Volume 1 – Arco 3
Capítulo 32: Elfa, Shael
Na frente do elevador que levava ao grande palácio presidencial de Fortune Diamond, Dusk, o sentinela e caçador de Etéreos, e Felipe, vice-comandante do grupo de defesa local, estavam lutando lado a lado. Um a um, eles eliminavam cada monstro que tentava passar por eles. Usando a magia Alma Malevolente, Dusk derrotava facilmente os monstros com aparência de árvores.
No meio do intenso combate, os Etéreos de repente pararam de lutar e recuaram, formando um corredor. De dentro desse corredor, uma nova figura surgiu. Era uma moça esguia, com orelhas pontiagudas, cabelo branco como a neve que chegava às costas e olhos verdes puros. Em uma das mãos, ela segurava um livro grosso, e na outra, uma espada curta.
— Não esperava encontrar tanta resistência aqui. — Ela cruzou seus olhos verdes com os de Felipe e Dusk e sorriu de maneira perturbadora. — Acho que terei que limpar o lixo. Eu me chamo Shael e será um prazer eliminar vocês.
Shael tinha uma presença assustadora. Assim que apareceu, Felipe imediatamente mirou sua pistola nela, enquanto Dusk, talvez pela falta de experiência, não conseguia avaliar sua força.
— Atacar! — Com um comando claro e alto, Felipe ordenou que os vinte drones atacassem Shael em massa.
Vendo as máquinas se aproximando, Shael mostrou um sorriso debochado. Com grande velocidade, ela se abaixou, encostando a mão de apoio no chão. As primeiras salvas de tiros erraram, atingindo apenas o asfalto vazio. Em um movimento quase imperceptível, Shael destruiu os vinte drones com cortes rápidos.
— É isso o máximo que podem fazer? Se for assim, saiam da minha frente e deixem meus parceiros passarem. Talvez, só talvez, deixemos vocês saírem vivos.
Dusk observou atentamente a movimentação de Shael e percebeu que conseguia ver cada um de seus golpes.
— Shael, certo? — chamou Dusk, com a espada em mãos. — Eu sou Dusk Tedimir, um dos sentinelas mais fortes aqui.
— Entendi. Pela sua aparência, você parece ser o mesmo que impediu meu parceiro ontem de eliminar a vice-governante local. Como vingança, vou tirar sua vida — ameaçou Shael, se colocando em guarda com um olhar sério.
— Tem certeza? — Com um movimento rápido, Dusk fez seu fantasma negro atacar o ponto cego de Shael. Porém, o fantasma atingiu apenas o solo vazio e desapareceu.
— Cuidado! Preste atenção! — alertou Felipe.
Antes que Dusk pudesse reagir, ele desviou instintivamente da lâmina que passou a centímetros de seu rosto. Dando um salto para trás, ele fixou seus olhos na elfa, percebendo que qualquer descuido poderia ser fatal.
“Entendo, isso é como um exame de sentinelas. Se eu vacilar, minha derrota é garantida. Ela é provavelmente uma ameaça de nível Epsilon.”
— Ei! Que golpe sujo foi esse? Quase cortou meu lindo rosto — reclamou Dusk.
— Olha quem fala. Não foi você que começou atacando meu ponto cego? Estou apenas respondendo à altura — disse Shael.
— É mesmo? Então vamos para um combate direto. Faz tempo que treino esgrima e ainda não encontrei um oponente à altura. Será que você é essa pessoa? — provocou Dusk.
— Aceito seu desafio — concordou Shael, preparando sua espada curta. — Embora eu não tenha o mesmo nível que Conanus ou a habilidade da lorde Amelina, sou capaz de acabar com você.
Sem aviso, Shael investiu em alta velocidade, mirando a lâmina para decapitar Dusk. Ele previu o movimento e interceptou o golpe com sua espada. Dusk tentou um corte rápido, mas Shael, sendo mais ágil, escapou.
