Hant! Os Piores Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 0: Ladrão de chaves

                        

Uma agitada noite chuvosa, uma memória em formato de sonho, de quando ainda vivia no interior de Minas, perto dos meus poucos parentes que restaram.

— Já está tarde, vão para suas camas.

Meus dois filhos menores fugiram para se esconder debaixo de um enorme cobertor que comprei do amigo que fugiu para os Estados Unidos.

Mas a cada relâmpago, eles se enfiavam ainda mais nas cobertas.

— Vocês não têm jeito...

Me sentei a beira da cama e comecei a cantar uma cantiga para espantar a chuva, que aprendi há muito tempo.

Logo a mais nova dormiu, então eu a segurei com cuidado para levar ela até a beliche, mas estranhamente, o do meio, que sempre dormia antes dos outros, estava acordado.

— O que foi Lucca?

A face dele se transfigurou, consumido por um amontoado de carne pulsante e suas roupas se tornaram completamente brancas, brilhantes.

— Por quanto você vendeu a sua alma?

Nem em meus sonhos aquele demônio me deixava em paz.

— Para interromper os pesadelos ele não aparece...

A última frase trouxe consigo a lucidez, conectando esse sonho com a realidade.

Abri meus olhos, passei a mão pelo meu rosto, transbordando suor, me levantei e olhei em meus arredores.

Minha casa dos sonhos desapareceu. E tomando seu lugar, estava o barraco cheio de lixo espalhado pelo chão, transbordando dos sacos pretos, rasgados pelos pedaços de vidro estilhaçados quando arremessei um invasor pela janela.

Limpei as lágrimas e descontei a minha raiva que surgiu ao ver o rosto daquele demônio. Levantei minha perna e chutei com toda a minha força um boneco de pano caído no chão.

Ele rebateu no teto e na parede, caiu em cima da mesa e derrubou um copo de vidro, se juntando aos outros.

Calcei meu chinelo, que produzi eu mesmo, e caminhei em direção a dispensa: um pequeno armário que ficava no mesmo cômodo, assim como todos.

Procurei algo para comer e só encontrei um resto estragado de alguma refeição esquecida, provavelmente interrompida por um dos meus bicos extras ou uma horda de monstros desgovernados.

Me contentei com um copo de água de gosto terrível, por falta de manutenção da torneira; recontei, checando para ver se ninguém havia roubado minhas chaves enquanto dormia e saí, esperançosamente, pela última vez desse inferno.

Hoje eu termino preso ou morto. Mas ainda não é um bom dia para morrer, por isso, o improvável sucesso deve funcionar.

Saindo da casa, a caminho de um lugar apropriado, sortudo. Se iniciaram os devaneios de um louco:

Tudo nessa vida tem um preço, por isso, desconfie de tudo. 

Se existe algo verdadeiro de fato nesse universo, isso permanecerá inabalável apesar de todas as suas dúvidas. Por isso, duvide.

No momento perfeito, no lugar mais miserável dessa cidade, aquele homem de branco se aproximou de mim e me ofereceu uma solução.

Guiado pelo instinto mais forte, assinei a minha sentença.

Palavras transformam a realidade.

Um contratante, que cria os termos. Um contratado que assina, confirmando que aprova as condições. E o contrato, físico, virtual, verbal diante de alguém confiado, é confirmado pelo carimbo da assinatura divina, uma senha criada e entregue a nós desde o nascimento: a digital.

Contratos com o Estado determinam impostos, contratos com as famílias obrigam que os pais alimentem seus filhos, que valor teria o dinheiro se não fosse pelo contrato invisível, assinado pelos nossos ancestrais antes mesmo de nós nascermos?

Parecem mágicos. Apesar de tudo, prevalecem os contratos.

Aquele contrato. Aquele maldito contrato, que assinei na beira da ponte principal da cidade. Aquele homem, aquele maldito homem vestido de branco, que certamente era o Diabo disfarçado, quem pensei ser apenas uma ilusão causada pela embriagues.

O que assinei tomou múltiplos anos da minha vida, mudou o rumo da minha existência.

E tudo que recebi em troca foi uma promessa, que pode ou não ter sido cumprida.

A manifestação mais simbólica de um contrato, depois do papel e caneta, é uma chave.

Apenas um contrato pode me tirar de outro, apenas com uma chave posso escapar desse mundo.

Caminhando pelas ruas repletas de miséria, elevei meu olhar a glória de um rei antigo.

— Vingança, Tortura, Festejo, Prosperidade, Sigilo, Ganância e Queda.

Enquanto aqueles que encontro no caminho nada podem reivindicar como seu, porque é certo que até seu pouco será tomado, seja pelos animais ou pelos homens.

