Volume 1 – Arco 3

Capítulo 22: Primeiro Dia de Um Cientista

No centro de Thesena, na praça principal da instituição, onde havia um grande chafariz e cadeiras de madeira, Dusk e Gwen se encontravam após o treinamento com seu esquadrão. A área estava movimentada, com muitas pessoas uniformizadas passando por ali. Diferente do dia do exame, não havia visitantes, pois os portões normalmente permaneciam fechados, permitindo apenas a entrada de funcionários.

Dusk tinha uma expressão de descontentamento, ainda abatido pelo treino. Ele suspirou profundamente.

— O que você tem? — perguntou Gwen.

— Fiquei desapontado com meu desempenho. Embora tenhamos concluído as atividades de treinamento da Mília de forma aceitável, percebi que preciso melhorar em uma área específica.

— É sobre a sua resistência?

— Isso mesmo, a falta dela em mim.

Dusk sabia que, se quisesse evoluir como um sentinela de elite, precisaria trabalhar nas áreas em que tinha dificuldades.

Gwen, pensativa, logo encontrou uma solução.

— Dusk, esse seu problema é fácil de resolver. Começa a fazer exercícios para melhorar seu condicionamento físico. Eu sei que seu foco é treinar esgrima e magia, mas sabia que cuidar do corpo também é importante? Só uma sugestão: você poderia dar cinco voltas correndo em torno de Thesena. Como o lugar é grande, com 4,3 km, deve ser um bom desafio — disse ela.

— Parece uma boa ideia, mas é muita coisa! Acha mesmo que vou ter pique e coragem de correr tudo isso? Vou desmaiar nos primeiros metros.

Ele sabia que o campus de Thesena tinha o tamanho de uma pequena cidade e duvidava de sua capacidade.

— Nada de reclamação! E aproveita para aprender as magias básicas. Posso te garantir que elas serão úteis algum dia.

Após ouvir a sugestão, Dusk se esparramou no banco, quase deitado, abatido pelo desânimo.

— Agora que você falou tudo isso, bateu uma preguiça. Dá vontade de ir para o dormitório, me jogar na cama e dormir — disse ele, fingindo um bocejo.

Gwen estreitou os olhos e o encarou severamente, cruzando os braços.

— Dusk, não vem com essa de preguiçoso. Aprender essas coisas é essencial para todo sentinela. Até mesmo os capitães usam magias básicas às vezes. Pelo menos tenta aprender a magia de escudo — sugeriu ela.

— Ok, ok, vou fazer um grande esforço para aprendê-las, mas não espere grande coisa. Sou mais da ação e porradaria.

— Não importa, já é um começo — Gwen sorriu, satisfeita.

Dusk, praticamente deitado no banco, olhou para o céu azul, até ouvir uma respiração pesada. Ele reconheceu a voz e se virou.

— Harry?! — chamou.

Ajeitando-se no banco, ele chamou a atenção de Gwen para o amigo que parecia desanimado, olhando a água do chafariz.

— O que ele está fazendo? — perguntou Gwen.

— Faço a menor ideia. Que tal irmos falar com ele?

Os dois se aproximaram de Harry, que parecia exausto e pensativo. Com um cutucão nas costas, Dusk o chamou.

— Por que esse desânimo todo? — questionou Dusk.

Ao notar os amigos, Harry relaxou. Seus ombros se abaixaram e a expressão séria deu lugar a um semblante mais calmo.

— Ufa, finalmente encontrei alguém que conheço — disse ele.

— Hum? — perguntou Gwen, confusa.

— Nada, só fiquei feliz em ver vocês.

Dusk observou o jaleco de Harry, um novo da mesma cor do antigo, branco, com um broche da marca de Thesena.

— Como foi seu primeiro dia como cientista? — perguntou curioso Dusk.

Harry ficou tenso novamente, levando a mão à testa em frustração.

— Foi uma tristeza completa, pelo menos na minha opinião.

— Mas por quê? O que aconteceu de tão grave? — indagou Gwen.

— Assim que cheguei no centro de pesquisa, fui recepcionado muito bem, com cartazes de boas-vindas e tudo mais. Me senti especial. Conheci pessoas novas, devia ter mais de cem cientistas lá. Até conheci os diretores do centro de inteligência! — relatou ele, parecendo reclamar.

Dusk ficou confuso, pois o que ouvia eram coisas boas, sem motivo para tanto desânimo.

— Pelo jeito, foi tudo ótimo. Não tem motivo para estar assim.

— Dusk, você sabe como sou. Não me dou bem com interações humanas reais, ainda mais em grandes quantidades. O que me frustrou foi não conseguir aproveitar o momento, pois adotei uma postura robótica.

— Você é muito antisocial, Harry. Parece até a sua primeira interação humana — criticou Gwen.

