aquilo da cabeça agora...

 Coloquei uma pequena escuta na parte de fora da janela, que ficava dentro de uma casca de besouro, quase igual a um besouro de verdade, e a deixei no último volume. Daí ao invés de voltar para casa resolvi pagar um hotel ali por perto de Cheawuld Garden, caso ela resolvesse sair para algum lugar para eu poder segui-la melhor no domingo.

 No dia seguinte eu acordei cedo e fiquei jogando Cinder Clash, até que eram umas dez da manhã quando ouvi alguma coisa daquele besouro. Era difícil escutar com precisão porque o besouro estava do lado de fora da janela, mas dava para entender que era ela falando com o namorado dela pelo telefone, o que era bom. Se eu tivesse que esperar mais dias a seguindo para que conversasse com o Galloway eu ia ficar louca.

 Eles trocaram seus cumprimentos agradáveis e começaram a combinar alguma coisa. Ainda bem que no final ela repetiu o horário combinado como que de confirmação:

 — Está bem, então na frente do Chef, ao meio dia e meia.

 Depois de um tempo, o suficiente para a pessoa do outro lado da linha responder alguma coisa, ela disse:

 — Tchau!

 Agora eu sabia onde eles iam almoçar.

 Viu? Por esse motivo que só converso por mensagem...

 Existiam dois locais com Chef no nome em Sproustown, locais de comida pronta, abertos na hora do almoço, pelo menos. Um deles era um restaurante caro lá perto do centro e o outro era o Thai Chef, que ficava ali perto e do lado do shopping. Óbvio que era a escolha deles. Não tinha nem porque esperar ela sair.

 Quanto menos parecesse que eu estava seguindo melhor. Pelo menos é um local público e não seria estranho se eu já estivesse por lá na hora do almoço.

 Antes de ir para lá eu passei na casa dela de novo e peguei o besouro, para que ela não o descobrisse e ficasse alerta. Ele pode ser controlado do celular se eu estiver a trinta metros de distância, então eu pude apenas ir até o terreno do vizinho — que é muito mais seguro já que o vizinho não sabe nada sobre ductu — e pegá-lo de lá. Nisso eram umas onze e pouco.

 Depois eu fui direto para o shopping e fiquei esperando. Mandei uma mensagem convidando o Craig para ver se ele queria comer alguma coisa precisamente no Thai Chef, mas ele percebeu que fazia parte do meu serviço e começou a querer cobrar, então não respondi mais.

 O Galloway não demorou a chegar. Na verdade ele chegou quase uma hora antes do combinado e ficou sentado em uma mesa do shopping na frente do café. Não pediu nada e ficou olhando para baixo o tempo todo. Eu achei tudo muito estranho. Porque ele chegaria cedo desse jeito?

 Depois do horário combinado, a moça chegou. Calculei que eles iam fazer como namorados fazem: “oiiii” !”como você está?” “blá blá blá” Seria melhor chegar lá depois de uns vinte minutos mais ou menos. Fiquei perambulando no shopping por mais um tempo igual a uma criança perdida — Ah, espere... Eu era uma criança perdida — e depois fui para lá.

 Uma vez lá, peguei a mesa que ficava de frente para eles e pedi um shake de cookies, daqueles bem grandes e cheios, para que eu pudesse tomar o tempo que quiser sem parecer que estava ali sem fazer nada.

 — ...É. Eu estive um pouco mal esses dias, mas agora estou melhor. — A moça estava falando quando parei para prestar atenção.

 — É difícil né... Você tinha acabado de sair do hospital e ainda por cima tem o teu trabalho. Você chegou a perguntar sobre as férias?

 — Tem muita coisa ruim acontecendo ao mesmo tempo, Richard. Agora é o pior momento para pensar em férias.

 — É, só que...

 Galloway parecia um daqueles fanfarrões que só pensam em férias. Entendo que ele devia estar preocupado com a saúde da secretária, ela tendo sido hospitalizada e tudo o mais. É provável que ele não sabe com que tipo de coisa ela lida no trabalho dela e nem deve saber que ela possui sano para curar as feridas.

 Por fora ele também era conforme a Greta descreveu: bonito, porém simplório, com traços provenientes de uma vida financeira menos avantajada. Não se esperaria que alguém tão culta como a secretária se sentisse atraída por aquele tipo. As roupas dele deixavam claro que ele não estava no seu pico financeiro.

 Aquele relógio que ele usava dizia o contrário, entretanto...

