Hant! Os Piores Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 34: As três toupeiras

Coberto por uma fumaça branca, a líder das armaduras levantou seus braços e moveu freneticamente cada dedo, individualmente, de forma impossível para um humano.

Enquanto performava essa dança bizarra, avancei, agarrando uma lança presa na parede e finquei a lâmina dentro da brecha de um dos quatro elmos.

Sem resultado e completamente ignorado, puxei a lança de volta e continuei tentando nos outros três, sem sucesso.

— Esse negócio se move no poder da amizade?

Peguei um cantil de água, meio cheio, que guardava no bolso, mas quando fui despejar dentro de um dos espaços entre as fusões de armaduras, para tentar criar um curto, caso fosse mesmo uma máquina, uma das toupeiras de antes saltou e agarrou meu braço, despejando toda água no chão.

Com a outra mão livre, puxei e arremessei a toupeira com facilidade, porém ela gritou e chamou reforços.

Distraído com a toupeira, só pude ouvir um arranhão metálico, antes de ser lançado para trás, por uma batida pesada.

Bati três vezes no chão e rolei até os pés do grupo de reforços, que começaram a me arranhar e chutar, sem muita efetividade.

O tamanho deles era um pouco maior e suas garras eram maiores e mais afiadas que as toupeiras da torra, porém suas mudanças não eram significativas ao ponto de poder afirmar com certeza que eram resultado da maldição ou de um experimento.

Com um empurrão, joguei todas para longe e me levantei, mas logo tive que desviar de uma armadura viva vindo a dezenas de quilômetros por hora.

Depois da segunda armadura, outras oito vieram na mesma velocidade, esbarrando uma nas outras ou até batendo com tudo contra a parede.

Cercado por onze armaduras e algumas toupeiras batendo no meu pé, gritei por ajuda com toda minha força.

Sem resposta.

Grupo de resgate 1

“Que doentio... O que fizeram com eles?”

Levou vinte minutos e oito combates, para o grupo dos grão-mestres encontrarem a primeira armadura viva.

Foi uma batalha rápida e fácil, assim como as outras, porém o fato de a armadura começar a sangrar no meio do combate, chamou a atenção deles.

Assim que venceram, um dos cavaleiros de menor ranque foi encarregado da tarefa de desparafusar, quebrar e abrir a armadura.

O que encontraram, por baixo de um tecido preto, que impedia de ver quem estava dentro, foi uma pessoa, inconsciente.

Colocando seu ouvido no peito do homem, o cavaleiro confirmou que ele estava vivo, mas comentou o frio desproporcional com a temperatura da caverna.

Argh, como que você aguentou segurar por tanto tempo nisso? — Prilio encostou a palma de sua mão no corpo do homem desmaiado, para checar novamente o pulso, mas instintivamente puxou seu braço para cima, como se tivesse encostado em uma chama ardente.

Rafun também tentou o mesmo e teve a mesma reação.

— Você, venha aqui... — Quando outro cavaleiro de ranque inferior tocou o corpo, ele não teve problema algum.

— Traga o medidor de mana — ordenou Fabry.

Apontando o artefato para o homem caído, o resultado apontou que havia dez vezes mais mana no corpo dele do que em um humano comum.

— Ele pode ser um artista marcial ou mago — sugeriu Rafun.

— Impossível. Assim que o arrancaram da armadura, o corpo dele começou a vazar mana para todos os lados — disse Edwin. — Se a reserva de mana fosse equivalente a alguém treinado, isso não aconteceria. Mesmo que inconsciente, até aqueles que praticam métodos estranhos de crescimento acelerado, só perdem um décimo do que ele está perdendo.

— O sono dele parece induzido... — disse Prilio.

— Por causa das extremidades do corpo, não é? — disse Rafun, apontando para um dos dedos do pé, que estava com uma coloração ligeiramente verde. — Um monstro mágico de menos que trinta anos, nunca conseguiria fazer algo assim.

— Dos que habitam essa região, realmente não.

— Como um monstro de outro lugar se enfiou nas costas do colosso, que fica hibernando o dia inteiro no lago?

— Não tentei discordar com você, só pensei em voz alta. Qual a chance de ser um cientista ilegal, Fabry?

— Debaixo da supervisão de uma anciã dos Lance... Zero. — Antes de se juntar a guarda da família Fortuna, Fabry havia sido preso por trabalhar no transporte de um dos maiores laboratórios ilegais, descobertos pelo Duque atual. — Mas não consigo me lembrar de nenhum monstro mágico capaz de criar um sonífero e controlar outros seres vivos assim.

— As duas magias podem ser independentes uma da outra.

— Improvável.

Avançando mais afundo no labirinto das toupeiras, a frequência das armadilhas e a quantidade de monstros diminuiu.

Até a menor quantidade de pedras elementais, causou uma escuridão maior, criando um clima mais parecido com uma caverna comum.

Esse vácuo durou por uma longa caminhada, mas as cordas de mana garantiam que eles não se perdessem.

