Volume 1 – Arco 1
Capítulo 41: Mural
— Posteriormente conhecido como o lema da fome, essa ideia problemática, espalhada por toda região, foi a principal marca que o terrível Duque Zanatos deixou para trás, perto do fim de seu reinado.
O que se seguiu, foi uma grande reeducação, promovida pelo novo Duque Fortuna, afirmando que todos os homens são iguais.
E assim recuperamos o senso comum.
É necessário relembrar as partes sombrias da história, para que não repetirmos os erros do passado... Uma frase tão repetida, que já se tornou clichê. Mas espero que leve essa lição com você.
Com isso, encerramos a nossa curta revisão de humanas.
Você tem dez minutos livres, antes de retornarmos com a próxima revisão de exatas. — E Khajilamiv fechou o livro que carregava.
“Trocando o antigo nome esquecido pelo tempo: Zanatos, por um mais familiar, que ele lembraria, Fortuna, fizemos um cenário que parecesse acreditável a ele, que nasceu em tempos onde essas crenças já foram completamente extinguidas e que ninguém defenderia publicamente.”
Misturando algumas falácias e defesas que os filósofos comprados pelo Duque fizeram, conseguimos despertar o interesse dele.
Esse foi o plano de aula elaborado pelo Khajilamiv, caso a suspeita do mordomo estivesse correta.
— O problema já foi resolvido? — perguntei para o Visconde.
— Era algo tão pequeno que nem precisava da minha presença. Demorei mais no caminho até lá, que investigando e capturando os criminosos.
— Por acaso, eles tinham alguma marca que chamasse atenção?
— Que eu me lembre, não. Mas vestiam algumas roupas engraçadas. Pareciam ter vindo do deserto.
Apesar de negar a proposta do Prilio, de caçar a seita da banana, não custava nada ser cauteloso.
— Agora que terminaram o supletivo, vocês têm algum plano para esse fim de tarde? — perguntou o Visconde.
— Ainda falta a revisão de algumas matérias... — disse Khajilamiv.
— Pelo menos por hoje, deixe isso para os professores particulares dele. Vamos dar uma volta pela cidade!
— Agora? — perguntou Selena.
— Até em um lugar seguro como Fortuna, ir à noite em uma cidade grande, sempre é perigoso... Pessoalmente, não recomendaria adiar nossa visita turística, mas se quiserem, eu posso mandar meus cavaleiros patrulharem por onde passarmos, adiantadamente.
— Não vou demorar tanto tempo assim. É só para eu saber se devo me trocar.
— Qual o problema com a sua roupa atual? — perguntei.
— É confortável, mas atrapalha em uma possível fuga ou batalha.
— Também deveria colocar uma malha de metal por baixo da minha roupa?
“Talvez ela viu algum bananomaníaco no caminho?”
— Sendo sincera, só estou tentando evitar alguns conhecidos. Já vou colocar uma máscara de pele, porém, sendo eles, devo estar pronta para fugir a qualquer momento.
— Existe alguma filial da guilda Glance por aqui?
— Tinha em quase todas as cidades que passamos, mas nas outras, os responsáveis tinham um ranque tão baixo que nunca viram meu rosto, nem sabem dessa minha identidade ou relação com os Fortuna.
— Será que está evitando eles, porque são iguais a mulher que te chamou de pequena flor reluzente...
— Eu te desafio a terminar essa frase...
— São colegas de treinamento — disse Khajilamiv. — Uns malucos completos que falharam em se tornarem sucessores, mas ainda eram competentes o bastante para não serem jogados fora.
— O líder da família anunciou que se algum deles conseguisse me matar antes do meu noivado ser anunciado publicamente, ele entregaria a posição de sucessor.
— Como os anciões permitiram algo desse tipo?
O sucesso deles não resultaria em um conflito enorme com os Fortuna?
— Tem algumas regras e limitações, mas no fim, todos sabem que ele só fez isso para impedir os outros novatos de protestarem o resultado do teste de sucessão. Se algum deles reclamar mais tarde, ele pode dizer que deu até uma segunda chance, que eles desperdiçaram.