De alguma forma, se tornou consenso em todas as gerações posteriores, que aquele imperador era dono de todos os planetas, impossíveis de serem tomados. Neles ele forçou sua própria história para se tornar eterno e todos os outros humanos, com a mesma capacidade de reivindicar como seu, optaram por aceitá-lo como detentor da verdade.

Quando olho para o céu, admirando essa e tantas outras histórias das maiores figuras do passado, imagino quantas estrelas e outros planetas vagam pelo vasto universo.

Eles estão além do meu alcance, além da minha compreensão.

Apesar dos astros celestes estarem além de toda humanidade, por pelo menos milênios a vir, as chaves têm um poder que me permitiu visitar um lugar tão, senão, mais longe que a estrela mais distante ao olho humano.

Quantos universos vou ter que vagar até encontrar o meu?

Se as estrelas são mais numerosas que os grãos de areia no mundo inteiro, quanto mais outros universos.

Essa resposta está além da minha compreensão, mesmo assim, sigo buscando.

Pela dúvida, estou longe de descobrir com exatidão, mas certamente estou mais perto que a infinidade dos planetas.

Quando visitamos um campo de guerra, somos inconscientemente guiados a imaginar sobre nosso próprio lar

Empatia é algo natural para todos os humanos, esse veneno me causou imaginar o fim do meu mundo também

Por isso dance ao som da música daqueles que precisam te enganar, cante até o último fôlego que restar em seu pulmão, talvez seu grito atraia o olhar daqueles que se escondem em plena luz do dia e se nada disso funcionar, crie você mesmo o que precisar.

Pois da natureza selvagem do irracional ou da lógica perfeita, capaz de encapsular todo universo na palma de sua mão, lá habita o que pode quebrar o falso contrato sagrado.

A sabedoria, a arte do incompreensível. É necessário transcender o que é óbvio, o que é ensinável.

No âmago daquele que perdeu tudo após afirmar que nada mais havia para perder.

Em minha pele habita a chave do fim do mundo.

Eu provei teorias impossíveis de serem comprovadas com meus próprios pés

Ninguém sabe ao certo de onde ou o que exatamente são essas chaves. Certamente esses portais entre mundos foram criados artificialmente, o que leva a imaginar que as chaves também foram, mas, além disso, são muitas as teorias.

Fatos existem e leis que se aplicam até os confins do universo também.

Realmente, através de minhas diversas desconfianças, acabei encontrando empecilhos tão grandes, que não tive outra opção senão acreditar como verdade.

Uma delas, após vagar por três universos, foi a existência de outros universos.

Apenas atualmente, que contradição.

Sim, atualmente existem em torno de cem. Como descobri isso? Duvidando, tentando apagar a existência de cada um deles com minhas necessidades de provas e mais provas, até minha criatividade para criar dúvidas acabar.

Se há mais? Duvido, até que se prove o contrário.

Em meio a tantas perdas, incertezas e mentiras, foi reconfortante encontrar esses elementos absolutos:

Existem seres invisíveis aos nossos olhos.

Criatividade existe, além do abstrato.

Paz é temporária e a guerra é inevitável.

Catástrofes são previsíveis.

O tempo é infinito e o espaço finito.

Que surjam mais verdades, pois o mundo carece delas.

As chaves provam a legitimidade de um herói. Ou seja, cada herói carrega a chave de seu respectivo mundo, monopolizam uma das únicas formas de viajar entre os universos, seguram firmemente meu bilhete de loteria como se a vida deles dependesse disso.

Para os desatentos, as chaves que eu segurava não se destacavam de forma alguma de qualquer outra chave comum. Porém, ao seu contratante, ela revela sua forma verdadeira, de forma que é impossível confundi-la de qualquer outra.

Alguém como eu, que fui empurrado para outro universo sem uma chave, pode voltar de três maneiras, todas envolvendo esses chamados de heróis de outros mundos.

A primeira e mais simples, com o portador me dando a permissão para eu usar a sua porta.

A segunda, fazendo um contrato e transferindo a posse da chave, algo raro, mas que já aconteceu com heróis de mundos a beira da destruição ou sem muito apego a sua casa.

E a terceira, matar e roubar a sua chave.

Sem montanhas de dinheiro, ou o carisma e habilidades para ficar bajulando os heróis, fui forçado a tomar o último caminho.

Trabalhando para a associação reguladora de heróis, acusei falsamente muitos, por crimes que forjei meticulosamente, matei e roubei três portadores de chaves.

Ao atravessar as portas que não levaram para onde eu queria, ficou cada vez mais difícil de justificar essa atitude drástica, resultando em muitos rebaixamentos, até chegar nesse ponto onde meus superiores propositalmente escondem informações importantes sobre os heróis aptos a punição de mim.

