Volume 1 – Arco 3

Capítulo 46: Algo Estranho

A cantora Alexia Magus desceu do andar dos sentinelas para o segundo, com os ombros caídos e os olhos cheios de preocupação. Sua tentativa de falar com Asta não teve sucesso, e o pesar era visível em seu semblante.

“Como posso ajudar Asta? Se continuar assim, ela vai acabar adoecendo. Não gosto de ver alguém próximo a mim nesse estado.”

Ela caminhava pelo corredor vazio que levava à sala de reuniões, onde Mília mantinha seu escritório. Quando chegou à porta, encontrou Gwen Deacki saindo. Ao se cruzarem, os olhos de Gwen se iluminaram e um largo sorriso apareceu em seu rosto.

— Hum?! Alexia aqui? Pensei que você ainda estaria no oitavo andar tentando falar com Asta — comentou Gwen.

— Eu tentei, mas ela não quis conversar. Passei a manhã toda lá, mas nada surtiu efeito. — Alexia suspirou, fechando os olhos por um momento enquanto respirava fundo. — Não sei o que fazer, parece que nada adianta.

A cantora, sendo atenta às perspectivas dos outros, notou que Gwen parecia exausta, com marcas de cansaço evidentes. Todos sabiam que Gwen, amiga de Dusk, passou quase todo o tempo no hospital com ele.

— Gwen, você também precisa descansar. Passar dias e noites no hospital sem dormir direito também faz mal — disse Alexia, com uma voz suave, mas firme.

Gwen, mantendo um olhar distante e despreocupado, mostrou um sorriso cansado e balançou a cabeça, indiferente à sugestão de Alexia.

— Não precisa se preocupar comigo. Vou te dizer o mesmo quando você veio falar isso no hospital. Não me importo em ficar ao lado de uma pessoa querida para mim.

Apesar de Gwen ser uma garota distante e um pouco anti-social às vezes, Alexia percebeu a grande determinação e convicção dela. Por um amigo, Gwen faria de tudo.

— Mas o que me preocupa ainda é o estado de Dusk. Eu sei que o médico deu alta para ele, mas aquele garoto inconsequente não quer descansar como foi pedido. Nem te contei antes, mas ele não regenerou sua mana enquanto estava inconsciente, por isso ele pode desmaiar a qualquer momento.

Os olhos de Alexia se arregalaram e suas sobrancelhas se franziram com preocupação. Ela mordeu o lábio e passou a mão pelos cabelos nervosamente.

— Eu já sabia que Dusk é cabeça-dura, mas não imaginava que ele chegaria a esse ponto — comentou Alexia.

— Sim, não vou negar. Por isso quero saber se você o viu passar por aqui, pois Mília pediu para ele descansar.

Alexia balançou a cabeça.

— Em todo o tempo que cheguei, não o vi passar por mim.

Gwen levou a mão ao queixo, observando o corredor. Então, percebeu uma porta perto do elevador que dava acesso a uma escadaria que subia e descia para os próximos andares.

— Não acredito que ele tenha usado as escadas. Aquele molenga nunca faria tanto esforço, nem se estivesse 100% recuperado — comentou Gwen, com um tom de frustração.

— Gwen, posso perguntar uma coisa? — pediu Alexia, com uma postura visivelmente tímida. Seus olhos encaravam o chão e desviavam nervosamente, e suas mãos se entrelaçavam em um gesto inquieto. — Você se preocupa muito com ele, certo? Vocês parecem bem próximos e tal. Me faz pensar que são até namorados. Me responda, tem algo entre vocês?

A pergunta pegou Gwen de surpresa. Ela cruzou os braços, adotando uma postura firme e um olhar fixo, encarando a cantora como se ela fosse uma adolescente apaixonada.

— Entre nós, é só uma grande amizade. Fico preocupada e alerta com ele porque me lembra uma pessoa querida, e é por isso que consigo me dar bem com ele — respondeu prontamente, sem rodeios.

Alexia, aliviada com a resposta direta e sem rodeios, suspirou profundamente, sua postura relaxando um pouco. No entanto, a atitude de Alexia em relação a Dusk chamou a atenção de Gwen, que notou um certo interesse da parte da cantora.

— Você parece muito preocupada e interessada em saber sobre ele. Durante os dias em que ele ficou inconsciente, você sempre esteve lá para saber das novidades. Agora, quando o viu com alta, foi a única que o abraçou com tanta motivação e está agindo como uma garota de quinze anos apaixonada — observou Gwen, colocando a mão na cintura.

Alexia, percebendo que Gwen a estava analisando, não conseguiu esconder sua vergonha. Ela acenou com as mãos em um gesto nervoso de negação, enquanto seus olhos vacilavam, indo de um canto para o outro. Suas bochechas ficaram vermelhas como um tomate, e ela começou a mexer no cabelo de maneira ansiosa.

— Não é nada disso que está pensando. Não estou interessada em Dusk ou algo assim. Só quero vê-lo melhor, feliz e bem, e também quero vê-lo em ação novamente — respondeu Alexia, sua voz falhando e cheia de timidez, quase sussurrando.

