Volume 1 – Arco 1
Capítulo 30: Triunfo do meu traidor
Ivan Zanatos, aliança comerciante, 1090 D.M
— Anuncio a chegada dos três grandes nobres, os protagonistas desta noite: O segundo na linha de sucessão, que não teria conseguido sem o apoio do seu maior amigo, mais novo representante da família Laika, nosso orgulho nacional, estampado em todos os produtos que usamos no dia a dia, sejam agraciados pela presença do nosso futuro! Por favor, um grande aplauso para o Grão-Duque, Ivan Zanatos e o líder da aliança comerciante, Yuri Laika!
Em meio aos gritos, aplausos e assovios, o novo Duque aproveitou para resmungar com seu amigo:
— Que introdução desnecessariamente longa, por acaso somos os atores de uma peça de teatro ou circo?
— Por favor, mantenha o sorriso e aguente essas formalidades. — Então se virou, apontando seu dedo indicador, no rosto de seu superior. — Só por hoje, não cause nenhum escândalo.
— Não sou mais aquele jovem de antes, agora minhas ações representam toda família Zanatos. Até marquei a data do meu casamento, com uma entediante nobre proeminente, com sangue imperial. Carente de um bom rosto, aliás.
— Finja que é, e eu finjo que acredito.
Os dois riram e seguiram acenando para todos, até se separarem em dois rumos.
Laika tomou um lugar na mesa circular, junto aos outros líderes das famílias comerciantes.
E Ivan caminhou pelo tapete vermelho, que subia por uma escadaria e terminava aos pés do trono. Quando se sentou, todos se levantaram e quando seu braço fez o sinal, todos se curvaram.
Terminado as formalidades e cumprimentos, todos se organizaram e estavam prestes a começar a reunião.
— Tinha um terceiro? É mesmo, perdoem meu erro, acabei deixando a terceira estrela da noite esperando... — Um erro claramente proposital, que trouxe sorrisos sutis, que caíram assim que as portas foram abertas. — E agora, nosso recém convidado, que acabou de começar suas operações por aqui! Como dizem, um filhote de leão ainda é um leão, um grande aplauso para o príncipe que saiu do ninho: Pyotr Fortuna!
— Príncipe que saiu do ninho... Gostei do título. Com minha nova autoridade, deveria batiza-lo oficialmente como pintinho? — murmurou Ivan, para sua escolta.
Era possível ver as veias do jovem Fortuna, pulsando em seu rosto coberto de fúria.
Passando direto por todos que tentaram cumprimenta-lo, marchou em direção as taças de vinho, carregadas por um dos garçons, que circulava na área designada para os filhos dos nobres e comerciantes presentes, então agarrou uma taça e despejou o líquido na cabeça do garçom.
— O que o pobre trabalhador tem a ver com tudo isso? — Ouvindo a voz do Grão-Duque, Pyotr se curvou. — Pelo jeito, terei que acrescentar o salário dele... Além de garçom, parece que terá que trabalhar como...
— Caham! — A tosse forçada de Yuri, impediu com que o Duque completasse seu xingamento. — Está satisfeito, jovem Fortuna?
Pyotr corou, envergonhado, como se tivesse caído em si e percebido o que havia feito, e andou até seu assento, com o olhar mirado ao chão, sem mais confusões.
— Só porque recebeu um título de mentira, acha que o respeitaremos de acordo... — murmurou Ivan. — Está embriagado pelo poder, sim, está embriagado pelo poder! Relatarei ao líder da família Fortuna, como um claro ato de tirania contra o meu povo!
— Não é para tanto — disse Yuri.
— Aqueles velhos mentiram para mim, por que as coisas terminaram assim? O poder do duque não era inferior ao meu?! Por que esses caipiras estão caçoando de mim? — gritou Pyotr, batendo na mesa.
A sala caiu em um silêncio completo. A multidão estava incrédula que ele proferiu tais insultos, contra uma maioria que poderia o atacar e matar, naquele exato momento. Os comerciantes sorriram, imaginando a melhor forma de drenar todo dinheiro dos bolsos do idiota que Fortuna havia enviado. E os nobres suspiravam, confirmando que os rumores sobre o oitavo na linha de sucessão dos Fortuna eram verdade.
— Como ousa...
— Se acalmem! Lembrem-se de quem sustenta tal confiança. — Yuri chamou reforços para segurarem a multidão descontrolada que partiu para atacar o Fortuna.
— Ah? Ah! — E Pyotr começou a berrar e se debater como uma criança.
— Ivan? Ivan! O que está olhando?
— Declaro essa reunião suspensa! — gritou o Grão-Duque. — Por favor, controlem seus ânimos.
Esse escândalo trouxe um aumento imenso na popularidade do Grão-Duque e do comerciante Laika.
— O novo Grão-Duque é diferente do anterior... Os tempos difíceis acabaram! — Nas ruas, era possível escutar o que se não ouvia a anos. Elogios ao governo, que surpreendentemente, começou a tomar boas decisões.