— Como? — Surpreendendo Dusk, Shael se esgueirou para seu ponto cego, ficando agora atrás dele.
Um disparo preencheu o ar e Shael conseguiu desviar por reflexo. Felipe havia dado o suporte antes que ela pudesse ferir Dusk fatalmente.
— Presta atenção, idiota! Isso não é treino, é um combate real — alertou Felipe.
— Tá, foi mal. Vou acabar com ela no próximo ataque. — Dusk começou a conjurar mana e o fantasma negro apareceu novamente ao seu lado.
— Ok, ficarei na retaguarda caso precise de ajuda — disse Felipe, se distanciando.
Shael observou a cena com desdém, sem parecer ameaçada.
— Você acha que essa espadinha e esse fantasma têm chance contra mim? — provocou Shael.
— Não fique se achando só porque conseguiu me pegar no ponto cego. — Dusk levantou a espada em posição de combate. — Se você fosse uma adversária realmente difícil, teria me acertado.
— Tsc! — Shael cerrou os dentes, irritada. — Odeio gente arrogante, assim como odeio todos os humanos!
Os dois se impulsionaram para frente, parecendo vultos velozes. O som de metal colidindo preenchia o ambiente. Os golpes de Shael eram precisos e perigosos, dignos de uma espadachim habilidosa.
Em meio à troca de golpes, Shael se jogou para baixo, fazendo um corte de Dusk passar em branco. Ele preparou um golpe para decepar suas pernas, mas ela bloqueou com a espada, servindo como um pilar de sustento.
— Você previu meu movimento? Parabéns, mas o que pode fazer agora? — disse Shael, dando um chute potente que fez Dusk perder o equilíbrio e cair no chão. Ela tentou um corte fatal em direção ao seu rosto.
— Você é boa, mas não esqueceu do meu fantasma negro! — declarou Dusk. O fantasma atacou Shael, mas ela saltou para trás e o fantasma atingiu o chão. Quando ela pensou estar segura, mãos negras tentaram agarrá-la, mas encontraram um escudo mágico ao redor dela.
— Outro usuário de magia de proteção? — comentou Dusk, lembrando do confronto contra um elfo no exame dos sentinelas.
Embora protegida, o escudo começou a ser pressionado pelas mãos do fantasma, arrastando Shael. Ela sacou o grimório e o abriu, as páginas viraram sozinhas. Um brilho saiu das páginas, fazendo o fantasma desaparecer.
— Cometi um grande erro? Boa sorte. Na próxima, será sua última tentativa de me acertar — provocou Shael.
“Por que minha Alma Malevolente não está funcionando? Devo focar no combate físico ou criar uma brecha?”, pensou Dusk, incerto sobre suas próximas ações.
━━━━━━◇◆◇━━━━━━
Para a elfa Shael, muitas coisas perderam importância desde que ela veio para este mundo. Posição social, dinheiro e coisas do tipo são insignificantes para ela. Contudo, em tempos difíceis, quando esteve próxima da morte, ela conheceu duas pessoas extremamente valiosas, que ela guarda em seu coração até hoje.
Graças a um casal, que pode ser descrito como uma combinação estranha, Shael tem uma família para chamar de sua. Ela não se importa em realizar serviços perigosos, como enfrentar e eliminar humanos, porque sua única e exclusiva recompensa compensa toda a dor: ao retornar de algo perigoso, o casal sempre a espera de braços abertos.
A mulher que cuidou de Shael ao longo dos anos demonstrou ter um temperamento forte, adotando uma postura severa na maioria das vezes. Apesar disso, há uma certa doçura em suas palavras. Quando Shael foi encontrada pelo casal, a mulher foi a primeira que simpatizou com ela.
— Malditos humanos, sempre nos caçando como se fôssemos animais. Será que não percebem que eles mesmos são os verdadeiros monstros?
Shael estava toda ferida, com os braços cheios de hematomas e feridas das quais litros de sangue escorriam. No entanto, a mulher estava à sua frente e os humanos que causaram seus machucados haviam acabado de ser mortos por ela.