— Será que sabem? — indagou Khajilamiv. — As últimas tentativas foram extremas demais para alguém sem uma esperança verdadeira de sucesso.
— Se você conseguir morrer, mesmo depois de todo meu treinamento especial, era porque não estava apta a ser herdeira da família desde o começo — disse a Selena, engrossando a voz e tentando imitar o tom do líder da família Glance. — Ele disse isso por um motivo. Dentre os discípulos com idade para receber essa oportunidade, nem se todos se unissem, venceriam. Até porque são menos de duas dúzias.
— Duas dúzias?
— Enquanto estive fora, alguns podem ter morrido, mas contando comigo, somos vinte e cinco no total.
— Que tranquilidade para um tópico tão sinistro — disse o Visconde.
“Olha quem fala”, a imagem dele atacando um de seus cavaleiros, ainda estava fresca na minha memória.
— É um ramo perigoso, afinal. — Dizendo isso, ela saiu da biblioteca.
Então o Khajilamiv começou a arrumar a mesa, devolver os livros e limpar a lousa.
— Deixe esse trabalho chato para os adultos — disse o Visconde, sorrindo amigavelmente. — Vão, podem ir se preparar.
Aceitando a ajuda, ele também saiu.
— Quer perguntar mais algo, herói? — Assim que notou que eu fiquei, ele se virou e parou de arrumar a sala.
— Como eu explico isso?... Caso encontre alguns terroristas estranhamente fissurados em bananas ou homens estranhos com uma tatuagem de lua na cabeça, não hesite em pedir ajuda.
— Manterei isso em mente.
Tirando esse peso da consciência, fui direto esperar na entrada, já que mal possuía roupas ou bens importantes para levar.
Em vinte minutos, o Visconde e sua família — com exceção do Voyro que estava de castigo pelas más notas — o Barão, a Selena, o Khajilamiv e alguns dos cavaleiros mais fortes, se reuniram na entrada.
Estávamos prontos para partir imediatamente, mas o Visconde pediu para que esperássemos um pouco.
Logo descobri o motivo, vendo chegar uma carruagem gigante, guiada por oito cavalos, com capacidade para carregar todos no mesmo veículo.
Entrei e me acomodei em um dos assentos do fundo, um banco de madeira, acolchoado na base, mas sem o mesmo material luxuoso para as costas, o que criou uma experiência desarmônica.
Como o banco era longo, só tinha acesso a um dos dois apoios de braço, alto demais para o meu gosto e tamanho, porém, feito de um material mais confortável que a madeira pura.
Outro ponto que me incomodou, foi a falta de segurança, já que a parte lateral era totalmente aberta, permitindo ataques surpresas de quase todos os ângulos, além do teto ser feito de um tecido aparentemente frágil, que poderia ser rasgado facilmente por uma flecha ou espada.
Provavelmente sacrifícios necessários para diminuir o peso e não sobrecarregar os cavalos, quando todos os acentos forem ocupados.
— Checou para ver se não havia alguma bomba debaixo da carruagem? — perguntei para o Rafun, que se sentou ao meu lado.
— Ficou sabendo de algum inimigo secreto do Visconde?
— A Selena alertou sobre possíveis assassinos.
— Esses pestinhas não envolveriam outras pessoas além da Selena.
— Conheceu eles antes?
— Trabalho para essa família desde que o Khajilamiv nasceu e fui enviado por causa do nascimento dele. Claro que conheci os amigos da Selena.
— Alguém que tenta te matar para roubar sua posição, pode sequer ser chamado de amigo?
— É menos preocupante do que parece, te garanto isso. Apesar do início ser meio amedrontador.
Com um som de chicote, os cavalos relincharam e a carruagem começou a se mover.
Assim que saímos do jardim externo da mansão do Visconde, ele começou a narrar um por um, todos os seus vizinhos, por nome e título ou trabalho, de pé, como um guia de turismo.