“Queda nos impostos e aumento nos benefícios ao povo, vitórias colossais em guerras contra os demônios das ilhas costeiras”, entre as grandes manchetes, na primeira página do jornal, um discreto artigo surgiu e causou um alvoroço no resto do mundo.
— Os Fortuna chamaram o responsável pela missão Zanatos de volta, para medidas punitivas? — O último medo que restava, da retaliação dos rancorosos Fortuna, desapareceu, dando espaço ao melhor ano de governo da história do Ducado.
E em um piscar de olhos, estava no tempo da segunda reunião geral da aliança comerciante.
“O que será dessa aliança, agora que o inimigo em comum, que sustentava tantos rivais juntos, desapareceu?”, esse pensamento em comum, que abriria a reunião como principal tópico, logo foi empurrado por uma reviravolta anunciada de última hora.
— Me dá nojo ver a cara daqueles forasteiros, tínhamos mesmo que ter convidado os Fortuna? — disse Ivan, agora com uma respeitosa barba, digna da posição que ocupava.
— É pelo bem maior, questão de segurança. Ou prefere revelar para o mundo inteiro que criamos uma aliança nacional para combater os heróis do momento? Se vamos usar a fachada de aliança dos maiores grupos comerciais, não há como deixar os Fortuna de fora, quer isso lhe agrade ou não — disse Yuri, que preferiu continuar raspando a barba, apesar da insistência do superior. — Tome cuidado, a pessoa que enviaram agora é completamente diferente do anterior.
— O Quinto na sucessão? Qual a diferença entre ele e o outro? Ambos falharam miseravelmente em conquistarem o que importa. São apenas pintinhos inofensivos.
— Não, esse já é uma ave adulta, capaz de voar. Temos que nos preparar de acordo.
— Uma galinha capaz de voar?
— ...Essa foi uma péssima analogia, mas minha mensagem permanece, o príncipe de agora já administrou um dos negócios do pai.
— Na verdade, gostei bastante da comparação. Não importa o quanto cresça, uma galinha como os Fortuna sempre permanecerá como é. Não importa se coloca ovos comuns ou de ouro! Hahaha!
Inclinando a cabeça e coçando sua nuca, Yuri mudou de tópico, com um tom mais sério e cauteloso, aproveitando o bom humor do superior:
— Sobre o assunto de antes, não poderia reconsiderar minha proposta? Agora que se consolidou no poder, não poderia me conceder um título nobre? Já faço trabalhos e carrego a responsabilidade de um, só me falta um título!
— Não me leve a mal, caro amigo, porém é como... Seguindo as comparações de animais, um gato querer latir ou um peixe nadar no mar do Norte. Comerciantes e nobreza nunca devem se misturar, pelo bem do povo. Imagine só, um homem com o poder do exército, o dinheiro de um comerciante e um carisma como o meu. Simplesmente, não é natural. Fantasias como essa, merecem ficar apenas no reino imaginário, só devem pertencer aos artistas e lunáticos.
Frustrado, mas contente em saber que o coração de seu superior permanecia perto do povo, Yuri respondeu:
—Tem razão. Falhei em manter em cheque a minha própria ganância. Como comerciante, é difícil manter o equilíbrio.
— Não o culpo, realmente é necessário uma ganância além do comum para um bom comerciante. Continue assim.
— Um alerta e um elogio, andando de mãos dadas? Parece que suas palavras daquele dia não foram vazias, está realmente se tornando um bom governante.
— Para você, que é você, me reconhecer assim, devo estar mesmo! — Colocando suas mãos sobre as bochechas de seu amigo, Ivan o parabenizou: — Fiquei sabendo que também vai se tornar pai, é verdade?
Yuri acenou positivamente e Ivan comemorou, cantando uma canção.
...
Mais cinco banquetes se passaram e a situação mudou drasticamente.
O tempo provou que a melhora inicial foi criada artificialmente pelo Grão-Duque. E seus projetos imediatistas e populistas, começaram a ter suas consequências.
“Revelado o escândalo das mortas apagadas, na expedição contra os demônios das ilhas costeiras, preço do pão dispara, a lentidão da modernização de Zanatos no setor alimentício e suas terríveis consequências”, mesmo com as ameaças do Duque, os jornalistas publicavam críticas sem parar.
Pois em tamanha crise, não havia mais nada a perder.
— Isso é tirania! Como pode sequer cogitar propor tais medidas insanas? — disse Yuri.
— Olhe as mentiras absurdas que estão espalhando sobre mim, minha esposa e meus filhos! Esses canalhas perderam a vergonha!
— Sim, concordo que, sobre esses assuntos, você tem todo direito de agir com medidas mais intensas, porém, censurar a imprensa inteira é um ato tolo!