A cada armadura viva que eles encontravam, o ritmo da caminhada diminuía, já que era um peso extra para suportar.

Grupo de resgate 2

— Lucca! Lucca? Droga, onde ele foi se meter? — resmungou um dos arqueiros.

— E a culpa ainda vai cair na gente... — lamentou um dos guerreiros.

— Precisamos seguir andando — disse outro guerreiro. — Quanto mais tempo ficamos aqui, maior é a chance de nos depararmos com uma daquelas...

— O que foi?

— Entrem em formação!

Lucca M.

Para a maioria dos iniciantes na arte da luta, é recomendado nunca perder a calma. 

Entrar em desespero ou perder a consciência, resulta em golpes irresponsáveis, previsíveis e fáceis de serem lidos. 

Lucca, porém, era diferente. 

Ilha dos faróis gêmeos

— PARA ONDE ELES FORAM!?

— Eu não sei... Eu não sei...

Agarrando uma faca e forçando para dentro da boca do guarda, sua resposta mudou, com um grito de agonia:

— O castelo! Todas as mulheres e crianças foram levadas para lá, por segurança!

— Claro, por segurança.

Uma mentira óbvia, era óbvio que era uma mentira.

Por que era uma mentira? Não importava, esse resto de estrume não exigia justificativas para ser acusado, afinal, eram mentirosos.

— Por favor, ao menos eles, deixe-os em paz!

Sangue escorreu de sua têmpora, ainda de olhos abertos, caiu no chão.

“Que fome. Que dor. Eu preciso resgatar. Retribuir o favor. Vou me vingar. Que dor de cabeça. Que sede. Que alto. Que quieto. Que dor de barriga. Que nojento. Que dor. Que dor. Que dor.”

Ao abrir a porta de madeira e encontrar uma casa vazia, todas suas paranoias se uniram em uma ação unificada.

“Preciso chegar no castelo.”

Interior do casco do colosso

— Liberar selo.

Cercado por oponentes teoricamente indestrutíveis, em uma situação de desespero máximo, Lucca recebeu uma proposta: 

[Condições extremamente desfavoráveis detectadas, aceitar suporte externo?

Sim/Não]

Negando, uma segunda mensagem surgiu: 

[??? Acumulada.]

Ativando a habilidade de regeneração básica obtida por meio do livro, Lucca conseguiu lutar igualmente contra um número muito superior.

[Regeneração básica, nível 9 > 8]

O custo iria chegar, ele iria perder a consciência e isso resultaria em sua morte.

— Desculpe.

Agarrando uma das toupeiras, ele mordeu.

Ativando a regeneração básica e usando ao máximo para destroçar as armaduras, então se alimentando da carne crua das toupeiras 

Esmagando as armaduras, com intuito de matar quem estava dentro.

Comendo as toupeiras para se regenerar.

Vomitando por comer carne cura.

Comendo o próprio vomito, pelo impulso do custo.

[Regeneração básica, nível 8 > 7]

O alimento acabou e as armaduras estavam seladas demais para serem uma opção.

Se relembrando de quando acidentalmente repousou no círculo de meditação e percebeu sua própria mana, fez uma aposta.

Arrancando o prisma da parede, ele mordeu, quebrando seus dentes.

A regeneração trouxe até eles de volta, então jogou o prisma no chão e com uma armadura caída por perto, a usou para esmagar em pedaços menores e engoliu, rasgando seu interior.

[Regeneração básica, nível 7 > 6]

Os prismas acabaram, então ele escolheu os cristais de menor valor.

Os cristais acabaram, então ele escolheu os artefatos.

A mana saciava o custo, mas algo estava errado.

— Derrubei muito mais que dez armaduras, o que está acontecendo?

Aquela armadura, aquela máquina, aquele marionetista podia invocar quantas armaduras desejasse, com um simples movimento.

Enquanto ele estivesse de pé, tudo seria em vão.

Mas nesse estado mais irracional, uma realização instintiva, sem prova ou motivo aparente algum, surgiu em sua mente.

“A armadura é um pássaro ou toupeira, mas como anda com toupeiras, deve ser uma toupeira.”

Toupeiras são cegas.

Mas mesmo que criasse um distúrbio no som e no tato, aquela provavelmente era capaz de sentir a sua mana.

Então era necessário criar um distúrbio na mana.

— Hoje irá chover.

[Ainda é muito cedo para fazer sua previsão.]

— Hoje irá chover.

 [Ainda é muito cedo para fazer sua previsão.]

— Hoje irá chover

[Ainda é muito cedo para fazer sua previsão.]

[Ainda é muito cedo para fazer sua previsão.]

[Ainda é muito cedo para fazer sua previsão.]

[Ainda é muito cedo para fazer sua previsão.]

— Acorde, acorde, acorde!

Uma das armaduras foi poupada, e com muita insistência, acordada.