Nesse instante, um sorriso sarcástico e com um toque de malícia surgiu nos lábios de Gwen, que mal conseguiu esconder sua diversão.

— Olha que fofo, você mesma admite seus sentimentos. Nem precisei insinuações e você já veio dando as respostas na lata — disse Gwen, rindo suavemente.

Percebendo a própria falha, Alexia quase teve um treco. Uma gota de suor escorreu pelo seu rosto, e suas bochechas, já coradas, se tornaram ainda mais vermelhas enquanto absorvia a provocação de Gwen.

— Meus olhos não me enganam, vejo o sentimento de amor e carinho em você — comentou Gwen, apontando para os olhos rosados de Alexia com um olhar de diversão. — Não sei se é amor à primeira vista ou se vocês já se conheciam, mas se quer uma dica, sugiro que fale e mostre seus sentimentos logo, antes que o perca.

Alexia, agora exaltada, quase saltou de sua posição. Seus olhos se arregalaram de surpresa, e sua expressão tímida e envergonhada desapareceu instantaneamente. Ela assumiu uma postura defensiva e desconfiada, franzindo os olhos e encarando Gwen com um olhar afiado.

— Como??? — perguntou Alexia, sua voz carregada de indignação. — Isso foi uma ameaça? Está assumindo que pode ter Dusk quando quiser?

A mudança brusca na atitude de Alexia deixou Gwen um pouco surpresa, mas sua expressão maliciosa permaneceu inalterada, divertindo-se com a reação visceral da cantora.

— O Duskizinho? — provocou Gwen com um sorriso travesso.

O apelido fez com que os ombros de Alexia ficassem tensos e seus lábios começassem a tremer. Para ela, esse tipo de apelido era reservado para casais que já estavam juntos há um bom tempo. O brilho em seus olhos parecia se esvair aos poucos.

— Isso quer dizer que vocês???

Alexia tentou continuar, mas Gwen, percebendo que a cantora estava se sentindo mal com a situação, fez uma pausa. Ela cruzou os braços de forma firme e, com um olhar severo e um pouco irritado, inclinou-se para frente e apontou o dedo indicador diretamente para Alexia.

— Estava prestando atenção no que eu disse? Não tenho interesse nenhum naquele idiota, é só amizade, entendeu? Vê se entende isso, ok? — intimou Gwen, sua voz carregada de determinação.

A firmeza de Gwen trouxe um alívio imediato a Alexia, que parecia estar se afundando em dúvidas e constrangimentos. Alexia respirou fundo, tentando se recompor após a resposta direta e clara.

Porém, nesse momento súbito e repentino, um som de golpes ecoou pelo corredor. Parecia que alguém estava usando um instrumento de madeira. O barulho fez com que Gwen olhasse para o final do corredor com atenção alerta.

— O que está acontecendo? — Gwen fechou os olhos e concentrou toda a sua atenção. Após alguns momentos, ela franziu a testa, cruzou os braços e bateu com firmeza os pés no chão. — Aquele idiota, por que está treinando tão pesadamente? Mília acabou de pedir para ele descansar, e agora ele está lá treinando? É mesmo um idiota.

— De quem você está falando? — perguntou Alexia, confusa com a identidade do “idiota” mencionado.

— Quem mais poderia ser? O Dusk. Ele mal se recuperou direito e já está lá treinando com espadas. Não tem jeito, não é mesmo? — Gwen balançou a cabeça em desaprovação, claramente frustrada com a teimosia de Dusk.

Alexia observou a intensidade de Gwen e seguiu seu olhar para o final do corredor, começando a entender a situação com a mesma inquietação que Gwen demonstrava.

Alexia, ao ouvir as palavras de Gwen, deixou escapar um sorriso encantador que surgiu quase sem querer. Gwen, ao se virar e notar o sorriso, inclinou a cabeça para o lado, confusa com a expressão de Alexia.

— Por que esse sorrisinho? — perguntou Gwen, intrigada.

— Hum??? — Alexia foi pega de surpresa, seu sorriso revelador atraiu mais atenção do que pretendia. Ela deu um pulo, sentindo-se um pouco constrangida.

Gwen balançou a cabeça em aprovação, descruzou os braços e estendeu a mão. Com um gesto mágico, um pó cintilante se concentrou em sua palma e, magicamente, uma carta de baralho apareceu. Era um Ás de Copas.

— Tome, leve isso e impeça o Dusk de continuar treinando. Não vou lá fazer isso porque é bem capaz de eu ficar ainda mais irritada com ele e acabar colocando-o em uma ilusão. Prefiro que você faça isso — explicou Gwen, entregando a carta.

— Para que serve isso? — perguntou Alexia, olhando para a carta com curiosidade.

— Isso? É uma carta de cura, um efeito da minha magia primária. Caso ele fique esgotado de mana e desmaie, use isso nele — respondeu Gwen.

Alexia aceitou a carta sem hesitar e, com determinação renovada, correu pelo corredor em direção ao local onde Dusk estava treinando inconsequentemente, ansiosa para impedi-lo e garantir que ele não se esgotasse mais do que já estava.