— Ei! Você deseja viver mais um dia? Gostaria de morar conosco e se tornar nossa aprendiz?
Como era um presente das pessoas que a salvaram, Shael aceitou de bom grado. O homem, que tinha uma aparência animalesca, também estava presente. Ele parecia ser o parceiro daquela que a salvou e olhava para Shael com receio.
— Tem certeza disso? — Porem ele notou, ela estava toda suja e com um olhar vazio. — Sabe de uma coisa? Esqueça o que eu disse. Essa garota tem o olhar de alguém que perdeu a esperança na vida. Não criarei impedimentos para que você venha conosco.
Por terem a salvado e acolhido como uma filha, Shael estava extremamente grata. Ninguém nunca havia feito isso por ela. Eles cuidavam diariamente de seus ensinamentos; o homem de aparência animal a ensinava a arte de assassinar, enquanto a mulher dedicava horas para fazê-la aprender magia.
Ao longo dos anos, esses três foram ficando cada vez mais próximos, até que chegou um ponto em que o casal considerava Shael como parte da família. Sempre que ela retornava de uma missão machucada, eles se mostravam preocupados.
“Neste novo mundo estranho, sempre pensei que estava sozinha, mas vocês foram aqueles que estenderam a mão para mim. Então, para vê-los felizes, farei de tudo para que esse sentimento não escape de nós.”
━━━━━━◇◆◇━━━━━━
Dusk, um humano, e Shael, uma elfa, se enfrentavam na frente do palácio presidencial flutuante. Embora suas habilidades com a espada não fossem as de profissionais, seus golpes eram fortes e letais. Dusk adotava uma postura ofensiva, seus ataques eram pesados, tentando encontrar uma brecha para encerrar o duelo rapidamente. Shael, por sua vez, usava uma técnica mais delicada e precisa, mantendo-se na defensiva e aproveitando os momentos certos para desferir cortes superficiais.
A troca de golpes era intensa, e o vice-comandante do grupo de defesa de Fortune Diamond mal conseguia acompanhar a velocidade deles. Com o decorrer da batalha, todos começaram a perceber que Dusk estava perdendo o ritmo. Shael, notando isso, começou a pressioná-lo ainda mais.
— O que foi? Está cansado? Nossa brincadeira estava tão divertida, não queria que acabasse tão cedo — comentou ela com um toque de pesar na voz.
— Você deve estar delirando. Pare de inventar, ainda tenho muita energia para usar!
Bloqueando o próximo ataque, Dusk rapidamente recuou e começou a conjurar a magia da alma malevolente, pronto para atacar a elfa. No entanto, Shael, já esperta, pegou seu grimório e abriu as páginas que se viraram sozinhas. Uma barreira mágica se formou ao seu redor.
— O que vai fazer agora que sua magia não tem mais efeito? — perguntou Shael, fechando o livro com um baque alto.
— O que está falando? Ficou louca? — questionou Dusk, ainda confuso. “Por que o efeito de drenar magia não está funcionando? Achei que ela anularia qualquer tipo de magia.”
Dusk tentou novamente usar sua magia contra Shael, mas ela, com um olhar superior, apenas ignorou o ataque, que se dissolveu instantaneamente na barreira.
Os cortes de espada de Shael se tornaram mais ferozes e precisos, seus movimentos intensos deixaram Dusk sem fôlego. Em um momento, ele perdeu completamente o ritmo e abriu uma brecha fatal.
— Essa não! Nem minha magia nem minha esgrima funcionaram com ela. Por quê? — ele estava desconcertado com a habilidade superior da elfa.
— Deve ter percebido essa barreira ao meu redor, certo? Ela está ligada diretamente ao meu grimório. Quanto mais meu grimório aprende e se adapta, mais forte a barreira fica. Não darei todos os detalhes, mas só estou explicando isso para você saber como morreu — disse Shael, com uma voz doce e cruel.