 Eu fazia essas observações à medida que tomava aquele shake doce em exagerado. Eu enjoei depois de dois ou três goles. Como os humanos conseguem tomar um daquele inteiro?

 — Veja, esse menu é meio limitado... Por um lado é do lado do shopping, podemos fazer alguma coisa depois... Quer ver um filme?

 — Aham...

(Eu tinha voltado a prestar atenção na conversa dos dois.)

 — Viu, eu te contei daquele restaurante que abriu lá perto de casa? O Sweet Oaks? Ele é muito bom e barato. Eles têm porções sabe... Tem de frutos do mar e de várias outras coisas...

 — Aham...

 — O que foi? Você está quieta hoje...

(Hmm... Esse parece o sinal de uma relação está prestes a acabar, nada que me diga respeito, entretanto...)

 Nos próximos minutos Galloway ficou tentando puxar um assunto que agradasse a sua princesa e eu tive que sair dali ou ia contrair diabetes ou algo do tipo. Eu sei que tinha vindo ali só para saber do que se tratava a relação, mas agora que tinha visto... Tinha perdido o interesse. Galloway e a secretária eram só um casal comum em um momento ruim.

 O que me chamou atenção era o fato de que ele tinha vindo ali uma hora antes e ficado parado olhando para a mesa do café... Como se ele tivesse algo muito importante que não conseguia tirar da sua mente. O que será que seria?

 Como eu ia saber...?

 É incrível como após tantos anos bancando uma detetive particular em horas como essa seu cérebro começa a funcionar de maneira diferente.

 Foi quando eu estava indo na direção do fliperama do shopping extravasar um pouco que a ideia me veio à mente: click!

 O Galloway gostava de um restaurante que abriu lá perto e além de bom era barato? Estava todo entusiasmado? Logo ele...? Que até onde sei está desempregado e aparenta não ter dinheiro para nada? Poderia ser: ou Galloway não é tão rapado quanto parece ou aquele restaurante talvez seja um pouco... “Barato demais?” Bom, Barato e de interesse de picareta soa como lavagem de dinheiro.

 Hmm.

 De qualquer forma não custava dar uma olhada. Se era perto de onde ele morava devia ser lá no Helmsley... Aquele do lado do Filliard Summit. Eu lembro que a Greta disse que o Galloway frequentava bares de lá.

 Pesquisei “Sweet Oaks Sproustown” no meu celular e era mesmo no Helmsley, tinha aberto há dois meses. Não custava dar uma passada lá.

 Antes de sair pensei em voltar e deixar meu besouro na bolsa da secretária ou algo do tipo, embora fosse muito indiscreto. Não custava tentar. Tentei... Voltei ao Chef, no pretexto de ir ao toalete, e passei pela mesa dos dois para averiguar a situação.

 Eles ainda estavam conversando sobre assuntos triviais.

 —... Mas agora parece que vai dar certo de me chamarem... — Mais o Galloway que a secretária falava naquela mesa. E a julgar pelo tom do assunto, parecia que ele ainda não tinha arranjado trabalho.

 Ela estava muito atenta e a bolsa estava no colo dela, Galloway por sua vez não carregava nada. Não consegui oportunidade para deixar o besouro.

 Assim desistindo, peguei o ônibus mais uma vez — qual era aquela? A quinta em dois dias? — desta vez para o Helmsley, e fui até o tal Sweet Oaks.

 Por fora ele parecia bem grande e frequentado. Todo enfeitado com luzes, com cara de franquia de sucesso. Bem destoante do resto do bairro, que por ser do lado do Filliard Summit era uma extensão do mesmo.

 Já ouviu falar do Filliard Summit? É um lugar ermo igual ao Wyoming de noite quando neva. Por que será que construíram aquele restaurante justo ali?

 Eu planejava entrar e pegar o menu para ver o quão bom era aquele lugar e por que o Galloway estava falando tanto, mas assim que entrei eu senti um ductu forte.

 Parece que meus instintos não tinham me deixado na mão. Tinha sim alguma coisa ali...

 O sentimento não parecia vir dos atendentes ou garçons que me olhavam mais que estranho por causa da minha idade aparente, parecia vir de outro lugar. Um lugar ali próximo. Da cozinha? Do banheiro?

 Entrei no restaurante e me dirigi até o toalete, que ficava na lateral esquerda, quase no meio do labirinto de mesas, em uma entrada ao lado do balcão do caixa. Uma vez lá no banheiro abri a torneira e parei para prestar atenção. O lugar era apenas um restaurante comum. Na entrada tinha uma salinha de recepção, com uns sofás, para os clientes esperarem fosse o caso de ficar muito cheio, aí tinha o salão retangular com as mesas, e os banheiros ali no lado do balcão...