Comentários que apenas se intensificaram, conforme a viagem foi passando:
— Aqui à direita, vemos o famoso prédio farmacêutico! Uma enorme construção coberta inteiramente por vinhas e flores, a pedido de seu patrocinador, o grande professor da torre médica, conhecido como mestre dos diagnósticos estomacais.
— Eles vendem essas pílulas aqui? — perguntou Selena, mostrando os remédios que ela roubou de mim,
— Nesse prédio tem de tudo. Se mostrar isso para um dos trabalhadores, certamente encontrará o que você procura.
— Então podemos parar aqui?
— O prédio farmacêutico já está fechando a essa hora. Que tal passar amanhã?
Ela deu uma boa olhada, verificando se ele estava mentindo, mas parecia que o Visconde verdadeiramente não reconheceu a pílula.
— Tudo bem, passarei aqui amanhã.
Seguindo caminho, chegamos a nossa primeira parada.
— Podem descer, venham experimentar algumas amostras do famoso arquivo das mil folhas de chá! — disse o Visconde. — Essa é uma das atrações mais populares entre turistas, por isso até nessa hora costuma estar lotado de gente. Mas voltando daquele pequeno problema nas tubulações, convenci o dono a deixar esse horário reservado para nós!
— Sejam bem vindos. — Um homem velho, apoiado em uma bengala de ferro, veio nos recepcionar na entrada. — Deixei alguns chás prontos lá no fundo, podem vir.
O lugar possuía várias fileiras cheias de prateleiras repletas de potes de vidros, com folhas e flores ressecadas.
Era perfumado, mas de um aroma muito mais sutil que as casas desse Ducado e assim como as decorações, dava um ar de antiguidade.
O piso rangia a cada passo, algumas teias de aranha se escondiam em lugares difíceis de limpar e apesar popularidade e quantidade de funcionários, ainda tinha muitas partes que davam um visual caseiro.
Parecia um negócio de família que ganhou sua notoriedade através das gerações, um lugar que parece exalar história.
— A garotinha aceita a primeira xícara?
— Obrigada.
Com um gole, a expressão da Selena foi de neutra para extremamente preocupada.
Ela cuspiu no chão e colocou seus dedos na garanta, tentando forçar um vômito, mas foi impedida pelo velho, que arrancou a ponta de sua bengala, revelando uma lança oculta e desferiu um ataque reto.
Uma fumaça branca começou a escapar da boca dela e sua pele começou a se avermelhar, emitindo calor, como se estivesse fervendo por dentro, o que distraiu ela e atrapalhou seu desvio, acompanhado pelo ataque, que só precisou de um pequeno ajuste.
— Controle sua respiração. Já acostumei seu corpo com esse veneno. — A Ampom cobriu a ponta da lança com um agasalho que ela tricotou e agarrou o rosto do velho, cobrindo seus olhos.
Puxando sua mão, ela arrancou a máscara, revelando o jovem membro da guilda Lance.
— Realmente tentou usar um dos meus venenos contra mim? — perguntou Ampom.
— Essa é só uma mera recepção. — E ele saltou para trás, batendo no botão de ligar de um aquecedor a gás. — A verdadeira caça virá com o tempo.
— Vocês tiveram quatro anos para preparar esse plano e essa é a frase que escolheram? — E a Selena pegou a xícara envenenada e tomou o resto. — Foram vocês que mexeram na água dessa cidade?
— Não se preocupe com aquilo, seria óbvio demais. Ah, e o desafio desse ano é que o líder permitiu ajuda externa. Boa sorte! — A parede começou a cair em nossa direção e a entrada foi trancada.
Todos os grão-mestres ativaram seus artefatos, destruindo a parede em farelos.
Mas assim que a fumaça abaixou, um grande mural, a parede verdadeira, foi revelada:
A familiar imagem da estátua do chefe da seita, junto de um convite em grafite, com uma data e a logo com o nome do circo: Formosa.
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