— Se você fizesse sua parte, não teria que se preocupar com isso! — O novo representante enviado por Fortuna era o completo oposto do anterior. Suas medidas agressivas tomaram controle do mercado e Laika logo foi ultrapassado, mesmo com ajuda da aliança comerciante e apoio do Duque. — Realizei tudo que me pediu! Mesmo assim... Mesmo assim você foi humilhado por aquele forasteiro!
— Fez tudo o que pedi? Se eu tivesse o título de Marquês, metade dos problemas seriam no mínimo solucionáveis, porém, seu orgulho sem sentido não permite ver um plebeu do seu lado. Verdadeiramente, você sequer me considerou como amigo, em todo esse tempo? Você sente vergonha de mim?
— Espere, o que está dizendo? Que absurdos são esses? Por que está duvidando de nossa amizade? Tudo bem, se é o que quer, não mexerei com a imprensa. Não precisa ficar tão emotivo.
— Acha que isso é só um drama para te impedir de colocar as mãos na imprensa?
— O que mais poderia interpretar?
Yuri olhou com uma expressão que causou dor ao Duque, então saiu da mansão.
Sozinho em seu quarto, Ivan abriu a janela, descansou seu rosto na grade da sacada e olhou para o céu.
— Não está claro que te prezo mais que meus irmãos de sangue?
Esse evento fez com que o apoio do Duque a Laika aumentasse.
Agora, as outras famílias passaram a oferecerem trocas em enormes desvantagens e leis sem vergonha, claramente para prejudicar Fortuna e apoiar os Laika, surgiram.
A elite inteira apostou nos únicos capazes de baterem de frente com a ameaça existencial, que surgiu no Ducado.
Os escândalos de Ivan foram cobertos, um último impulso econômico e uma última esperança reanimou o povo.
Com todos esses sacrifícios, Laika chegou em um patamar global.
O Ducado finalmente estava pronto para lutar de igual para igual.
1097
— Como é possível? Como roubaram nossa maior invenção? — Ivan, furioso, deu um tapa no rosto de Yuri. — Fortuna, por acaso, possui um profeta, para prever todos os nossos movimentos? Como é possível!?
— A verdade é clara — disse Yuri. — Fortuna deve ter comprado algum membro da aliança, algum espião está vazando todas nossas informações.
— Livre desse rato logo. Te dou completa autoridade.
Um expurgo ocorreu na aliança e Laika ganhou ainda mais influência.
O que intensificou a dor da próxima derrota.
— Estamos acabados... — E Ivan prosseguiu: — Sentencio Doroteya Laika a execução na forca, pelos crimes de sequestro, trafico humano, assassinato e tortura.
A última peça caiu diante dos olhos de Ivan. A tia de Yuri manchou por completo a reputação dos Laika, acabando com uma sequência de contratos cruciais.
1098
O imperador remove o título de Grão-Duque de Ivan Zanatos.
Após uma cautelosa análise, Fortuna vence a disputa e se tornam os novos governantes do Ducado, tomando o título.
1099
Zanatos se recusa a entregar o Ducado, uma guerra civil se inicia.
1107
— Somos família! Admito que posso ter tido um mau governo, porém esse laço, a amizade de nossas famílias, que foi construída e fortalecida, antes mesmo que o imperador de Kalogakathia nascesse, vai quebra-la por meras moedas de ouro?
— M-meras moedas de ouro? Por acaso o seu tempo no governo te deixou cego? Sim, te traí por essas meras moedas de ouro... Será que esqueceu o valor delas? Ou talvez sempre fingiu saber...
— Finalmente derrubou sua máscara! Sua família e seu nome desprezível ficará na história, como um maldito mesquinho que arrancou de nós tudo e entregou para um forasteiro!
— Por que dá tanto valor para mera tinta em um pedaço de papel, por que gastou tanto para se parecer forte, ao invés de investir no que o povo clamava? Sim, estou ciente do pecado que estou cometendo, sim, quase desisti inúmeras vezes ao considerar os inúmeros favores de seus ancestrais, porém! Farei o sacrifício necessário, aceitarei ser conhecido como traidor, se isso for o preço para alimentar o meu povo.
— Você é o pior de seu sangue, seus pais choram por perdão nos portões do inferno, por terem cometido o erro de te darem vida. Te amaldiçoo! Zanatos recuperará seu poder e meus descendentes colocarão grilhões nos seus descendentes. Os Laika desfilarão pelas praças como os devidos cachorros mal treinados que são!
— Pelo bem maior, é um preço que estou disposto a assumir.
1108
Zanatos se rende.
1109
Fortuna tem misericórdia e além de poupar, restitui o título nobre de Zanatos, como Barões de uma vila insignificante.
1120
Quando a poeira abaixou e o povo passou a amar o governo, dessa vez por um período que se estenderia por gerações, o Grão-Duque Fortuna elege Yuri Laika como administrador das terras centrais, fora da capital.
E recebe sua promoção de plebeu a Marquês.
Em meio ao povo, Ivan Zanatos assistiu sua cerimônia, de longe.
— Te amaldiçoo.
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