A primeira chave encontrei em meu primeiro ano de trabalho, após o meu fracasso total e morte de toda a minha equipe. A segunda chave encontrei em meu segundo ano, a terceira em meu quarto. E hoje faz seis anos desde que roubei a terceira, completando dez anos desperdiçados nesse mundo decadente.

Nesse desespero de estar apodrecendo em um trabalho miserável, vivendo em uma casa de aluguel baixo, exposta a qualquer ataque inimigo, agi apressadamente e consegui minha quarta chave a um alto preço.

Se não for ela, tudo está acabado. Com sorte seria apenas preso ou morto no instante em que me encontrassem.

Arrebentando o colar do herói caído, tomei o pequeno recipiente que continha uma fotografia dobrada três vezes. Chegando perto da porta certa, o papel se desembrulhou sozinho, revelando sua imagem completa, então mudando de forma, para uma pequena chave que se encaixava perfeitamente na fechadura.

Diante dela, relembrei de minha última aposta que me fez acabar aqui.

Dezesseis de março de 1990, sexta-feira, o tradicional melhor dia da semana, o pior dia da minha vida, na capital do estado de São Paulo.

Parando para pensar, sempre fiz imbecilidades assim. Talvez seja como eu sou.

Nesse dia, fiquei sabendo pela TV, ao lado de meus três filhos, minha esposa e a família de um amigo meu, o quão trouxa eu tinha sido.

Essa maldita poupança não era para ser o meio mais seguro de guardar dinheiro?

Todo o dinheiro da venda do sítio, a única herança que meu pai me deixou, havia sumido diante de meus olhos. E para piorar, o resto eu usei para começar a financiar a droga de um carro em mil vezes sem juros, que também viraria sucata no dia seguinte por um roubo seguido de um acidente de trânsito.

Com certeza gastei todo o meu azar naquele dia.

Coloquei a chave na fechadura, rezei o pai nosso um milhão de vezes, girei com toda a minha força e chutei a porta.

— Não é possível.

Andei em círculos, pulei, gritei de alegria e até beijei o chão.

Eu estava de volta! Mas estava mesmo?

Averiguei meus arredores, observei cautelosamente além das óbvias semelhanças. Era claro que tudo estaria um pouco diferente depois de tantos anos, mas no passado já fui enganado por subestimar demais essas diferenças.

Para resolver de vez essa dúvida, fui para a minha antiga casa, como havia sonhado incontáveis vezes.

O quão alto devem estar os meus filhos?

Eu corri a rua inteira, mesmo na subida, e cheguei ofegante, mas com um enorme sorriso.

Apesar da incômoda placa de “aluga-se”, sem dúvidas essa era a minha casa.

Eles haviam se mudado, é claro que haviam se mudado, era até bom que tivessem.

— Se me encontrassem assim nem reconheceriam seu pai. — Olhei para o meu reflexo na vitrine de uma nova loja de roupas e eu estava igual a um papai Noel de shopping, se tivesse sido atropelado duas vezes, lutado na Segunda Guerra Mundial e passado a noite em claro. — Ou pior, até caçoariam de mim.

Enquanto andava, colocava meus pensamentos em ordem e testava para ver se minhas habilidades ainda funcionavam. Parecia que sim. Me sentei em um banco acabado de praça e ri como um bêbado.

Passado a primeira euforia, comecei a ponderar as vantagens e desvantagens.

Naquele mundo, estava tão preocupado em não morrer, que nem havia imaginado o quanto dinheiro eu poderia fazer com esses poderes.

O mundo continuava igual, nenhuma catástrofe havia chegado e nenhum humano com poderes iguais ao meu também.

Mas quanto tempo restante a Terra possuía até as invasões?

Encontrar minha família era o que eu mais queria no mundo, mas de que adiantaria se em mais alguns anos o mesmo desastre que pontualmente chegou aos quatro mundos que estive, acontecesse na Terra?

O poderio bélico poderia se equiparar com a magia? Um grande herói como o ancestral dos Fortuna ou a santa Luchiena existe na Terra?

Usando como base aquilo que quase extinguiu toda Jithnaris, duraríamos tanto quanto os dinossauros do passado.

— Droga. — O peso de ter matado alguém do meu próprio planeta se mesclou com esses pensamentos pessimistas sobre o futuro. Só o fato de estar em uma pracinha na cidade de meu mundo, me trouxe de volta uma humanidade devastadora. — Salvar o mundo não é mais para mim...

Coloquei a minha mão no bolso, e as quatro chaves ainda estavam ali.

— Quatro chaves para quatro heróis. Quem devo escolher?