— Hoje irá chover. Hoje irá chover. Hoje irá chover. Hoje irá chover. Hoje irá chover. Hoje irá chover. Hoje irá chover. Hoje irá chover.

Destruindo o circuito de um dos artefatos e arremessando no teto, a pilha de tralha começou a desmoronar.

Nas condições desejadas, Lucca arrancou um dos braços principais, que sustentava outros dois e abraçou o último, torcendo para que seu próprio corpo, imune a mana, criasse uma interferência e impedisse mais reforços.

[Regeneração básica, nível 6 > 5]

— Selar.

O hospedeiro da armadura mecânica e seus artefatos que a faziam se mover, pagaram pelo custo da habilidade.

Quando viu que venceu, Lucca desmaiou.

Grupo de resgate 1

— Objetivo concluído.

Derrubando a armadura viva que carregava Trakov, o grupo dos grão-mestres se preparou para fugir.

Mas se virando para ver a corda de mana, que os guiaria para fora em segurança, um aperto no peito e uma força puxou todos para cima.

Grupo de resgate 2

Bloqueados pela terceira armadura chefe, os aventureiros decidiram fugir, mas foram pegos por uma corrente de água, que levou todos a um espaço aberto, tão fundo na caverna, que era possível ver o casco real do colosso.

De cima, eles avistaram centenas de armadilhas apontadas contra eles, cada uma ativada de acordo com o movimento da toupeira armada.

— Isso é tudo que você tem?

— Enfrentamos centenas de masmorras, das mais simples até as mais sofisticas, das criadas desde arquimagos até monstros mágicos, como você!

— Apesar de falharmos em quase todas ou descobrir que já foram exploradas no final...

— O importante é que saímos vivos de todas as armadilhas jogadas em nós!

Para o azar da toupeira, ela escolheu o grupo mais capacitado em sobreviver a armadilhas de masmorras como essa.

E acabando seus truques secretos, a toupeira responsável por montar as armadilhas soltou grunhidos, atirando tudo que restava simultaneamente, em um último esforço.

Vendo o fracasso, ela ordenou que as armaduras viessem terminar o serviço, sem sucesso.

De repente, até seus assistentes caíram no chão. 

E nesse tempo de desespero, os aventureiros aproveitaram para escalar com uma corda e dar um ataque surpresa, que eventualmente derrubou a armadura.

Então eles abriram e prenderam a toupeira, com a mesma corda que usaram para escalar.

Mas só então perceberam que a outra corda, feita de mana, presa em seus corações, havia se dissipado.

— Como a gente volta agora?

 Grupo de resgate 1

Felizmente, as linhas de mana podiam ser usadas por ambos os lados, uma fraqueza crucial que comprou tempo para que Rafun tivesse tempo para mostrar suas cartas secretas:

Quebrando seu artefato assinatura, um bastão de mágico, ele fez surgir centenas de olhos por toda sala.

Do interior do artefato quebrado, surgiram centenas de flores, bolinhas vermelhas, cartas e coelhos falsos.

Troca, desaparecimento e levitação. 

Piadas, enganações e ilusões. 

Dezenas de truques de mágica, manuseando a armadura como se fosse um brinquedo, preparado antecipadamente para participar da peça.

Nem mesmo os Grão-mestres conseguiram acompanhar tamanha loucura, que se encerrou com um breu completo, absorvendo a mana de todas as pedras luminosas.

Um feixe brilhante se acendeu no teto, girou e apontou para o centro da sala, onde estava Rafun, com uma cartola na cabeça.

Retirando e mostrando para o público ver que estava vazia.

Rafun colocou sua mão e puxou uma toupeira da cartola, zonza com o que aconteceu.

Coração do labirinto

Todos os túneis levavam ao mesmo lugar, uma pequena sala, com o maior cristal de mana em toda caverna.

Ali, os dois grupos de resgate, cada um carregando uma toupeira, se encontraram, com os grão-mestres chegando antes.

Definitivamente, era uma vista única.

Centenas de corpos espalhados pelo chão, rodeando o que parecia um bloco de gelo gigante, contendo um homem careca, com um colar que indicava que pertencia a certo monastério, o qual nenhum dos dois grupos conhecia.

Desse cristal que emanava o frio que todos sentiam ao abrir as armaduras vivas.

Também havia alguns aventureiros recentes, ainda vivos, congelando de frio, presos nas paredes, por ainda estarem conscientes.

Se os aventureiros já recebiam olhares tortos dos grão-mestres, por chegarem sujos de manchas com todos os tipos de cores e roupas cheias de rasgos, todos olharam para Lucca, o último a chegar, com ainda mais preocupação. 

Ele não carregava toupeira alguma, andava sem camisa, apenas com parte da calça, sem arma alguma, coberto por sangue e com um olhar vazio, na linha entre consciência e inconsciência.

Vendo que finalmente se reuniu aos outros, Lucca desmaiou novamente.

(Barão Prykavyk, Rafun e Fum)

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