 

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Na sala de treinamento, Kevin e Bennet estavam completamente exaustos. O treino havia sido tão intenso que ambos mal conseguiam se manter em pé e estavam largados no chão. Bennet Pardian, com os músculos praticamente paralisados, tinha sua espada de madeira caída ao lado. Kevin Dramus, ainda mantendo a espada em punho, estava debilitado, mas sua força e resiliência o mantinham firme.

— Você viu? Minhas técnicas dragônicas são extremamente poderosas e eficazes. Mesmo com essa espadinha de madeira fajuta, se eu quisesse acertar um golpe, causaria um grande dano — disse Kevin, exibindo um largo sorriso confiante enquanto mantinha contato visual com Bennet.

— Para de dizer mentiras... As minhas técnicas da Fênix foram superiores. As pancadas que dei em você até te deixaram confuso, deve estar alucinando — provocou Bennet.

Ambos, determinados a mostrar suas habilidades e com um orgulho exagerado, tentaram se levantar, mas caíram novamente. Sem desistir, conseguiram pelo menos se sentar, usando as espadas de madeira como apoio. Os dois espadachins ferozes se encararam com uma intensidade tão grande que parecia que faíscas poderiam sair de seus olhares. Kevin, com um olhar desafiador, apontou para si mesmo com um gesto superior.

— Já que ainda pensa assim, que tal mais um round? Vamos fazer um tudo ou nada — sugeriu ele.

Bennet, com a cabeça apoiada na base da guarda da espada e seus longos cabelos caindo sobre os olhos, não deixou que isso o impedisse de responder.

— Está me desafiando mesmo? Quantas vezes já lutamos hoje? Não está cansado? Odeio enfrentar gente fraca, mas se insiste em continuar perdendo, então vamos.

De repente, algo chamou a atenção dos dois. Não era algo que estivesse acontecendo na sala, mas sim algo externo. Uma grande onda de energia mágica surgiu repentinamente, esmagadora e intensa. Assim como apareceu, desapareceu sem deixar rastros. Kevin e Bennet ficaram paralisados, olhando para o nada com expressões de confusão. Ambos tiveram o mesmo pensamento simultaneamente:

“O que foi isso?”

 

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Após Alexia ter conseguido chegar à sala de treinamento onde Dusk estava enfrentando o androide tutor, ela agiu rapidamente. O androide estava prestes a desferir um golpe forte em Dusk, mas Alexia congelou a máquina quase instantaneamente, interrompendo a ameaça com precisão.

Quando ela se voltou para Dusk, viu fantasmas saindo das costas dele e do chão ao redor. Sentia uma forte onda de energia emanando dele, mas o custo desse poder fez com que seus olhos se fechassem e ele perdesse a consciência. Se Alexia não tivesse agido rapidamente, Dusk teria caído pesadamente para trás, possivelmente machucando-se seriamente. Mas a cantora, com sua agilidade e rapidez, conseguiu interceptá-lo, segurando-o em seus braços com carinho.

“Dusk é tão pesado... Ele parece estar ainda mais pesado desde a época em que éramos crianças”, pensou Alexia, enquanto seus olhos brilhavam com uma mistura de preocupação e profundo carinho. Ao olhar para ele tão perto, seus sentimentos de amor transbordavam.

Com ele tendo gasto quase toda sua mana, Alexia pegou a carta de baralho que Gwen havia lhe dado, o Ás de Copas. No entanto, quando seus dedos se aproximaram do rosto de Dusk, a carta se desfez em um pó dourado, que se espalhou sobre o rosto cansado e preocupado dele. Alexia, agora sozinha na sala, decidiu ficar ao lado dele. Com muito cuidado, ela colocou a cabeça de Dusk em seu colo, oferecendo um lugar confortável para descansar. Ao fazer isso, ela viu os ombros dele relaxarem, aliviando a tensão acumulada.

— Tenha bons sonhos! — murmurou ela com uma voz suave e carinhosa, enquanto começava a acariciar delicadamente os cabelos de Dusk. A sensação de tocar nele fez seu coração bater mais forte, e a tristeza que sentia por ele não reconhecê-la se misturava com uma alegria silenciosa.

“Você não mudou nada desde aquela época. Pena que parece ter esquecido de mim”, refletiu ela, seu olhar agora carregado de uma melancolia doce, enquanto os olhos se encheram de lágrimas não derramadas.

De repente, Dusk, ainda inconsciente, murmurou um nome que parecia antigo e familiar para Alexia.

— A… Alice??? — Dusk balbuciou, a voz fraquejando.

As palavras dele fizeram o rosto de Alexia corar intensamente. A lembrança de anos atrás, quando ela ainda era jovem e conheceu Dusk pela primeira vez, inundou sua mente. Ela sentiu um calor de alegria e vergonha ao mesmo tempo.

— Que vergonha!!! — exclamou Alexia, com uma alegria exaltada. — Você ainda se lembra de mim!!!

Seus sentimentos estavam à flor da pele, e a ideia de que Dusk ainda carregava uma lembrança dela a encheu de um entusiasmo emocionado. A conexão deles, apesar dos anos passados, parecia estar mais viva do que nunca.



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