Lucca Massaro Monti

“Com um breve ato, contraindo os músculos da boca, tomando cuidado para cerrar levemente os olhos, as pessoas passam a acreditar que estamos felizes. Quando testei com sucesso isso pela primeira vez, passei a observar melhor as pessoas. Se tornou um hábito colecionar a sequência de movimentos e ações que compõem a transmissão de uma emoção. 

Antes que percebesse, já vivia uma vida repleta de mentiras. 

Descobri que isso não era normal, tentei parar. Mas as pessoas preferiam minhas mentiras às verdades. Parecia que as pessoas odiavam minha própria natureza. Senti mais medo que nunca.

Que felicidade foi descobrir que humanos comuns também forçam sorrisos. Por esse pequeno instante da fenomenal descoberta, ele se sentiu completo, se sentiu humano. Rapidamente esse sentimento foi soterrado pela outra descoberta de que humanos apenas fingem sorrir para cobrir outros sentimentos negativos e não para gerar propriamente o que seria felicidade. Decepcionante.

...

Encontrei uma ferramenta tremendamente útil. Em livros, muitos autores optam por usar a narração em terceira pessoa. Para não me perder, usei disso para criar a barreira clara entre o que eu sou e o que eu finjo ser. Talvez um dia encontre um lugar em que eles não me odeiem, mas até lá decidi abandonar a mim mesmo.” — pedaço do diário escrito por Lucca Massaro Monti, XX anos. 

São Paulo, 2000 D.C

Às vezes parece que não importa as ações que eu faça, as escolhas que eu tomo, os problemas que eu encontro, nada muda. 

Eu durmo, eu acordo e no maior dos casos todos os meus problemas duram no máximo uma semana. 

Logo tudo retorna ao normal, a rotina maçante de antes sempre retorna. 

Nada que eu faço tem impacto algum. 

Se eu morresse hoje... Quem se lembraria de mim?

Cada escolha irrelevante intensifica esse desconfortável sentimento de que se eu sumisse ninguém iria se importar.  

Quando ajudo os outros, não sinto prazer algum como os outros dizem, pelo contrário, só me sinto na obrigação de continuar ajudando, como se um novo fardo se colocasse sobre minha vida já problemática. 

Nunca pensei por mim mesmo, apenas aceitei o que os outros jogaram sobre mim. 

Eu nunca decidi o certo e errado, mesmo assim sempre acabei fazendo o certo. 

Eu nunca gostei de ajudar, mesmo assim ajudei tanto os outros que acabei me prejudicando, muitas vezes irrecuperavelmente. 

Por que eu faço isso? Porque é assim que eu, uma pessoa irrelevante deveria agir. 

De tempos em tempos esse pensamento desgastante retorna, mas logo o soterro pelos afazeres do dia a dia, afinal, como os outros disseram: todo questionamento sobre a vida e o universo é parte de uma fase tão efêmera e insignificante quanto a vida de uma mosca.

Perguntas e realizações sobre a vida não importam, porque eu não importo. 

— Já é sete horas?... — Me levantei às pressas e corri para me arrumar para o trabalho. — Que pensamentos de adolescente mal-amado...

Essa é uma dor suportável. Não sou o único irrelevante nesse mundo e os pequenos prazeres do cotidiano já são o suficiente para mim.  

Olhei para o espelho, arrumei meu cabelo e sorri.

— Pronto, já passou. — É deprimente me conformar com essa vida tão insignificante tão fácil assim, talvez essa seja a característica dos desimportantes. — Essa tinta nova não durou nada... Já está desbotando?

Na época em que era mais dedicado nos estudos, um aluno me irritava muito. Ele sempre tirava notas mais altas, falava e vestia coisas sem sentido. Então, decidi me tornar amigo dele para roubar seu segredo de estudo e o ultrapassar nas notas me esforçando mais. Acabou que algumas pessoas só nascem mais inteligentes e ele passava em todas as provas estudando o mínimo.

A amizade, no entanto, continuou por mais um tempo. E esse é o efeito colateral disso: histórias orientais de grandes heróis que conseguem destruir montanhas com a espada, o mundo assolado por diversos portais com monstros dentro e o protagonista ganhando uma habilidade roubada e usando a ciência moderna como uma grande vantagem. 

Mesmo já tendo que raspar a barba, eu continuo encontrando aconchego da minha irrelevância, me imaginando no lugar desses grandes protagonistas que carregam o destino de milhões em suas mãos, esse é um dos meus pequenos prazeres.

No ônibus a caminho do trabalho, eu sempre carregava comigo algum livro de fantasia usado, que encontrava em uma pequena seção do sebo perto da minha casa. De tanto ir lá, o dono começou a enviar alguns logo que chegavam, direto para minha casa e me emprestar alguns livros pessoais dele de graça.

— Opa, vou descer aqui, obrigado.

                                                                   

                                                                                                                     (Capa alternativa)

 

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