Dusk, percebendo que essas palavras duras poderiam abaixar ainda mais o astral de Harry, tentou mudar de assunto.

— Saindo desse papo, me conta como é ser um cientista. Vocês ficam numa sala o dia todo na frente de um computador ou fazendo pesquisas chatas? — questionou Dusk.

— Você tem uma visão estereotipada da gente. Na verdade, nós desenvolvemos recursos e armas contra os Etéreos, criamos táticas de combate. Fazemos de tudo para auxiliar sentinelas e capitães.

Dusk, que até então tinha uma visão superficial sobre os cientistas, viu sua mente se expandir. Gwen notou essa mudança.

— Conhece o capitão Daniel White? Ele também é um cientista de Thesena — informou Gwen.

— Não acredito. Daniel é forte e poderoso, tanto que é um capitão. Não tem como isso ser verdade.

— Mas você não disse que era fã dos capitães? Deveria saber disso — apontou Gwen.

— Impressionante! Mas por que só ele é um combatente entre os cientistas? Não tem outros?

Gwen sacou seu celular e mostrou uma foto de uma garota de olhos amendoados e cabelo castanho claro, usando um jaleco branco.

— Quem é essa?

— Luma Flare. Ela é uma tenente e cientista do alto escalão. Está cotada para preencher a vaga de capitão quando uma abrir.

— Por que não sabemos disso? Nunca ouvi falar dela ou de outros cientistas na internet.

— Eles preferem ficar longe dos holofotes e em paz para desenvolver suas pesquisas.

Harry, já sabendo sobre esses assuntos, parecia pensativo enquanto os dois conversavam.

— O que foi agora? — perguntou Dusk.

— Fiquei sabendo que a capitã Evelyn falou sobre o meu projeto no centro de inteligência. Deve ser por isso que todos foram amáveis comigo.

— Não se preocupe com isso. Desde a primeira vez que vi Evelyn, ela me pareceu alguém legal que ajuda os outros. Não é, Gwen?

Gwen, pega de surpresa, ficou calada por um tempo, mas logo respondeu.

— Sim, sim, ela é muito gente boa mesmo!

Com o sol se pondo, o trio percebeu que era hora de voltar.

— Foi ótimo, mas agora tenho que arrumar minhas coisas no quarto — disse Dusk.

— Cê tem razão, também vou arrumar meu quarto.

— Harry, você também vai morar aqui?

— Claro, não é só sentinelas que têm esse privilégio.

Os dois riram como bons amigos. Gwen, observando-os, sorriu discretamente.

— Vou ficar mais um tempo aqui. Vejo você amanhã no treinamento, Dusk.

 

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Duas horas depois, Dusk havia terminado de organizar todas as suas coisas. Guardou suas roupas e os uniformes que encomendou, que foram entregues diretamente no número do quarto, no armário. Entre os itens havia um acessório importante para ele: um cinto onde podia guardar sua espada, assim não precisaria carregá-la na mão o tempo todo.

Após concluir todo esse trabalho, a exaustão do dia se abateu sobre ele. Antes de ir dormir para recuperar as energias perdidas, ele preparou um chá. Enquanto bebia, colocou duas coisas especiais na mesa de cabeceira ao lado da cama. Um porta-retratos de seus pais, Ronnos e Aliyah, juntos e abraçados, e um pingente com uma corrente fina e um anel pendurado.

Dusk olhou para os itens com carinho, sentindo a importância de cada um.

— Foi um dia incrível hoje, vocês tinham que ver o meu esquadrão. Tem muita gente forte, mas as personalidades são um tanto estranhas. Mas não posso dizer nada, já que também não sou alguém normal, né?



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Uma semana inteira se passou desde o dia em que entraram em Thesena. À medida que os dias passavam, Dusk estava colocando em prática o treino de resistência sugerido por Gwen. Todos os dias também havia reuniões e atividades com o esquadrão, mas nada além do normal, quase iguais ao primeiro encontro.

No sétimo dia, Dusk recebeu uma mensagem urgente no celular. Era uma convocação de Thesena pedindo para ele comparecer a um local.

Dusk, Alexia, Gwen e Kevin estavam em uma sala ampla, com uma enorme mesa e vários assentos vazios. Gwen Deacki mantinha sua postura calma e comportada de sempre, Alexia Magus não parava de olhar-se no espelho, preocupada com sua aparência, e Kevin Dramus exibia seu semblante bravo habitual.

Na frente de todos, estava Mìlia, tremendo de frio, mesmo estando completamente agasalhada com uma blusa grossa e totalmente fechada.

— Como vocês foram ótimos nessa primeira semana, foi decidido que participarão da primeira missão como sentinelas oficialmente.

Todos voltaram suas atenções para Mília de uma vez. Cada um pensava que seria apenas mais um dia de treino, mas o semblante de surpresa que tinham evidenciava a empolgação deles.



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