Desesperado, Dusk moveu sua espada, mas foi bloqueado perfeitamente. O impacto o desarmou, e sua arma caiu no chão. Em uma última tentativa, ele usou seu fantasma negro, que nem sequer passou pela barreira de Shael.
— Já falei, se esse negócio não me acertar, então é o fim. Você teve chance, se no início tivesse usado essa magia com toda a potência, talvez eu não suportasse.
Em um movimento rápido, Shael deslizou sua lâmina pelo ar e, com precisão, perfurou a garganta de Dusk, que sentiu uma dor insuportável. Tentando fazer algo, mas com seus músculos paralisados, ele se viu impotente.
— Ficou com tanto medo que nem consegue se mexer? Que guerreiro triste você é — zombou Shael.
Retirando sua espada, Shael tentou decapitar Dusk, mas um projétil voou em sua direção. Ágil, ela desviou e viu Felipe, o autor do disparo, tentando salvar Dusk.
Dusk, sem forças, caiu no chão, com os olhos fechados e a garganta jorrando sangue. Se continuasse assim, morreria de hemorragia. Felipe tentou correr para ajudá-lo, mas a espada de Shael cravou no asfalto diante dele.
— Ei, velhote! Daí você não passa. Fique na sua, em um minutinho já chego em você. Só deixa eu finalizar esse garoto.
O vice-comandante ignorou a ameaça da elfa e continuou em sua direção. Shael, irritada, olhou para ele por cima do ombro.
— Já que é assim, vou acabar contigo primeiro! — ameaçou ela.
— Acha que vou me importar com o que um Etéreo diz? Minha filha pensava que diálogo funcionaria com vocês, mas foi eliminada no primeiro encontro. Tenho todos os motivos para não dar ouvidos a um monstro! — respondeu Felipe, atirando na cabeça da elfa.
Shael, rápida como um vulto, encurtou a distância e, sacando sua espada do chão, decepou a mão de Felipe com um corte quase imperceptível.
— Olha quem fala! — disse ela, encaixando um soco no queixo de Felipe, que ficou desorientado.
— Vocês tentaram me matar uma vez, mas graças aos meus pais estou aqui.
Ela deu uma cotovelada no estômago do vice-comandante, que perdeu os sentidos e caiu no chão, sem energia para continuar.
— Podem reclamar o quanto quiserem ou vir quantos forem, se nós os comemos, é porque precisamos.
Sem dar chance a Felipe, Shael se aproximou. Parecia uma besta em fúria, com olhos vermelhos de raiva e dentes cerrados. Com punhos fechados, golpeou a cabeça dele repetidamente.
— Se tentarem tocar em mim ou na minha família, farei vocês pagarem, mesmo depois da morte! — gritou ela, quebrando a face de Felipe, que não conseguia mais reagir. — Ha! Ha! Ha! Ha!
Shael parecia uma psicopata, rindo loucamente a cada golpe. Em um momento, mordeu os lábios, concentrou força nas mãos e desceu o punho como uma rocha contra o crânio de Felipe.
— Conanus, é assim que um assassino age? — perguntou ela, sentindo suas mãos afundarem na cabeça do vice-líder.
Virando sua atenção para Felipe, viu que ele estava morto, com a cabeça afundada e sangue manchando suas mãos. Satisfeita, sorriu cruelmente.
— Esses eram muito fracos. Será que Conanus e Sifari vão me elogiar por isso? — pensou alto, pegando sua espada e grimório. Olhando para Felipe morto e Dusk sangrando no chão, disse: — Bom, esses já foram. Pelo jeito, meu treinamento valeu a pena.
Com ar de triunfo e peito estufado, Shael saltou de alegria e deixou o local. Os monstros planta que a acompanhavam seguiram-na rumo ao palácio presidencial.
Continua no Capítulo 27: Casal em Desespero:
Data de Lançamento: 15/07/2024, 06:00:00