 Contrastava bastante com o lado de fora, que parecia que escondia mais coisa. Por dentro ele era muito retangular e por fora muito quadrado. Achei que deveria voltar lá para fora e verificar qual parte parecia sobressalente.

 Os garçons me encaravam amuadamente à medida que eu fazia entradas e saídas do estabelecimento.

 Assim que saí percebi que tinha um anexo de um lado inteiro do restaurante que não dava para acessar por dentro. Imaginei que deveria ter a ver com a salinha de recepção. Quantos restaurantes sequer tem uma dessas? E ainda mais no Filliard Summit? Resta saber por onde era a entrada. Talvez pela lareira eu conseguiria ver alguma coisa.

 Voltei até a lareira da entrada e coloquei minha cabeça dentro. O ductu vinha de lá.

 — Ei! — Um garçom me chamou atenção.

 Tirei minha cabeça para fora e olhei para trás, havia dois garçons com cara de que não gostaram, estavam me encarando. Isso era maneira de tratar uma criança perdida?

 — Oi. — Comecei... — Vocês podem me dizer onde fica a entrada?

 — Hã? — Um deles ficou confuso, não sabia se perguntava o que uma criança fazia ali, se falava que a entrada era a entrada do salão ou se mentia que não havia como entrar na parte secreta.

 — Que seja, vou fazer uma entrada por mim mesma.

 Usei a indarra nos tijolos da lareira e agora dava para passar. Ela desmoronou.

 Quanto aos garçons, eles estavam no chão cerca de três segundos depois.

 Assim que cuidei deles, passei pela abertura do restaurante para dentro daquela parte secreta.

 O corredor era todo empoeirado e escuro, com algumas caixas empilhadas, de conteúdo suspeito. Deluxes, talvez? Aquele lugar parecia um comércio com pretexto de lavagem de dinheiro ou algo do tipo. Qualquer que fosse a função daquele restaurante, guardar as caixas ali não era a melhor das ideias, e se um policial tivesse a mesma ideia que eu tive?

 Continuei prosseguindo pelo corredor, sendo guiada pelo ductu, até que o dono do mesmo sentiu o meu e acionou o sigilo. Quando isso aconteceu, eu estava na frente de uma porta que dava para uma salinha onde tinha uma luz amarela fraca acesa. Como era uma sala sem saída eu já sabia que o dono do ductu estava lá dentro. Ele tinha usado o sigilo tarde demais. A porta estava fechada assim não dava para ver o que acontecia lá dentro, mas parecia que eram uns dois ou três homens conversando. Eles tinham acendido a luz porque o breu naquele local era terrível. Boa escolha.

 Meus ouvidos conseguiam distinguir que as vozes deles estavam entusiasmadas, só que quando eu cheguei ao lado da porta e percebi que eles me perceberam... Eu consegui ouvir algumas frases, mas depois disso eles cessaram o tópico. A última frase que ouvi foi:

 “Agora Spikey, eles estão vindo.”

 Agora não dava mais para eu escutar atrás da porta. Não que eu tivesse qualquer esperança mesmo... Usar o sigilo para se esconder a menos de cinco metros de distância é inútil.

 Na falta de escolha, tive que abrir a porta.

 Abri e vi os três homens sentados, do outro lado da sala. Na verdade só dois estavam sentados... Um numa cadeira, o outro no chão, perto do celular, e o outro estava de pé atrás das prateleiras de ferro encostadas na parede.

 Ficamos nos encarando em silêncio, à medida que o próprio vento fechava a porta atrás de mim e me trancava com aqueles três homens dentro da sala.

 — Ora, é aqui que o corredor dá? — Experimentei quebrar o gelo.

 — Você... Quem é você? — O homem mais gordo, que estava no chão começou a levantar-se.

 — Eu estava... Vagando por aí. Foi mal. Tive que derrubar seus garçons...

 — Para quem você trabalha? — O homem encostado na parede sacou uma arma e apontou para mim. Sua mão tremia miseravelmente. Ele olhou de canto de olho para o outro, que ainda não tinha falado nada até então, e eles fizeram um aceno mútuo com a cabeça.

 — Acho que não vamos arrancar informação de ninguém até que algo aconteça, hmm? — Disse eu. — Que tal... Começarmos logo com isso?



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